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Quantas @s de boi gordo para se comprar um bezerro, de 2004 a 2014

As cotações praticadas em todos os elos da cadeia pecuária encerraram o primeiro semestre em alta, com destaque para o bezerro. Na média de junho/14, o Indicador ESALQ/BM&FBovespa (Mato Grosso do Sul –animais de 8 a 12 meses) foi de R$ 1.037,99, forte aumento de 19,5% em relação a dezembro/13 e de 25,2% na comparação com o valor médio do mesmo período do ano passado, em termos reais, ou seja, já descontando-se a inflação do período (IGP-DI de junho/14).

A maior média mensal do bezerro, também deflacionada, foi atingida em maio deste ano, de R$ 1.039,08, como apresentado na Figura 1.

Captura de Tela 2014-09-10 às 16.24.46Figura 1: Indicador ESALQ/BM&FBovespa (Mato Grosso do Sul – animais de 8 a 12 meses) – valores reais (IGP-DI – jun/14). Fonte: Cepea.

Se por um lado, as altas do bezerro não são bem-vindas aos pecuaristas que fazem recria-engorda, por elevar os custos de produção, por outro, ampliam a margem de lucro dos produtores de cria. O fato é que produzir bezerro a um baixo custo é determinante para elevar a competitividade das etapas posteriores.

No primeiro semestre, a aquisição de animais de reposição representou expressivos 46,24% do Custo Operacional Total (COT) e 56,52% do Custo Operacional Efetivo (COE) na “média Brasil”.

Em São Paulo, onde a recria-engorda é o sistema predominante, esses percentuais sobem para 66,48% do COE e 56,58% do COT. Já em Mato Grosso do Sul, onde a cria é relevante, esse percentual é de 32,78% do COE e 24,45% do COT. Esses valores são agregados estaduais, ou seja, representam uma ponderação das propriedades modais e da estrutura do rebanho de cada região.

Nos últimos anos (de janeiro de 2004 a junho de 2014), o poder de compra de pecuaristas de recria-engorda diminuiu.

Enquanto em jan/04, para adquirir um bezerro, era preciso vender 6,21 arrobas, em jun/14, foram necessárias 8,53 arrobas, ou 37% a mais (considerando-se o Indicador bezerro ESALQ/BM&FBovespa – MS e Indicador boi gordo ESALQ/BM&FBovespa -SP). Nesse período, os meses mais positivos para o produtor de recria-engorda foram agosto e novembro de 2004, quando a compra de um bezerro demandou 6,01 arrobas. Já a situação menos favorável foi enfrentada em maio de 2010, quando foram necessárias 8,87 arrobas, em média, para adquirir um bezerro.

Até o início de 2008, foram raros os meses em que era preciso mais de sete arrobas para adquirir um bezerro. De lá pra cá, porém, os registros mensais com mais de sete, ou ainda, mais que oito arrobas para um bezerro tornaram-se frequentes. Neste primeiro semestre de 2014, foram necessárias, em média, 7,99 arrobas para adquirir um bezerro – o valor máximo deste ano foi atingido em maio, de 8,58 arrobas por bezerro, como demonstrado na Figura 2.

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Figura 2: Arrobas necessárias para adquirir um bezerro, 2004 a 2014, por mês. Fonte: Cepea.

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Figura 3: Média anual – Arrobas necessárias para adquirir um bezerro, 2004 a 2014. Fonte: Cepea.

Apesar da redução no poder de compra de pecuaristas de recria-engorda, é importante ressaltar que houve um salto na qualidade do bezerro produzido no Brasil. Na parcial de 2014, o bezerro negociado no estado de MS teve peso médio de 189,95 quilos, ante os 179,9 quilos de 2004 (jan-dez). Ao longo desse período (2004 a 2014), o peso médio anual máximo foi atingido em 2012, de 192,83 quilos.

Em 2014, o maior peso foi registrado em junho, de 200,55 quilos.

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Figura 4: Peso médio anual (kg) bezerro – MS, 2004 a 2014. Fonte: Cepea.

Já para produtores de cria, o cenário foi muito positivo nos últimos anos, tanto pela valorização do bezerro como pelo aumento da produtividade.

Um exemplo disso foi verificado na região do pantanal sul mato-grossense. O Cepea, em parceria com a CNA, realizou três painéis em Corumbá (MS): um em 2009, outro em 2011 e, recentemente, o terceiro, em maio de 2014. Os resultados desses painéis indicam uma melhora considerável tanto em retorno econômico quanto em uso dos recursos naturais.

Nesses seis anos (de 2009 a 2014), a área da propriedade típica da região de Corumbá manteve-se em 10.000 hectares. Trata-se de uma das maiores propriedades modais da base de dados do Cepea/CNA, resultado das características edafoclimáticas da região (parte do ano, a área fica alagada). Para uma mesma área, em cinco anos, houve crescimento de 36% no rebanho total. Como consequência, a taxa de lotação em área de pasto aumentou de 0,21 UA (Unidade Animal = 450 quilos) por hectare em 2009 para 0,33 UA/hectare na média parcial de 2014.

Além da melhora no manejo da pastagem, a redução da taxa de mortalidade pré-desmama de 8,7% para 3% contribuiu para otimizar o uso da área produtiva. Também houve redução significativa do período de intervalo entre partos, de 24 meses para 15 meses.

Tabela 1: Indicadores de produtividade em Corumbá/MS

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Os avanços na utilização dos recursos, no manejo do rebanho e das pastagens, somados à forte valorização no mercado de reposição resultaram em aumentos na rentabilidade do pecuarista pantaneiro. Em 2009, para cada real gasto no COE, o produtor obteve um retorno médio de R$ 1,47, em relação ao COT, o retorno foi de R$ 1,22. Em 2011, esses valores subiram para R$ 1,97 (COE) e R$ 1,68 (COT) e, em 2014, para R$ 2,36 no caso do COE; já em relação ao COT, baixou para R$ 1,34.

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Figura 5: Retorno por real investido, 2009, 2011 e 2014 – Corumbá/MS. Fonte: Cepea/CNA.

Cabe destacar que o valor de aquisição da terra não foi considerado nesses cálculos. O custo de oportunidade da terra é englobado no Custo Total (CT). Neste caso, em todos os anos (de 2009 a 2014), as receitas foram menores que o CT. Estes valores não são apresentados, pois essa metodologia não considera a valorização da terra. No entanto, sabe-se que a terra raramente desvaloriza, compensando assim o capital investido.

Apenas para exemplificar, em 2009, o valor da terra para pastagem em Corumbá/MS era de R$ 500, subiu para R$ 700 em 2011 e para R$ 1.000 em 2014, valores nominais.

A alta do COT (Custo Operacional Total) e do COE (Custo Operacional Efetivo) acumulada no primeiro semestre de 2014 foi a terceira mais expressiva para o período da série histórica do Cepea/CNA, iniciada em 2004. O maior aumento ocorreu nos seis primeiros meses de 2008, de 39,87% para o COE e de 35,37% para o COT, na “média Brasil” (que engloba os estados da BA, GO, MG, MT, MS, PA, PR, RO, RS, SP e TO). Na sequência, vieram as variações positivas registradas de janeiro a junho de 2010, de 14,75% (COE) e 12,77% (COT). Neste ano, o semestre encerrou com respectivas altas de 12,87% e 10,72%.

Nos outros anos, os aumentos não ultrapassavam os 5% tanto para o COE como para o COT. O ano de 2009, após o recorde de aumento nos custos em 2008, foi o único a registrar variação negativa no acumulado de jan-jun, 8,61% para o COE e de 7,77% para o COT.

Entre os estados que compõem a “média Brasil”, no Pará e em São Paulo, o aumento acumulado nos custos em 2014 (até junho) já é o segundo maior da série histórica, atrás apenas dos percentuais de 2010. Para Tocantins, as altas só ficam abaixo das de 2008. No Rio Grande do Sul, por sua vez, os aumentos no COE e COT não foram tão expressivos, ocupando a quinta maior variação da série histórica. Neste estado, os gastos com a compra de animais não pesam tanto no COE e COT.

Além dos preços recordes do bezerro, a valorização dos suplementos minerais contribuiu para elevar os custos. No acumulado do primeiro semestre, na “média Brasil”, o grupo de suplementos minerais se valorizou 4,53%. A maior alta de preços deste item ocorreu em Minas Gerais, de 8,41%, a quarta mais significativa da série para o período. Por outro lado, o aumento menos expressivo foi registrado em Goiás, de 1,19%. Na “média Brasil”, este grupo de insumo representou 12,37% do COE e 10,12% do COT, no semestre. Em anos anteriores, quando o bezerro era cotado a preços menores, a participação da suplementação mineral ficava mais evidente. Em 2009, por exemplo, no primeiro semestre, este grupo representou 26,13% do COT e 31,58% do COE.

Também relevantes para os custos, os gastos com mão de obra tiveram um encarecimento de 6,78% este ano, também na média nacional. Apesar do reajuste, foi a menor variação positiva desde 2004. A maior alta ocorreu em 2006, de 16,67%.

Neste grupo, especificamente, o reajuste acontece apenas em janeiro, como resultado da decisão governamental. Nos demais grupos de custos, as mudanças ocorrem ao longo do ano, conforme as oscilações dos mercados. Este grupo representou 11,23% do COT e 13,74% do COE no primeiro semestre.

Outro grupo de destaque este ano é o de vacinas contra febre aftosa. Muitos colaboradores do Cepea relataram que os preços deste item estão elevados, principalmente em relação aos patamares registrados na primeira campanha da doença de 2013. De fato, na média dos estados acompanhados por ligação telefônica (AC, BA, GO, MA, MG, MT, MS, PA, PR, RO, RS, SP eTO), o preço real em maio/14 (mês da primeira campanha de vacinação) superou em 18,1% a média de igual período em 2013 (deflacionado pelo IGP-DI de jun/14), passando para R$ 1,56 a dose. No entanto, se comparado ao valor médio de maio/04 (ano de início da coleta), de R$ 1,70 a dose, o preço atual fica 8,2% menor, também em termos reais.

Desde 2004, o Cepea levantou mais de 1.360 preços da vacina de aftosa. Apesar de os períodos de campanha de vacinação contra essa doença se concentrarem em maio (primeira etapa) e novembro (segunda), o levantamento é feito mensalmente, tendo em vista que muitos colaboradores trabalham com estoques. Ao longo desses anos, os valores variaram muito. O menor preço foi registrado em agosto e setembro de 2012, de R$ 1,19 a dose, seguido pela média de R$ 1,24 a dose verificada em maio, junho e julho de 2012. Em maio de 2013, a dose foi negociada na média de R$ 1,32. Uma das alternativas para os pecuaristas tem sido a compra conjunta, que, devido ao ganho de escala, permite melhores preços.

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Figura 6: Preço da vacina contra febre aftosa (dose) – 2004 a 2014 – valores reais. Fonte: Cepea/CNA.

Os custos de produção da pecuária de corte brasileira subiram fortemente no primeiro semestre, superando a alta no preço da arroba. Na “média Brasil” (que engloba os estados da BA, GO, MG, MT, MS, PA, PR, RO, RS, SP e TO), o Custo Operacional Total (COT) acumulou aumento de 10,72% e o Custo Operacional Efetivo (COE), de 12,87%, de janeiro a junho. No mesmo período, o boi gordo (média mensal do Indicador ESALQ/BM&FBovespa) se valorizou 8,56%.

Foram os maiores percentuais de alta para o intervalo desde 2010 – no primeiro semestre daquele ano, o COT e o COE acumularam elevações de 12,77% e 14,75%, respectivamente, enquanto a arroba se valorizou 10,03%.

No segundo trimestre os maiores gastos com reposição de animais e suplementação mineral foram os principais responsáveis por elevar os custos de produção. Na “média Brasil”, a alta foi de 1,79% para o COT e de 2,44% para o COE, em relação ao primeiro trimestre de 2014. Por outro lado, a arroba se desvalorizou 2,61% no mesmo período.

Em abril, o COT e o COE tiveram respectivas altas de 0,31% e 0,47%, na comparação com o mês anterior. A compra de animais, grupo de maior peso nos custos, teve um encarecimento de 6,27%, resultado da menor oferta e maior procura por parte dos criadores, No mesmo período (de março para abril), o boi gordo se desvalorizou 0,17%.

Em maio, os custos de produção continuaram subindo: mais 1,60% para o COT e 1,91% para o COE, em relação ao mês anterior. Novamente, o bezerro apresentou alta significativa, de 3,34% de abril para maio.

Também houve aumento de 1,04% no grupo de medicamentos para controle parasitário e de 1,32% para o de medicamentos de uso em geral. Do lado da receita, os preços do boi gordo tiveram nova queda, de 2,24%.

Já em junho, os custos caíram pela primeira vez no ano, em 0,27% para o COT e em 0,18% para o COE, sobre o mês anterior. Nesse período, o bezerro se desvalorizou 0,73%.

Devido à menor demanda, os preços de sementes forrageiras caíram 5,06% de maio para junho. No mercado de grãos, as variações também foram negativas, pressionando o grupo da dieta, em 2,05%. Do lado da receita, o Indicador do boi gordo caiu 0,16% em junho, com a média mensal passando para R$ 121,70. Apesar do recuo, o valor da arroba de jun/14 superou em 15,5% o de junho/13, já descontada a inflação do período (IGP-DI de maio/14).

Segundo colaboradores do Cepea, as quedas de preços do boi gordo no segundo trimestre de 2014 estiveram atreladas principalmente à pressão compradora.

Alegando menores vendas no atacado, frigoríficos tentaram adquirir a arroba a valores mais baixos. No entanto, a oferta de animais continuou restrita, devido ao clima adverso, o que acabou limitando essa pressão da indústria.

A queda do valor médio do boi gordo no segundo trimestre, porém, não superou a valorização acumulada nos primeiros três meses do ano, resultando num acumulado positivo no semestre. Em decorrência principalmente dos aumentos de preços no mercado de reposição, o movimento de alta dos custos do primeiro trimestre se manteve no segundo, mas de forma muito menos expressiva.

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Fonte: CEPEA, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.

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