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Uma questão de ponto de vista – por Eduardo Borba

Por Eduardo Borba, é consultor em capacitação e há 40 anos trabalha com o desenvolvimento de pessoas e animais, através do Projeto Doma, em Capivari – SP. Seu modelo de trabalho é baseado nos vaqueiros californianos dos Estados Unidos.

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Cavalo e vacas são animais inteligentes, que sentem, pensam, tomam decisões e têm uma capacidade enorme de aprender, desde que tenhamos disponibilidade interna para ensina-los.

No que diz respeito ao trabalho com gado, muitas pessoas se atrapalham ou acham difícil. Acredito que isso ocorre muito mais por conta da simplicidade ou mesmo da simploriedade desses animais, do que pela dificuldade ou complexidade.

Os predados têm uma psicologia e uma maneira de operar a vida muito diferente daquela dos predadores. Diferente de nós, eles não são movidos pela cobiça ou humilhação. Para eles, não importa quem é mais bonito ou mais bem vestido. Muito menos o que vão pensar dele. Suas decisões são tomadas a partir de conforto e desconforto físico, mental, emocional, nutricionais, hormonais e, principalmente, pelo instinto de auto-preservação.

No trabalho com o gado, quanto mais formos capazes de compreender o seu comportamento a partir da sua própria perspectiva, mais vamos conseguir nos antecipar a respeito daquilo que iremos fazer. É muito importante sabermos “o que aconteceu antes daquilo que aconteceu”. Por exemplo, quando entramos num curral, é muito fácil saber qual o animal que está nervoso e inseguro. Ele avisa, através da sua expressão corporal, que não está se sentindo bem naquela situação.

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Uma outra forma de examinarmos a perspectiva desses animais é observando-os quando estão no pasto, sem nenhuma interferência de ser humano ou predadores. Quando um bezerro tem um comportamento inadequado, um dos mais velhos parte pra cima dele dando-lhe cabeçadas no intuito de disciplina-lo. Isso faz com que aprendam rapidamente que quando a cabeça de um outro animal é apontada na sua direção, uma agressão está prestes a acontecer.

Essa talvez seja uma das dificuldades que encontramos quando estamos trabalhando com gado a cavalo. Não temos consciência de como é fácil nos mostrar agressivos. Não estamos habituados a nos exercitar na “atenção sobre si”, quer dizer, não percebemos como o gado interpreta a nossa movimentação.

Se observarmos com um pouco mais de atenção, vamos perceber que na maioria das vezes quando estamos trabalhando gado a cavalo, nossos movimentos são sempre para frente e o nosso olhar está naquele animal que escolhemos para apartar.

Assim que a vaca percebe que a cabeça do nosso cavalo está apontada na sua direção e algum movimento que possa ser agressivo do seu ponto de vista, acontece a preservação.

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Imediatamente aquele animal vai usar de todos seus os recursos para se proteger. A primeira providencia é escapar correndo. Se não conseguir escapar, vai tomar uma decisão contra nós, trombando na cerca ou vinda para cima de nós.

Martin Black, meu professor, gosta de fazer uma comparação que, acredito, ilustra perfeitamente essa situação.

A história é mais ou menos assim:

Vamos supor que fomos para os EUA numa viagem de turismo e, por acaso, passamos por uma cidadezinha que faz parte de uma estação de caça. Acordamos bem cedo e vamos para a lanchonete tomar nosso café da manhã. De repente, uma turma animada de caçadores entra conversando e rindo, cada um deles portando a sua espingarda. Escolhem uma mesa, alguns colocam suas espingardas na parede atrás da mesa. Essa situação pode não ser ameaçadora, mas não vamos deixar de dar atenção para aquela cena. Vamos supor que um desses caçadores, em vez de encostar sua espingarda na parede, coloque-a apoiada na mesa e no seu braço, apontada para nós. Com certeza vamos ficar apreensivos.

De repente, percebemos que sua mão está no gatilho e, quando levantamos os olhos, percebemos que seus olhos estão em nós. Essa cena já nos vai provocar uma outra sensação. Com certeza vamos nos sentir muito vulneráveis. Na verdade, estamos diante de uma cena realmente ameaçadora.

Na situação onde a espingarda não estava apontada para mim e que não havia nenhuma atenção sobre mim, a sensação não era tão ameaçadora. Mas a partir do momento que a espingarda estava apontada para mim e percebo o olhar em mim, isso me provoca uma outra sensação, completamente diferente da primeira.

Se quando estivermos trabalhando com gado a cavalo, essa analogia pode nos dar uma ideia melhor do por que o gado nos responde daquela maneira. A maneira como os animais mais velhos disciplinam os mais novos, faz parte das suas experiências vividas. Portanto, quando veem um quatro patas suspeito, mais alto, com alguma coisa em cima dele e fazendo barulho, vindo na sua direção, isso só faz aumentar ainda mais a sua preocupação. É isso que chamo de aprender a perceber o ponto de vista dos animais e usa-lo a nosso favor.

Se quisermos aumentar a nossa eficiência, precisamos aprender a nos movimentar de uma maneira muito mais submissa. Por exemplo, numa apartação, podemos nos aproximar da res desejada, movimentando o nosso cavalo lateralmente ou mesmo recuando. Dessa maneira, vamos estar muito menos ameaçadores para o gado.

Com certeza, quando o gado nos responde sem medo, o manejo tem outra eficiência.

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Veja entrevista com Eduardo Borba:

Eduardo Borba: não existe a menor possibilidade de mudar os animais se você não mudar as pessoas [vídeo]

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