Simental no 5o Leilão Top Class em Avaré
24 de janeiro de 2006
Rodrigues: embargo russo acaba em fevereiro
26 de janeiro de 2006

Uso de forragens conservadas em confinamentos: parte 1

Por Rafael Camargo do Amaral1, Gustavo Rezende Siqueira2, Flávio Dutra de Resende2 e do Ricardo Dias Signoretti2

Uma das estratégias utilizadas pelos produtores para intensificação dos sistema de produção é o confinamento. Bem planejado, tem possibilitado o aumento do ganho de peso diário dos animais e redução da idade de abate, com reflexos positivos na taxa de desfrute, na obtenção de carcaças de melhor qualidade e no maior giro de capital, que o torna como alternativa tecnológica importante devido à exigência em relação à qualidade de carne do mercado internacional.

Dessa forma, é necessária a utilização de forragens conservadas de qualidade, associadas a alimentos concentrados, buscando ingredientes disponíveis na região a baixo custo. Assim, podem-se assegurar ganhos de peso satisfatórios e utilização de animais de alto potencial genético.

O estágio de maturidade da planta à colheita, influencia seu valor nutritivo mais do que qualquer outro fator, notadamente, em gramíneas e leguminosas forrageiras, quando colhidas para feno ou silagem. Neste sentido é fundamental o conhecimento do momento da colheita, pois a forragem de melhor qualidade com certeza será aquela que promoverá maiores consumos, melhor desempenho animal e conseqüentemente maior lucratividade do sistema.

O consumo de matéria seca é uma das variáveis mais importantes que afetam o desempenho animal, sendo influenciado por características do animal, do alimento e das condições de manejo alimentar. Para conseguir maximizar o consumo de energia deve-se manipular de maneira adequada a proporção de volumoso:concentrado na dieta. Desta maneira, no balanceamento de dietas, devem-se suplementar os volumosos disponíveis com concentrados, procurando corrigir suas deficiências de nutrientes, seja em virtude da qualidade da forragem ou da impossibilidade de atendimento das exigências nutricionais de categorias de animais de desempenho mais elevado.

A maioria dos estudos desenvolvidos com silagens tem avaliado diferentes níveis de suplementação de concentrados sobre o desempenho dos animais. Steen & Kilppatrick (2000), avaliaram níveis crescentes de concentrados, em dietas a base de silagens de gramíneas, fornecidas ad libitum e restrita, a novilhos mestiços Simental x Holandês. Os autores verificaram que o aumento na proporção do concentrado na dieta propiciou redução no consumo de silagem em 0,56 kg de MS/kg de MS de concentrado (Tabela 1), denotando efeito associativo combinado, condição que foi caracterizada pela substituição no consumo de silagens de gramíneas por alimentos concentrados de alta digestibilidade, no entanto ainda observou-se elevação no consumo total. Ressalta-se dessa forma a importância da adequada combinação entre volumosos e concentrados, com vistas à maximização do consumo, pois a resposta à suplementação com concentrado depende da qualidade da silagem e do potencial de ganho do animal, no entanto deve-se manter o foco final, a lucratividade do sistema.

Tabela 1. Consumo, desempenho animal e rendimento de carcaça1.


A produção animal a partir de silagens depende de características inerentes das silagens (teor de matéria seca, estágio de maturidade, tipo de fermentação, entre outros fatores) e do animal que influenciam o nível de consumo de matéria seca, a digestibilidade dos nutrientes, nível nutricional anterior, e de outros fatores tais como: potencial genético do animal, idade, estágio de produção e/ou reprodução.

A colheita de plantas para ensilagem no estágio de maturidade ideal, para ótimo rendimento de nutrientes digestíveis, necessariamente não resulta em elevados consumos de forragem e altas taxas de desempenho animal, dado que o processo de ensilagem resulta em perdas na colheita e no armazenamento, bem como no consumo potencial da forragem ensilada, em comparação ao mesmo material, na forma fresca. Erdman (1993), verificou redução no consumo potencial de silagem variando de 30 a 40%. As maiores reduções no consumo de silagem estão associadas com aquelas forrageiras de alta umidade ou colhidas diretamente, sem realização do emurchecimento. O processo fermentativo dessas silagens é mais intenso, o que resulta em maiores perdas e aumentos na produção de ácidos acético e butírico.

O pH da silagem é outro fator que pode afetar o consumo. Trabalhos de pesquisa verificaram que o ótimo consumo de silagem ocorreu a um pH de 5,6. Entretanto, a faixa de pH da silagem que resultou em redução mínima do consumo variou de 4,5 a 7,0. Se o pH estiver fora dessa faixa, o consumo pode ser reduzido de 5 a 15% (Erdman, 1993). No entanto, ao se pensar no processo fermentativo, instala-se um antagonismo, pois a redução do pH a valores inferiores a 4,5; principalmente em silagens com teores de matéria seca baixos, é fundamental para a qualidade fermentativa e sanitária da silagem.

Outro aspecto negativo de silagens com baixo teor de matéria seca é a produção de efluentes (perdas por lixiviação). Efluentes contêm elevadas concentrações de carboidratos solúveis, ácidos orgânicos, macro e microelementos minerais, nitrogênio não-protéico, que constituem perdas de nutrientes altamente digestíveis, restando no silo um produto de qualidade inferior ao material original.

O confinamento cada vez mais é visto como uma ferramenta de manejo na propriedade em detrimento da consolidação como uma atividade isolada. Dentro desse aspecto a competência na produção da forragem conservada, bem como o correto ajuste dessa com concentrados estratégicos, são as bases para o sucesso da atividade.

Literatura consultada

ERDMAN, R. Silage fermentation characteristics affeting feed intake. In: National Silage Production Conference, Syracuse, NY. Proccedings…Syracuse:NRAES-67. p.210-219. 1993.

RESENDE, F.D.; SIGNORETTI, R.D.; COAN, R.M.; SIQUEIRA, G.R. Terminação de bovinos de corte com ênfase na utilização de volumosos conservados. In: Volumosos na Produção de Ruminantes. Jaboticabal, 2005. Anais… Jaboticabal,SP: FUNEP, 2005. p.83-106.

STEEN, R.W.J.; KILPPATRICK, D.J. The effects of the ratio of grass silage to concentrates in the diet and restricted dry matter intake on the performance and carcass composition of beef catle. Livest. Prod.Sci., 62(2): 181-192. 2000.
_________________________
1Zootecnista, mestrando em Ciência Animal e Pastagens pela ESALQ/USP.
2Pesquisadores do Pólo Regional do Desenvolvimento dos Agronegócios da Alta Mogiana (APTA).

Os comentários estão encerrados.

plugins premium WordPress