Atacado – 24-03-14
25 de março de 2014
O processo de inovação exige, cada vez mais, interação entre academia e empresa, sem prescindir da presença do governo – Marcia Barcellos [Prêmio BeefPoint Sul]
25 de março de 2014

Temos a oportunidade de formar cidadãos preocupados com o agronegócio – Yara Suñé [Prêmio BeefPoint Sul]

No dia 4 de abril, será realizado o BeefSummit Sul, em Porto Alegre/RS. O evento será organizado pelo BeefPoint, em parceria com a Associação Brasileira de Hereford e Braford (ABHB). O BeefSummit Sul vai reunir nomes de sucesso do agronegócio para discutir e debater os rumos da pecuária de corte no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. A expectativa é de um público de 400 pessoas, entre produtores e investidores, tornando o BeefSummit uma excelente oportunidade de gerar novos negócios.

No dia do evento, o BeefPoint irá homenagear as pessoas que fazem a diferença e têm paixão pela pecuária de corte no Sul do Brasil com o Prêmio BeefPoint Edição Sul. Há vários finalistas, em 13 categorias diferentes.

O público irá escolher através de votação, o vencedor de cada categoria. Para conhecer melhor os indicados, o BeefPoint preparou uma entrevista com cada um deles.

Conheça Yara Bento Pereira Suñé, finalista na categoria Produtor – Destaque Gestão de Pessoas.

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Yara Bento Pereira Suñé é engenheira agrônoma (UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e mestre em produção animal (NESPRO – UFRGS). É sócia/gestora da Agropecuária Suñé LTDA. Integrante da diretoria do Sindicato Rural de Lavras do Sul e do CITE 27.

BeefPoint: O que você implementou de diferente no quesito gestão de pessoas, em sua propriedade, que levou você a ser finalista do Prêmio BeefPoint Edição Sul 2014?

Yara Suñé: Acredito ser um somatório de vários anos de amadurecimento do tema que me levaram a esta indicação.

Penso que, normalmente,  quem vai para o campo é aquele que não estudou, completou no máximo a quarta série, tentou algum emprego na cidade e não deu certo por alguma razão. Conheço vários exemplos de capatazes com muitos filhos onde os melhores estão na cidade e os piores no campo. Desconheço capataz que não tentou, de alguma forma, dar uma vida melhor ao filho, com acesso ao estudo, para lhe permitir levar a vida da cidade.

Esses indivíduos que ficaram no campo geralmente possuem uma autoestima baixíssima e, para completar, para sobressaírem-se no trabalho braçal (uma derrubada de terneiro, por exemplo), têm que ser fortes fisicamente e muitas vezes violentos. Temos aqui uma combinação bombástica: autoestima baixa + violência, gerando uma profunda insegurança demonstrada com inflexibilidade total de ações, principalmente frente aos técnicos.

Pensando dessa forma, procuro entendê-los e me aproximar, tornando a relação menos formal possível. Reconheço-os  como colaboradores necessários e imprescindíveis ao negócio, perguntando para cada um a opinião sobre o nosso sistema produtivo e fazendo com que se sintam importantes, como de fato, eles são.

Todos os colaboradores possuem cartão de visita da nossa propriedade,  pago-os bem, acima da média das outras propriedades (20%). Faço recesso remunerado no final do ano e tenho plano de carreira (Colaborador Aprendiz,  Colaborador Bronze,  Colaborador Prata, Colaborador Ouro, Colaborador Diamante e Colaborador Brilhante) com acréscimo de salário a cada cinco anos (acima do quinquênio legal).

Estimulo atividades de lazer como: marcações em outras estâncias, campeonatos de futebol (temos o nosso time uniformizado), festejos em datas comemorativas (Natal e aniversários) e participação de duplas em rodeios (patrocinados pela estância).

BeefPoint: Há muita gente boa em gestão de pessoas, mas que não conhece esse termo. É bom em lidar com gente, tem uma equipe de alta performance, baixa rotatividade de pessoal, etc. Desde quando você se interesse sobre o tema gestão de pessoas?

Yara Suñé: Comecei a me interessar pelo tema na medida em que entendi que a nossa pecuária é baseada em tecnologia de processos. Para que haja o mapeamento de processos com metas a serem cumpridas em tempo pré-determinado, é imprescindível uma mão de obra qualificada.

Entendo como mão de obra qualificada pessoas que estão comprometidas com o resultado, com vocação para a atividade e que enxerguem no nosso negócio uma forma de crescer na vida (ambição).

BeefPoint: Em sua opinião o bom trato com os funcionários trouxe quais benefícios para sua propriedade?

Yara Suñé: Muito mais que bom trato, reconhecimento seria a palavra. Existem várias formas de reconhecimento que vão além do financeiro. São formas de reconhecimento que não custam nada ou quase nada. Receber um elogio sincero na hora certa, ser reconhecido pelo gestor diante dos outros e, principalmente, apoio nos momentos difíceis podem fazer toda a diferença.

Cito como exemplo, um funcionário nosso que numa briga acabou sendo preso. Teve que prestar serviços a comunidade. Apostando no sistema brasileiro da impunidade, descumpriu a ordem e acabou sendo preso novamente. Por ele ter potencialidades que acredito serem fundamentais, contratamos uma advogada para tirá-lo da prisão. Além de apoia-lo, transmiti a mensagem aos outros funcionários de que quem tem capacidade e comprometimento terá meu apoio, dentro ou fora da propriedade.

Os benefícios que esta forma de gerenciar tem trazido para a Estância são muitos, entre eles: assiduidade, baixa rotatividade, pontualidade na execução de tarefas e a melhora contínua nos índices de produção.

BeefPoint: Todos sabemos que aprendemos mais com nossos erros. O que fez e deu errado? Você poderia nos contar?

Yara Suñé: Não obtivemos sucesso com a remuneração por metas de trabalho. Infelizmente, além de eles não entenderem quando não alcançavam determinada meta, muitas vezes suas ações ficavam comprometidas por razões que independiam deles como o clima, por exemplo.

Também considero complicado o controle de deixar o capataz criar reses próprias no campo, costume típico que havia no Rio Grande do Sul. Prefiro remunerar melhor.

Outro erro que cometi foi na contratação do capataz. Por muito tempo, quando um capataz ia embora, contratávamos um novo. Obtivemos mais resultados quando passamos a promover pessoas que já trabalhavam na propriedade. Escolhíamos aquele com maior potencial de liderança e melhor conhecimento campeiro. Notamos que a aceitação do capataz dentro da equipe era mais natural. Outro fator que ficou implícito foi que, de agora em diante, há sempre a possibilidade de promoção.

BeefPoint: O que você considera mais importante para fazer uma boa gestão de pessoas em uma fazenda de gado de corte?

Yara Suñé: Fazer com que eles entendam ao máximo o sistema produtivo em que trabalham. O porquê e o para que de suas atitudes em cada etapa do sistema. Que seus esforços não foram em vão, mesmo que algumas vezes seus resultados não tenham sido tão significativos. E essa função cabe à administração. Os funcionários não tem como descobrirem sozinhos.

Como eu faço isso? Mostro  através de números o quanto suas realizações são importantes. Discutimos experiências e resultados, envolvendo-os o máximo possível. Se há problemas, quero suas sugestões e seus pontos de vista. Gosto de escutá-los. Imprimo circulares mensais que constam resultados e comparativos através dos anos. Também nas circulares ficam registradas as folgas dos finais de semana e acertos de horas que todo o grupo precisa ficar sabendo.  Muitas vezes a informação não fica clara quando é verbal, a escrita não deixa dúvida alguma. É importante criar um ambiente seguro e de clareza para todos.

Considero o exemplo dado pelos donos ou gestores também de total importância. O exemplo que tento passar a eles como gestora é de ser uma líder coerente e confiável, com capacidade de transformar uma intenção em realidade e que inspire a imitação de atitudes.

BeefPoint: Em relação à gestão de pessoas o que a pecuária de corte, em sua maioria, precisa melhorar?

Yara Suñé: Creio que houve a profissionalização da pecuária em vários aspectos como: manejo, sanidade, nutrição, reprodução, etc. A hora agora será da gestão do negócio e  profissionalização dos recursos humanos. Cada propriedade terá que descobrir a sua fórmula  que vai depender de região, distância dos centros urbanos, atividade, tamanho de propriedade e número de funcionários.

Mas, basicamente, penso que  melhorar a remuneração, dar condições dignas de trabalho e criar um ambiente harmonioso  irão garantir resultados positivos.

BeefPoint: O que você pretende fazer de diferente em 2014, no quesito gestão de pessoas? E por quê?

Yara Suñé: As metas para nosso pessoal este ano são:  fazer mais cursos de capacitação (SENAR), visitar outros sistemas produtivos (CITES) e visitar feiras de agronegócios.

Acredito ser uma forma de ampliar seus horizontes, de adquirirem novos conhecimentos e de torna-los mais participativos no nosso processo produtivo.

BeefPoint: Qual o exemplo de profissional que preza pela gestão de pessoas na pecuária, no Sul do Brasil hoje? Quem você admira por fazer um excelente trabalho?

Yara Suñé: Gosto do trabalho dos citianos do Cite 27, especialmente do Francisco Abascal que tem uma equipe coesa e comprometida com seu trabalho. O Francisco, que tem larga experiência no comércio, conseguiu implementar conceitos até então aplicados nas suas lojas dentro da sua propriedade.

Também admiro a família Souza de Lavras do Sul que possui colaboradores com mais de 30 anos de casa. Surpreendeu-me ver, no casamento da Ana Medora Souza, na hora da valsa e na falta do pai já falecido, ela convidar, além do irmão e dos tios, também o capataz para dançar com ela. Foi um momento incrível. Quer reconhecimento maior que este para um colaborador com todo este tempo de trabalho?

BeefPoint: Em sua opinião, o que deve ser feito para aumentar o envolvimento dos jovens na agropecuária?

Yara Suñé: Estamos vivenciando um grande gargalo na produção primária, com a escassez de mão de obra para trabalhar no campo e a gradativa perda do valioso conhecimento campeiro, passado de geração em geração. Há um grande desafio pela frente. Temos que mostrar-lhes que o campo pode ser sim mais atrativo do que a cidade.

Aqui na minha região, por problemas de estrada e distância da cidade, os funcionários tem que pernoitar na propriedade durante a semana. Ficam longe de suas famílias. Isso não é fácil e poucos aceitam. Desta forma, a remuneração diferenciada, a flexibilização das folgas e as boas condições das instalações são importantíssimas na tomada da decisão na hora de escolher onde trabalhar. A cada perda tem que haver uma compensação, caso contrário sempre perderemos para a cidade.

Por outro lado, a legislação trabalhista deve ser revista e melhorada. Hoje estou correndo riscos de ser enquadrada como uma propriedade escravagista caso deixe os filhos do capataz ou de um peão andarem a cavalo. Como essa gurizada nova vai aprender com os seus pais as lidas campeiras? Como descobriremos os que tem vocação? Não será nos rodeios de final de semana, suponho.

BeefPoint: Qual seu recado para os pecuaristas?

Yara Suñé: A pecuária faz parte da produção primária, logo, como todos sabemos, é dependente das políticas agrícolas de cada novo governo. As cidades clamam cada vez mais por saúde alimentar e proteção do meio ambiente. Os urbanos jogam toda a culpa da negligência desses assuntos ao produtor rural. Nós pecuaristas sabemos que não é verdade essa afirmação. Porém, só nós sabemos disso.

Tenho a convicção de que temos uma grande oportunidade em mãos. A de formar cidadãos que tenham o pensamento alinhado com a causa do agronegócio. Temos a oportunidade de ensinar da forma correta nossos funcionários mostrando-lhes, com exemplos, que temos o compromisso de produzir com qualidade e sustentabilidade. Podemos aproveitá-los como multiplicadores do nosso trabalho sério e responsável.

Nossos colaboradores tem que ter em mente que fazem parte de um processo de transformação de matéria prima em produto e não que são explorados por um processo de transformação. É nosso dever engajá-los, não só na produção, mas também na nossa causa.

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Confira outra entrevista de Yara Suñé no BeefPoint:

Yara Suñé: cada pecuarista gaúcho deveria ceder um pouco do seu tempo ao “coletivo” e tomar atitudes

Clique aqui e garanta sua inscrição para o BeefSummit Sul

Assista ao vídeo sobre o BeefSummit Sul

5 Comments

  1. Doutora Yara, que entrevista, que brilhantismo!
    O prêmio é seu. Você tem que se candidatar a algo político! Sucesso!

  2. Jean Carlos dos Reis Soares disse:

    Grande Yara!!!! Merece todo o reconhecimento. Parabéns pelo teu trabalho. Sem dúvidas é um diferencial na nossa pecuária de corte gaúcha. Forte Abraço!!!

  3. Rodrigo Moglia disse:

    Parabéns Yara, Belo exemplo.

  4. Vagner Pires de Castilhos disse:

    Muito boa tua entrevista , só assim com o reconhecimento do homem do campo voltaremos a ter mão de obra qualificada e gente campeira e esse exemplo teu vem de berço siga sempre assim ,um belo trabalho sucesso!!! um abração.

  5. eugenio carlos ramos montano. disse:

    Yara!
    Tens uma visao alem do horizonte.
    Meus comprimentos.
    Eugenio Montano.

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