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Sustentabilidade através do aumento da produtividade: estudo de caso real (vídeo, slides e artigo)

Este artigo apresentará um estudo de caso de adoção de tecnologia em uma fazenda no Pará, com produtividade média e problemas de degradação de pastagens. Em relação ao estudo, será abordado como a gestão de processos, sem uso de insumos, aumentou a produtividade, como a aplicação de tecnologia permitiu a sustentabilidade econômica da atividade mesmo nos anos de preços muito baixos e como o aumento da produtividade e da rentabilidade garantiram a sustentabilidade social e ambiental do negócio.

Este artigo apresentará um estudo de caso de adoção de tecnologia em uma fazenda no Pará, com produtividade média e problemas de degradação de pastagens. Em relação ao estudo, será abordado como a gestão de processos, sem uso de insumos, aumentou a produtividade, como a aplicação de tecnologia permitiu a sustentabilidade econômica da atividade mesmo nos anos de preços muito baixos e como o aumento da produtividade e da rentabilidade garantiram a sustentabilidade social e ambiental do negócio.

Todos os processos que vão gerar os acontecimentos da cadeia produtiva da carne partem de dentro das fazendas e é por isso que a base da sustentabilidade é o pecuarista. O que se sabe é que antes de mais nada, o negócio deve ser rentável economicamente para que por fim o pecuarista volte suas atenções para a sustentabilidade de sua propriedade.

Não há como pensar em rentabilidade sem falar de aumento de produtividade. Historicamente o valor real da arroba é cada vez menor, enquanto os custos de produção só aumentam. Deste modo, com a margem de lucro por arroba menor, a única maneira de manutenção ou aumento de rentabilidade por área é aumentando a produção de arrobas por hectare.

De 1995 até 2006, a área disponibilizada para lavouras aumentou em 35 milhões de hectares e a área para pastagens reduziu 5,4 milhões de hectares. Observa-se através disso, o grande desafio dos produtores em que é necessário que se produza mais para serem melhor remunerados e ao mesmo tempo as áreas de pastagem sofrem uma disputa com as áreas para produção de alimento, fibra, e energia.

Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento o Brasil possui 220 milhões de hectares de pastagem produzindo 9,2 milhões toneladas Eq. Carcaça. Então, são produzidas 613 milhões de arrobas por hectare ou 2,8 @/ha/ano.

Simulando o impacto do aumento da produtividade de 1@/ha, mantendo-se a área de 220 milhões de hectare, nota-se que a produção total seria 12,5 milhões ton. Eq. Carc., aumento que equivaleria a 240% da exportação atual. Se em outro caso a produção total for mantida em 9,2milhões de ton. Eq. Carc., e a produtividade aumentar 1@/ha, 60 milhões de ha em média seriam liberados para cultivo de outras atividades, fortalecendo o agronegócio brasileiro. Essa liberação de área é equivalente a 165% do aumento da área de lavoura no Brasil de 1995 a 2006.

Clique na imagem para ampliá-la.

O estudo de caso foi baseado na Fazenda Ouro Verde, uma fazenda que possui características médias e possui problemas e desafios parecidos das demais fazendas do Brasil. A Fazenda Ouro Verde tem uma área de pasto de 4.155 ha, solos típicos da maior parte do Brasil, com 19% de argila, 40% de saturação de bases e 1,8 mg de fósforo (P) em média. Possui ainda histórico de dados confiável da situação produtiva e financeira dos anos anteriores. A fazenda tem sofrido sérios problemas com morte de braquiarão, diminuindo o seu potencial produtivo e aumentando o custo de produção. Os proprietários vivem da atividade, e não houve aporte externo no período acompanhado (desde 2001).

Primeiramente foi feito um diagnóstico seguido de planejamento, traçando um objetivo inicial de adequar os processos internos de gestão da fazenda, corrigindo manejo de pastagens, fazendo divisão de áreas, usando apenas sal mineral e produtos para limpeza do pasto. A grande desuniformidade das pastagens, com áreas degradadas e sobras de pastagens nas mesmas áreas foi o principal problema de manejo encontrado inicialmente.

Os principais pontos abordados na fazenda para efetuar o trabalho foram:

 Elaboração de estudo de viabilidade técnica e econômica;
 Mudança na atuação do administrador (proprietário), criando critérios de hierarquia, quadro de funções e gestão de todos os processos internos;
 Criação de um sistema de acompanhamento de dados produtivos, com relatórios periódicos, e dados financeiros com relatórios mensais;
 Adoção de pastejo rotacionado em toda a fazenda, inclusive para os lotes de engorda;
 Identificação dos animais e início do controle real dos dados zootécnicos, principalmente ganho de peso por categoria nas águas e na seca;
 Redivisão dos pastos, visando melhoria constante no suporte e nos resultados produtivos do rebanho ao longo dos anos, de acordo com o planejamento.

O principal e maior investimento foi a construção de cercas elétricas para divisão dos piquetes (de 35 mil até 65 mil reais por ano). A redivisão das pastagens permitiu uma maior eficiência no pastejo rotacionado e melhor desempenho na recria e engorda, inclusive com engorda em sistema de desponte e repasse.

A fazenda obteve a seguinte evolução de resultados:

 De 2002 a 2008 a produção média foi de 28.945 @ por ano, o que significa aumento de 52,7%.
 A produção de arrobas (de boi) de 2002 a 2008 foi de 6,8 @/ha/ano, mostrando aumento médio de 2,5 @/ha, ou 58%, mesmo considerando as grandes perdas de eficiência pela morte de capim ocorrida na região.
 De 2002 a 2008 a margem líquida em arrobas foi de 9.737 @/ano, correspondendo a aumento de 81,6%.
 O custeio médio ao ano no período foi de R$ 958 mil, mostrando um aumento de 113% em relação à média anterior.

Como visto, as despesas foram aumentadas na ordem de 113% a.a., porém a fazenda obteve um crescimento de 81% na margem líquida do seu negócio, simplesmente por aumentar em 58% sua produtividade por hectare.

Através do estudo, repara-se que caso a fazenda continuasse com sua produção anual de 18.789 @ de boi até 2008, considerando a alta dos custos de insumos, ela teria arcado com prejuízos desde 2004.

Clique na imagem para ampliá-la.

Dando continuidade aos cálculos, extrapolando o aumento de 2,5 @/ha para o restante do Brasil, mantendo-se a área de 220 milhões ha, a produção média aumentaria de 9,2 milhões ton Eq. Carc. para 17,4 milhões ton Eq. Carc., aumento que equivaleria a 760% da exportação atual.

O impacto do aumento da produtividade é transmitido de maneira social pois além da possibilidade de proporcionar condições de moradia, alimentação, educação e saúde para os funcionários e suas famílias, a fazenda Ouro Verde gastou em 2008, somente no município (funcionários, comércio e compra de gado), a quantia de R$ 2,16 milhões, sem contar o recolhimento de impostos. O município de Brejo Grande do Araguaia possui 8.000 habitantes.

Por meio desse estudo pode-se ter a noção de que o aumento da produtividade na pecuária pode contribuir para o crescimento de todos os setores do agronegócio brasileiro, atendendo a demanda mundial por alimentos sem necessidade de novas áreas, acreditando que o “desmatamento zero” é possível. Além disso, foi visto que a sustentabilidade econômica da atividade contribui para a melhoria das condições de vida de toda a população em seu entorno.

O aumento de produtividade é perfeitamente possível com recursos próprios para a maioria das propriedades brasileiras, desde que bem planejadas e administradas. A sustentabilidade ambiental e social está ligada diretamente à viabilidade financeira das fazendas, e isso se dá através do uso das tecnologias disponíveis.

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Marcelo Pimenta Mascarenhas é Médico Veterinário, com especialização em solos e manejo de pastagem, Consultor-Sócio da Exagro com 18 anos de experiência. Atua em fazendas de pecuária de corte, com foco na adoção de ações técnicas embasadas em planejamento e acompanhamento gerencial e econômico. Tem sob sua responsabilidade clientes nos estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Pará, em um rebanho total aproximado de 136 mil cabeças, em sistemas de cria, recria/engorda, e confinamento. É diretor geral da Exagro, uma empresa de consultoria com 18 anos de mercado que planeja e orienta atualmente a produção e a gestão de 276 fazendas, distribuídas em todas as regiões brasileiras.

0 Comments

  1. Rodrigo Belintani Swain disse:

    Prezado Marcelo, muito bom este exemplo; devo dizer que a economia hoje esta diretamente ligada à ecologia;
    com os fundamentos de manejo, sempre respeitando tempos de ocupação, descanso, lotação, poderemos alêm de aumentar a produção recuperar areas degradadas.

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