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Temple Grandin diz que animais devem ter vida que valha a pena

Começaram nesta terça-feira, 17, em São Paulo, SP, os eventos com participação da pesquisadora e professora da Universidade do Estado do Colorado, Temple Grandin, referência mundial em bem-estar animal. Em seu primeiro compromisso público no Brasil, uma coletiva com jornalistas, ela respondeu a perguntas sobre exportação de gado vivo, manejo animal e a percepção da sociedade em relação à indústria da carne.

Exportação de gado vivo

De acordo com Temple, para fazer esse tipo de comércio, é necessário garantir que os animais tenham espaço. “Espaço para se deitarem todos ao mesmo tempo, sem ficar uns em cima dos outros. Eu já vi imagens, já vi vídeos, e essas embarcações estão superlotadas”, afirmou.

Manejo e adoção de tecnologias

Para Temple, após mais de 40 anos de carreira, uma coisa ficou clara: a tecnologia não resolve todos os problemas. Segundo ela, 50% deles podem ser solucionados com tecnologia, mas os outros 50% dependem do manejo e, consequentemente, das equipes que lidam com os animais.

“As pessoas precisam ser cuidadas e treinadas”, ela disse. “E a gente percebe que algumas têm o dom para trabalhar com animais, elas entendem o gado, e outras se dão melhor mesmo com máquinas, não servem para isso”, brincou.

Bem-estar animal e retorno financeiro

O bem-estar animal dá lucro e reduz perdas, frisa sempre o professor Mateus Paranhos, da Unesp Jaboticabal, discípulo de Temple Grandin no Brasil. Mas algumas práticas, segundo ela, continuam a ser adotadas apesar da necessidade de readequações. Como exemplo disso, ela citou o hábito, nos Estados Unidos, de se enviar para o confinamento bezerros recém-desmamados sem pré-condicionamento ou vacinação para suportar as adversidades do sistema. Contudo, essa prática continua, pois, segundo Temple, os donos das fazendas não são responsabilizados.

Em outras áreas, no entanto, ela afirmou ver avanços consistentes. “No caso dos suínos, grandes empresas estão deixando de usar gaiolas de gestação e, de forma geral, o manejo pré-abate e a insensibilização também evoluíram muito nos frigoríficos”.

Cadeia da carne e consumidores

Quanto à valorização do bem-estar animal, Temple disse que essa é uma questão de extrema importância para as novas gerações. “Os jovens da Europa, dos Estados Unidos e de outros lugares do mundo se interessam pelo tema e já demonstraram estarem dispostos a pagar mais pela produção feita de forma correta”.

Segundo ela, estudo da Cattle Association dos Estados Unidos também mostrou que o bem-estar animal é questão prioritária para os consumidores, considerada mais importante até do que a segurança alimentar.

Do escritório para o campo

Para entender a importância do bem-estar animal, Temple defendeu, ainda, que os diretores das empresas devem sair dos escritórios, tirar o paletó e conhecer de perto a produção no campo. Há 20 anos, ela diz ter feito exatamente isto, e ter obtido ótimos resultados. “

Eu trabalho com muitas multinacionais, e nunca vou me esquecer do dia em que um executivo do McDonald’s viu as condições em que eram criados os animais entregues à empresa. Ele olhou para mim e disse que muitas coisas precisavam ser corrigidas”, afirmou. Para Temple, as visitas a campo tornam concretos conceitos abstratos para pessoas alheias ao setor. “Indo às fazendas, os executivos vão ver que nada é tão ruim quanto os ativistas dizem, embora muita coisa precise melhorar”.

Desmatamento

Em relação às práticas que precisam mudar, imediatamente, no Brasil ela citou o desmatamento. “Vocês moram em um País tropical, não é possível que continuem abrindo áreas para colocar gado. Por favor, não façam isso”, disse.

Bem-estar animal x indústria da carne

Durante a coletiva, Temple também falou sobre a dicotomia de trabalhar pelo bem-estar animal tendo a perspectiva de que no fim da vida esses mesmos animais serão abatidos. “Temos que dar a esses animais uma vida que valha a pena ser vivida. Na verdade, uma vida decente, porque tudo vai morrer um dia. A natureza, inclusive, pode ser muito mais cruel do que o homem. O problema é quando os animais são maltratados”, afirmou.

Fonte: Portal DBO.

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