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Ucrânia ainda busca soluções para oferta de grãos instável

Quatro meses depois do início da guerra com a Rússia, a Ucrânia continua sem uma solução definitiva para o escoamento de sua produção agrícola. As negociações com os russos para a abertura de um corredor de exportações por via marítima seguem sem desfecho, e a proposta americana de construir silos temporários ao longo da fronteira ucraniana com a Polônia, revelada na última semana, além de não oferecer a possibilidade de início imediato dos embarques das mais de 20 milhões de toneladas presas no país, não tem prazo definido de execução. Somados, esses elementos reiteram o quadro de incerteza que a guerra impôs à produção e ao escoamento de produtos agrícolas ucranianos, mas o país já enfrentava instabilidade na oferta há pelo menos duas temporadas.

Em 2020, a Ucrânia teve que lidar com problemas que não se restringiram aos efeitos do início da pandemia de covid-19 sobre a logística global. “Além da epidemia, uma seca fez com que os rendimentos [das lavouras do país] fossem os mais baixos em uma década”, conta Valeriia Vashchenko, gerente de produtos da OneSoil na Ucrânia. A plataforma de agricultura de precisão, de origem suíça, tem fornecido análises de campo ao Ministério da Política Agrária e Alimentos ucraniano como parte dos esforços para aumentar a oferta de alimentos no país.

A Ucrânia colheu 29,2 milhões de toneladas de trigo na safra 2019/20, segundo as estatísticas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). No ciclo seguinte, já sob os efeitos da estiagem, a produção caiu para 25,4 milhões de toneladas. Já a colheita do milho diminuiu de 35,9 milhões para 30,3 milhões de toneladas entre uma temporada e outra.

Com esse revés, a safra 2020/21 seria de recuperação para os agricultores ucranianos, mas o desempenho não ocorreu a plena carga. “Em 2021, houve uma crise de energia, e os preços dos fertilizantes dispararam”, diz Valeriia Vashchenko. Em alguns casos – em particular dos adubos nitrogenados, feitos de gás natural -, relembra ela, os preços chegaram a duplicar.

A produção de grãos ucraniana de fato cresceu em 2020/21, mas nem todos os indicadores melhoraram de um ano a outro. As exportações de milho do país, por exemplo, somaram 23 milhões de toneladas, quase 1 milhão de toneladas a menos que no problemático ciclo anterior.

Neste ano, a Ucrânia deve colher 48,5 milhões de toneladas de grãos, ou pouco mais que a metade das 86 milhões de toneladas do ciclo anterior, segundo projeção que o governo ucraniano divulgou na semana passada.

“O pior nem é não conseguir dinheiro para comprar sementes e fazer o plantio como de costume. Já passamos por isso no passado e podemos lidar com essa situação”, afirma o agrônomo ucraniano Bogdan Lukiyanchuck, fundador da Growex, um grupo de empresas que tem entre seus negócios um marketplace para agricultores e uma plataforma educacional para gestão de fazendas. “O problema de verdade é que os grãos que temos agora e não conseguimos exportar eram destinados a países da África e da Ásia. São eles que podem enfrentar uma crise alimentar”.

Fonte: Valor Econômico.

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