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[VÍDEO] Confira entrevista com Marcelo Pimenta, da Exagro sobre novas tecnologias

Marcelo Pimenta, consultor sênior e diretor executivo da Exagro, concedeu uma entrevista a Miguel Cavalcanti, do BeefPoint, com o tema Gestão da Produção.

Confira abaixo um resumo da entrevista, bem como o vídeo com ela completa:

Miguel Cavalcanti: O que você está vendo de novas tecnologias, novas possibilidades, novas frentes para a pecuária de corte brasileira?

Marcelo Pimenta: A gente pode separar essas frentes entre o que a ciência tem desenvolvido do ponto de vista de produção animal e o que tem sido desenvolvido do ponto de vista da inteligência, da condução dos processos, dos levantamentos de informações, da informação na nossa mão na forma de aplicativos, a grande necessidade que a pecuária tem de softwares que realmente resolvam nosso problema, de integrar nossa produção ao nosso desempenho financeiro, econômico, planejamento e tudo o mais.

Então, as linhas que a gente considera importantes são as que estamos vendo que ou já estão acontecendo e que certamente serão ampliadas para o mercado nos próximos anos, ou que a pecuária ainda não tem com a abrangência e qualidade que deveria ter, falando de software, aplicativos, ferramentas que nos ajudem a conduzir o nossos sistema com os indicadores e com os números que a gente precisa.

Miguel Cavalcanti: Um dos desafios que vejo o pecuarista enfrentar é uma quantidade grande de opções de tecnologia, de suplementação, de genética, de vacina, de vermífugo, de manejo.

Como vocês, Exagro, avaliam uma nova tecnologia? Qual o processo de decisão, de avaliação de análise? Qual o processo de pensamento na hora de avaliar se uma tecnologia ou ferramenta vale para um sistema de produção?

Marcelo Pimenta: O jeito que a gente pensa é não colocar a ferramenta na frente da pergunta. A gente começa pela base. Qual é o meu objetivo? O que eu preciso produzir? O que eu preciso medir? Em cima do meu conhecimento sobre o que preciso produzir, quais são os indicadores chaves da minha produção, o que preciso medir, fica fácil de eu entender quais gargalos que tenho, onde tem lacunas abertas que preciso ou de tecnologias para melhorar essa produção, ou de ferramentas para me ajudar nessa medição, nessa apuração desses resultados.

A gente deve partir sempre do meu objetivo, o que eu preciso e qual a maneira mais simples de elencar os meus indicadores produtivos e econômicos, e quais são as ferramentas que preciso, tanto no campo, em termos de tecnologia para produção, como no meu escritório, no meu computador, no meu tablet, no meu smartphone, as tecnologias que preciso para me dar aquelas respostas.

Porque se a gente se deixa entrar na onda da grande oferta de tecnologias tem, a gente acaba se perdendo em todas as ferramentas e recursos que essas tecnologias têm para oferecer e, muitas vezes, acaba comprando uma coisa que a gente não precisa.

Toda vez que a gente compra uma coisa que não precisa, toda vez que tenho uma tecnologia que não está atendendo o meu objetivo inicial, tanto na produção como no caso de software, de levantamento de informações, acabo me perdendo nos processos; o processo fica mais importante do que meu resultado e isso não tem sentido nenhum. Vou investir, desgastar todo mundo que está trabalhando comigo, para lá na frente todo mundo olhar um para a cara do outro e falar assim: ‘para que foi mesmo que nós fizemos isso?’

Miguel Cavalcanti: Falamos de gestão de pessoas, de mercado, de cria, de manejo, de relações familiares, agora estamos falando de novas tecnologias e em todos esses temas temos um ponto em comum que é: ter clareza de qual é seu objetivo, de onde você quer chegar.

Quando você começou a falar lembrei da metáfora do GPS: o GPS é muito bom para levar você em algum lugar se ele souber onde você está e para onde quer ir. Se você chega ao GPS e fala: não sei onde estou e para onde quero ir, ele não serve para nada, apesar de ser um negócio de alta tecnologia.

Também vejo uma questão como treinador, como professor, como coach ou como consultor, também uso a metáfora do taxista: às vezes, tem gente que entra no meu táxi e não sabe para onde quer que o leve. Isso também não vai funcionar. ‘Para onde você quer ir?’ é a primeira pergunta que o taxista vai lhe fazer e o primeiro trabalho conjunto que o consultor vai lhe fazer.

Você pode dar algum exemplo para cria e engorda de como vocês avaliaram alguma tecnologia? Você tem algum exemplo de algum processo, alguma coisa que está no seu radar de olhar para frente que está chamando a atenção? O que se destaca?

Marcelo Pimenta: Falando da cria inicialmente, dentro do que a gente já falou na outra conversa a respeito de mercado de cria, comentamos que algumas variáveis são fundamentais para você melhorar o resultado da cria e quando você adota a métrica de produzir arrobas por hectare e esquece um pouco de focar no bezerro. Um dos componentes zootécnicos para produzir mais arroba por hectare, é você trabalhar a eficiência reprodutiva e a precocidade sexual do seu rebanho de matrizes.

Ultimamente já é fato, com fazendas com resultados demonstrados sobre isso, as tecnologias reprodutivas; a IATF nem se fala, já está consolidada, já virou uma realidade no Brasil inteiro (não consigo lembrar de nenhum cliente da Exagro que trabalha com cria que não use IATF) e uma evolução desse processo.

Há a tecnologia de avaliação genômica, onde você tem a capacidade de demonstrar o perfil genético e a capacidade daquele animal de transmitir aquela carga genética já medida e consolidada para aquelas características que você está buscando, equivalente a um teste de progênie, de às vezes avaliação de vários filhos e filhas daquele animal, que às vezes tem seis meses de idade.

Quando você alia isso, essa capacidade de avaliação genética e de predizer, selecionar dentro do seu rebanho os animais que realmente são melhoradores e alia esses animais às tecnologias reprodutivas que a gente tem, principalmente de transferência de embrião e a transferência de embrião em massa, que o mercado ainda vai conseguir chegar em uma conta de produtividade, eficiência, custo que justifique isso, eu enxergo uma evolução tal no rebanho zebuíno do Brasil, sobretudo no Nelore, que a gente pode passar a ter nos rebanhos comerciais, resultados de precocidade e produtividade semelhante aos que a gente tem hoje com o cruzamento industrial, que tem uma série de vantagens, mas tem uma série de gargalos também que precisam ser vistos no sistema de produção.

Então, falando da cria especificamente, essas tecnologias que tratam a genética e que tratam a eficiência na reprodução já estão revolucionando a pecuária. Só falta elas serem mais comerciais, serem cada vez mais adotadas, não só nos rebanhos produtores de genética, mas vão chegar também nos rebanhos produtores de animais para abate, animais comerciais.

Miguel Cavalcanti: Uma coisa que você colocou e que quero destacar que é quando você escolhe uma tecnologia, muitas vezes a gente acaba caindo na armadilha de falar só o nome e aquele nome ser um atalho para alguma coisa. Então, a IATF é cruzamento industrial e aí tem a briga de quem quer fazer só com Nelore e quem quer fazer cruzamento industrial.

Se você vai na essência, qual o objetivo de usar cruzamento industrial, onde você quer chegar usando cruzamento industrial, quais são os custos, desafios, empecilhos, dificuldades que você está disposto a encarar ao adotar essa tecnologia, fica muito mais claro e mais fácil de avaliar e você fala: ‘se não vou usar cruzamento industrial, que tipo de Nelore eu preciso ter para conseguir atender esses mesmos objetivos que eu tenho com o cruzamento industrial com vantagens ou sem ter as desvantagens que um cruzamento industrial clássico vai ter?’

Aí, a conversa não fica sobre qual o nome da técnica que eu uso, mas fica de uma forma muito mais profunda e completa que é você entender o que cada ferramenta ou tecnologia está trazendo de resultado para seu sistema.

Se você colocar uma genética diferente você muda o requerimento de energia, o requerimento nutricional, a fragilidade sanitária, necessidade de cuidados com parasitos, ou seja, ‘n’ coisas que você vai escolher, e, quando você tem clareza nisso, é uma coisa realmente muito interessante.

Principalmente quando você está sempre voltando para qual é seu objetivo inicial e como você avalia isso em um processo e no sistema como um todo.

Marcelo Pimenta: Lembrei agora de um exemplo interessante sobre isso, sobre como a escolha da tecnologia tem que partir do seu objetivo. Eu preciso de uma tecnologia que resolva o meu problema; não é pegar uma tecnologia que alguém está me oferecendo e ver se ela serve ou não. Normalmente, ela vai mais não servir do que servir se sua metodologia de escolha for essa.

Recentemente, fiz uma conta em um estudo de viabilidade de uma fazenda de cria onde a gente viu que se as novilhas emprenhassem aos 14 meses de idade ao invés de emprenhar com 24, 26 meses, a gente agregaria um valor de resultado naquela fazenda que equivalia a, se não me engano, R$ 780,00 por novilha.

Resumindo: o fato de todas as novilhas emprenharem com um ano de idade ao invés de emprenhar com dois anos, agregaria nessa fazenda uma sobra de dinheiro a mais, e aí tem toda a composição de rebanho, de custo, de produção a mais, de ganho de peso de novilha, toda as variáveis do sistema consideradas, que era um valor de R$ 780,00 por novilha.

Então, dentro desse objetivo de produzir mais para poder ganhar mais dinheiro, nós chegamos em uma conta que é a seguinte: qual tecnologia a gente vai buscar que posso gastar até R$ 780,00 que vai proporcionar todas as minhas novilhas emprenhadas com um ano? Existe essa tecnologia que posso adotar na próxima estação de monta? Não, talvez, não. Existe alguma tecnologia que posso começar na próxima estação de monta e programar minha fazenda ao longo dos anos para daqui dois, três anos eu já tenha atingido esse objetivo de todas as novilhas estarem emprenhando com um ano? Aí, sim, tem.

No planejamento de longo prazo, e sabendo o quanto significa de impacto no meu resultado econômico, posso ir atrás dessa tecnologia e ver no mercado quais delas posso usar. Posso usar cruzamento industrial, posso melhorar geneticamente meu gado, posso trabalhar a genômica, posso trabalhar buscando rebanhos de Nelore que já têm material genético para isso, então, hoje já existem opções.

Agora, se eu não souber o meu objetivo e o impacto econômico que isso vai ter no meu sistema, não tem como escolher a tecnologia e saber em quais pontos ela encaixa.

Miguel Cavalcanti: Isso me lembra aquela conversa que a gente já teve sobre porque não é a melhor escolha simplesmente copiar uma tecnologia que seu vizinho está usando e está funcionando para ele. O objetivo dele, o negócio dele, onde ele quer chegar provavelmente é diferente do seu, porque as variações são muito grandes na pecuária. Então, esse é um ponto chave para a gente observar e acompanhar.

Outra coisa importante é o uso inteligente e eficiente de tecnologia. Mesmo que você tenha o seu plano, tenha objetivo e aquela tecnologia específica se encaixa nesse plano, o sucesso não é só uma questão de você usar ou não aquela tecnologia, mas o quão eficiente você é em usar aquela tecnologia. Muitas vezes, a gente fala: a fazenda tal faz tal coisa, usa tal tecnologia, e essa métrica de usar ou não usar diz pouco sobre o negócio. O que você pode fazer com relação a isso?

Marcelo Pimenta: Isso é claro! Se a gente aproveitar o exemplo dessas tecnologias de cria que a gente vem falando, muitas vezes a gente já se deparou, por exemplo, com fazendas que fazem o cruzamento industrial e não dão a condição de nutrição que o animal precisa pela maior exigência. Ele não colhe os resultados do cruzamento industrial ou de investir mais em uma genética de Nelore ou qualquer outra raça, porque ele adotou a tecnologia em partes. Acha que é só ir lá e inseminar com outra raça, raça europeia, por exemplo, que vai colher aqueles resultados.

Então, às vezes ele tem as novilhas cruzadas emprenhando na mesma idade que as novilhas da raça que ele usa originalmente na fazenda dele e tem os animais machos com desempenho bem abaixo do necessário, porque não está dando condição sanitária, nutricional, de manejo e pastagem, de cerca, de manejo geral, de estrutura da fazenda para aquela tecnologia apresentar os frutos que merece apresentar como um todo. Esse é um exemplo clássico que a gente se depara todo dia.

Miguel Cavalcanti: Uma maneira de olhar para essa situação é: se o seu sistema de produção é fazer o seu gado passar fome, escolha uma genética que seja mais adequada para esse sistema. Não é uma genética mais produtiva, mas sim, uma genética mais sobrevivente. A boa genética para um sistema que passa fome é a genética que não morre, não que ganha muito peso ou que cresce rápido. É uma piada, mas isso é uma realidade em muitos lugares.

Você vê fazendas que, muitas vezes, a métrica é o número de cabeças que a pessoa tem, de forma que mede o sucesso com a quantidade de cabeças, ou seja, se tiver 20%-30% a mais de cabeças em sua fazenda, mas esse gado estiver passando fome e não estiver se desenvolvendo bem, ele ainda acha que é uma taxa de sucesso, porque tem uma quantidade “x”, e ele vem com a cabeça da inflação, da década de oitenta, que é muito presente.

Muitas vezes a gente vê isso: a pessoa escolher uma genética ou parte do sistema de produção em que o foco dessa escolha seria aumento de produtividade ou aumento de produção, ou aumento da intensificação ou da qualidade, e em outras partes de seu sistema de produção ele faz coisas, como ter pasto totalmente degradado, que na verdade é um sistema sobrevivência, e não de ganho de peso.

Marcelo Pimenta: Mais uma vez, lá no Fórum, a oportunidade que a gente vai criar, as pessoas que a gente está levando, é justamente para traduzir tudo isso que a gente está falando em realidades que já estão acontecendo. Fazer os paralelos. Mostrar os porquês dessas tecnologias, quais as tecnologias que a gente elegeu como importantes, necessárias e interessantes para a gente levar no Fórum e chamar essa discussão, como com pessoas dando exemplos de casos que já estão acontecendo e com a gente lá da Exagro fazendo os links de como avaliar, como interpretar e como usas as tecnologias em favor da minha rentabilidade e não da moda ou da tecnologia pela tecnologia em si, em função de eu atingir os meus objetivos acima de tudo.

Miguel Cavalcanti: Não tem tecnologia ruim ou boa, tem tecnologia que serve ou não para onde quero chegar, para cada situação.

Você quer mandar um último recado ou um desafio para quem está assistindo?

Marcelo Pimenta: Como sempre, acho que o principal recado, o principal fator para tudo, para fazer todas as minhas escolhas na minha fazenda, quaisquer que sejam elas, é saber onde eu quero chegar. Então, atente-se aos seus objetivos, ao seu sistema de produção, porque só você vai saber escolher o que é melhor para ele.

Assista a entrevista completa:

Se você quer se aprofundar mais nesse tema, inscreva-se no Fórum Exagro 2017, um encontro de 2 dias (28-29 de junho), em Campinas, SP para debater e aprender sobre esse assunto e também sobre outros 3 temas chaves para a pecuária eficiente, produtiva e lucrativa: http://forumexagro.com.br.

Fonte: BeefPoint.

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