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Sistema Agrossilvipastoril: Rentabilidade e sustentabilidade – Evolução do Projeto Mogiguaçu

1-Descrição do Projeto Mogiguaçu- Paragominas PA 

As fazendas que compõem o projeto Mogiguaçu são:

Devido ao processo de degradação das pastagens e a mortalidade do capim braquiarão optamos por utilizar a técnica do sistema agrossilvipastoril (ILPF) na recuperação das pastagens buscando agregar valor ao empreendimento agropecuário.

O processo foi iniciado em 2008 e atualmente temos 3.000 hectares de áreas reformadas no sistema agrossilvipastoril. Nosso objetivo é reformar os 9.916 hectares de áreas abertas em integração com o sistema agrossilvipastoril.

Utilizamos clones de eucalipto por entender que devido às múltiplas utilidades desta madeira, aliado ao retorno financeiro mais rápido quando comparado às possibilidades de outras madeiras nobres.

Trabalhamos até agora com 100% de capital próprio devido às dificuldades relacionadas ao processo de regularização de toda a documentação exigida pelos bancos. As linhas de créditos existem (Programa ABC) e são extremamente interessantes como forma de diminuir o aporte de capital.

Fotos: Pasto degradado e área afetada pela síndrome da morte do Braquiarão.

2-Definição do sistema agrossilvipastoril:

Os chamados SAFs (sistemas agroflorestais) são sistemas de produção agropecuária que fazem uso sustentável da terra e dos recursos naturais, combinando a utilização de espécies florestais, agrícolas, e, ou, criação de animais (corte, leite, eqüinos, ovinos e caprinos), numa mesma área, de maneira simultânea e, ou, escalonada no tempo. Promovem o aumento ou a manutenção da produtividade, com conservação dos recursos naturais e a utilização mínima de insumos.

Fotos: Votorantim – Vazante MG.

Do universo de áreas utilizadas pela agropecuária nacional temos um grande percentual de áreas degradadas ou com baixa produtividade, além das regiões atingidas pelo fenômeno da morte de capim, como o braquiarão no norte do país.

Para que estas áreas voltem a produzir com níveis de rentabilidade aceitável, será necessário algum investimento em recuperação da fertilidade destas áreas. Neste momento temos a possibilidade de integrar as atividades (agricultura, pecuária e floresta) em sistemas de uso da terra e dos recursos naturais (SAFs- sistemas agroflorestais) que combinam a utilização de espécies florestais, agrícolas, e/ou criação de animais numa mesma área.

O sistema agrossilvipastoril integra o consórcio das lavouras, pastagens, florestas e a criação de animais. Temos várias possibilidades de implantação dependendo do estágio de degradação em que se encontram as pastagens.

2.1 – Recuperação de pastagens com correção de solo, adubação e veda.

Neste modelo deveremos implantar a floresta que deverá ficar sem a presença de animais até que as árvores dependendo da espécie atinjam um porte tal que os animais não venham a danificar as mesmas. No caso do eucalipto temos colocado animais na área com aproximadamente 12 meses de plantio dependendo do índice pluviométrico da região, do desenvolvimento da floresta e da categoria animal (preferencialmente bezerros nos primeiros meses de pastejo).

Neste caso como já era necessário o investimento para recuperação da área os custos de implantação da floresta serão exclusivamente os inerentes à sua implantação (controle de formigas, subssolagem, fosfatagem, plantio, adubação e tratos culturais).

Existem varias modalidades de composição de espaçamentos já determinados pela pesquisa que vão determinar tanto o custo como a produtividade do sistema.

Foto: Fazenda Mogiguaçu – Paragominas. PA

2.2- Recuperação de pastagens na integração com a agricultura.

Neste modelo pode-se recuperar a área com plantios de culturas como arroz, soja, milho ou sorgo, e em seguida realizar a implantação da forrageira. A implantação da floresta ocorrerá no primeiro ano e após a implantação da forrageira as árvores já têm porte suficiente para receber os animais.

O que pode ser implantado depende da capacidade de investimento, aptidão do produtor, e da necessidade específica de cada fase do projeto de uma propriedade, além de características como índice pluviométrico da região, localização, capacidade de estocagem de safras, etc.

Buscamos com esta metodologia que a receita de produtos agrícolas possa pagar a recuperação total ou parcial da pastagem.

Foto: Fazenda Mogiguaçu – Paragominas PA. (reforma de pasto com integração lavoura pecuária floresta.)

3-Curva de aprendizado no projeto Mogiguaçu:

Após 4 anos consecutivos de plantios e 3.000 hectares implantados, dominamos tranquilamente as técnicas de implantação do sistema agrossilvipastoril , porém algumas dificuldades foram superadas no decorrer dos anos, entre elas:

– Treinamento de mão de obra para as praticas de manejo necessário ao sistema.

– Adequação e dimensionamento de maquinas e implementos.

– Definição dos melhores clones adaptados à região.

– Programação e cronograma de atividades respeitando os limites do clima.

– Ajustes de herbicidas e insumos mais adequados ao sistema.

Os maiores ganhos que obtivemos em agilidade de processos e produtividade advém das seguintes estratégias:

– Preparo adequado do solo respeitando todas as técnicas agronômicas.

– Cronograma de atividades adequado ao quadro de mão de obra, maquina e implementos.

– Controle preventivo de formigas e controle sistemático pós-plantio.

– Uso de clones mais adaptados as condições climáticas locais e ao objetivo final de exploração.

– Antecipação de plantio com uso de gel e irrigação para que as mudas possam aproveitar o máximo de precipitação do período de chuvas, buscando o melhor desempenho.

– Adequação dos adubos a necessidade das plantas e aplicação em tempo hábil.

– Manter as linhas de eucalipto livres de competição com as gramíneas até o segundo ano de implantação, evitando a mato competição e propiciando o melhor aproveitamento dos adubos.

– Utilização da categoria animal correta (bezerros leves) até o segundo ano de desenvolvimento das arvores de eucalipto.

– Definição da gramínea mais adequada ao sistema.

4-Dados de desempenho do eucalipto comparando um sistema adensado (3,33x3m) com o espaçamento do sistema agrossilvipastoril (10x3m):

5-Dados de desempenho das áreas de agrossilvipastoril Mogiguaçu após levantamento do inventário florestal e projeção de desempenho comparado aos dados de pesquisa:

Comparação entre sistemas agrossilvipastoris.

Para efeito de projeção utilizamos o valor médio do inventario florestal e aplicamos a mesma taxa de crescimento dos dados disponíveis da pesquisa. Acreditamos que o melhor desempenho seja fruto das técnicas mais adequadas de manejo e adubação, clones mais produtivos e maior volume pluviométrico quando comparado aos ocorridas na área da pesquisa.

Serão realizados novos inventários florestais anuais buscando aferir as taxas de crescimento e o potencial produtivo a ser atingido.

Estimativa de produtividade de madeira de Eucalipto limitada pelo clima, no Brasil

Fonte: NuTree, 2004

6 – Evolução do valor do estoque de madeira do projeto Mogiguaçu :

 7 – Potencial de geração de renda da integração com um sistema agrossilvipastoril:

8-Potencial de neutralização da integração com o agrossilvipastoril:

A perspectiva do aquecimento global tem provocado uma movimentação sem precedentes em praticamente todas as esferas que permeiam as atividades humanas, uma vez que esse fenômeno afeta, não apenas pobres ou ricos, mas todos os seres vivos do planeta. Todos os modelos de predição da temperatura global, realizados pelos mais respeitados institutos de pesquisa internacionais, apontam para o eminente e gradual aquecimento do planeta.

Dentre as soluções propostas, pode-se citar o desenvolvimento de sistemas de produção agropecuários mais eficientes e menos impactantes para o ambiente, desenvolvimento de tecnologias que diminuam as emissões de metano e outras que promovam a mitigação desses gases. Uma das tecnologias que é bastante promissora é o sistema silvipastoril, onde a atividade pecuária é associada à arborização das pastagens.

Calculamos à emissão média de um bovino em recria e engorda e o potencial de neutralização dos GEEs (gases de efeito estufa) pelo sistema silvipastoril com 333 árvores por hectare.

Os números mostram que um hectare de silvipastoril é capaz de neutralizar as emissões dos bovinos que pastejam a área e ainda tem potencial para neutralizar as emissões de mais 2,95 hectares com a mesma taxa de lotação média. Não foi calculado o potencial de neutralização via acumulo de carbono no solo devido às dificuldades inerentes à determinação do processo.

 Fotos: Fazenda Mogiguaçu, Paragominas, PA.

Obviamente que a quantidade de carbono capturado depende consideravelmente do local onde o sistema é implantado, de sua estrutura, das espécies escolhidas e do manejo adotado.

A atividade pecuária, com áreas de pastagens arborizadas, poderia se tornar extensos armazéns de carbono para o planeta. Mesmo cortada e transformada em móveis, casas e outros, essa madeira continuaria cumprindo seu papel de armazém de carbono, abrindo espaço para novos plantios de árvores nas pastagens. Isso ainda traria uma série de outras vantagens ao pecuarista, com a renda adicional da venda da madeira; ao bovino, pela diminuição do estresse térmico com a formação de áreas de pastagens sombreadas; às próprias pastagens, com o enriquecimento do solo; aos animais silvestres, com a disponibilidade de abrigos e alimentos; e também aos olhos de quem aprecia a paisagem. Poderá inclusive gerar receita líquida com a venda de créditos de carbono, um mercado novo, ainda estranho ao produtor, mas que cresce a cada dia que passa.

Também nos resta tomar consciência que o país tem uma pecuária que pode contribuir para diminuição do impacto dos gases de efeito estufa através de módulos de seqüestro de carbono, pois o Brasil possui extensas áreas de pastagens, onde a vegetação explode em exuberância e diversidade biológica, tendo tecnologias suficientemente robustas para que esse papel de mitigação dos gases possa ser plenamente exercido

9-Projeto Ambitec-Agro/Embrapa (sistema de avaliação de impactos de inovações tecnológicas agropecuárias)

O sistema de avaliação de impactos de inovações tecnológicas agropecuárias (Amitec-Agro) consiste de módulos integrados de indicadores socioambientais para os setores produtivos rurais da agricultura, da produção animal e da agroindústria. O sistema compõe-se de um conjunto de critérios e indicadores relativos a sete aspectos de contribuição de uma dada inovação tecnológica para o desenvolvimento socioambiental na produção agropecuária. Os aspectos uso de insumos e recursos e qualidade ambiental compõem a dimensão de impactos ambientais, e os aspectos respeito ao consumidor, emprego, renda, saúde, gestão e administração compõem a dimensão de impactos socioeconômicos.

Cada um destes aspectos é composto por um conjunto de critérios organizados em matrizes de ponderação automatizadas, nas quais indicadores de desempenho são valorados com coeficientes de alteração, conforme verificação de campo, análise documental e conhecimento pessoal do produtor adotante da tecnologia. Esses indicadores servem para valorar o desempenho ecológico e socioambiental das atividades rurais, comparativamente a uma linha de base de referência para a situação anterior à adoção tecnológica, caracterizando a qualidade da gestão ambiental que se realiza no estabelecimento analisado, segundo o contexto local e socioeconômico definido para o estudo de caso.

O índice geral de desempenho alcançou o valor 5,52, com tendência positiva para praticamente todos os aspectos e critérios analisados. Nesse sentido, pode-se observar na figura 6 que o índice de desempenho obtido no caso da adoção do sistema ILPF na Fazenda Mogiguaçu, encontra-se entre os 10% superiores, no eixo de desempenho dos critérios de impacto social da tecnologia, em relação a um conjunto de 180 estudos de caso realizados com abordagem metodológica similar.

10-Considerações finais:

O nosso objetivo é difundir a técnica buscando melhor rentabilidade para os produtores, com sustentabilidade e melhorando a imagem do setor pecuário no cenário mundial.

Caso haja vontade política em resolver o código florestal brasileiro de modo coerente, aliando produção e preservação, incentivo à produção e recuperação de áreas degradadas, com facilidade de acesso às linhas de crédito oficiais, temos a certeza que o Brasil irá alcançar o posto de celeiro do mundo, e de modo sustentável.

9 Comments

  1. Rogerio Faria disse:

    Excelente artigo sobre o sistema Integração Lavoura Pecuaria e Floresta.

  2. leonardo siqueira hudson disse:

    Prezado Rogerio Faria.
    Obrigado pelo comentário.
    Temos muito orgulho em divulgar um sistema tao promissor.

  3. joubert siqueira filho disse:

    muito bom

  4. Eduardo Scannavino de Queiroz disse:

    Parabéns, excelente matéria. Esse é o caminho.

  5. Cícero Pithan reis disse:

    Realmente este êh o caminho, parabéns.

  6. Cristiano José Just de Andrade disse:

    Nota 1.000

  7. leonardo siqueira hudson disse:

    Prezados Senhores
    Gostaria de agradecer a todos os comentários.
    Estou a disposição para mais informações e trocas de experiências.
    leonardohudson@exagro.com.br

    Abraço.

  8. Marcus Ubiratan A. Vieira disse:

    Excelente artigo. Este é um dos caminhos a seguir para garantir a perenidade da pecuária. Investimento em tecnologia que incrementa a produtividade e que pode assegurar melhores margens ao produtor.

  9. Gustavo Pitangui de Salvo disse:

    Parabens pelo projeto.Vale salientar que a capacidade de suporte deve ter aumentado muito e a mudança para uma pecuaria de valor agregado melhora o fluxo de caixa.Tenho um piloto em andamento com dados aferidos e diversos espaçamentos,produzindo genetica P.O da raça Guzera,sendo comercializdos por 5 vezes o valor da @de boi gordo !

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