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Sistema boi verde-amarelo: uma alternativa para a pecuária brasileira

Por Luiz S. Thiago1, José M. da Silva1, Armindo N. Kichel1, Fernando P. Costa1, Roberto A. Torres Junior e João A. Porto1.

Introdução

A pecuária de corte nos trópicos deve usar a forragem como sua principal fonte de nutrientes para o rebanho. Entretanto, a demanda por precocidade, frente à sazonalidade das pastagens, cria um balanço nutricional negativo.

Sob a ótica da pecuária de ciclo curto, este desequilíbrio nutricional deve ser corrigido, através do manejo das pastagens e o uso estratégico da suplementação alimentar. As vantagens desse sistema de produção podem ser tanto de ordem mercadológica (atender mercados mais exigentes na qualidade da carcaça), como biológica (melhor conversão alimentar de animais jovens em comparação com adultos).

Inúmeros trabalhos de suplementação já foram realizados no Brasil, mas pouco foi pesquisado sobre as possíveis interações da suplementação de seca sobre o ganho de chuva (ganho compensatório). O objetivo deste experimento foi avaliar bio-economicamente um sistema de produção de carne baseado em recria de bezerros desmamados em pasto, com quatro níveis de concentrado, e engorda em confinamento, visando abate com idade de até 24 meses.

Experimento

O experimento foi realizado na Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande, MS em uma área de 66,4 ha, dividida em oito piquetes de 8,3 ha cada. Foi aplicado 1,5 t/ha de calcário em set/00 e 300 kg/ha de superfosfato simples em nov/00. A Brachiaria brizanthacv. Marandu foi semeada em 21/11/00, usando-se 5,7 kg/ha de sementes puras viáveis. Em fev/01 fez-se um pastejo de estabelecimento, permanecendo a área vedada até o início do experimento: 1o ciclo – de 11/7/01 a 26/9/02; 2o ciclo – 24/7/02 a 25/9/03; e 3o ciclo – 1/7/03 a 8/9/04.

Estrategicamente em fevereiro, a partir do segundo ano, foi feita uma adubação de manutenção das pastagens, aplicando-se (kg/ha): N = 60; P2O5 = 38; e K2O = 43.

No início de cada ciclo experimental foram distribuídos nos oito piquetes 128 bezerros desmamados Pardo Suíço Corte x Nelore, com peso vivo e idade média de 195 kg e 8,5 meses, respectivamente, segundo um delineamento casualizado com quatro tratamentos (seca e chuva, 0, 500, 1000 e 2000 g de concentrado/cab/dia) e duas repetições espaciais. Ao final da seca esses animais foram reagrupados, dentro de cada repetição, mantendo em cada tratamento de chuva um novo grupo de animais representado por quatro animais de cada tratamento de seca.

Os concentrados eram constituídos de milho, farelo de soja, uréia, sulfato de amônio, mistura mineral, calcário calcítico e monensina, e balanceados em função da necessidade de proteína degradável no rúmen (PDR). A disponibilidade de massa na pastagem e a pesagem dos animais foram feitas de forma a caracterizar a situação de seca e chuva.

Ao término da recria todos os animais deixaram as pastagens para a engorda em confinamento, onde receberam silagem de milho à vontade e 8 g de concentrado/kg de peso vivo, e o seu lugar foi ocupado por um novo lote de 128 bezerros desmamados, iniciando-se um novo ciclo experimental.

Ao final da engorda, uma orçamentação parcial foi realizada, calculando-se custos e benefícios adicionais dos tratamentos com 500, 1000 e 2000 g de concentrado/cab/dia em relação ao tratamento sem concentrado, mais o custo do confinamento.

Resultados

A disponibilidade de matéria seca foliar (MSF) na seca do 1o ciclo (1.092 kg/ha) foi superior aos demais ciclos (787 e 640 kg/ha, 2o e 3o ciclos, respectivamente), mostrando o maior potencial de um pasto de primeiro ano para atender demanda de forragem na seca. Na chuva, a tendência foi de uma maior oferta de forragem, mas bastante dependente das condições climáticas locais (948; 1.188 e 1.190 kg/ha, 1o, 2o e 3o ciclos, respectivamente).

A qualidade dessa massa foliar, independente de ciclo e estação do ano, foi boa, com teores médios de 8,8% proteína bruta (PB), 36% de fibra detergente ácido (FDA) e 55% de digestibilidade “in vitro” (DIVMO). Em contraste, a disponibilidade de matéria seca morta + talos (MSM) foi 5,7 e 3,5 vezes maior do que a produção de MSF na seca e chuva, respectivamente, mas sua qualidade, independente de época do ano, foi bastante baixa (3,3% de PB, 46,9% de FDA e 34,0% de DIVMO). A MSM é o componente da pastagem pouco procurado pelo animal em pastejo, visto que o mesmo, preferencialmente, seleciona a MSF.

No presente trabalho, a taxa média anual de lotação foi mantida em 1,5 UA/ha, havendo um equilíbrio natural nas pastagens no início de cada seca, com a saída dos novilhos para engorda em confinamento, e a entrada de um novo grupo de bezerros desmamados.

Analisando-se o desempenho animal, observou-se uma resposta linear crescente do nível de suplementação no ganho de peso na seca (41, 64, 71 e 86 kg/cab, para os níveis de 0, 500, 1000 e 2000 g de suplemento/cab/dia, respectivamente). Entretanto, a suplementação de seca resultou em uma compensação negativa no ganho obtido no período seguinte de água, embora o efeito direto da suplementação de chuva também tenha sido linear e crescente, mas menor do que observado na seca (Tabela 1).


Esta interação seca/chuva fez com que embora a resposta da suplementação de seca fosse maior do que a de chuva, o seu reflexo sobre o ganho de peso total, foi parcialmente perdido devido ao ganho compensatório (Tabela 2).


Isto significa dizer que muito do esforço em se aumentar o ganho de peso na seca foi parcialmente perdido nas águas, mesmo às custas de altas ofertas de concentrado (ver na Tabela 2 valores entre parênteses). Portanto, a decisão em suplementar o animal em recria, deveria estar diretamente associada ao potencial de ganho das pastagens e da meta de ganho de peso proposta ao sistema. A proposta de peso vivo ao final da recria para o presente sistema era de 400 kg (idade média de 19 meses).

A saída dos novilhos no terço inicial da seca para a engorda em confinamento e posterior entrada de um novo grupo de bezerros desmamados, mostrou-se uma excelente estratégia de manejo da pastagem. Além disso, o confinamento mostrou-se uma ótima ferramenta para uniformizar e garantir rápido acabamento dos animais. O tempo médio de permanência no confinamento foi de 75 dias e na classificação do frigorífico, todos os animais atenderam as exigências de novilho precoce (idade média ao abate de 22 meses), com peso médio de carcaça quente de 269 kg (17,9@) e espessura de gordura superior a 3 mm.

A análise econômica do sistema Boi Verde-Amarelo indicou que a melhor opção de manejo alimentar na recria seria o uso moderado do concentrado (Tabela 3).


Comentários finais

O acompanhamento deste sistema de produção durante três anos sucessivos nos permite as seguintes recomendações:

1) o melhor investimento que o produtor pode fazer é na pastagem;

2) respostas à suplementação dependem da pastagem;

3) ganhos acima de cerca de 350 g/cab/dia na seca podem inibir o ganho compensatório nas águas;

4) racionalizar ao máximo o concentrado na recria, priorizando o seu uso na engorda.

_________________________________________
1 Luiz S. Thiago, José M. da Silva, Armindo N. Kichel, Fernando P. Costa, Roberto A. Torres Junior e João A. Porto, pesquisadores da Embrapa Gado de Corte, Campo Grande/MS

0 Comments

  1. Janete Zerwes disse:

    Caros pesquisadores,

    Gostaria de saber mais sobre a questão referente ao ganho de peso acima de 350/g/cab/dia durante a seca e a influência sobre o ganho compensatório nas águas.

    Já avaliei ganhos maiores que 700g/cab/dia, em pastos vedados e com suplementação proteíca, durante os meses de seca.

    Qual é o aspecto negativo desses ganhos?

    Desde já agradeço pela atenção, e me coloco a sua disposição,

    Janete Zerwes
    Pecuarista – Cáceres – MT

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