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SISBOV: mais transparente e menos burocrático

A obrigatoriedade de identificação de todo o rebanho da propriedade continua, porém somente os animais que serão destinados ao abate para atender o mercado europeu deverão ser identificados com números individuais. Isso deve ser feito no mínimo 90 dias antes do abate. Os demais animais da fazenda necessitarão apenas de um número que identifique a propriedade como habilitada à exportação para a União Européia.

Após quatro anos de trabalho do Conselho Técnico Consultivo (CTC), instituído pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), a reestruturação do Sisbov está concluída. O Sisbov é um dos protocolos de rastreabilidade destinado aos produtores que pretendem comercializar seus animais ao mercado europeu. O assunto foi debatido durante seminário realizado nesta quinta-feira (1º de março) pela Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato).

Segundo o membro do CTC, Luiz Carlos Meister, o novo modelo do Sisbov depende de um decreto presidencial para começar a sua vigência. “O trabalho técnico já foi realizado para tornar o sistema menos burocrático e de fácil operacionalidade. Agora, dependemos do MAPA para colocá-lo em vigência”, destacou Meister.

A obrigatoriedade de identificação de todo o rebanho da propriedade continua, porém somente os animais que serão destinados ao abate para atender o mercado europeu deverão ser identificados com números individuais. Isso deve ser feito no mínimo 90 dias antes do abate. Os demais animais da fazenda necessitarão apenas de um número que identifique a propriedade como habilitada à exportação para a União Européia. Outra alteração significativa é a possibilidade do próprio produtor realizar as comunicações de nascimento, morte, abate e etc. dos animais rastreados.

Uma ferramenta importante que vem sendo desenvolvida pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e o MAPA é a Plataforma de Gestão da Agropecuária (PGA). Ela representa um banco nacional de dados desenvolvido para integrar as informações de todos os órgãos de defesa sanitária dos estados brasileiros, como o Instituto de Defesa Agropecuária (Indea) de Mato Grosso.

Nessa plataforma, estarão as informações de todas as propriedades rurais do Brasil – similar ao que existe em cada estado – contendo número de rebanho, faixa etária e sexo dos animais, comunicação de vacinação, entre outras informações que serão interligadas da central com os estados. Isso significa, por exemplo, que no ato de uma propriedade vender os animais em Mato Grosso com destino ao estado de Minas Gerais, essas informações estarão interligadas entre os órgãos de defesa desses dois estados. Hoje, isso não acontece.

Segundo o coordenador executivo da Comissão de Sanidade da CNA, Décio Coutinho, o Sisbov e qualquer outro protocolo de rastreabilidade poderão ser inseridos dentro da PGA. “Isso permitirá ao produtor acessar, com seu próprio login e senha, o sistema e realizar toda a comunicação e aquisição de brincos necessárias para a rastreabilidade”, informou.

Os estados do Espírito Santo, Tocantis, Minas Gerais, Bahia, Rio Grande do Sul, Rondônia e Pará já começaram a fazer os testes com a plataforma. Porém, estão aguardando autorização do governo federal para migrar os dados das agências estaduais ao PGA.

A PGA possibilitará também a utilização ou a implantação do cartão do produtor. Será mais uma ferramenta que permitirá ao produtor acessar ao banco de dados nacional de sua própria casa e efetuar, por exemplo, a emissão de Guia de Trânsito Animal (GTA), pagamento de taxas e emissão de nota fiscal.

O diretor executivo da Famato, Seneri Paludo, lembra que para operacionalizar o cartão do produtor o banco dados precisa estar integrado. E isso vai acontecer depois que a PGA estiver em funcionamento, juntamente com a integração das secretarias de fazenda de cada estado e institutos de defesa sanitária. “Será mais prático ao produtor não ter que se deslocar fisicamente para fazer toda essa movimentação. Eletronicamente ele vai ter essa facilidade”, avaliou Paludo.

A Famato é a entidade que representa os 86 sindicatos rurais espalhados em Mato Grosso. Ao lado do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-MT), forma o Sistema Famato.

 

Fonte: Famato, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.

16 Comments

  1. Jonas A. Sousa disse:

    Parabéns a CTC (Conselho Técnico Consultivo) e todas as outras entidades envolvidas no processo. Cheguei a seguinte conclusão que eu Jonas Sousa que tenho a minha propriedade aprovada e que tive que provar que sou organizado para conseguir entrar na lista da união europeia, dei um tiro no pé, porque vários outros produtores que não conseguiram agora irão se beneficiar também, nós que exportamos fomos usados como bode expiatório? Já comentei outras vezes noticias sobre o SISBOV e em todos os comentário falei do diferencial, o Conselho Técnico Consultivo (CTC), FAMATO e etc., brigasse por um bônus mínimo para quem é rastreado, podia exigir brinco, anel, vestido e etc. que tenho certeza que a cadeia toda iria cumprir a exigência, o problema é que parece que meia dúzia só está vendo o lado dos MATADOUROS-frigorificos, quando falo MATADOURO não é referente a abates de animais mais sim referente a matar o produtor rural, PEÇO QUE ALGUMA AUTORIDADE LEIA E NOS AJUDE, INVENTE UM IICENTIVO FISCAL QUE GARANTA O MINIMO DE BONUS PARA QUEM É RASTREADO.

    Saudações

  2. José Ricardo Skowronek Rezende disse:

    O produtor poder lançar dados de seu rebanho diretamente na base nacional, sem intermediação, é um grande avanço.. A possibilidade de múltiplos protocolos compartilharem a mesma base nacional de dados também. Abre possibilidades, com respaldo em dados oficiais.
    Mas discordo veementemente da ideia de brincar animais com um código da fazenda. Se só se vai individualizar os animais nos últimos 90 dias não há esta necessidade do brinco com nº da fazenda. O que se esta agregando no processo com este brinco da fazenda? Para este mesmo fim já existe a marca da fazenda, que é grátis e não cai. Só faz sentido para os fabricantes de brincos. Se aprovada vai ser por força do lobby da industria.
    Mas uma coisa é verdade e continuará sendo: protocolos de adesão voluntária são regrados pelo mercado. Deixem os mercados atuarem que veremos um ajuste natural dos custos / benefícios de cada um.

  3. Roberto Trigo Pires de Mesquita disse:

    De uma certa forma estou de acôrdo com o José Ricardo, mas entendo que o que é supérfluo é a identificação individual nos últimos 90 dias. Obviamente a marca da fazenda precisa ser materializada com um código de unicidade inequívoca que possa ser apôsto nos documentos declaratórios obrigatórios (declarações de vacinações) e, principalmente a NF / GTA. Assim teremos de forma funcional e desburocratizada a base documental física e eletrônica que comprovará a origem e a geração do vínculo para fins de rastreabilidade na PGA e no SISBOV. De sobra, fica muito simples usar essa mesma base operacional para a implementação da rastreabilidade da carne oferecida ao consumidor do mercado nacional.

  4. José Ricardo Skowronek Rezende disse:

    Caro Roberto, gostaria muito de entender exatamente como funcionaria uma rastreabilidade baseada apenas na identificação de lotes de bovinos por propriedades. E gostaria de entender com um exemplo concreto, absolutamente dentro da realidade do setor.

    Por exemplo, uma fazenda de cria vende sua produção anual de 500 bezerros machos para 5 diferentes pecuaristas. Cem para cada um. Três deles recriadores e dois invernistas. Os recriadores “fundem” estas aquisições com outros animais que adquiriram de outros fornecedores. E vendem estes animais em 4 lotes, juntos com os animais oriundos destas outras aquisições. E vendem estes lotes para invernistas que obviamente adquirem animais de reposição de outros criadores e/ou recriadores. E estes invernistas, bem como os que adquiriram os 200 bezerros do nosso criador inicial, só vendem lotes de animais acabados e como sabemos as diferenças nas performances individuais fazem com que muito provavelmente animais adquiridos juntos sejam comercializados em diferentes lotes e momentos. Isto para não complicar, acrescentando outros agentes da cadeia, como confinadores e leiloeiros, no processo.

    Com este exemplo, usando apenas a identificação por propriedade, como será possível identificar, ao longo do tempo, o local e data de abate dos 500 bezerros originais? Ou, em outras palavras, como reconstituir ao final do processo produtivo o histórico completo de cada animal abatido? Ou em caso de detecção de alguma problema sanitário como chegar a sua origem com rapidez e precisão?

    Esta sugerindo que a cada movimentação do animal uma nova marca a ferro seja acrescentada ao couro do mesmo e que se faça a “leitura” de cada uma destas marcas, com a correta identificação das propriedades, no momento do abate? Lembre-se que para garantir unicidade nacional da marca a ferro precisaremos contemplar centenas de milhares ou mesmo milhões de propriedades rurais e que cada marca não pode ser confundida com outra. As marcas a ferro não podem borrar ou perderem legibilidade e esta leitura precisa ser simples e funcional, pois estamos falando de plantas frigorificas com abates de centenas ou milhares de animais / dia. Isto simplesmente não funciona.

    Este conceito de lotes, ao meu ver, funciona muito bem para “prestar contas” na avicultura e suinocultura, mas infelizmente fica a dever na bovinocultura. O lote na bovinocultura é quase sempre mutante, o ciclo de produção bem mais longo e normalmente distribuído entre pecuaristas especializados em uma etapa especifica do ciclo. Por isto sem a individualização dos animais quase sempre perde-se o “rastro” do animal ou para resgatar este rastro o esforço é imenso.

  5. José Manuel De Mesquita disse:

    Pois é…

    Mudar prá continuar tudo como está…

    Continuaremos fingindo que rastreamos, que possuímos controle sobre o que fazemos, e prá variar dificilmente eles cairão nesse faz de conta…

    Identificar por 90 dias, o pior é que existem produtos veterinários com carência superior a esse período…

    Difícil conciliar grupos de interesses tão diversos, onde os princípios são elásticos na proporção da conveniência dos envolvidos.

    E assim seguimos adiante, sem nunca sair do lugar… continuaremos perdendo tempo e oportunidades…

  6. Roberto Trigo Pires de Mesquita disse:

    Prezado José Ricardo,
    Ficou claro para mim que voce domina perfeitamente o conceito de identificação e controle de movimentação por lote. O seu exemplo é perfeito, restando apenas reconhecer que para fins de rastreabilidade a fazenda da terminação a pasto ou em confinamento é que forma os lotes por era, sexo, raça ou cruzamento, etc que documentados via GTA e NF viabilizarão a geração do vínculo entre as carcaças e os bovinos que as geraram nos abatedouros. Quanto a unicidade do código das fazendas produtoras é meramente uma questão de adotar algo similar ao código ERAS sendo que a minha sugestão é de que se utilize o CNPJ ou NIRF ou até mesmo o código do INCRA, qualquer um deles hoje obrigatoriamente ativos em todos os estabelecimentos que comercializem produtos agrícolas ou de origem animal.
    Na verdade, a marca a fogo é preceituada na nova lei de rastreabilidade apenas como uma alternativa opcional de identificação da propriedade que pode viabilizar um abominável sistema de controle de movimentação na medida em que a cada transferência de animais entre fazendas o novo proprietário resolva apor sua marca em cada lote recém adquirido. Mesmo assim, se qualquer fazenda de terminação quiser usar esse cruel sistema de identificação, para fins de rastreabilidade o documento gerador do vínculo mais funcional continuará sendo a GTA, obviamente neste caso com a marca desenhada no quadrículo específico para esse fim na mesma.
    Particularmente entendo que a marca a fogo é apenas útil para fins de comprovação física da propriedade, identificação dos lotes a partir do acréscimo de um dígito relacionado ao ano de nascimento e, desde que aplicada com boa técnica para preservação do bem estar animal, nas fazendas de ciclo completo.
    A propósito, lembre-se que nem mesmo a Europa exige um sistema de rastreabilidade com certificação de origem do nascimento ao abate.
    Por último, como o objetivo final de qualquer sistema é viabilizar a investigação de reclamações e a eventual execução de recall, não há qualquer razão para onerar a rastreabilidade da carne com sistemas complexos baseados na premissa de que “sem a identificação individual o rastro dos bovinos será perdido”. Se isso fosse verdade, o brinco auricular individual não seria guardado em lotes nas caixas pretas das calhas de sangria.

  7. José Ricardo Skowronek Rezende disse:

    Caro Roberto entendo que rastreabilidade é muito mais do que apenas saber de quais propriedades os frigoríficos adquirem os animais para abate. Para isto não precisamos nem mesmo de uma PGA e/ou de identificação por lotes (seja com marca a ferro ou brinco da fazenda). Para este fim basta a velha GTA, que nem eletronica precisa ser.

    Para avançar precisamos saber no mínimo se os animais adquiridos pelos frigoríficos são “criolos” ou foram adquiridos de outras propriedades. E em caso de não serem “criolos” saber ao menos de quais propriedades são oriundos e o status das mesmas (que pode ser do ponto de vista sanitário, ambiental, fundiário, trabalhista, etc).

    Justamente por isto a UE exige que todos os animais das propriedades habilitadas sejam identificados individualmente e que todo ingresso de animal nas mesmas tenha sua origem comprovada documentalmente. E que se façama auditorias periodicas para comprovar se estas exigências estão sendo cumpridas. No SISBOV não existe mais este negócio de brincos em caixas pretas a alguns anos.

    E justamente por causa da complexidade dos controles necessários para gerenciar as movimentações dos animais entre propriedaes e o “split” recorrente dos lotes de manejo vemos agora o MP cobrando dos grandes grupos varejistas a implantação de ajustes pactuados em TACs.

    Certamente a PGA e especialmente a GTA eletrônica contribuirão para melhorar os controles da produção. Por isto quero deixar claro que minha critica é apenas contra a identificação por lotes baseada em brincos com identificador da fazenda. Uma inutilidade completa ao meu ver.

    Agora para avanços ainda mais significativos o caminho é a identificação individual dos animais sim. Sem estes cuidados continuaremos ainda sem ter como segregar os animais oriundos de propriedades que não cumpram com as exigências legias, pois através de movimentações os mesmos podem se “misturar” com os de outras propriedades antes de serem abatidos.

    O que sou contra portanto é agregar custos ao processo produtivo que não permitam um controle melhor que o atual. Se vamos ficar na mesma em termos de controle que ao menos não gastemos nosso dinheiro. E se tivermos que gastar que consigamos extrair benefícios reais para a cadeia, incluso consumidores.

  8. Roberto Trigo Pires de Mesquita disse:

    Caro José Ricardo, a meu ver voce está confundindo rastreabilidade, certificação de origem, controle sanitário e controle de movimentação de rebanhos. Por outro lado, voce está coberto de razão quando afirma que rastreabilidade “é muito mais do que apenas saber de quais propriedades os frigoríficos adquirem os animais para abate”. Com toda a certeza, o objetivo conceitual do sistema de rastreabilidade da carne, inclusive no tocante às exigências da UE, é permitir a recuperação de informações registradas em uma base de dados com integridade inviolável e estruturada por uma base documental física ou digital com fé pública, garantia de autenticidade e presunção de veracidade, para fins específicos do oferecimento de garantia da qualidade total e segurança alimentar absoluta aos consumidores finais.
    Para tanto, e especificamente para rastrear produtos cárneos comercializados no atacado e no varejo e suscetíveis à investicação de reclamações de compradores ou à execução de recall, o viável para esse fim deve estar associado a um sistema de rotulagem que identifique o frigorífico e o lote de bovinos abatidos, preferencialmente no padrão EAN UCP 128.
    Se o frigorífico tiver gerado um vínculo entre cada lote de bovinos abatidos e as carcaças obtidas, a partir da NF e GTA da fazenda de origem, o “tracing back” ou RASTREABILIDADE estará assegurado, podendo ser perfeitamente estendido mediante a mesma base documental, NF e GTA, até a fazenda onde aquele lote de animais nasceu.
    Quanto aos avanços mais significativos citados por voce, inclusive no tocante à identificação individual estou de acordo que eles são extremamente importantes e significativos, não para fins de rastrebilidade, mas sim para os programas de certificação de qualidade da carne, por exemplo os de Associações de Criadores como Carne Angus, Nelore Natural, ou de marca própria como TAEQ, SEARA e por aí afora.
    Aliás, o conceito aqui não deve ser o de se gastar mais para extrair benefícios, mas sim o de incrementarmos a lucratividade dos pecuaristas pela produção de bovinos com alto valor agregado.

  9. José Ricardo Skowronek Rezende disse:

    Roberto acho que não sou eu que esta confundindo conceitos e sim você.

    Eu estou o tempo todo falando em rastreabilidade bovina.

    Por favor pegue uma peça de carna embalada a vácuo na prateleira de um grande varejista e verá que já há indicação da planta frigorífica responsável pelo abate e a data do mesmo. Com um pouco mais de esforço se chega nas propriedades que enviaram animais para abate naquela planta e data. São controles que já existem em qualquer planta inspecionada pelo S.I.F.

    O que você fala é em levar adiante, para o consumidor, estas informações. Só que com mais qualidade. Com a identificação da fazenda e não apenas da planta frigorífica.

    Primeiro precisamos entender que para que frigoríficos segreguem as carnes oriundas dos animais de cada produtor há que se fazer adaptações no processo de resfriamento e desossa das carcaças, bem como de embalagem dos cortes, da imensa maioria das plantas industriais.

    E para implantação desta segregação são necessárias além de mudanças operacionais nas plantas industriais, investimentos e motivação comercial ou legal, mas realmente não há necessidade de identificação individual de animais. Creio que a isto que você se refere.

    Só que isto é rastreabilidade da carne e não do boi.

    E sem rastreabilidade bovina a rastreabilidade da carne tem uma contribuição reduzida ao meu ver.

    Um boi da fazenda “modelo”, abatido em frigorífico “modelo”, pode ter sido adquirido pouco antes da fazenda “pirata”, que não respeita a legislação nacional, e sem identificação individual dos animais simplesmente não conseguimos diferencia-lo de outro animal cuja vida inteira foi dentro de propriedades “modelos”. Neste exemplo se a última fazenda estiver “limpa” vai “esquentar” o abate deste animal oriundo da fazenda “pirata”.

    O mesmo tipo de raciocínio pode ser aplicado ao controle do cumprimento das carências de determinados medicamentos. Sem identificação individual dos animais se tivermos um problema de resíduos como saberemos sua real origem? O medicamento / produto que gerou o resíduo indesejado foi aplicado na última propriedade ou na anterior? Lembre-se que nos confinamentos, que ficam poucos dias com os animais, o problema é cada vez maior.

    Ou pior, imagine um caso de um surto de aftosa.

    E é justamente para auxiliar em situações como estas que defendo a rastreabilidade bovina, não apenas para atender as pressões da UE.

    Por isto tudo acho que simplesmente não é possível fazer o “tracing back” com eficiência até as fazendas onde um animal foi criado sem identificação individual dos animais. O processo produtivo pecuário é longo e com fases especializadas e implica muitas vezes em um mesmo animal transitar por duas ou mais propriedades durante sua vida. Controle por lote na rastreabilidade bovina faz água.

    Agora não vejo problema algum em se caminharmos simultaneamente no aperfeiçoamento da rastreabilidade bovina e da carne. Só quando ambas estiverem de pé e conectadas é que teremos a rastreabilidade total.

  10. Roberto Trigo Pires de Mesquita disse:

    José Ricardo,
    Não existe rastreabilidade da carne (tracking) do frigorífico às gôndolas do varejo sem que haja rastreabilidade do boi (tracing) do abatedouro às fazendas de origem. Pena que não seja possível pegarmos juntos uma embalagem a vácuo em qualquer estabelecimento varejista para descobrirmos que nem mesmo com um esforço sobrenatural seremos capazes de chegar na fazenda que enviou aquele animal para o abate naquela planta e data. Pior ainda se ao invés de pegarmos uma embalagem a vácuo nós procurarmos rastrear o boi que gerou o corte embalado em uma das centenas de bandejas de isopor na sala de corte também inspecionado pelo SIF de qualquer autoserviço das grandes redes de supermercados.
    A propósito da sua defesa da identificação individual como única via para investigação da aplicação de medicamentos que gerem resíduos indesejados, veja que até mesmo do ponto de vista da inspeção federal, apenas é feita uma pequena pesquisa por amostragem do total de animais abatidos no dia, algo em torno de 3% no máximo, ou seja, a liberação para comercialização é feita por lote e não por indivíduo.
    Por último, o controle de movimentação dos animais entre fazendas é muito mais factível e menos oneroso caso seja documentado por lotes via GTAs, conforme inclusive já vem acontecendo com bastante sucesso no controle das campanhas oficiais de vacinação anti-aftosa.
    Imagine o caos que se instalaria se ao invés da declaração da quantidade de animais vacinados por sexo e faixas etárias, todos os pecuaristas fossem obrigados a identificar individualmente os animais vacinados.

  11. Carolina Nicoloso disse:

    A rastreabilidade bovina é definida como a capacidade de manter uma identificação confiável de animais, ou produtos animais, por várias etapas dentro da
    cadeia alimentar, desde a exploração até o consumidor final.
    Acredito que a identificação por lote seja um retrocesso no sistema de rastreabilidade brasileiro, visto que o sistema permite a inclusão de animais 90 dias antes do abate. Se a rastreabilidade tem o objetivo de garantir que o histórico de determinado produto seja recuperado, enquanto houver a possibilidade de inclusão de animais somente na terminação, o sistema continua falho, então a identificação por lotes só irá facilitar ainda mais essa situação, muito bem exemplificada pelo José Ricardo, com a fazenda modelo esquentado produtos da fazenda pirata.
    Deveríamos caminhar para a identificação dos animais ao pé da vaca, diminuir as possibilidades de oportunismo no sistema, e para maior consistência de informações. Enquanto houverem pagamentos diferenciados pelo animal rastreado e for pertido rastrear animais no momento da terminação, o sistema continuará inapropriado e sua adesão baixa, penalizando os produtores de ciclo completo que precisam rastrear todo seu rebanho para obter certificado ERAS, seja individualmente ou por lotes.
    Se a identificação por lotes vigorar, em breve teremos um novo embargo!!

  12. Otavio C. Bucci disse:

    Caro Jonas A. Souza. Nesta discussão de burocratas, você é que esta certo, foi no ponto, ou colocou o dedo na ferida – Aqueles que são avessos a controles infelizmente vão conseguir fazer com que aqueles que tem a propriedade na mão e precisam ser recompensados, sejam jogados na vala comum dos maus pecuaristas que morrem de medo de controles efetivos de seus rebanhos sabe-se lá porque, são esta ideias tupiniquins mirabolantes, que colocam o sisbov em xeque. É realmente uma pena.

  13. Roberto Trigo Pires de Mesquita disse:

    Retrógrado é o sistema de rastreabilidade brasileiro principalmente por admitir a inclusão de animais 90 dias antes do abate e exigir que somente a partir daí os animais sejam identificados com uma codificação individual meramente sequencial dentro do LOTE de entrada no ERAS e com a origem certificada, ou melhor documentada, também pelo LOTE discriminado na GTA.
    Apesar de usar um sistema de identificação individual com brincos eletronicos meramente por razões de facilitação do manejo em meu pequeno rebanho de cria (300 matrizes) em Itupeva-SP, fico estarrecido ao pensar que mesmo vendendo os lotes desmamados anualmente para fazenda ERAS essa identificação individual com RFID será perdida, pois terá que ser trocada por um brinco SISBOV novo, que por sua vez, também será perdido na calha de sangria do abatedouro, pois dalí para a frente a geração do vínculo entre as carcaças e os bovinos que as geraram será representada por um código de barras no padrão EAN 128, que no máximo até os cortes primários e secundários processados na sala de cortes do frigorífico habilitado para exportação meramente viabilizará a recuperação do LOTE abatido em uma data determinada.
    Não vejo aonde e por que se a identificação por lotes desde a fazenda de origem passar a vigorar, “em breve teremos um novo embargo!!”.

  14. Roberto Trigo Pires de Mesquita disse:

    Prezado Otavio,
    Nesta discussão de pecuaristas, Jonas, José Ricardo e eu (não tenho referências mas me parece que a Carolina também é), nehum de nós com medo de controles efetivos pois se tiver mais cedo ou mais tarde será alijado de um mercado cada vez mais concorrido e tecnicado, somente agora com a sua intempestiva intervenção é que foram introduzidas idéias tupiniquins mirabolantes, principalmente quando é nos dado a entender que somente quem aderiu ao SISBOV pode ter a “propriedade na mão e precisa ser recompensado”.
    E mais, quem coloca o SISBOV em xeque é quem defende a manutenção do status quo anti-funcional a nível de fazenda e extremamente burocratizado, situação essa reconhecida até mesmo pelos gestores sérios desse sistema de certificação de origem, estruturado e documentado por instrumentos gerenciais extremamente arcaicos, a tal ponto que todos os que não são avessos a controles são obrigados a criar ferramentas de gestão paralelas se quiserem explorar suas propriedades com objetivos de máxima agregação de renda.

  15. Fernanda Balestra disse:

    Senhores, sou veterinária já trabalhei em certificadora e hoje estou no serviço estadual de defesa sanitária animal. Achei muito interessantes todos os comentários, os dois têm suas razões em diversos aspectosa, mas gostaria de lembra-los do seguinte: a rastreabilidade tem tudo a ver com controle sanitário, essa é a principal “desculpa”, por assim dizer, da sua exigência para exportação. O sistema é sim extremamente complicado e oneroso e não vai ter como fugir muito disso. Me desculpem, mas a GTA por si só não garante a sanidade do rebanho, são necessários outros controles. A impressão que fica é que o mercado externo não acredita em nós, ou seja, que nós não comercializamos animais em GTA, e por isso exige controles paralelos. Imagino que a inteção sejam realmente dificultar possíveis “fraudes”. Mas não se sintam mal por isso. A bovinocultura de corte não é a única atividade que precisa provar e comprovar todo o histórico da produção animal, mas, a meu ver, é a mais complicada.
    Imagino que o SISBOV ainda está longe do ideal, mesmo com todas as modificações que já foram realizada. Se pensarem bem, alguns controles ainda são realizados de forma precária. Por exemplo, o registro de insumos utilizados na propriedade, até onde eu sei não é inserido na BND, quem dirá nos sistemas de cada serviço estadual de defesa sanitária animal. Esta é uma questão que, mais cedo ou mais tarde será levantada, não se esqueçam que na Europa já houve problemas devido a contaminação de alimentos contaminados fornecidos a animais que levaram a grandes prejuízos (dioxina em 1999).

  16. Oswaldo Ribeiro disse:

    A discussão é apaixonada, todos tem suas razões. O grande problema é que não há uma definição clara sobre cada um dos detalhes envolvendo a rastreabilidade. Implantá-la só para se habilitar à exportação é pouco, a grande vantagem é na gerência da fazenda. Temos um rol de tecnologias que já podem nos auxiliar na rastreabilidade do nosso rebanho e por consequência do nosso produto na prateleira do supermercado. Nós devemos nos unir e fazer isso, os não éticos serão expulsos desse processo e, com certeza, os órgãos oficiais de controle se curvarão ao bom senso. O problema é que o bom senso deve ser desenvolvido e respeitado pelo pecuarista, só assim fica claro o conceito de corpo da categoria, sem ela serão muitas as idas e vindas…

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