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Uso de aditivos em silagens de cana e cana in natura

Introdução

Em artigo anterior (Silagem de cana-de-açúcar, de 01/06/2001) comentávamos sobre alguns aspectos positivos e negativos da escolha ou não da ensilagem da cana-de-açúcar. Salientamos, primeiramente, o interesse pela utilização da cultura da cana como cultura forrageira, enfatizando sua alta produtividade e a coincidência do seu amadurecimento com a fase de pouca disponibilidade de pastagens, de maio a outubro, para o Estado de São Paulo, porém não esquecendo do seu principal entrave nutricional, ou seja, o baixíssimo valor protéico.

Em seguida discutimos algumas características do processo de ensilagem e de alguns aditivos que podem ser utilizados para melhoria do processo fermentativo e do seu valor nutricional final, terminando com algumas considerações sobre situações em que seria viável a sua utilização, afirmando que uma visão mais ampla de negócio, ou seja, a visão de um sistema de produção de carne ou leite, ao invés de simplesmente avaliar o alimento volumoso individualmente, permitirá ao produtor decidir pela utilização da cana-de-açúcar na forma de silagem ou in natura, concluindo-se que a decisão pode ser mais acertada com qualquer uma, desde que outros parâmetros do sistema indiquem isso, principalmente com relação à disponibilidade da cana (excesso), disponibilidade e custo de mão-de-obra, disponibilidade de silos para armazenamento, disponibilidade de máquinas para colheita e/ou picagem e até a terceirização da colheita. O que atualmente é uma verdade absoluta é que a qualidade da silagem é menor do que a cana in natura, tanto do ponto de vista de ingestão de matéria seca como da sua digestibilidade, porém ganhos em outros segmentos do sistema de produção podem compensar essa perda e até aumentar a lucratividade do produtor.

Figura 1 – Cultura de cana-de-açúcar na região de Piracicaba.

Recente artigo publicado por pesquisadores do Instituto de Zootecnia, descreveu os resultados de quatro ensaios para avaliar o valor nutritivo da cana-de-açúcar nas formas in natura e silagem, tratadas com hidróxido de sódio ou com uréia, aditivadas com doses de 0, 40, 80 e 120 kg de rolão de milho por tonelada de cana tratada.

A utilização do hidróxido de sódio (1% da matéria original) tem como objetivo melhorar a digestibilidade da fibra, sabidamente de baixo valor nutritivo, apesar do seu alto teor na planta. É um produto que funciona, apesar dos riscos da elevação acentuada de sódio na dieta e riscos de contaminação ambiental pela alta excreção fecal, além da necessidade de cuidados com o manuseio deste produto para evitar acidentes com os operadores. A adição de uréia (0,5% da matéria original) tem como objetivo corrigir a ausência de proteína da cana, apesar de poder provocar algum efeito negativo sobre o abaixamento do pH (processo fermentativo). Os autores identificaram esse efeito através do aumento de álcool etílico e ácido acético na silagem, além da redução de consumo provavelmente provocada por essas substâncias, sabidamente inibidoras de consumo. O uso do rolão, segundo os autores, teve como objetivo elevar o teor de matéria seca da massa ensilada. Tanto a uréia quanto o hidróxido de sódio forma diluídos em água antes da mistura (50:50). A adição de rolão melhorou a perfil de fermentação das silagens, principalmente das aditivadas com uréia

A proteína bruta final da silagem de cana acrescida de uréia (9,38% na MS) foi menor que a cana in natura (10,13% na MS), provavelmente pela percolação de nitrogênio, altamente solúvel nesta forma, porém os dois valores podem ser considerados muito bons. As forragens tratadas com hidróxido de sódio, logicamente apresentaram valores inferiores de PB, ao redor de 4,5% na MS. Por outro lado, a digestibilidade destas silagens tratadas com NaOH foram superiores (66,32 x 60,46%) aos das não tratadas, embora não tenha afetado o consumo. Dados de literatura indicam valores de digestibilidade de silagens de cana sem aditivos de 55% (6 meses) a 50% (24 meses).

Os resultados do trabalho concluíram que o rolão de milho teve um efeito palatabilizante nas forragens aditivadas com hidróxido de sódio, além da elevação indireta dos teores de proteína bruta. O consumo de cana tratada com uréia foi sempre maior que as de silagem tratadas com esse aditivo.

Os autores concluem que a utilização de cana-de-açúcar picada e tratada com uréia e adicionada de rolão de milho é vantajosa, considerando o consumo de matéria seca e de nutrientes digestíveis totais pelos animais, embora o tratamento com hidróxido de sódio tenha aumentado a digestibilidade da cana, quer na forma de silagem ou in natura.

Comentário BeefPoint: a revisão bibliográfica deste trabalho reiterou o que temos afirmado, de que a ensilagem da cana reduz o seu consumo, porém o uso de determinados aditivos podem minimizar esse efeito. Vale frisar o efeito associativo entre os aditivos utilizados, fato este verificado claramente com a adição de uréia e de rolão de milho. Sabe-se dos efeitos benéficos da uréia sobre o desempenho animal em dietas com cana como principal volumoso, porém a sua adição às silagens de cana provoca efeitos negativos sobre o processo fermentativo, especificamente sobre a taxa de queda dos valores de pH, infelizmente não apresentados neste trabalho, porém a adição do rolão e a conseqüente elevação dos valores de matéria seca, interferiu positivamente no desempenho animal. Podemos afirmar que a decisão de ensilar a cana, além de todos os fatores agrícolas já relacionados em outros artigos, também deve ser analisada do ponto de vista do uso de aditivos e de suas associações e do balanceamento futuro da ração a ser fornecida aos animais. A praticidade de uso de aditivos como rolão de milho – em até 10 a 12% da matéria original – deve ser sempre avaliada com cuidado, porém não devem ser descartados outros produtos similares, como o farelo proteinoso de milho ou outros disponíveis regionalmente.

Fonte: ANDRADE, J.B.; FERRARI JÚNIOR, E.; POSSENTI, R. A.; LEINZ, F.F.; BIANCHINI, D.; RODRIGUES, C. F. C. Valor nutritivo da cana-de-açúcar na forma de silagem ou “in natura”. B. Indústria Animal, Nova Odessa, v. 58, n. 02, p. 135-143, 2001.

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