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Tendências genéticas da velocidade de crescimento e do peso adulto das fêmeas Nelore

Por Analía del V. Garnero1; Cintia R. Marcondes1; Luiz A.F. Bezerra1; Henrique N. Oliveira2; Raysildo B. Lobo1

Introdução

Os bovinos de corte têm uma baixa taxa reprodutiva e no rebanho de fêmeas um custo alto por animal comercializado. Os dois componentes importantes que determinam a eficiência de vacas de corte seriam produção de leite e peso à maturidade (Dickerson, 1978; Arango & Van Vleck, 2002). Deste modo seria necessário considerar características de crescimento e maturidade derivadas do estudo de curvas de crescimento e utilizá-las como informação adicional em programas de melhoramento genético (Fitzhugh, 1976; Oliveira, 1995; Arango & Van Vleck, 2002).

O objetivo principal do melhoramento animal é mudar a média da população para o caráter desejado, para alcançá-lo seria necessário adotar programas de seleção e que estes resultassem em mudanças permanentes e estáveis no genótipo dos animais. A tendência genética serve para quantificar a variação na característica produtiva, por unidade de tempo, resultante de alteração no valor genético médio dos reprodutores.

O objetivo deste trabalho foi verificar a tendência genética das fêmeas da raça Nelore, para as características peso adulto e velocidade de crescimento.

Material e métodos

Foram utilizados registros de pesos a idades referentes de 981 fêmeas da raça Nelore, nascidas entre 1988 e 1995, provenientes de dez fazendas participantes do PMGRN, e distribuídas em sete Estados do Brasil (BA, GO, MS, MG, PA, PR e SP).

O modelo matemático não linear utilizado para descrever a curva de crescimento, o padrão médio de crescimento e os parâmetros individuais das fêmeas da raça Nelore foi o Brody (Brody, 1945).

Onde Y representa o peso do animal a uma determinada idade (t); A é o valor assintótico de Yt (peso médio na maturidade); B é a constante de integração relacionada com os pesos iniciais (grau de maturidade do animal ao nascimento); K é a taxa de variação da função exponencial (velocidade com a que o animal se aproxima ao tamanho adulto); e é o logaritmo em base natural; e representa o erro aleatório associado a cada pesagem.

Foi utilizado o procedimento NLIN do SAS (1996) para a obtenção das estimativas individuais dos parâmetros e dos parâmetros médios. Para a obtenção dos componentes de (co)variância e valores genéticos de A e K utilizou-se o programa MTDFREML (Boldman, 1995), sob modelo animal, em análises unicarater e bicarater. O modelo incluiu como fixo os efeitos de grupo contemporâneo (GC) e como aleatório o efeito genético direto. Os GC que foram constituídos por animais nascidos no mesmo Estado, trimestre e ano e regime alimentar.

Resultados e discussão

Os valores médios, mínimos, máximos e os coeficientes de variação do peso assintótico (A) e da taxa de maturacao (K) estimados a partir da máxima verosimilhança restrita (Tabela 1) são semelhantes aos publicados na literatura para os zebuínos (Oliveira, 1995; Cortarelli et al., 1983). Os coeficientes de herdabilidade estimados foram de alta magnitude para os dois parâmetros (Tabela 2), com uma covariância de -179,28 e uma correlação genética de -0,52.

Os pesos adultos estão diminuindo em média -0,016kg/ano e a velocidade de crescimento está aumentando, em média 0,005g/dia (Fig. 1 e 2). Observa-se, portanto, que o peso adulto das vacas não tem aumentado e a velocidade de crescimento não está sendo utilizada na seleção, pois o aumento de dois gramas ao ano é um valor muito baixo.

Para ilustrar foram simuladas curvas de crescimento para animais com DEP alta, média e baixa para velocidade de crescimento (Fig. 3). Como se pode observar, a utilização destas características como critérios de seleção é viável, não somente pelas herdabilidades das mesmas e pela grande variabilidade observada, mas também pelo progresso genético que poderia ser alcançado. Por exemplo, selecionando-se a favor da velocidade de crescimento, seriam identificados animais com crescimento mais rápido (aproximadamente 5 meses), ou seja, mais precoces tanto em crescimento e provavelmente também sexualmente e, ao mesmo tempo, mais leves quando adultos.

Conclusões

As tendências genéticas favoráveis da diferença esperada na progênie para peso adulto, sobre o ano do nascimento das vacas, foram negativas, diminuindo, em média -0,016kg/ano. Para a velocidade de crescimento, foram positivas para todos os modelos estudados, sendo 0,005g/dia o acréscimo médio ou aproximadamente dois gramas ao ano.

O peso adulto e a velocidade de crescimento são recomendados como critérios de seleção, visando precocidade de crescimento e evitando o aumento do peso à maturidade.

Referências bibliográficas

ARANGO, J.A., VAN VLECK, L.D. Size of beef cows: early ideas, new developments. Genetics and Molecular Research, v. 1, n. 1, p. 51-63, 2002.

BOLDMAN, K.G., KRIESE, L.A.,VAN VLECK, L.D. et al. A manual for use of MTDFREML: a set of programs to obtain estimates of variance and covariance [DRAFT]. Lincoln: Agricultural Research Service, 1995. 120p.

BRODY, S. Bioenergetics and growth. Reinhold Publishing Corp., New York, 1945. apud. OLIVEIRA, H.N. Análise genético-quantitativa da curva de crescimento de fêmeas da raça Guzerá. Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, SP, 73p. 1995 (Tese de Doutorado).

CORTARELLI, A; DUARTE, F.A.M.; LÔBO, R.B. Ajuste do modelo Gompertz a dados de crescimento de bezerros da Raça Nelore. Científica, v.11, n.1, p.1-8, 1983.

DICKERSON, G.E. Animal size and efficiency: basic concepts. Anim. Prod., v. 27, p. 367-379, 1978.

FITZHUGH, H.A.Jr. Analysis of growth curves and strategies for altering their shape. J. Anim. Sci., v. 42, p. 1036-151, 1976.

OLIVEIRA, H.N. Análise genético-quantitativa da curva de crescimento de fêmeas da raça Guzerá. Ribeirão Preto: USP, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, 1995. 73p. (Tese, Doutorado).

SAS. Statistical Analysis System. 6.12 versão para Windows®, Cary: SAS Institute, 1996.

Agradecimentos

Os autores agradecem aos criadores do Programa de Melhoramento Genético da Raça Nelore e Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores, às entidades de fomento à pesquisa: FINEP/BID, CNPq/RHAE, PRONEX, FAPESP e CAPES.

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1Depto. de Genética, Bloco C, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo

2Dep. de Melhoramento e Nutrição Animal, Universidade Estadual Paulista

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