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Temor de recessão pesa sobre commodities

No primeiro semestre, entre os reflexos de uma guerra na Europa e o temor crescente de uma recessão global, o mercado de commodities agrícolas viveu uma espécie de era dos extremos particular. O trigo chegou a atingir suas máximas históricas nesse período, afetado pela interrupção das exportações ucranianas decorrente da invasão russa ao país, em fevereiro, mas, mais recentemente, as cotações do cereal entraram em certa acomodação. Outros produtos básicos, como café e cacau, também trilharam rota ascendente na primeira metade do ano. No entanto, por serem mais sensíveis a choques de demanda no varejo, agora acumulam queda em 2022.

Fatores como o gargalo logístico global desencadeado pela pandemia de covid-19, problemas climáticos nas lavouras e aperto nos estoques têm elevado os preços internacionais das commodities agrícolas. Neste ano, ao reduzir a oferta de culturas importantes e também de insumos como fertilizantes, petróleo e gás natural, o conflito na Ucrânia amplificou a pressão inflacionária no mundo. Como resposta, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) passou a aumentar os juros nos Estados Unidos. A estratégia tem como objetivo debelar o aumento de preços no país, mas, ela pode, ao mesmo tempo, desencadear uma recessão de escala global.

O comportamento dos preços do algodão ajuda a ilustrar esse quadro de instabilidade e incertezas. Segundo cálculos do Valor Data, feitos com base na cotação média dos contratos de segunda posição na bolsa de Nova York, a pluma acumulou alta de pouco mais de 13% no primeiro semestre. Em junho, no entanto, sob o temor dos efeitos recessivos da política monetária americana, os preços médios caíram 12,1%.

A notícia de que a China está flexibilizando as restrições contra a covid-19 e retomando as compras internacionais também oferece algum alento aos preços, segundo Eduardo Araújo Santiago, sócio da consultoria Santiago Cotton. Mas, no médio e longo prazos, argumenta ele, a tendência é que as cotações continuem a recuar, já que estão em patamares historicamente muito elevadas. “A recessão e as dificuldades macroeconômicas pesam sobre os preços”, diz.

O cacau, outro produto afetado pelo receio dos investidores com a demanda, caiu mais de 2% em junho, de acordo com o Valor Data. Agora, a amêndoa acumula queda em 2022, de 2,3%, além de estar apenas 1,3% acima do patamar de um ano atrás.

Café e suco de laranja foram as únicas commodities agrícolas que se valorizaram no mês passado. No caso do grão, o atraso da colheita no Brasil acentua as preocupações do mercado com a oferta, ainda que o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) projete aumento dos estoques globais até o fim do ciclo, observa o analista Gil Barabach, da Safras & Mercado. Sob os receios com a oferta e o temor dos efeitos que a inflação e uma eventual recessão possam ter sobre a demanda, o café subiu em junho em Nova York, mas recuou quase 2% no primeiro semestre.

Entre os grãos negociados na bolsa de Chicago, soja e milho caíram 1,2% e 8,2% no mês passado, respectivamente. O recuo mais expressivo, superior a 10%, no entanto, foi o do trigo. Ainda assim, o cereal continua em patamar bastante superior à média histórica, mostra o Valor Data. No primeiro semestre, os preços médios aumentaram quase 30%.

Para o analista Elcio Bento, da Safras & Mercado, o trigo passou por um ajuste e encontrou novo piso, na faixa de US$ 9 por bushel. Ele não vê, no entanto, espaço para quedas adicionais.

Fonte: Valor Econômico.

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