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Utilização de silagem de milho reidratado na alimentação de bovinos

Por Marcos Neves Pereira¹ e Renata Apocalypse Nogueira Pereira²

¹Médico Veterinário, Ph.D., professor associado.DZO/UFLA, mpereira@dzo.ufla.br

²Zootecnista, D.Sc., pesquisadora EPAMIG-URESM

A silagem de milho reidratado é uma forma de armazenamento do grão na fazenda e pode aumentar a digestibilidade do amido. Nos Estados Unidos, o milho cultivado é predominantemente farináceo (Macio ou dentado, apesar do escore de indentação não ser uma medida válida da textura do endosperma no grão), enquanto o milho cultivado no Brasil é predominantemente vítreo (Duro ou flint).

Híbridos duros são menos digestíveis do que híbridos macios. Como híbridos de milho brasileiros têm baixa digestibilidade, por terem endosperma de alta vitreosidade, a silagem de milho reidratado pode aumentar a eficiência alimentar dos rebanhos bovinos, já que o milho é nosso principal concentrado energético.

A silagem de milho reidratado consiste basicamente na hidratação do grão maduro moído, o que propicia sua fermentação e armazenamento como silagem. Durante a ensilagem do grão ocorre a degradação de prolaminas envolvendo os grânulos de amido no endosperma, aumentando o acesso enzimático ao amido no trato digestivo, capaz de aumentar a proporção da digestão ocorrendo no rúmen. Maior digestão ruminal do amido pode aumentar a síntese de proteína microbiana, a eficiência de utilização do nitrogênio dietético, o consumo de matéria orgânica digestível, dentre outras características ligadas a produção animal. Entretanto dietas devem ser formuladas na medida certa, para então usar adequadamente o alimento, de modo a evitar a ocorrência de acidose ruminal.

Como a moagem e ensilagem do milho maduro é uma operação programável, a tecnologia é adotável tanto para pequenos como para grandes produtores, já que o moinho pode ter uso comunitário. A técnica pode aumentar a eficiência de uso da mão de obra e pode induzir ganho financeiro pela possibilidade de armazenamento do milho na fazenda e pela obtenção de ganho em digestibilidade do amido, o que é capaz de reduzir o uso de alimentos concentrados (ração).

Práticas para confeção da silagem de milho reidratado

Em grãos maduros a moagem pode ser fina, o que pode fisicamente aumentar a digestibilidade do amido no rúmen. Uma prática fundamental para a qualidade da silagem de milhoreidratado é a homogeneização da água ao grão moído. Este processo pode ser realizado através de uma adaptação de canos ao moinho para hidratação simultânea à moagem próxima ao silo (Figura 1), por mistura da água ao grão já triturado em um vagão misturador ou por adição de água a uma rosca sem-fim após a moagem.

A adaptação no moinho consiste em passar canos perfurados imediatamente abaixo da peneira do equipamento. Desta maneira, o milho triturado é imediatamente misturado à água e cai no silo bem homogeneizado. Caso a água seja incorporada ao milho moído por mistura não vigorosa, a hidratação do grão não será perfeita, e pode resultar em perda do ensilado por crescimento de fungos.

Figura 1: Moinho adaptado com canos para propiciar a hidratação do milho durante a moagem do grão maduro para ensilagem

Enfatizar a importância da incorporação perfeita da água ao milho moído é importante. Distintamente da prática de aspergir inoculantes em silagens com o intuito de atuar positivamente sobre o processo fermentativo no silo, a quantidade de água necessária para trazer o teor de umidade do grão maduro para valores adequados à ensilagem é bem maior.

Com base no pH final das silagens, obter teores de umidade do ensilado acima de 30% da matéria natural é adequado. A recomendação prática tem sido acrescentar de 250 a 300 litros de água por tonelada de milho com teor de umidade ao redor de 12%. Ao longo do processo de moagem e incorporação da água é recomendável mensurar periodicamente o teor de umidade do grão hidratado e ajustar a vazão de água de acordo com a meta desejada. Na prática, isto pode ser feito de forma simples por tostagem em frigideira de uma quantidade conhecida de grãos, até que não ocorra mudança no peso da amostra.

Em silagem de milho reidratado, a densidade é de 900 a 1000 kg/m3, quando teores de umidade do ensilado atingem mais de 30% da matéria natural. Como a profundidade de descarga de silagens deve ser de pelo menos 15-20 cm da face, visando reduzir perdas por deterioração aeróbica durante o descarregamento, se recomenda que silos de milho reidratado sejam menores que silos utilizados para a forragem de milho, já que a quantidade do alimento fornecido por animal é menor e a densidade da silagem é maior no reidratado.

Menores valores de perda de matéria seca e pH em silagens aditivadas com inoculantes microbianos sugerem que o investimento neste tipo de aditivo é recomendável. Apesar da ensilagem ocorrer mesmo sem o uso do inoculante, o alto valor financeiro por unidade de milho ensilado, comparativamente a uma silagem de planta inteira, pode justificar a prática de inoculação, como forma de garantir um melhor perfil fermentativo e reduzir a perda de alimento durante a estocagem no silo.

Os itens abaixo sintetizam as práticas para confecção da silagem de milho reidratado:

  • Moer o milho finamente para obter a máxima digestibilidade;
  • Incorporar água de forma uniforme para obter teor de umidade acima de 30% da matéria natural (Ideal 35 a 38% de umidade) (>250 litros por tonelada de grão);
  • É recomendável usar inoculante bacteriano na ensilagem;
  • Encher o silo rapidamente e compactar bem;
  • Retirar camadas de pelo menos 15 cm/dia ao descarregar (Densidade em torno de 900 kg/m3);
  • Estimar o gasto diário para dimensionar os silos;
  • A abertura do silo pode ser realizada poucos dias após a ensilagem e com aumento no tempo de armazenamento ocorre ganho na digestibilidade e
  • Balancear a dieta dos animais, lembrando que milho é fonte de energia.

Por Marcos Neves Pereira¹ e Renata Apocalypse Nogueira Pereira²

¹Médico Veterinário, Ph.D., professor associado.DZO/UFLA, mpereira@dzo.ufla.br

²Zootecnista, D.Sc., pesquisadora EPAMIG-URESM

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