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Yara Suñé: cada pecuarista gaúcho deveria ceder um pouco do seu tempo ao “coletivo” e tomar atitudes

No dia 5 de abril foi realizado o Beef Summit Sul, em Porto Alegre – RS. O evento foi organizado pelo BeefPoint, em parceria com a Associação Brasileira de Hereford e Braford (ABHB). O Beef Summit Sul reuniu nomes de sucesso do agronegócio para discutir e debater os rumos da pecuária de corte no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.

No dia do evento, o BeefPoint homenageou as pessoas que fazem a diferença na pecuária de corte no Sul do Brasil através de um prêmio. Houve vários finalistas, em 19 categorias diferentes.

Os nomes foram indicados pelo público; em uma primeira etapa, através de um formulário divulgado pelo BeefPoint. Na segunda etapa, o público escolheu através de votação, o vencedor de cada categoria. Para conhecer melhor essas pessoas, o BeefPoint preparou uma entrevista com cada um deles.

Confira abaixo, a entrevista com Yara Bento Pereira Suñé, uma das ganhadoras do Prêmio BeefPoint Edição Sul, na categoria Liderança pecuária – nova geração.

Yara

Yara Bento Pereira Suñé é engenheira agrônoma (UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e mestre em produção animal (NESPRO – UFRGS). É sócia/gestora da Agropecuária Suñé LTDA. Integrante da diretoria do Sindicato Rural de Lavras do Sul e do CITE 27.

BeefPoint: Qual o maior desafio da pecuária de corte do sul do Brasil hoje?

Yara Bento Pereira Suñé: Partindo de uma perspectiva macro (escala da concorrência, participação da soja, concentração do setor frigorífico), precisamos definir nossa identidade nos mercados nacional e internacional. Quem somos? O que somos? Ou o que devemos ser para o nosso mercado consumidor? Penso que temos enorme potencial, conhecimento e tradição para alavancar a atual produção de qualidade (raças britânicas, Bioma Pampa, história). Acredito fortemente que o momento é de foco na força coletiva do pecuarista gaúcho, através de redes horizontais e verticais.

BeefPoint: Qual o exemplo de pecuária do futuro no sul do Brasil hoje? Quem você admira por fazer um excelente trabalho?

Yara Bento Pereira Suñé: Admiro o trabalho de diversos produtores e profissionais do setor, mas acredito que o momento é do coletivo. Devemos direcionar esforços nesse sentido, participando das redes coletivas já existentes e/ou criando outras.

Creio que o CITE (Clube de Integração e Troca de Experiências) é um bom exemplo de rede organizacional horizontal. Como modelo de rede vertical, apoio o Sindicato Rural. Pertenço ao Cite 27 e ao Sindicato Rural de Lavras do Sul, exemplos de atitude, que através da união, dedicação e conhecimento estão revolucionando a região da Campanha.

BeefPoint: Como podemos vender a carne do sul do Brasil de forma diferente e especial, em outras regiões do Brasil e no exterior?

Yara Bento Pereira Suñé: Qualidade já não é mais o diferencial competitivo suficiente. Precisamos construir um atributo único que não possa ser copiado. Penso que já estamos a caminho.

Possuímos no RS a única indicação geográfica de carne do Brasil – Carne do Pampa Gaúcho da Campanha Meridional – reconhecida pelo INPI. O apelo desta IG é o equilíbrio das pastagens naturais com uma das maiores diversidades florísticas do mundo, conservada por bovinos, equinos e ovinos há quase quatro séculos, sendo a atividade agropastoril mais antiga do continente sul-americano.

Acredito que há consumidores que aceitem pagar mais por este diferencial. A Apropampa é a associação responsável pela conservação e proteção desta IG. Também temos o exemplo da APROCCIMA, outra associação de produtores dos Campos de Cima da Serra que desenvolve o trabalho de qualidade da carne com a conservação do ambiente.

BeefPoint: Qual inovação / novidade na pecuária de corte você mais gostou dos últimos anos? O que estamos precisando em inovação?

Yara Bento Pereira Suñé: Gosto muito da profissionalização da gestão pecuária sugerida pelo grupo de pesquisa NESPRO e dos resultados de melhoramento de campo nativo desenvolvidos pelo Professor Carlos Nabinger. Também observo cada vez mais pecuaristas preocupados com a gestão de pessoas e mapeamento de processos dentro da atividade.

Creio que precisamos inovar criando formas mais objetivas de unir a força de cada produtor, sem vaidades e sem disputas pessoais. Algo grandioso precisa ser feito para a comunhão desses pecuaristas (pequenos, médios e grandes). Gosto do trabalho desenvolvido pela Câmara Setorial da Carne com a criação do Instituto da Carne, que deverá sair novamente.

BeefPoint: O que o setor poderia / deveria fazer para aumentar sua competitividade no sul do Brasil?

Yara Bento Pereira Suñé: Penso que deveriam existir três frentes de atuação.

Primeira: um trabalho de marketing embasado e bem feito, temos profissionais competentes e com conhecimento técnico para isso, como Márcia Barcellos (UFRGS) e Roberto Grecellé (SEBRAE).

Segunda: intensificação de união de produtores, através de forças já existentes (CITES, Sindicatos e Associações).

Terceira: coordenação setorial, como o trabalho de Anna Suñé frente à Câmara Setorial da Carne.

BeefPoint: O que você implementou de diferente na sua atividade em 2012?

Yara Bento Pereira Suñé: Aumentamos o aporte forrageiro, resultando na diminuição da idade do acasalamento e do abate. Fizemos a criação de um plano de carreira para nossos colaboradores.

BeefPoint: O que você fez em 2012 que te trouxe mais resultados?

Yara Bento Pereira Suñé: Dentro do planejamento estabelecido há 10 anos com o nosso consultor, Carlos Gottschall, 2012 foi o momento de aumento de escala. Fizemos isso de forma sustentável, investindo em resultados a médio e longo prazo.

BeefPoint: O que você pretende fazer de diferente em 2013? E porque?

Yara Bento Pereira Suñé: No âmbito profissional, estamos no momento de crescimento vertical ou horizontal. Dependerá das oportunidades que surgirão e da relação custo/benefício de cada uma.

No âmbito pessoal, pretendo continuar trabalhando junto ao Cite e Sindicato Rural, tentando unir mais produtores para fortalecer nossa classe.

BeefPoint: Qual sua mensagem para os pecuaristas?

Yara Bento Pereira Suñé: Temos que juntar esforços, cada pecuarista gaúcho deveria ceder um pouquinho do seu tempo ao “coletivo” e tomar atitudes. Se não concordas com as idéias do teu Cite ou sindicato, tenta mudá-lo ou cria outro grupo.

Se não tens referência, busca ajuda, mas não deixa de fazer algo. Acredito que unidos podemos mudar a pecuária gaúcha e o conceito que a sociedade urbana tem do pecuarista.

BeefPoint: Qual sua mensagem para a indústria frigorífica e varejo?

Yara Bento Pereira Suñé: Aos frigoríficos, mais clareza nos abates, rendimentos e tabelas de bonificação. Por que não copiar o modelo do frigorífico PUL do Uruguai, onde todo o abate é filmado? Ao varejo, por que não fazer campanhas de marketing muito mais elaboradas como vemos em tantos outros produtos?

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14 Comments

  1. Antonio Carlos Custódio Ramos disse:

    Com conhecimento, muito claro e objetivo. Parabéns a todos.

  2. Egon Valter Schwerz disse:

    Excelente entrevista. Opinião forte e segura de suas idéias, principalmente quanto a gestão de pessoas, escalas e prêmios de qualificações profissionais. Muito importante o enfoque da união do coletivo, valorização do CITEs e união em torno de sindicatos rurais.

  3. Silvia Morgulis disse:

    Excelente entrevista! Brava Yara! É hora de pensar no coletivo.

  4. Marcelo de Souza Lima disse:

    Belo trabalho e uma maravilhosa idéia a ser seguida e implementada, não se consegue nenhuma vitória sozinho.
    Todas as grandes batalhas foram vencidas pelo todo, com um estrategista avaliando os prós e contras e, com grande entusiasmo, contagiando o restante do grupo rumo a vitória.
    Sinto esse entusiasmo nas ações e na visão dessa grande mulher Yara Bento. Parabéns, todos devem se doar um pouco.

  5. ADROALDO POTTER disse:

    Parabéns, pelo tua brilhante explanação, Yara!
    Concordo plenamente contigo, enquanto não tivermos uma carne “bioma pampa” que reuna as raças europeias, fundamentalmente as britanicas, assim como seus cruzamentos, não alcançaremos o merecido status que a carne produzida nos pampas merece.

  6. Mauricio Bisso de Mello disse:

    Esse é o ponto: visão empresarial e valorização do coletivo. Serve tanto para o pequeno quanto para o grande produtor. Parabéns!

  7. Paulo Costa Ebbesen disse:

    Parabéns pelo posicionamento.
    Como integrante do CITE 125 de Cachoeira do Sul, concordo integralmente com tua visão, especialmente quanto as três frentes de atuação, fundamentais para uma nova pecuária em nosso Estado e que abordas com muita propriedade em tua excelente entrevista.
    Mensalmente, nas reuniões de nosso CITE, coloco meu ponto de vista, que coincide com tua visão. Tenho porém me decepcionado com a atitude, falta de união e de visão dos meus companheiros. Estou me tornando chato nas nossas reuniões, pois tenho insistido nestes temas, sem haver, entretanto vontade de uma maior participação de todos.
    Mais uma vez parabéns
    Paulo Costa Ebbesen
    CITE 125 – Cachoeira do Sul

  8. Guga Bianco disse:

    Engajada como poucas!

  9. Jose Braccini Neto disse:

    Aprendi muito! Parabens!! Yara

  10. Magdalena Peduzzi P. Szabo disse:

    Parabéns Yara por tuas colocações. A união certamente fortifica as ações. Inserida no governo do estado e especificamente no Gt de Gastronomia do RS gostaria de participar e contribuir para o fortalencimento da carne gaúcha, especialmente o “programa mais ovinos no campo” importante setor da cadeia produtiva do RS.

  11. Helena Machado disse:

    Parabens! Excelente abordagem. Gostaria de fazer duas perguntas: como o Instituto da Carne seria administrado e se voce acha inovacao os trabalhos do Nabinguer? Helena Machado

  12. aldo jose tavares dos santos disse:

    Yara, te felicito por tuas conquistas também pela objetividade de tua entrevista.Gostei do foco na gestão que colocaste.

  13. Marcelo Seixas Trentin disse:

    Parabéns Yara! Sou Leiloeiro Rural e jamais posso perder a oportunidade de ler assuntos importantíssimos como este, que muito ajuda no meu trabalho. Tudo o que colocaste foi perfeito e no momento certo. Somente com a união é que conseguiremos o que o mercado exige. Com todos pensando no mesmo foco que é a padronização da nossa pecuária, sabendo aproveitar ao máximo o que a natureza nos dá no caso o nosso importantíssimo campo nativo, isso já nos dá o diferencial. E isso tudo está se encaminhando com idéias e experiências expostas como as tuas. Mais uma vez parabéns pelo seu reconhecido trabalho!

  14. Vagner Castilhos disse:

    Parabéns Yara, muito bem pensado no coletivo, só assim conseguiremos unir todas as classes da pecuária para um maior sucesso. Com teu pensamento, lembro-me do teu pai uma pessoa simples, humilde e amiga.Um forte abraço.

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