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Temple Grandin explica questões de bem-estar animal em animais confinados e uso de beta-agonistas

Leia artigo assinado por Temple Grandin, professora do departamento de zootecnia da Colorado State University.

Certos grupos de animais que recebem beta-agonistas apresentam sérios problemas na planta frigorífica, relacionados ao bem-estar animal. Esse problema se tornou óbvio para a indústria, quando Lilly Edwards-Calloway, do JBS, mostrou um vídeo de gado com claudicação e movimentos duros em uma reunião da Associação Nacional de Produtores de Carne dos Estados Unidos (NCBA).

Segundo Lilly, pelo menos 20% do gado recebido em duas plantas da JBS durante o verão, apresentaram mais dificuldade para sair dos currais, uma vez que aparentavam estar letárgicos, “duros” e sem energia.

Desde a reunião da NCBA, este tema foi discutido com diversas pessoas que trabalham com confinamentos e frigoríficos, no qual nota-se que alguns grupos de animais tratados com beta-agonistas, estão bem, enquanto outros têm problemas.

Um problema comum é que, embora o gado possa estar totalmente móvel no confinamento, eles vão ficando progressivamente piores à medida são submetidos a vários passos de manejo e transporte do confinamento à planta frigorífica.

Uma possível explicação para a piora do problema à medida que o animal é submetido ao manejo de curral e transporte, pode ser a fadiga muscular. O zilpaterol aumenta o crescimento das fibras de contração rápida, um tipo de fibra muscular que fadiga mais facilmente.

Em estudo publicado por Baxa et al., 2009, no Journal of Animal Science, há afirmações que o fornecimento de zilpaterol está associado com a transição de fibras lentas (de contração lenta) para fibras mais rápidas (de contração rápida).

Ambas as discussões e demais observações geradas durante a reunião, indicam que quando um problema ocorre com beta-agonistas, é mais provável estar associado com:

  • Clima quente.
  • Zilpaterol – existem mais problemas no gado comparado com ractopamina.
  • Gado de grande porte ou com musculatura pesada.
  • Efeitos desiguais dentro do mesmo grupo de animais. Ou seja, metade do gado pode estar normal, e 5-10% severamente afetados. Isso pode ser devido à ingestão desigual de alimentos. Segundo, Chris Reinhardt, da Universidade do Estado do Kansas, alguns dados da reunião da NCBA mostraram que 75% dos animais reduziram a ingestão de alimentos com Zilmax e 25% mantiveram a mesma ingestão. Outra causa possível dos problemas pode ser a mistura ruim da ração e alguns animais obtendo uma dose excessiva.
  • A perda por morte durante o estágio final da engorda aumentou com beta-agonistas, de acordo com Guy Loneragen, da Texas Tech University.

Por que alguns confinamentos não têm problemas

Existem alguns poucos confinamentos muito bem manejados que têm fornecimento de beta-agonistas, no qual os animais têm boa mobilidade na planta frigorífica.

Assim sendo, os confinamentos que não tiveram problemas podem ter feito o seguinte:

  • Separação do gado, a fim de evitar o fornecimento de beta-agonistas para animais realmente grandes.
  • Não fornecer o produto aos animais com problemas de saúde ou nos pés. Sendo que estes animais são separados na chegada e antes de fornecer o beta-agonista, para então criar grupos uniformes.
  • Mistura cuidadosa da ração. Fornecimento do produto na menor dose, do alcance de 60 mg a 90 mg por animal, que é a quantidade escrita no rótulo. Realização de testes extensivos de amostras de ração.
  • Adição de volumosos à dieta
  • Durante o clima quente, manejar o gado nas horas mais frescas do dia.
  • Praticar métodos de manejo de baixo estresse e para manter o gado calmo.

Concluindo, os problemas com gado com andar rígido e dores nos pés precisam ser parados. A indústria não pode permitir que gado com claudicação e andar rígido se torne o “novo ruim” se tornando normal.

Duas companhias de carne já iniciaram programas de classificação do gado que chega, para claudicação e relutância em se movimentar. Segundo Temple Grandin, a sugestão é um esquema simples de classificação para confinamentos e frigoríficos:

  1. Normal – Animal levanta-se e caminha normalmente, longos passos confiantes, fácil de se movimentar, vigorosos. As raças de corte terão uma área de movimentação definida, a menos que sejam criadas em confinamento fechado.
  2. Ligeiramente manco – Animal apresenta andar com leve rigidez e com dores nos pés. Mantêm-se junto aos demais animais do rebanho, quando o grupo está caminhando.
  3. Moderadamente manco – Animal fica para trás e não consegue acompanhar o restante dos animais normais, quando estes estão caminhando. Cabeça baixa quando se movimenta, movimentos rígidos, dores nos pés.
  4. Severamente manco e relutante em se movimentar – Animal mancando, dificuldade em se mover, relutante em colocar o peso sobre seus pés. As pessoas que estão fazendo o manejo precisam colocar suas mãos ou auxiliar na condução do animal para induzi-lo a andar.
  5. Gado abatido – Inclui animais que estão deitados e não são capazes de se levantar, ou exibindo danos severos nos cascos. Também são incluídos animais que ficam em pé como “estátuas”, ou seja, paralisados e que recusam a se movimentar.

É provável que na maioria dos grupos de animais que receberam beta-agonistas, aqueles animais com escores 3 e 4, na planta frigorífica, raramente foram vistos no confinamento. Em todos os estágios de manejo e processos de transporte, a porcentagem de animais com claudicação leve (escore 1) não deve exceder 10%. Cuidados devem ser tomados quando adotamos algum produto ou que seja uma simples alteração da rotina dos animais. Como indústria é preciso ter altos padrões de bem-estar animal.

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Fonte: Temple Grandin, na revista Beef Magazine, artigo traduzido e adaptado pela Equipe BeefPoint.

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