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15 de dezembro de 2000
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1 de janeiro de 2001

Sincronização do estro e da ovulação com o sistema Crestar

Francisco Barufi

Introdução

A despeito das inúmeras vantagens do uso da inseminação artificial, alguns aspectos podem surgir como sérios obstáculos à implantação de um programa, principalmente quando os animais são criados em condições extensivas. Dentre estes fatores, destacam-se:

* a necessidade de reserva de pastos próximos ao curral, os quais acabam sendo submetidos a um desgaste e pisoteio bastante intensos;

* desgaste dos animais, em virtude dos inúmeros rodeios realizados para a detecção dos estros;

* falhas na detecção dos cios, seja em virtude de os mesmos ocorrerem fora dos períodos de observação, ou ainda pelos casos de ovulações sem manifestação de estro ou de aceitação de poucas montas (o que ocorre bastante na retomada da ciclicidade do pós-parto);

* problemas com a mão-de-obra – seja pela necessidade de se utilizarem horas extras para observação de cio, observação deficiente em fins de semana, ou pela possibilidade de o inseminador abandonar a fazenda no meio do programa de inseminação artificial;

* prolongamento excessivo do anestro no pós-parto, que pode ocorrer nos casos de secas prolongadas, com atraso da concepção.

Em virtude destes fatos, a meta reprodutiva de se obter um bezerro por vaca por ano pode tornar-se bastante prejudicada.

É por isso que se torna altamente interessante a utilização de protocolos de sincronização da ovulação baseados em progestágenos, que atuam nos receptores para progesterona do endométrio, prevenindo a ocorrência de ciclos curtos, comuns no primeiro cio após o parto. Além disso, atua-se sobre o desenvolvimento dos folículos, promovendo a emergência sincronizada de uma onda folicular em todas as fêmeas, e isto permite a realização de todas as inseminações num momento pré-fixado.

O sistema Crestar

Crestar é um protocolo de tratamento para sincronização do cio que se baseia na manutenção de um implante auricular de silicone que provoca a liberação de um progestágeno sintético, norgestomet, à razão de 200 g/dia. Esse implante é mantido por nove dias. No momento da inserção dos implantes, efetua-se a administração intra-muscular de valerato de estradiol + norgestomet.

Progestágenos, como o norgestomet, agem suprimindo o estro e a ovulação. Comportam-se como um corpo lúteo artificial e, assim, com a supressão de sua administração, ocorre manifestação de cio e ovulação do folículo dominante. Tratamentos longos com progestágenos, de cerca de 14 dias, mostram-se eficazes na obtenção de estros altamente sincronizados, porém com baixa fertilidade, em virtude da formação de folículos persistentes.

A persistência folicular foi alvo de vários estudos realizados nos últimos anos. Folículos persistentes são induzidos com a administração de progestágenos, na ausência de corpo lúteo, ou ainda quando são mantidas concentrações subluteínicas de progesterona na circulação. Nestes casos, não ocorre a supressão da secreção pulsátil de LH, o que causaria atresia folicular e emergência de uma nova onda. No entanto, há inibição do pico pré-ovulatório de LH (e da ovulação). Assim, o folículo dominante continua crescendo enquanto perdurar o tratamento.

Parecem ser várias as causas da baixa fertilidade observada na ovulação de folículos persistentes. A principal delas, de acordo com os resultados das últimas pesquisas, é que o LH provoca a retomada da meiose do ovócito (maturação nuclear), sem que, no entanto, ocorra a maturação do citoplasma do mesmo, que só ocorre quando a vaca entra em estro. Dessa forma, o ovócito sofre uma assincronia de desenvolvimento, com perda de sua viabilidade.

Portanto, em todos os tratamentos de sincronização do estro baseados em progestágenos, o período dos tratamentos deve ser estipulado de uma forma tal que os tratamentos sejam os mais longos possíveis para que sejam maximizados os efeitos positivos dos progestágenos no tratamento do anestro sem que se formem folículos persistentes.

De início, a função do valerato de estradiol, administrado no momento da inserção dos implantes, era provocar a luteólise. Nos últimos anos, com o uso da ultra-sonografia, constatou-se que estrógenos, quando associados a progestágenos, provocam atresia folicular e emergência sincronizada de uma nova onda de folículos. Como o valerato de estradiol apresenta uma meia vida relativamente longa, o recrutamento dos novos folículos demora para ocorrer e uma nova onda é detectada por volta de seis dias após o início do tratamento com Crestar. Isso faz com que o período de nove a dez dias seja insuficiente para provocar persistência do folículo dominante, de modo que a fertilidade do estro obtido com Crestar é adequada.

Embora estrógenos apresentem baixa eficácia para provocar a luteólise durante o metaestro, em vários experimentos tem sido constatada ausência de corpo lúteo no momento da remoção dos implantes de Crestar em 99% dos animais. Isso ocorre, provavelmente, em virtude do longo tempo de permanência do valerato de estradiol na circulação, e de um efeito anti-luteotrófico do norgestomet.

Implicações

Intervenções hormonais que provoquem sincronização da ovulação podem ser uma ferramenta importantíssima no manejo reprodutivo. É por isso que há um grande número de projetos de pesquisa orientados nesse sentido tanto no Brasil como em outros países. Atualmente, há um grau de conhecimento que possibilita o estabelecimento de algumas conclusões importantes para uma boa utilização destes protocolos com resultados economicamente vantajosos, e pretendemos dar continuidade a esta abordagem em radares posteriores.

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0 Comments

  1. Antônio Braga Neto disse:

    Gostaria apenas de parabenizar o colega Francisco Barufi pelo belíssimo artigo e dizer que, após 5 anos da sua publicação, o Sistema Crestar de sincronização da ovulação tem se mostrado na prática uma ferramenta primordial p/ se atingir o objetivo de 1 bezerro por vaca por ano com a melhor relação custo/benefício, tornando mais rentável inclusive técnicas como TETF (Transferência de Embriões em Tempo Fixo) e FIV(Fertilização In Vitro).

    A grande eficácia do Sistema Crestar está no fato de que ele sempre vem acompanhado de um programa reprodutivo completo e instalado por técnicos com conhecimentos específicos.

    Obrigado pelo espaço e um abraço a todos.

  2. luis domingos silva moreno disse:

    Parabéns pelas informações sobre este assunto, espero poder contar com artigos mais aprofundados.

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