Vendi o boi gordo e comprei o bezerro: quanto sobrou?

No último artigo tecemos algumas considerações sobre as relações de troca atuais, as melhores dos últimos anos. Foi abordado também que a expectativa é de valores recordes para o final de 2004, favorecendo o comprador. Quanto maior a relação de troca, melhor para quem quer investir/aumentar o plantel.

Hoje em São Paulo, por exemplo, é possível adquirir 2,47 bezerros (12 meses) nelore com a venda de 1 boi gordo de 16,0 @. Essa relação recuou um pouco nos últimos dias, em função da desvalorização da arroba do boi gordo. Contudo, no mesmo período do ano passado, era de apenas 2,22 bezerros por 1 boi gordo. Em 13 meses o poder de compra do produtor melhorou 11,3%.

Mas é verdade que a maioria vende 1 boi gordo e compra apenas 1 bezerro. O que sobra da troca, vai para pagar as despesas, ou é investido de outra forma. Assim, atendendo à solicitação de alguns leitores, realizamos uma análise da margem bruta restante da compra de 1 bezerro nelore com o recebido pela venda de 1 boi gordo de 16,0 @.

A evolução da margem bruta, nos últimos 10 anos, pode ser observada na figura abaixo. Para a realização dos cálculos os preços, tanto do boi gordo quanto do bezerro, foram deflacionados pelo IGP-DI, calculado pela Fundação Getúlio Vargas – FGV. A base é o mercado paulista.

Em relação a 1994, a margem bruta recuou bastante. Em outubro daquele ano “sobrou” para o produtor, em média, R$907,76 após a compra do bezerro. Isso porque o ciclo de preços do bezerro se encontrava num “vale de baixa”, e o mercado do boi gordo trabalhava em alta, favorecendo o invernista.

No ano passado, a margem bruta mais alta foi registrada em novembro, R$612,88, a maior desde janeiro de 2002. Hoje, junho de 2004, a margem bruta está em R$580,00, cerca de 9,1% acima da média do período analisado (R$531,84).

Valores próximos aos registrados em 1994 e 1995 dificilmente irão se repetir ao longo dos próximos anos. Mesmo porque, o mercado de bezerros deve voltar a trabalhar em ambiente firme a partir de 2005.

Contudo, ao final deste ano, a margem bruta tende a superar os valores registrados no final de 1999 e início de 2000, já que para outubro/novembro são esperadas cotações próximas a R$70,00 para a arroba do boi gordo paulista. Quem se programar para realizar a troca no final do ano deve ficar com uma quantia relativamente boa no bolso.

É preciso frisar que a margem bruta não leva em consideração os custos da engorda. Em outras palavras, margem bruta alta não é sinônimo de lucro.

Mas aí vem uma boa notícia. A Scot Consultoria estima que, em 2004, o custo da engorda em confinamento, por exemplo, deva diminuir de1 a 3% em relação ao ano passado. É pouco, mas já ajuda.

Isso porque os preços de alguns concentrados, como o caroço de algodão e a polpa cítrica, recuaram significativamente em comparação com a entressafra passada.