Mercado futuro do boi gordo – 30-05-2014
2 de junho de 2014
Citi vê melhor perspectiva para indústria de proteína animal
2 de junho de 2014

Temperamento do rebanho afeta a eficiência reprodutiva dos rebanhos de bovinos de corte

Por Rodrigo S. Marques , Bruno Cappellozza e Reinaldo F. Cooke

Rodrigo Marques é zootecnista e mestre pela Esalq/USP. Atualmente realiza o programa de doutoramento em Animal Science na Oregon State University – Corvallis, OR, EUA

Bruno Capellozza é zootecnista e mestre Oregon State University. Atualmente realiza o programa de doutoramento em Animal Science na Oregon State University – Corvallis, OR, EUA

Reinaldo Cooke é professor e pesquisador na Oregon State University – Eastern Oregon Agricultural Research Center, Burns, OR

Com o objetivo de maximizar a rentabilidade dos sistemas de cria, os produtores de bovinos de corte são desafiados a produzirem 1 bezerro por vaca por ano. O fator que define a obtenção desse objetivo é o desempenho reprodutivo do rebanho. Como consequência, perdas econômicas resultantes de falhas reprodutivas chegam a casa de 2,8 bilhões de dólares por ano nos EUA (Lamb et al., 2011) e a Figura 1 ilustra os custos dos problemas reprodutivos em rebanhos (corte e leite) norte-americanos.

Temperamento dos animais é um dos diversos fatores que afetam o desempenho reprodutivo em rebanho de corte. No presente artigo, temos o objetivo de introduzir o conceito de temperamento, maneiras para avaliação desse parâmetro, assim como seus efeitos no desempenho de vacas adultas, novilhas de reposição e na subsequente produtividade das progenies. Dados do nosso grupo de pesquisa serão apresentados tanto em rebanhos Bos indicus (Cooke et al., 2011), cruzamentos de B. indicus × B. taurus (Cooke et al., 2009 a,b) e também em rebanhos B. taurus (Cooke et al., 2012).

O conceito de temperamento

Temperamento pode ser definido como as respostas comportamentais dos animais quando expostos ao contato humano (Fordyce et al., 1988). A medida que o temperament fica mais excitável, a resposta dos animais ao contato humano ou qualquer outro procedimento de manejo se torna mais excitável e/ou agitado. Como será reportado a seguir, temperamento pode ser avaliado pelos produtores de bovinos de corte e ser usado como um critério de seleção não apenas por questões de segurança, mas também como uma maneira de melhorar o desempenho reprodutivo e geral do rebanho.

Diversos fatores podem afetar  temperamento animal, tais como sexo, idade e a raça. Dentre esses, raça é o aspecto mais importante, dado que bovinos com influencia B. indicus (Nelore e Brahman) são mais excitáveis do que bovinos B. taurus (Angus, Simental e Hereford), embora animais com temperamento mais excitável/agressivo são frequentemente observados em rebanhos B. taurus, principalmente em animais jovens. Além disso, rebanhos criados em sistemas de produção extensivo são frequentemente mais excitáveis quando comparados a rebanhos criados em sistemas intensivos, pelo resultado da menor interação com humanos.

Captura de Tela 2014-06-02 às 15.13.38Figura 1. Custos anuais totais das disordens reprodutivas nos EUA (Adaptado de Bellows et al., 2002).

Temperamento: como avaliar?

Técnicas para avaliar o temperamento dos animais podem ser classificadas como de movimentação restrita ou não. Dentro das técnicas que não retém a movimentação animal, como o próprio nome implica, o temperamento é avaliado pelo medo ou a resposta agressiva ao contato humano quando os animais estão livres para se moverem dentro de uma área pré-estabelecida. Exemplos dessas técnicas são a velocidade de saída do tronco de manejo e o escore de baia. Brevemente, a velocidade de saída quantifica o tempo que cada animal gasta para percorrer um distancia pré-determinada (1,9 m), enquanto que o escore de baia avalia o comportamento de cada animal quando este entra em uma baia e interage com uma pessoa que fica parada em um canto da baia. Para a velocidade de saída, os animais avaliados ainda podem ser divididos em quintis de acordo com as velocidades calculadas e recebem uma nota de 1 a 5 (escore de saída; 1 = animais no quintil mais devagar; 5 = animais no quintil mais rápido).

Ao contrário, as técnicas de movimentação restrita avaliam o temperamento dos animais quando esses são fisicamente restritos, tais como no tronco de contenção. O escore de tronco é um exemplo dessa técnica, na qual os animais são individualmente contidos no tronco e recebem uma nota na escala de 1 a 5 de acordo com o seu comportamento, onde: 1 = calmo e sem movimento, 2 = movimentos inquietos, 3 = movimentos frequentes com vocalização, 4 = movimentação constante e 5 = luta violenta e contínua.

Após a avaliação dessas técnicas, escores de temperamento podem ser calculados para cada animal pela média dos escores de tronco e saída. Além disso, os animais podem ser classificados de acordo com o escore de temperamento como tendo um temperamento adequado (≤ 3) ou excitável (> 3). Esse critério foi desenvolvido com base nas pesquisas do nosso grupo indicando que temperamento moderado (tais como escores de temperamento 2 e 3) não prejudicam produtividade animal (Cooke et al., 2009a; 2011; 2012), mas permitem que os animais lidem com desafios associados ao sistemas de produção extensivos. É importante para os produtores terem em mente que outros métodos de avaliação de temperamento existem, mas os que foram reportados aqui são os mais confiáveis para quantificar o temperamento do rebanho e relativamente de fácil realização durante os procedimentos de manejo.

Estratégias de manejo para melhorar o temperamento do rebanho

Semelhante a avaliação do temperamento, estratégias para melhorar o temperamento do rebanho devem ser práticas e confiáveis. Como mencionado anteriormente, a alternativa mais simples e direta para manejar o temperamento do rebanho é incluir essa característica como um critério de seleção, particularmente em touros, vacas e novilhas de reposição, e principlamente pela moderada herdabilidade dessa característica. Além disso, o descarte de animais excitáveis e menos produtivos, tais como vacas e novilhas que não emprenham na estação de monta, também irá beneficiar o temperamento e a eficiência produtiva do rebanho.

Outra alternativa que nosso grupo avaliou no Eastern Oregon Agricultural Research Center (EOARC) em Burns, é a aclimatação de novilhas de reposição ao contato humano (Cooke et al., 2012). Por um período de 4 semanas e 3 vezes por semana, os animais são individualmente e gradualmente aclimatados ao centro de manejo e também à presença humana. Essa técnica é descrita e apresentada a seguir:

–       Semana 1: Animais são individualmente processados, mas não são presos no tronco de manejo,.

–       Semana 2: Animais são individualmente processados no tronco de manejo e presos (cabeça) no tronco por aproximadamente 5 segundos.

–       Semana 3: Animais são processados de maneira similar a semana 2, mas presos (cabeça) no tronco por 30 segundos.

–       Semana 4: Durante as 3 primeiras semanas, os animais retornaram ao pasto/baia imediatamente após o manejo, considerando que na 4ª semana eles permanecem no centro de manejo por 1 hora, são processados novamente e somente após essa atividade retornam ao pasto.

Como tempo e despesas com serviços são alguns dos muitos entraves que impedem a realização dessa técnica, uma alternativa a ser adotada pelos produtores seria manter os animais perto do centro de manejo e/ou andar pelo pasto/baia durante a alimentação. Essas estratégias têm por objetivo maximizar a interação do ser humano com o gado, de uma maneira que os animais se acostumem com o movimento e o contato humano, impedindo respostas agressivas nas futuras atividades de manejo, tais como vacinação e inseminação artificial (IA).

Impactos do temperamento no desempenho do rebanho

Nessa seção, nosso objetivo é apresentar dados recentes do nosso grupo de pesquisa de como o temperamento afeta o desempenho reprodutivo do rebanho, tanto em vacas adultas quanto em novilhas de reposição.

  1. Vacas adultas: Estudos do nosso grupo de pesquisa reportaram que vacas B. indicus e B. indicus × B. taurus com temperamento excitável tiveram menor probabilidade de prenhêz durante a estação de monta (Cooke et al., 2009b), e menor taxas de prenhez à IA (35 vs. 43 %; Cooke et al., 2011) quando comparadas vacas com temperamento adequado. Adicionalemtne, vacas excitáveis tiveram maiores concentrações plasmáticas dos marcadores de estresse e saúde (cortisol, ceruloplasmina e haptoglobina; Cooke et al., 2009b). Recentemente, Cooke et al. (2012) avaliaram os efeitos do temperamento nos parâmetros produtivos e reprodutivos de vacas Angus × Hereford. Vacas com temperamento excitável tiveram menores taxas de prenhez, parição e desmama, assim como menos quilos de bezerro desmamado e bezerro nascido por vaca quando comparado aos animais com temperamento adequado (Tabela 1). Esse estudo também demonstrou que esses efeitos foram independentes do status nutricional do rebanho, dado que vacas de ambos os grupos tiveram similares escores de condição corporal (ECC) no início da estação de monta. Além disso, esses resultados também foram independentes do método reprodutivo na estação de monta, pois todas as vacas foram igualmente expostas a IA e touros de repasse.

Tabela 1. Variáveis do desempenho reprodutivo de vacas B. taurus de acordo com o temperamento (Adaptado de Cooke et al., 2012).

Captura de Tela 2014-06-02 às 15.16.52


Novilhas de reposição 

Novilhas de reposição devem ser manejadas para atingir a puberdade aos 12 meses de idade, emprenhar ao 15 meses e parir pela primeira vez com 2 anos de idade. Novilhas que não atingem esse objetivo afetam significativamente a rentabilidade do sistema de produção de corte, sendo que essas novilhas não irão desmamar um bezerro antes de atingirem 3 anos de idade. Por isso, um adequado manejo nessa categoria animal é imprescindível para obter um número máximo de animais parindo com 2 anos de idade. Cooke et al. (2009a) avaliaram os efeitos da aclimatação (anteriormente descrito) em novilhas de reposição (Braford, Brahman × Angus, e Angus) após o desmame com a intenção de melhorar o temperamento, enquanto que taxas de crescimento, obtenção de puberdade, e taxas de prenhez foram avaliados até o início estação de monta. Novilhas que foram aclimatadas alcançaram a puberdade e emprenharam mais cedo durante a primeira estação de monta.

Além disso, esse processo de aclimatação efetivamente melhorou o temperamento desses animais (chute score em B. indicus e saída de velocidade em animais B. taurus) e também reduziu as concentrações plasmáticas de cortisol no final do período de aclimatação.

Conclusões

Em conclusão, temperamento afeta o desempenho reprodutivo do rebanho, assim como a produtividade do sistema de cria. Para evitar perdas econômicas resultantes da ineficiência produtiva e reprodutiva do rebanho, os produtores de gado de corte são encorajados a incluir temperamento como critério de seleção/descarte, usando qualquer uma das técnicas anteriormente apresentadas como escore de tronco e velocidade de saída.

1 Comment

  1. Marcelo Aguiar disse:

    Muito bom esse artigo, depois de anos de erros com o manejo do gado, é tarde ++ a tempo de corrigir, nem só de pasto e grama o gado vivera !!! Acredito que o Brasil seja o maior criador de gado do planeta + somos os piores cuidadores da galaxia !!! Erramos por falta de conhecimento…..

plugins premium WordPress