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SISBOV: um marco divisório, ou uma completa decepção

Diz um sábio ditado popular que sorte tem quem sabe aproveitar as oportunidades que surgem com competência. Assim sendo, depois das enormes decepções que as tentativas de implantação da rastreabilidade bovina em nosso País trouxeram recentemente, pode ser que as exigências resultem em normas mais claras e exeqüíveis para serem cumpridas por todos os elos da cadeia, sem política do faz de conta.

Diz um sábio ditado popular que sorte tem quem sabe aproveitar as oportunidades que surgem com competência.

E mais ainda, que as dificuldades é que realçam as conquistas.

Assim sendo, depois das enormes decepções que as tentativas de implantação da rastreabilidade bovina em nosso País trouxeram recentemente, pode ser que as exigências resultem em normas mais claras e exeqüíveis para serem cumpridas por todos os elos da cadeia, sem política do faz de conta.

Para isso, além de regras claras e simples é necessário que o principal fornecedor da mercadoria para exportação, ou seja, o pecuarista vislumbre qual a remuneração ou recompensas que ele poderá auferir ao participar deste processo.

É bom ter plena consciência de que essa participação implica em se comprometer a seguir certas normas que interferem sobremaneira na condução de seus negócios, em pontos cruciais para que ele obtenha rentabilidade e justa remuneração pelo trabalho executado, tais como na comercialização de bens, insumos e produtos gerados pela atividade, bem como na rotina diária de manejo do rebanho e da propriedade, na medida em que impõe restrições na movimentação e alocação de recursos (aluguel de pastos e parcerias, por exemplo).

Para que o sistema funcione a contento, é cristalino o reconhecimento de que sua implantação deve priorizar a atividade de cria, com campanhas e implantação paulatina de um padrão de qualidade de produção.

Esta contenda traz à luz uma recente iniciativa de um grupo de investidores que procurou a Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (FAEG) com a proposta de montar uma unidade frigorífica de grande porte no Estado, mais especificamente no Sudoeste do Estado, para atender a demanda do mercado europeu por carne bovina de qualidade e com segurança alimentar, onde um dos pilares seria a participação dos pecuaristas no lucro auferido nas vendas para este mercado.

Neste caso a rastreabilidade deveria ser adotada por todos os fornecedores de animais, certamente através de dispositivo eletrônico (chip) e além disso, como num modelo de integração, os produtores participantes deveriam se comprometer, mediante contrato, a entregar a mercadoria.

Mas a remuneração para os produtores dispostos a aderir ao Novo Sisbov e que tenham seus produtos destinados ao Mercado Europeu pode muito bem ser feita mediante a criação de um Índice de Preços para este mercado, a exemplo do que já existe para abalizar as operações de mercado futuro e fechamento de contratos em bolsa, o elaborado pelo CEPEA/ ESALQ/ USP.

Contudo, até o momento, além de ficar sujeito a uma série de imposições e restrições à sua atividade e de se colocar à mercê de fiscalizações e auditorias constantes, o único benefício que toda esta celeuma trouxe, foi fazer com que todos os elos do setor – indústria, governo e produtores, através de suas entidades ou isoladamente, discutissem o assunto e gastassem muito fosfato, caneta, papel e palavras; quiçá para acordarem para as inter-relações desta cadeia produtiva e para o importante papel que as lideranças públicas e privadas possuem e que devem assumir neste tipo de negociação.

As discussões de ajustes ao sistema são longas e, por vezes, acaloradas, onde hão enormes contribuições no sentido de dotá-lo de mais racionalidade e operacionalidade, donde destaca-se as sugestões publicadas em editorial do dia 24/01/2008, no site BeefPoint, em que se resumem três pontos cruciais para o funcionamento e implementação de qualquer estratégia no mundo dos negócios (qualquer atividade econômica), por mais brilhante e imprescindível que seja:

1- dizer de forma clara e simples o que quer,
2- orientar e discutir como obter os objetivos,
3- recompensar os resultados.

No caso do SISBOV, é notório que estas regras básicas não foram seguidas, especialmente o item 1 e 3, e para não cometer injustiças para com os agentes de boa-fé, talvez apenas a segunda parte do item 2 tenha sido perseguida, porém, de forma pouco transparente e dissociada da nossa realidade produtiva e dos agentes que atuam no mercado, tratando o assunto, na maioria das vezes, num verdadeiro clima de “salve-se quem puder” ou de outra sorte de “manda quem pode, obedece quem tem juízo”, ou pior, de “deixa que o mercado se ajusta” – para os produtores leia-se “lei do mais forte”.

A esta altura, as discussões e sugestões devem se concentrar não sobre a lista que os europeus dispõe de 300, 200 ou qualquer outro número de propriedades aptas a exportar para eles, mas no futuro do Novo Sisbov, que já nasceu comprometido e emblemático demais.

Os sinais emitidos até aqui dão conta que o Sistema faliu, entrou em colapso, trouxe decepção a todos, compradores e vendedores, e causou muitos transtornos em seu breve período de vigência até a recente suspensão das importações de carne in natura para a UE.

Por incrível que pareça, a suspensão surgiu como um alívio para a classe produtora, e conforme previam as fontes mais bem abalizadas, o reflexo nos preços pagos aos produtores foi, até o momento, pequeno, em função, principalmente, da escassez de oferta de animais para abate, da demanda interna e da venda para outros mercados.

Dessa maneira, caso, pelo menos no curto prazo de alguns meses, apenas um número ínfimo de propriedades estejam aptas e aprovadas para, teoricamente, terem sua carne exportada para a UE, o que as outras 9.700 ou 9.800 ou que seja, 8.500 propriedades, vão fazer?

Uma indagação que já faz coro é se elas e as demais que pretendam se habilitar terão que continuar se sujeitando a todas as regras perdulárias, irracionais e impraticáveis previstas nas dezenas de instruções e cartas circulares que ornamentam a Instrução Normativa que regulamenta o SISBOV.

As negociações com os representantes do mercado europeu são importantes e devem continuar, porém, é urgente e necessário que as negociações internas sejam retomadas e que haja uma sinalização do se deve fazer daqui para frente.

Todos reconhecem que a exigência de rastreabilidade se impõe como uma realidade global, apresentando-se ao consumidor como algo moderno, diferenciador de mercados e mercadorias, e até mesmo configurando-se como um direito seu.

É cada vez maior também a certeza de que para o produtor ter acesso a melhores mercados, entendido como aqueles que remuneram melhor, algum tipo de certificação e rastreabilidade deve ser seguido.

Mas, relembrando, a recompensa pelos resultados obtidos ao se adotar esta estratégia deve estar claramente prevista, sob pena de, ao se adotar apenas a política da penalização e não a da compensação por resultados melhores, não se obter êxito na aplicação das estratégias traçadas, com elas se esvaindo na esfera dos gabinetes e salas de reunião.

A sorte e a oportunidade estão lançadas. Quem se habilita?

0 Comments

  1. Nagato Nakashima disse:

    Mesmo com as normas confusas, conhecedor do assunto não deixou de desenvolver um sistema ou programa de computador que atendesse os principais objetivos da rastreabilidade com objetivos técnicos, econômicos e sociais com foco no consumidor. Cuja operacionalidade exige treinamento compatível com a responsabilidade do profissional certificador em garantir a inocuidade para o consumo público.

    Para que haja confiabilidade e adesão ao programa é necessária a integração dos envolvido na cadeia produtiva que vai do produtor ao ponto de venda do produto para que o rastreamento possa ocorrer nos dois sentidos da cadeia.

    Isto passando pelos órgãos públicos envolvidos na produção. Cujo sistema proporcione transparência à aqueles com envolvimento econômico na cadeia da produção, respeitada a privacidade e sigilo só quebrável com mandato judicial.

    Logicamente o respeito à remuneração justa com lucratividade tem que ser obedecido, regra do desenvolvimento sustentável, que estimula a continuidade sem sacrificar o elo produtivo da cadeia, e assim migrar do modelo altamente predatória hoje vigente.

    Tendência do mercado é a busca pelo produto seguro de produção sustentável que respeite as regras do meio ambiente e bem estar animal, complementado com estrutura de rastreamento que demonstre e ofereça informações do processo produtivo do nascimento ao abate com constante análise e controle de riscos.

    Ter como objetivo a transformação da pecuária brasileira em produto sem barreiras intransponíveis, pois a quantificação de propriedade é mediocridade e desconhecimento da capacidade da produção brasileira.

    Implementar condições para que em 3 (três) anos todos os animais destinados a corte sejam rastreados e em 10 (dez) anos todo o rebanho Nacional seja rastreado, condições perfeitamente tangíveis.

    A conta disto deve ser paga pelo consumidor e não pelo pecuarista, cabe sim buscar meios. Isto pode onerar em R$ 0,06 (seis centavos de real) ou U$ 0,036 (três ponto seis centavos de dólar) por kg consumido.

    A falência do sistema começou com a edição de sucessivas instruções normativas que se distanciaram do foco da objetividade do sistema. Porém aproveitamento da estrutura com integração da cadeia produtiva na inserção de informações de interesse da pecuária brasileira possa ser o caminho para recuperação e consolidação num prazo de 10 anos.

    O desafio da re-estruturação do SISBOV/MAPA deve passar primeiro pela discussão técnica do processo produtivo seguida de sua informatização que atenda a necessidade primordial é adequação da tecnologia de informações ao processo produtivo e não o inverso como ocorre na maioria das vezes, assim toda a cadeia produtiva poderá ser informatizada e controlada por uma central de controle. Norma legal já existe falta é a implementação da iniciativa.

    Habilitar, à oportunidade não é difícil de encarar mais um grande desafio, porém difícil é encontrar conjunto de profissionais em condições, pela grandeza do desafio.

  2. Marcio Sena Pinto disse:

    Prezado Nagato Nakashima,

    Creio que a sua visão do problema vem de encontro ao que escrevi, ou seja, vai demorar para o sistema ser entendido como tal e funcionar a contento, talvez os 10 anos que você estimou seja pouco.

    Além disso, a idéia do consumidor ter de pagar um pouco mais pela medida é justa (os europeus dizem que pagam, já que compram a carne mais cara e só de traseiro, contudo, o produtor que executa o processo nem é informado se a sua carne fica aqui ou pra onde vai).

    É certo que o trabalho e as discussões vão longe.
    finalmente, acho que o momento para se conseguir as mudanças necessárias é agora, ou vamos continuar na gangorra.

    Saudações,
    Márcio Sena

  3. Fernando BILINSKI disse:

    Veremos a experiencia que Santa Catarina terá em ser o estado pioneiro em rastreabilidade de seu rebanho Bovino e Bubalino, facilitando em muito o controle do rebanho catarinense, e por conseguinte, a sua sanidade. Parcerias com a Agroindustria facilitou a diminuição do custo ao produtor, e esse ato (rastreabilidade) forçará todos os criadores a terem uma visao mais profissional. Se SC consegue, o que impede os outros estados em seguir o exemplo? Falta de empenho político e das Agroindustrias? Dificuldades sempre terão, mas se a coragem não rondar o peito de todos, de nada adiantará ficar reclamando as imposições de nossos maires compradores.

  4. carlos anastacio r. moura disse:

    Chega de conversa mole com sisbov, rastreabilidade, Caiado, ministro da agricultura e outros. Vamos direto ao ponto, em uma escala quem ganha com a venda de carnes para a Europa? Governo, frigorificos. Quem arca com a despesa? Produtor, certo? Então vamos dividir a despesa de forma proporcional e começar a rastreabilidade pelo começo ou seja pelos terneiros e terneiras nascidos no ano, só sendo aceito sua lotação nas inspetorias veterinárias mediante as respectivas vacinas e rastreados [com este custo pago pelos maiores beneficiados]. Em três anos estariamos com mais de setenta por cento rastreado.

  5. Roberto Ferreira da Silva disse:

    Prezados,

    Com certeza marco divisório.

    Vejo que uma parte dos produtores, são presidentes ex-presidentes de instituições, empresários, médicos e etc, e não tem o tempo suficiente para se dedicar a propriedade, e muito menos ao sisbov que exige atualizações diárias, seja no campo e também no escritório (leitura e entendimento das instruções e circulares, suas responsabilidades). Os produtores que se dedicam, também tem outras prioridades dentro da propriedade e etc.

    Sendo assim, ao invés de atirar pedra no sistema que proporciona ao produtor outros controles tangíveis aos quais os mesmos insistem em não ver, ao não ser o diferencial da @, (controle de todo o rebanho, anotações dos manejos e inúmeros outros). Deveriam se preocupar em forçar os elos da cadeia que estão auditando, re-auditando e aumentando as regras do negócio em também proporcionar preços diferentes devido à estas demandas. Produtores tendo insentivos de R$10,00 ou mais, poderiam investir em estrutura (pessoas, equipamentos e etc) para se dedicar totalmente ao sisbov dentro de suas propriedades.

    Agora senhores, o que vemos é o interesse de comprar carne cada vez mais barato no Brasil, pois eles tem plantas em outros países e fazem a ponte por lá. Ou até mesmo aqueles produtores que tem seus animais desclassificados IN NATURA, eles fazem termo processado exportam e não dão o diferencial. E ai para quem conhece a histório é longa.

    Quem é o grande vilão no negócio?

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