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Somos eficientes, produzimos sem subsídio, temos um rebanho enorme e um parque industrial vasto e moderno. Assusta, né? – Fabiano Tito Rosa (Minerva)

O BeefPoint realizará nos dias 10 e 11 de dezembro, o BeefSummit Brasil, no Centro de Convenções de Ribeirão Preto – SP,  e trará o melhor da pecuária brasileira em um só evento. O BeefSummit Brasil terá 14 palestras, sendo 3 internacionais, e também cursos num segundo auditório.

No primeiro dia, 10 de dezembro, será entregue o Prêmio BeefPoint Brasil, um prêmio criado pelo BeefPoint para homenagear quem faz a diferença na pecuária de corte brasileira. E também teremos o lançamento do Movimento AgroTalento, com a entrega do prêmio AgroTalento, na véspera do BeefSummit.

Para conhecer melhor os palestrantes e os temas de suas palestras, o BeefPoint preparou uma série de entrevistas com os palestrantes do BeefSummit Brasil.

Confira abaixo a entrevista com Fabiano Tito Rosa, gerente executivo de Business Intelligence da Minerva Foods.

Fabiano Tito Rosa

Fabiano Tito Rosa é casado, pai de um menino e profissional da pecuária há 14 anos.

É zootecnista pela Unesp de Jaboticabal, mestre em engenharia de produção, com especialização em gestão de sistemas agroindustriais, pela UFSCAR.

Foi consultor e diretor da Scot Consultoria. Atualmente, é gerente executivo de Business Intelligence da Minerva Foods, coordenando os trabalhos de market research/pesquisa de mercado (com foco em gestão de risco), pricing e relacionamento com fornecedores.

BeefPoint: Qual o tema de sua palestra no BeefSummit Brasil? Quais os principais pontos da sua palestra?

Fabiano Tito Rosa: Levarei para o evento a visão do Minerva para o mercado do boi gordo e carne bovina em 2014.

Em síntese, acreditamos em um ano razoável em termos de oferta/supply, em relação à média dos últimos três, com as atenções voltadas ao nível de abates. No caso da carne, teremos alguns desafios no mercado doméstico, relativizados pela copa e as eleições, que tendem a ajudar o consumo, mas estamos muito otimistas com o mercado externo, mediante retomada do crescimento econômico, dificuldades enfrentadas por importantes concorrentes (como EUA e Austrália) e também desvalorização do real.

BeefPoint: Qual o maior desafio da pecuária de corte no Brasil hoje?

Fabiano Tito Rosa: Destaco alguns que impactam o agronegócio brasileiro como um todo: os problemas de infra-estrutura e logística, insegurança jurídica, violência no campo etc.

No caso específico da bovinocultura de corte, do nosso negócio, acredito que há ainda muita falta de entendimento e excesso de desconfiança entre produtor e indústria. Falta um canal ou fórum que promova a aproximação desses dois elos, a troca de ideias, a orientação e a busca de soluções para problemas comuns, de forma prática e eficiente.

Falta algo que priorize as ações, ao invés dos discursos. No Minerva, criamos um programa com esse objetivo, chamado “Falando de Pecuária”, mas é uma ação que precisa ser ampliada.

BeefPoint: Como podemos agregar valor à carne brasileira de forma diferente e especial em outros países?

Fabiano Tito Rosa: Antes de “agregar valor de forma diferente”, a gente precisa fazer o básico. Boa parte dos mercados, como Irã, Chile e UE, exigem que os animais sejam abatidos com no máximo 36 meses e a média brasileira ainda está acima disso.  O pH tem que ser, no máximo, 5,99, sendo 5,80 para o Chile, o que exige adequações de manejo, principalmente num cenário em que a maior parte dos animais enviados para o abate são inteiros (pré-dispostos a um pH mais alto). Boi tem que ter cobertura mediana, ao redor de 3-4 mm de gordura, o mínimo para garantir eficiência na cadeia do frigorífico e atendimento da exigência da maior parte dos mercados.

Porém, no Brasil, a maior parte dos animais chega aos frigoríficos com cobertura escassa ou ausente (e aí também temos a influência do boi inteiro). É bem verdade que alguns mercados, como o Chile, não querem gordura, portanto, cobertura escassa lhes cai bem; mas eu consigo tirar gordura dentro da fábrica, colocar é que não dá. Se o animal já chega sem gordura, as opções de venda ficam limitadas.

Os animais têm que ser sadios, obviamente. Sanidade ainda é a maior barreira de acesso à mercados. O exemplo clássico é o da aftosa, mas tuberculose, por exemplo, é barreira à Rússia, nosso maior mercado em termos de exportação (e hoje temos várias fazendas, em função de casos de tuberculose, fechadas para a Rússia). Mas, ao mesmo tempo em que é preciso vacinar e vermifugar, é necessário também respeitar os períodos de carência dos produtos veterinários, além de não usar substâncias proibidas. Resíduos na carne também geram embargos e a indústria frigorífica do Brasil lida todo dia com problemas desse tipo, gerando gastos extremamente altos com auditorias, análises de produtos, retorno de cargas, etc.

O boi e a carne são commodities, mas isso não quer dizer que valem qualquer coisa. Toda commodity tem um padrão, que é preconizado pelo mercado. O  padrão do boi seria algo mais ou menos assim: máximo de 36 meses, cobertura mediana, sadio (vacinado e vermifugado), sem resíduos, com pH abaixo de 5,99.

Considerando todos esses quesitos, nossa média ainda não é essa. Portanto, como coloquei no início, antes de pensar em algo “diferente”, temos que fazer o básico bem feito.

BeefPoint: Em sua opinião, o que deve ser feito para aumentar o envolvimento dos jovens na agropecuária?

Fabiano Tito Rosa: O Brasil é um país agropecuário, tem cultura agropecuária. As faculdades de ciências agrárias, pelo país afora, estão lotadas. Acho que o que precisamos é nos envolver mais com o que é ensinado e/ou transmitido para os jovens, ter mais influência na mensagem.

Nas universidades, por exemplo, tenho visto um bom conteúdo técnico-científico, mas pouco prático. Esses jovens profissionais chegam ao mercado e se deparam não só com desafios técnicos, para os quais eles até que estão bem preparados, mas com desafios comerciais, administrativos, legais, “institucionais” etc.

Discussões e informações nessas áreas é que precisam ser levadas a eles, ajudando a formar massa crítica, a formar solucionadores de problemas, de visão sistêmica e aí é preciso que o setor privado, que a cadeia, se aproxime e interaja mais com as universidades.

BeefPoint: Atualmente, quais os maiores desafios com gestão de pessoas na pecuária?

Fabiano Tito Rosa: Na indústria, com acelerado processo de profissionalização de um lado, desemprego baixo e geração Y de outro, o maior desafio hoje é de atração e retenção de talentos. E é um desafio grande.

BeefPoint: Qual inovação na pecuária de corte você mais gostou nos últimos anos?

Fabiano Tito Rosa: Foram várias inovações importantes, considerando genética, reprodução, nutrição, sanidade e pastagens. Para citar uma, fico com a IATF, que finalmente tirou a nossa taxa de inseminação de 5% do rebanho, agora em 10%, e que ainda vai trazer muitos ganhos para a atividade de cria, em termos de aumento de produtividade, melhoria genética etc.

Lembrando, é na cria onde tudo começa, sendo justamente a atividade que mais sofre os impactos do avanço da agricultura e das pressões sócio-ambientais em termos de perda de área e dificuldade de expansão.

BeefPoint: O que precisa ser inovado na pecuária de corte atual?

Fabiano Tito Rosa: Acho que a necessidade agora não é tanto de inovação e sim de usar de forma eficiente as tecnologias que aí já estão. Nesse caso, o ponto principal é gestão.

Não existe uso eficiente de tecnologia sem gestão, pois é preciso saber o que, onde, quando e como usar; mensurar resultados e, se necessário, realizar adequações, com foco na melhor relação benefício x custo. Isso é gestão.

BeefPoint: Em sua opinião, qual país tem se destacado na pecuária, por quê? O que o Brasil precisa aprender com esses países?

Fabiano Tito Rosa: O Brasil se destaca. Temos problemas, vários deles foram abordados nesta entrevista, mas basta avaliar as estatísticas, em termos de rebanho, produção, exportação etc. Para constatar, a pecuária brasileira tem performado muito bem, em termos comparativos. É líder sob vários aspectos.

Fora o Brasil, destaco o Paraguai, com um futuro bastante promissor, pois além das condições naturais favoráveis (como as do Brasil), os custos lá são baixos, com especial destaque àqueles relativos a mão de obra e energia, com legislação e carga tributária, ao contrário do que se tem por aqui, bastante amigáveis.

Mas, bons exemplos em outros países têm de monte. O sistema de pesagem no Uruguai, por exemplo, com várias balanças e controle oficial, traz transparência e informações importantes para a gestão do negócio, tanto para pecuaristas quanto para as indústrias.

O trabalho de coordenação, orientação e marketing institucional do MLA, na Austrália, também é extremamente interessante, gerando resultados significativos, e poderia de alguma forma ser adaptado ao Brasil.

BeefPoint: Qual a principal característica do Brasil na pecuária de corte? O que temos de melhor para ensinar aos demais países que trabalham em nosso setor?

Fabiano Tito Rosa: Somos flexíveis, bons em encontrar soluções, nos adaptando de forma relativamente rápida e fácil à mudanças, à novas exigências de mercado, à problemas variados (como embargos) etc.

Somos eficientes, produzindo a baixo custo, sem subsídio, com pouco apoio do estado. Tudo isso, para azar dos concorrentes, com um rebanho enorme, um parque industrial vasto e moderno, e muita vontade de produzir. Assusta, né?

BeefPoint: Qual o exemplo de pecuarista do futuro no Brasil hoje? Quem você mais admira?

Fabiano Tito Rosa: Tem muita gente boa. O Rogério Goulart é um ótimo exemplo, alinhando eficiência técnica, administrativa e comercial.

Gostei demais também da entrevista que o André Bartocci deu ao BeefPoint, da forma como ele pensa e analisa o seu negócio. Para quem não leu, recomendo.

BeefPoint: O que você fez em 2013 que te trouxe mais resultados?

Fabiano Tito Rosa: Fizemos muita coisa. Destaco a intensificação dos trabalhos com a nossa equipe de campo, a ampliação das ações de relacionamento com fornecedores e agora no final do ano, o início dos trabalhos de pricing, que devem ter uma contribuição significa para os resultados da empresa.

BeefPoint: O que você pretende fazer em 2014? Quais são seus planos?

Fabiano Tito Rosa: Pessoalmente, pretendo fazer mais um filho e uma casa em Barretos.

Profissionalmente, o foco principal estará no avanço dos trabalhos de pricing, extraindo o máximo de resultado.

BeefPoint: Que mensagem você deixaria para os pecuaristas?

Fabiano Tito Rosa: Se preparem para anos bons, com retomada de investimentos.

E vamos conversar mais, interagir mais, trocar mais ideias. Produtor e indústria só têm a ganhar com essa aproximação.

BeefPoint: O que você mais gostaria de aprender no BeefSummit Brasil?

Fabiano Tito Rosa: Num evento como esse, tem muita coisa para a gente aprender. Quero ver o que o “pessoal de fora” tem para mostrar, como os produtores estão se preparando para o ciclo positivo de preços que está se desenhando e principalmente, encontrar a turma do mercado para trocarmos ideias, ver o que estão enxergando de diferente da gente, e também em quais pontos estamos alinhados, para reforçar ou “recalibrar” nosso view.

Data: 10 e 11 de Dezembro de 2013
Local: Centro de Convenções Ribeirão Preto (CCRP)
Endereço: Rua Bernardino de Campos, 999
Cidade: Ribeirão Preto – SP
Site do evento

Clique abaixo e inscreva-se para o BeefSummit Brasil:

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6 Comments

  1. Alberto Pessina disse:

    Parabéns Fabiano, muito boa a entrevista. Espero que em breve estejamos trabalhando juntos para resolver todos estes problemas. Afinal, quanto mais carne venderemos, melhor para todos. A cadeia tem que aprender a trabalhar pela competitividade da nossa carne.

  2. Frankner Assis disse:

    Parabéns por sua visão e postura, Sr. Fabiano T. Rosa!
    Obrigado por seu otimismo e por sua contribuição positiva na formação do pensamento pecuário, sobretudo pra nós da porteira pra dentro.

  3. Paulo Loureiro disse:

    Bela entrevista.
    Colocou bem nossas dificuldades de produção como país e objetivamente mostrou onde precisamos focar.
    Gostei muito.

  4. Marcelo Whately disse:

    Parabéns Fabiano! Ótimos comentários.

    O uso da gestão e tecnologia pela indústria está bem avançado, ainda mais comparando com o pecuarista médio brasileiro.

    Você pode dar alguns exemplos de atividade do “Falando de Pecuária”? Acredito que o maior desafio é a falta de informação da classe produtora, não?

    Estas questões de exigências dos compradores está clara? E como equilibrar os objetivos das classes produtora e industrial?

    Digo, o maior gargalo está dentro da porteira? Se sim, seria papel da indústria incentivar a melhoria da produção e garantir os requisitos mínimos do produto?

    Se não, qual seria o gargalo: tributação, infra-estrutura?

    Bom, algumas reflexões.
    Um abraço,
    Marcelo.

  5. Fabiano Tito Rosa disse:

    Prezados Pessina, Frankner e Marcelo.

    Agradeço os comentários; espero encontrá-los no BeefSummit, para estendermos a conversa.

    Marcelo, especificamente sobre o “Falando de Pecuária”, trata-se de um encontro com produtores, em todas as nossas unidades (1 a 2 vezes por ano, em cada unidade, com 40-50 produtores/evento), para troca de informação. Abordamos os assuntos que achamos mais relevantes para o sucesso do nosso negócio (do produtor e da indústria), aqueles que mais geram dúvidas, que estão sendo mais debatidos no momento, etc. Normalmente relacionados a mercado, modalidades de negociação, tecnologia, qualidade e sustentabilidade.

    Acho que falta informação de ambos os lados, para produtor e indústria, principalmente no que diz respeito a um conhecer melhor as dificuldades e as urgências do outro; e aí acabamos por ver que boa parte dos problemas são comuns, ou dão origem a outros problemas à frente que acabam por afetar os demais elos da cadeia. E se assim o são, podemos analisá-los e enfrentá-los juntos.

    Em função de sugestões/solicitações que vieram de encontros do “Falando de Pecuária”, criamos o SAF (Serviço de Atendimento ao Fornecedor), o release de resultados exclusivo ao fornecedores, relatórios de clima, mercado, etc. para os fornecedores, realizamos treinamentos de bem estar animal para os nossos caminhoneiros, estamos providenciando alterações no nosso romaneio de abate (para dar um melhor feedback aos produtores sobre o tipo/qualidade do animais entregue), etc.

    Abs

    Fabiano

  6. Gabriel Miranda disse:

    Sou aluno de curso de Zootecnia e realmente vejo que, apesar de me sentir preparado teoricamente, há uma deficiência muito grande em relação a conteúdo prático.

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