Com as metas do atual programa de sustentabilidade cumpridas antes mesmo do prazo, a Syngenta, controlada pela estatal chinesa ChemChina, lança hoje uma iniciativa, que contará com investimentos de US$ 2 bilhões nos próximos cinco anos no mundo todo e que terá parcela “considerável” destinada ao projeto Reverte, exclusivo do Brasil.
A iniciativa, que conta com apoio da organização não-governamental The Nature Conservancy (TNC), tem como objetivo recuperar 1 milhão de hectares de terras degradadas em Mato Grosso, Goiás, Maranhão e Mato Grosso do Sul até a safra 2024/25. Para tanto, a ideia é começar com 30 mil hectares já em 2020/21 e avançar sobre 100 mil hectares na temporada seguinte.
“Boa parte da área de soja do Brasil vem crescendo sobre áreas de pastagens mais ou menos degradadas, mas o apetite do produtor encontra dois bloqueios. Um é o financeiro, e o segundo é o técnico”, disse André Franco, líder do negócio de sementes da Syngenta no Brasil e Paraguai.
Conforme o executivo, a Syngenta se debruçará na estruturação de um protocolo agronômico para recuperar as áreas degradadas. Mas o diferencial está em resolver o gargalo financeiro, argumentou Franco. Nesse sentido, a companhia já provocou os bancos que atuam no setor para pensarem em soluções.
Guillermo Carvajal, diretor de sustentabilidade e negócios responsáveis da Syngenta, disse que dos 10 bancos procurados, sete demonstraram interesse em apresentar propostas para o Reverte, e o farão a partir de 1º de novembro. “Para recuperar áreas degradadas você precisa de carência no financiamento, precisa olhar para o longo prazo e não para a safra isoladamente”, acrescentou.
Na visão de Franco, não há linhas de financiamento que atendam a essa demanda. “Hoje, o produtor que quer investir em áreas degradadas precisa estar muito disposto a correr riscos. O que nós queremos é minimizar esse risco”, afirmou.
Para Franco, a oportunidade é grande e a meta da Syngenta, de recuperar 1 milhão de hectares em cinco anos, atingiria apenas 7% dos potenciais 18 milhões de hectares com algum nível de degradação e aptidão para agricultura disponíveis para serem recuperados no Cerrado.
Na avaliação da Syngenta, o projeto pode gerar valor para a empresa e também para os parceiros no projeto, como empresas de fertilizantes e máquinas agrícolas. “Para os produtores, é uma chance de melhorar a produtividade. Para o meio-ambiente, de não precisar avançar sobre novas áreas”, ressaltou Franco.
Para tirar o projeto do papel, a Syngenta pretende investir mais em cultivares adaptadas à região. “Certamente já temos produtos dentro do nosso portfólio que atendem à necessidade, mas faremos um esforço adicional para ofertar mais opções. O produtor brasileiro quer produtividade e todo o nosso melhoramento é para isso, mas o produtor de áreas em recuperação pode ter outras prioridades, como a capacidade da cultivar de tolerar um ambiente hostil”, afirmou.
A nível global, a empresa também se colocou dois desafios. O de lançar anualmente dois produtos com foco maior em sustentabilidade e de reduzir em 50% as emissões de gás carbônico em sua operação.
Como já ocorre com o The Good Growth Plan (programa de sustentabilidade que será concluído em 2020), as metas do novo plano serão auditadas. Segundo a Syngenta, o atual programa contribuiu para a melhoria da fertilidade de 10 milhões de hectares de terras à beira da degradação, aumento da biodiversidade em 5 milhões de hectares, capacitação de 20 milhões de agricultores e incremento de 20% na produtividade média das principais culturas ao redor do globo.
Fonte: Valor Econômico.