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Utilização do resíduo industrial de tomate na alimentação de bovinos

O manejo do resíduo industrial de tomate (RIT) representa sério problema de contaminação ambiental para a indústria. Entretanto, em virtude da disponibilidade e composição bromatológica e boa aceitabilidade pelos animais, tal resíduo tem sido utilizado como ingrediente na dieta de bovinos, verificando-se consumo da ordem de 4 a 5 kg/animal/dia e inexistência de casos ligadas a problemas sanitários (CAMPOS, 2005; LIMA & LIMA, 1995). Artigo de Por Luiz Carlos Vieira Júnior, Marco Aurélio Factori e Felipe Azevedo Ribeiro.

Por Luiz Carlos Vieira Júnior, Marco Aurélio Factori, Felipe Azevedo Ribeiro*.

O Brasil lidera a produção de tomate destinado ao processamento industrial na América do Sul (CZEPAK & SANTANA, 2010). Estima-se que 77% da produção no Brasil seja destinada ao consumo in natura. O restante é direcionado para o processamento de polpa, normalmente feito a partir de tomates rasteiros (SEADE, 2009. Em 2010 a área plantada de tomate para fins industriais, correspondeu cerca de 22 mil ha e produção aproximada de 1,6 milhões de toneladas.

Atualmente, a produção de tomate para processamento vem se concentrando na região Centro-Oeste. O estado de Goiás lidera a produção nacional de tomate, tendo a maior área plantada do país, cerca de 23% e produção superior a 1 milhão de toneladas (IBGE, 2011).

Nas indústrias produtoras de sucos e polpas de tomate, 5 a 10% do peso do fruto é tido como resíduo. Este é composto basicamente de sementes, cascas e pequena porção de polpa, sendo que a percentagem de tais frações é dependente do produto final. No caso, quando o fruto é destinado a produção de molho ou ketchup, há maior proporção de sementes no resíduo.

O manejo do resíduo industrial de tomate (RIT) representa sério problema de contaminação ambiental para a indústria. Entretanto, em virtude da disponibilidade e composição bromatológica (Tabela 1) e boa aceitabilidade pelos animais, tal resíduo tem sido utilizado como ingrediente na dieta de bovinos, verificando-se consumo da ordem de 4 a 5 kg/animal/dia e inexistência de casos ligadas a problemas sanitários (CAMPOS, 2005; LIMA & LIMA, 1995).

Tabela 1. Composição bromatológica da casca, semente e resíduo de tomate industrial em porcentagem da matéria seca

 

PB= proteína bruta, FDN= fibra em detergente neutro, FDA= fibra em detergente ácido, EE= extrato etéreo, NIDA= nitrogênio insolúvel em detergente ácido. Fonte: Campos et al. 2007.

Ainda, pela Tabela 1, pode ser visualizada a elevada percentagem de lignina, principalmente nas cascas (20,4%). Também merece destaque o nível de EE do resíduo integral (15,5%). No que diz respeito a taxa de degradação da FDN, Campos et al. (2007), verificaram valor de 14,77%/h para o resíduo integral. Porém, seu potencial de degradação após 72 horas de incubação, foi de 60%, e de apenas 38% para sementes inteiras. Portanto, em ocasiões de significativa participação de sementes no resíduo integral, ocorrerá decréscimo no potencial de degradação.

Em função dos seus elevados teores de lignina e extrato etéreo, a redução na digestibilidade da FDN e no consumo podem ser comprometidos (FONDEVILLA et al, 1994). Ainda, a baixa degradação ruminal in situ das sementes inteiras pode comprometer a utilização de resíduos constituídos em sua maior parte por sementes (CAMPOS et al, 2007). Quantidade considerável de sementes nas fezes de bovinos confinados. Além disso, a proteína associada à fibra, que representa boa parte da PB do alimento, apresenta baixa degradabilidade ruminal (CAMPOS et al, 2007). Também, considerando o elevado teor de lipídeos, a inclusão do resíduo industrial de tomate pode incrementar o nível energético da dieta, o que é interessante na fase de terminação de bovinos.

As maiores limitações na utilização de resíduos de hortifrutigranjeiros são a sua elevada umidade, elevando os custos com transporte e dificultando a conservação do material. Sendo que esta última pode ser conduzida de maneira prática, como secagem ao sol ou ensilagem.

Campos et al. (2007), utilizaram oito formas diferentes: com e sem compactação, duas e quatro horas de pré-secagem, com adição de 1 e 2% de melaço e com adição de 2 e 5% de polpa cítrica no resíduo industrial de tomate. Os autores verificaram que o material ensilado apresentou bom aspecto, não tendo sido constatado efeito dos tratamentos sobre a matéria seca (MS) (19,8%), e as concentrações (g/100 g MS) de acetato (1,07), propionato (0,14), butirato (0,01) e ácidos totais (1,68).

Outro fato que merece ser reportado quanto à utilização de RIT na alimentação de ruminantes está associado a questões sanitárias. No trabalho de Campos et al. (2006), quatro amostras de resíduo industrial de tomate (RIT) foram examinadas visando a detecção de agrotóxicos utilizados na cultura do tomate. Confirmou-se clorfenapir em todas as amostras (0,13 a 0,28mg/kg) e clorpirifós em duas delas (0,05 e 0,1mg/kg). Verificaram-se concentrações muito baixas de agrotóxico na carcaça de bovinos consumindo em média 9,2kg de resíduo por dia. Tais quantidades são inofensivas para saúde humana (CAMPOS et al. 2006).

Quanto às recomendações práticas de utilização deste ingrediente na dieta de bovinos, é prudente não exceder 30% da MS da dieta. Contudo, mais pesquisas são necessárias.

*Luiz Carlos Vieira Júnior (Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia/UNESP-Botucatu), Marco Aurélio Factori (Pós Doutorando do Departamento de Melhoramento e Nutrição Animal /UNESP-Botucatu) e  Felipe Azevedo Ribeiro (Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia/UNESP-Botucatu).

Literatura Citada

CAMPOS, W.E; BORGES, A.L.C.C; SATURNINO, H.M; et al. Degradabilidade ruminal da fibra das frações do resíduo industrial de tomate. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.59, n.1, p.189-195, 2007.

CAMPOS, W. E. Avaliação do resíduo industrial de tomate na alimentação de ruminantes. Belo Horizonte: Escola de Veterinária da UFMG, 2005. 123p. (Tese de Doutorado).

CAMPOS, E. W.; MELO, M. M.; BORGES, A. L. C. C. et al. Agrotóxicos no resíduo industrial de tomate e conseqüente risco na nutrição animal. Vet. Not., Uberlândia, v. 12, n. 2, p. 25-30. 2006

CZEPAK, C; SANTANA, H.G. Avanços tecnológicos para a cultura do tomate indústria. 2010. Disponível em: <http://www.abcsem.com.br/noticia.php?cod=1947>. Acesso em: 28/09/2011.

FONDEVILA, M.; GUADA, J. A.; GASA, J. et al. Tomato pomace as a protein supplement for growing lambs. Small Ruminant Research, v.13, p.117- 126, 1994.

IBGE. Levantamento Sistemático da produção Agrícola: pesquisa mensal de previsão e acompanhamento das safras agrícolas no ano civil. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Rio de Janeiro v.24 n.02 p.1-82 fev.2011

LIMA, F. A. P.; LIMA, M. L. P. Tomate e outros hortifrutigranjeiros. In: SIMPÓSIO SOBRE NUTRIÇÃO DE BOVINOS, 6., Piracicaba, 1995. Anais… Piracicaba:FEALQ, 1995. p.281-291.Norberto et al., (2000)

SEADE. Fundação Sistema Estadual Análise de Dados. Estatísticas vitais. Disponível em: <http://www.seade.gov. br/>. Acesso em: 19 nov. 2009.

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