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Suplementação alimentar leva à superestimativa da taxa de lotação animal em pastagens

Por Patrícia Menezes Santos1, Marco Antonio Alvares Balsalobre2, André De-Stefani Aguiar3

A taxa de lotação é a relação entre o número de unidades animais (UA) e a área ocupada pelos animais durante um período de tempo. Esse índice auxilia na definição do manejo e no estabelecimento da demanda por alimentos, visando ao bom aproveitamento das pastagens por ruminantes.

O uso da unidade animal no cálculo da taxa de lotação tem o objetivo de padronizar o efeito das diferentes categorias animais sobre o pasto. No Brasil, a unidade animal tem sido considerada como um bovino de 450 kg de peso vivo. Essa definição não leva em consideração o potencial de consumo de forragem dos animais.

A American Society of Range Management definiu, em 1974, a unidade animal como uma vaca adulta não lactante de 454 kg ou seu equivalente, com média de consumo de 12 kg de matéria seca (MS) de forragem por dia (American Society of Range Management, 1974; citado por Vallentine, 1990). Já a Crop Science Society of America e o Forage and Grazing Terminology Committee definem a unidade animal como um bovino não lactante pesando 500 kg e alimentado em nível de mantença ou, para outros tipos de animais, o equivalente em peso metabólico (Forage and Grazing Terminology Committee, 1991; Barnes & Beard, 1992).

Quando o cálculo da taxa de lotação é feito considerando-se apenas o peso vivo dos animais, uma série de fatores que interferem no consumo não são considerados, como, por exemplo, categoria animal, temperatura, umidade relativa do ar e fornecimento de alimento suplementar.

Para vacas lactantes em pastejo, o concentrado pode representar mais de 50% do consumo total de matéria seca. Além disso, a suplementação concentrada provoca alterações no consumo de volumoso, de modo que ocorre substituição de parte da forragem da dieta pelo concentrado (taxa de substituição). Essa taxa de substituição varia de acordo com a composição do concentrado e do volumoso.

Aguiar et al. (2006) propuseram um método alternativa para se calcular a taxa de lotação para bovinos em pastejo com suplementação alimentar. Os autores utilizaram dados de vacas em lactação, da raça Holandesa Preta e Branca, em pastagem de “Panicum maximum” cv. Tanzânia, irrigada e suplementada com concentrado, no período de janeiro de 2004 a janeiro de 2005.

As taxas de lotação foram calculadas por dois métodos: Método 1, de acordo com o peso dos animais, pressupondo que 1 UA corresponde a um bovino de 454 kg de peso vivo; Método 2, de acordo com o consumo de forragem dos animais, pressupondo que 1 UA corresponde a um bovino consumindo 12 kg de MS/dia (Aguiar et al., 2006).

O consumo total de matéria seca foi estimado utilizando-se o Cornell Net Carbohydrate and Protein System (CNCPS 3.0; Fox et al., 1999). Foram feitas 1107 simulações, com o total de 98 vacas, de modo a determinar o consumo de matéria seca necessário para atingir a produção de leite observada (Aguiar et al., 2006). O consumo de forragem foi calculado subtraindo-se o consumo de concentrado do consumo total de matéria seca (Aguiar et al., 2006).

Em todos os períodos, a taxa de lotação calculada com base no peso vivo dos animais foi mais elevada do que aquela calculada com base na estimativa do consumo de matéria seca (Figura 1). As diferenças entre os dois métodos não foram uniformes ao longo do ano e variaram de 0,6 a 11,8 unidades de taxa de lotação. As maiores variações foram observadas em janeiro, fevereiro, março e dezembro de 2004, quando o cálculo baseado no peso vivo das vacas superou em até 200% aquele feito com base no seu consumo de matéria seca.


Comentário dos autores

O cálculo da taxa de lotação com base no peso vivo dos bovinos não é adequado quando os animais recebem suplementação alimentar. O cálculo da taxa de lotação com base na estimativa do consumo de matéria seca de forragem é uma alternativa viável, porém os modelos de simulação que estimam consumo de matéria seca dos animais precisam ser aprimorados e validados para condições tropicais.

Referências bibliográficas

AGUIAR, A.D.; SANTOS, P.M.; BALSALOBRE, M.A.A. Métodos de cálculo de taxa de lotação em pastagens com suplementação (compact disc). Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia, 43. 2006. João Pessoa-PB. 2006

BARNES, R. F.; BEARD, J. B. A glossary of crop science terms. Madison:
Crop Science Society of America. 1992. 88 p.

FORAGE AND GRAZING TERMINOLOGY COMMITTEE. Terminology for grazing lands and grazing animals. Blacksburg: Pocahontas Press. 1991. 38p.

FOX D.G.; TYLUTKI T.P; PELL A.N.; VAN AMBURGH M.E.; CHASE L.E; PITT R.E.; RASMUSSEN C.N; TEDESCHI L.O.; DURBAL V.J. The Net Carbohydrate and Protein System for evaluating herd nutrition and nutrient MODEL DOCUMENTATION 1 Revised For CNCPS version 3.1, 1999.

VALLENTINE, J.F. Grazing management. San Diego: Academic Press. 1990. 533p.

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1Patrícia Menezes Santos – Pesquisadora da Embrapa Pecuária Sudeste

2Marco Antonio Alvares Balsalobre – Diretor de Desenvolvimento de Produtos da Bellman Nutrição Animal, São José do Rio Preto, SP.

3André De-Stefani Aguiar, Graduando em Zootecnia pelas Faculdades Associadas de Uberaba, de Uberaba, MG, e Estagiário da Embrapa Pecuária Sudeste.

0 Comments

  1. Perecles Brito Batista disse:

    Patricia,

    Não entendi bem a conclusão deste trabalho, já que o consumo de matéria seca (segundo métodos tradicionais) está relacionado com o peso vivo. Mas é claro que a fundamentação exposta nesta pesquisa é plausível.

    Por favor, gostaria que me explicasse melhor a parte da conclusão (“Em todos os períodos, a taxa de lotação calculada com base no peso vivo dos animais foi mais elevada do que aquela calculada com base na estimativa do consumo de matéria seca…”).

    Obrigado

    Resposta da autora:

    Prezado Perecles,

    O consumo total de matéria seca está relacionado com o peso animal, aí é que está o problema. Quando o animal recebe suplementação no cocho, parte da alimentação não é proveniente o pasto e isto leva a uma distorção do valor de taxa de lotação animal.

    Se ainda não estiver claro, por favor, volte a entrar em contato.

    Atenciosamente,
    Patricia Santos
    Embrapa Pecuária Sudeste

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