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Tema da sustentabilidade poderia se tornar a grande bandeira brasileira – Por Marcos Sawaya Jank

O Brasil mostrou sua garra e beleza! Em um momento de grande criatividade, a cerimônia de abertura da Olimpíada celebrou temas globais como sustentabilidade e diversidade, alçando a nossa imagem e autoestima a patamares que estavam havia tempos esquecidos.

Mas, com a posse do novo governo, é hora de refletir sobre a identidade e os valores que poderiam marcar a nova fase de desenvolvimento de que tanto precisamos. Nossa imagem internacional varia do negativo de hoje (corrupção, violência, baixo crescimento, desorganização) aos temas usuais de sempre (futebol, carnaval, praias, música etc.). Temos de mudar isso.

Há exemplos contundentes de países que conseguiram diferenciais competitivos importantes em razão da sua imagem-país: qualidade no Japão, inovação nos EUA, gastronomia na França, design na Itália.

Não há dúvida de que campanhas de marketing ou megaeventos tipo Olimpíada contribuem para fixar ou modificar a imagem de um país. Mas, na essência, a construção de qualquer imagem-país deve nascer de ações reais, tangíveis, num campo específico, que a criam sensações e percepções intangíveis a posteriori.

Elas não podem nascer de casos isolados, muito menos de eventos ou propagandas oficiais. Devem, ao contrário, surgir de um grande acumulo de exemplos concretos, programas e narrativas sobre um tema, que são reconhecidos e difundidos por organizações e pessoas insuspeitas no exterior, de fora para dentro.

O tema da sustentabilidade poderia se tornar a grande bandeira brasileira.

Pode até parecer loucura assumir esse tema num país em que os exemplos negativos são abundantes: rios poluídos, saneamento sofrível, poluição, lixo, desperdício. Mas há exemplos espetaculares na direção correta: redução do desmatamento, restauração florestal, programas para mitigar as mudanças do clima, agricultura conservacionista (plantio direto, duas safras por ano sem irrigação), integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), cadeias produtivas integradas, controle sanitário, matriz energética diversificada etc. Nas últimas décadas, no campo da agricultura não há país no mundo que tenha feito mais que o Brasil, e o mundo deveria conhecer isso.

Agricultura e ambiente já foram áreas que não se entendiam. O clima era péssimo: acusações, desinformações e ausência de diálogo. Mas evoluímos muito, e hoje temos uma história de cooperação e avanços para contar. Implantação do Código Florestal, cadastro ambiental rural, moratórias, certificações, foros, coalizões e programas unindo empresas e ONGs tornaram-se agendas cotidianas.

É obvio que há muito ainda por ser feito, até porque ainda temos o melhor e o pior convivendo lado a lado. Mas o grande desafio talvez seja participarmos de forma mais efetiva do debate global, com bons dados e casos concretos. Temas como segurança alimentar, uso da terra, modelos de produção, clima, água, energia, biodiversidade e empregos estão no dia a dia da agenda internacional. No geral, nossa posição tem sido tímida e defensiva. Deveríamos participar do debate de forma regular e consistente, trazendo a experiência brasileira como solução real para alguns problemas globais, ainda que parcial.

Não basta sermos “gigantes pela própria natureza”, com diz o hino. Não é a nossa exuberante natureza que nos torna gigantes, mas sim o rumo que damos a ela e ao nosso território, a contribuição que podemos dar para um planeta que tem dificuldade para equilibrar o econômico, o social e o ambiental. Em algumas áreas, não somos o problema, mas parte da solução. Essa pode ser nossa principal imagem-país no futuro.

Por Marcos Sawaya Jank, especialista em questões globais do agronegócio, para a Folha de São Paulo (edição de 03/09/16).

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