Por Carlos Antônio de Carvalho Fernandes 1
A relação custo-benefício é a principal variável a ser observada na incorporação de novas tecnologias, em qualquer setor produtivo. Sem as informações corretas sobre esta condição, a aplicação de certas técnicas, em determinadas situações pode trazer resultados diferentes dos esperados, o que ás vezes faz com que diminua a credibilidade e o interesse para a mesma.
A atual palavra de ordem no contexto da bovinocultura do país é a “eficiência”. Cada vez mais o controle das etapas relacionadas a produção se tornam imprescindíveis para o sucesso da exploração. Com o desenvolvimento acelerado da ultra-sonografia aplicada a reprodução de bovinos, novas perspectivas surgem para um melhor controle destas atividades, visando a melhoria da performance reprodutiva dos rebanhos.
A utilização rotineira da ultra-sonografia é um dos mais profundos avanços no campo da reprodução animal, desde o desenvolvimento da palpação retal e do uso do radioimunoenssaio para detecção de hormônios.
Neste primeiro artigo, serão discutidos aspectos básicos relacionados à técnica, equipamentos e utilização. No segundo artigo, continuação deste, serão abordados aplicações específicas, como diagnóstico precoce de gestação, sexagem fetal e outros.
O diagnóstico de gestação precoce, a sexagem fetal e o diagnóstico de patologias no útero e ovários são apenas alguns exemplos do potencial desta técnica, que além de não invasiva, fornece resultados precisos, rápidos e precoces. Sem dúvida uma das principais ferramentas no auxilio a uma boa eficiência. A ultra-sonografia pode revelar a estrutura interna dos órgãos reprodutivos e também do concepto, com precisão de mensuração e outras características além de outros exames.
A ultra-sonografia se baseia na produção de imagens pelo uso de ondas sonoras de alta freqüência As ondas acústicas do ultra-som são ondas de pressão, produzidas pela compressão e descompressão alternadas das moléculas dos tecidos adjacentes. Estas ondas de pressão são geradas pela vibração de cristais com propriedades piezoelétricas, presentes no transdutor do aparelho, quando submetidas a correntes elétricas alternadas. Estas ondas têm a propriedade de se propagar pelos tecidos orgânicos. À medida que uma onda atravessa um determinado corpo, parte é refletida na forma de um eco e parte prossegue interagindo com tecidos mais profundos.
A densidade e a organização de um tecido determinam que proporção da onda ultra-sonográfica será refletida. Líquidos não refletem as ondas, sendo caracterizados como anecóicos ou não-ecogênicos, originando imagens escuras; tecidos muito densos refletem a maior parte da onda, sendo caracterizados como hiperecóicos ou hiperecogênicos, produzindo imagens mais claras. Cada tecido apresenta um padrão ultra-sonográfico próprio. Tecidos de diferentes resistências acústicas, quando em contato, produzem interfaces que permitem diferencia-los.
Os cristais agem, ao mesmo tempo, como transmissores e como receptores. As ondas refletidas pelos tecidos são reconvertidas pelos cristais do transdutor em pulsos elétricos. Os pulsos são amplificados, compensados para diferenças de intensidade e utilizados por um receptor na geração de uma imagem bidimensional. O tempo entre a emissão do pulso elétrico e o retorno do eco é utilizado no cálculo da distância entre a estrutura e o transdutor. Um tecido mais distante do transdutor, no momento da análise, apresenta imagem na porção inferior da tela. A imagem é representada por uma escala de tonalidades cinza.
Aplicações na reprodução animal
A ultra-sonografia tem diversas aplicações como método de diagnóstico em várias espécies, especialmente no exame do aparelho reprodutor. Dentre as vantagens da técnica está o fato de não ser invasiva, relativamente simples de ser efetuada, segura tanto para o animal como para o operador, poder ser realizada a campo e fornecer diagnósticos imediatos na maioria dos casos. Até o início da utilização da ultra-sonografia em medicina veterinária, a avaliação semiológica do trato reprodutivo, e particularmente dos ovários de grandes animais, estava limitada aos achados oriundos da técnica de palpação retal e de técnicas invasivas, como a laparotomia e laparoscopia. As limitações destas técnicas são evidentes.
No caso da palpação retal, pela subjetividade ou inexatidão na avaliação dos parâmetros e pela eventual lesão tecidual ocasionada pelos processos de laparotomia e laparoscopia. O estudo da atividade folicular e luteal, com base em achados realizados após o abate ou retirada do órgão, impossibilitava o monitoramento seqüencial das estruturas ovarianas ao longo do ciclo estral. A ultra-sonografia transretal, por ser uma técnica não-invasiva e permitir a visualização de estruturas de maneira bem correlata à imagem de seu corte anatômico, permitiu a superação de grande parte destas limitações. A técnica de ultra-sonografia transretal demonstrou ter múltiplas aplicações na avaliação morfológica e funcional do aparelho reprodutor feminino em eqüinos e bovinos e também em outras espécies.
O uso do ultra-som possibilitou grandes avanços no estudo da fisiologia ovariana, particularmente na caracterização do padrão de crescimento folicular, desenvolvimento, manutenção e regressão luteal, e ocorrências durante a fase inicial da gestação. As principais aplicações da ultra-sonografia em reprodução animal são:
– Estudo da fisiologia ovariana e uterina durante o ciclo estral e gestação;
– Avaliação das gônadas do macho e estruturas de acesso pélvico;
– Auxílio no diagnóstico de alterações patológicas de útero e ovário;
– Avaliação ginecológica de animais destinados à doadores de embriões;
– Diagnóstico de gestação precoce;
– Monitoramento da gestação inicial para verificação de perdas embrionárias;.
– Sexagem fetal;
– Guia para punção folicular de oócitos.
Seleção do aparelho
Antes de se adquirir um aparelho deve-se ter em mente que embora exista um grande potencial de aplicações, na maioria das vezes um único aparelho não é capaz de executar da forma mais adequada todas estas atividades, principalmente sem alguns acessórios. Assim é importante verificar a utilização principal do mesmo e direcionar a compra para um equipamento que possa executar um maior número de atividades previstas. As principais características são:
1. Resolução: primeira característica a ser considerada.
2. Tipo de transdutor:
3. Freqüência de onda
4. Características do software
5. Tipo de uso: Fixo ou móvel;
6. Fonte de energia própria e auxiliar (bateria de automóvel);
7. Tamanho da tela;
8. Garantia, assistência técnica, peças de reposição e outros;
9. Relação custo benefício
Avaliações do genital
Útero: Deve-se ajustar a posição do transdutor para obter uma boa imagem do corno uterino. Em geral, uma visão do corno é mais útil em seções sagitais, pois seções angulares são mais difíceis de interpretar. Seções transversais podem auxiliar no diagnóstico de algum conteúdo na luz. Um exame sistemático dos cornos uterinos é recomendado iniciando-se pela cérvix e progredindo distalmente ao longo de cada um dos cornos uterinos. A aparência ultra-sonográfica do útero e das estruturas presente nos ovários auxilia a determinação do estágio do ciclo estral.
Os fluidos intra-uterinos começam a aumentar três a quatro dias antes do estro, atingindo o máximo por volta do estro, e então declinando. A ecotextura uterina é relativamente uniforme durante o diestro, mas torna-se muito mais grosseira próxima ao momento do estro. Os fluidos intra-uterinos nos casos de metrite ou piometra têm graus variados de eco densidade variando de um aspecto floculento até intensamente branco. Pelo contrário, fluido intra-uterino fisiológico é totalmente não-ecóico.
Ovários: A ultra-sonografia é o principal método de avaliação da dinâmica de desenvolvimento folicular. Os folículos ovarianos aparecem como estruturas não eco-ecoícas, geralmente como uma borda delgada. Os folículos podem parecer irregulares devido à compressão por outras estruturas ovarianas. O corpo lúteo é facilmente detectável um ou dois dias após a ovulação. Numa fêmea ciclando, o corpo lúteo regride alguns dias antes do estro.
O corpo lúteo (CL) é geralmente visível aproximadamente até a ovulação subseqüente (às vezes até dois ou três dias após a próxima ovulação). Daí em diante, o CL não pode ser distinguido do estroma ovariano. Uma cavidade central se forma em aproximadamente 70% dos CL. As cavidades centrais não possuem efeito significativo sobre fertilidade, duração do ciclo ou concentração plasmática de progesterona.
Figura 1. Imagens ultra-sonográficas de útero não gestante e dos ovários (cortesia: Biotran LTDA).
Figura 2. Imagens de ovários bovinos em diferentes situações “não fisiológicas” (cortesia: Biotran LTDA)
_______________________________
1 Med. Vet. D.S. e Diretor Técnico da Biotran
0 Comments
O artigo em questão é ótimo, de fácil entendimento e bem ilustrado.
Parabéns pelo artigo e obrigado pelas informações!
Marcos Garcia
Prezado Dr Carlos,
As imagens deste artigo foram feitas com qual aparelho de ultra-som?
Um abraco.
Resposta do autor:
Prezado alejandro urbina malaver
As imagens foram feitas com um aparelho marca Esaote, modelo Áquila.
Carlos Fernandes