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Veto à exportação de carne abre nova crise entre governo argentino e setor rural

O veto da Argentina às exportações de carne por 30 dias deflagrou uma nova crise entre o governo e o setor rural. Na noite de segunda-feira, o presidente Alberto Fernández anunciou a suspensão da venda de carne bovina para o exterior com o objetivo de reduzir o preço no mercado interno. Produtores anunciaram que deixarão de vender carne. Com isso, a medida do governo pode ter eficácia limitada. Analistas veem por trás do veto motivações eleitorais. 

Entre abril de 2020 e abril de 2021, o preço da carne subiu 100%, enquanto a inflação ao consumidor foi de 46,3%. Mesmo assim, o veto às exportações de carne é questionável como ferramenta para reduzir o preço no mercado interno. Primeiro porque a paralisação decidida por Sociedade Rural Argentina (SRA), Confederaciones Rurales Argentinas (CRA), Coninagro e Federación Agraria Argentina (FAA) diminuirá a oferta e, consequentemente, encarecerá o preço. 

Segundo porque o veto às exportações de carne já ocorreu antes na Argentina e acabou elevando o preço no médio prazo. Em 2006, o governo da ex-presidente Cristina Kirchner vetou as exportações de carne, o que levou à perda de mais de 10 milhões de cabeças de gado. “Frente a uma medida dessas, os produtores passaram a queimar estoque (os gados produtores) e passaram a se dedicar a outros cultivos”, afirma Andrés Borenstein, da consultoria Econviews. 

Em comunicado, a Sociedade Rural de Rosário lembrou que à época houve não somente perda do estoque bovino, mas escassez de carne no mercado doméstico, o que fez o preço da carne subir novamente. Isso porque o processo de produção de carne leva cerca de dois anos. 

“As relações entre o campo e o governo Fernández nunca foram boas, porque o setor rural vê o kirchnerismo com desconfiança”, diz Borenstein. “Mas esse é o pior momento das relações entre as partes.” 

O veto do governo tem motivação eleitoral, afirma Gabriel Brasil, da consultoria Control Risks. Com a inflação superando em muito a expectativa do governo, há risco de a aprovação de Fernández ser impactada, em um ano em que ele precisa de apoio nas eleições legislativas, em outubro. 

“Existe um incentivo eleitoral compreensível para o governo intervir no preço da carne, mas esse é um mecanismo que não resolve a questão estrutural da inflação”, afirma Brasil. “Além disso, a medida terá custos políticos para o presidente, especialmente no que diz respeito a apoio de governadores.” 

Os governadores e Córdoba e Santa Fé criticaram a proibição às exportações de carne, afirmando que mudar as regras do jogo prejudica a produção no longo prazo e que a medida é como “tropeçar duas vezes na mesma pedra”.

O anúncio de segunda-feira à noite mostra que sempre que a situação aperta, o governo se fecha e que Fernández tem dado preferência a políticas heterodoxas, diz Brasil. 

“Essa abordagem econômica encabeçada pelo ministro de Produção, Matías Kulfas, tem se sobressaído em relação a alternativas mais moderadas, representadas pelo ministro da Economia, Martín Guzmán”, diz Brasil. “Se olharmos os principais eventos de política econômica dos últimos dois anos, na maioria deles Fernández optou por medidas menos favoráveis aos negócios do que se acreditava que ele faria quando era candidato.”

Fonte: Valor Econômico.

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