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Silo Bag: uma interessante alternativa no armazenamento da silagem

As propriedades agrícolas podem estocar silagem de várias formas, utilizando os silos horizontais (trincheira ou superfície), o silo torre (se encontra em desuso), o silo-fardo revestido por filme plástico e o silo bag, sendo que esses dois últimos se encontram em franco desenvolvimento no nosso país.

As propriedades agrícolas podem estocar silagem de várias formas, utilizando os silos horizontais (trincheira ou superfície), o silo torre (se encontra em desuso), o silo-fardo revestido por filme plástico e o silo bag, sendo que esses dois últimos se encontram em franco desenvolvimento no nosso país.

A maioria dos pecuaristas prefere os silos horizontais, principalmente o tipo superfície, devido ao baixo custo inicial de investimento e elevadas quantidades de forragem que podem ser depositadas no abastecimento e retiradas durante o desabastecimento (etapa de fornecimento de silagem aos animais). Contudo, silos horizontais permitem a exposição de grande parte da massa de silagem ao oxigênio atmosférico, seja durante a estocagem (fermentação) ou no desabastecimento.

A presença de oxigênio leva ao desenvolvimento de fungos, o que causa o fenômeno da deterioração aeróbia da massa. Os principais efeitos da deterioração são: perdas de matéria seca, redução do desempenho animal e riscos à saúde dos animais e da população humana pelo consumo de produtos de origem animal contaminados com patógenos e/ou micotoxinas presentes na silagem.

A silagem estocada em bags é produzida com máquinas que “empacotam” a forragem picada em tubos plásticos horizontais (Figura 1). Os silos bag possuem certa variedade de tamanhos, podendo variar de 1,8 a 3,6 m de diâmetro e 30, 60 ou 90 m de comprimento, sendo a dimensão 1,8 por 60 m é a mais comum no nosso país. Bags que variam de 30 a 60 metros podem estocar de 2 a 6 t de silagem/m linear. Esse intervalo de densidade é em função do grau de picagem (tamanho de partícula) e da cultura que está sendo estocada. O plástico utilizado não é reutilizável e geralmente custa entre R$ 6 a 10/t de silagem estocada.

Figura 1. Silo bag sendo confeccionado.
O silo bag apresenta os seguintes aspectos positivos como estrutura para estocar silagem:

a)A anaerobiose é rapidamente alcançada: Pelo fato da forragem picada sair do vagão forrageiro e ser colocada e compactada diretamente no bag, onde não há contato com o ar, a fermentação inicia-se velozmente, reduzindo as perdas pela menor respiração da massa e crescimento de microrganismos aeróbios.

b)Flexibilidade quanto ao local de confecção do silo: O silo bag pode ser confeccionado no local onde possa facilitar a logística de máquinas e mão-de-obra dentro da fazenda, ou seja, ele pode ser preparado próximo ao local de colheita da forragem ou próximo a estrutura de confinamento. É importante ressaltar que o terreno deve ser plano e limpo, de modo que possa facilitar o trabalho no momento da confecção do bag e evitar furos acidentais no plástico.

c)É permitido o uso de glebas com histórico agronômico diferenciado: A propriedade pode destinar glebas com diferentes históricos agronômicos para cada silo, permitindo uma uniformidade maior entre os volumosos. Isso facilita o manejo de alimentação dos animais, principalmente quanto a diferenciação de lotes e de dietas.

d)Variabilidade na capacidade de estocagem: Como o mercado possui diferentes dimensões de bags é possível confeccionar silos de vários tamanhos. Isso facilita principalmente o manejo de propriedades que estocam pequena quantidade de silagem.

e)Menor uso de plástico: A quantidade de plástico utilizada para estocar uma tonelada de silagem é menor em silo bag quando comparado ao silo-fardo revestido por filme plástico. Os estudos mostram que são necessários 1,2 a 1,5 kg de plástico/t de matéria seca contra 2,5 a 3,0 kg/t MS para o bag e fardo, respectivamente. Esse fator é importante sob o ponto de vista ambiental, pois há um interesse mundial em diminuir o uso de plástico na agricultura.

f)Menor exposição do painel ao oxigênio atmosférico: A etapa de abertura do silo é uma das mais críticas para o processo de ensilagem, pois a massa de silagem entra em contato direto com ar. Como o painel do bag é de pequena dimensão, quando comparado a um silo trincheira, por exemplo, menores perdas por deterioração aeróbia podem ocorrer devido ao menor fluxo de ar que entra na massa de silagem.

Contudo, esse tipo de estrutura de estocagem apresenta dois aspectos que podem ser considerados como negativos: o investimento inicial em equipamentos e a lentidão no tocante ao desabastecimento do silo. A aquisição de uma embutidora tem sido a principal barreira, principalmente porque os produtores brasileiros não possuem poder de compra como em outros países e, na maioria das vezes, encontram-se descapitalizados. Quanto à lentidão no desabastecimento, isso tem sido uma barreira porque grandes rebanhos necessitam de rapidez durante a mistura da dieta e fornecimento desta aos animais. Máquinas com a função de desensilar e misturar os ingredientes (Total Mix) têm sido utilizadas quando há silos trincheira na propriedade, entretanto esse equipamento fica impossibilitado de desabastecer silo bag. Desse modo, na grande maioria das fazendas a retirada da silagem tem que ser feita manualmente, o que pode dificultar a logística de alimentação dos rebanhos.

Muck et al. (2009) realizaram um estudo com silagem de alfafa estocada nas três estruturas mais comuns nos Estados Unidos para se conservar forragem: o silo torre, o trincheira e o bag. Quanto as características das silagens (Tabela 1), os resultados mostraram que houve diferença significativa para as variáveis digestibilidade da fibra (FDN) e pH das silagens. O silo tipo torre apresentou os maiores valores de digestibilidade e os menores valores de pH quando comparado aos outros silos, nos dois anos de estudo. As perdas também foram menores quando a alfafa foi armazenada na torre, contudo as perdas foram maiores quando a estocagem foi realizada em silos trincheira, o que coloca o silo bag numa situação intermediária.

Tabela 1. Características de silagens de alfafa estocadas em silo torre, bag ou trincheira (modificado de Muck et al., 2009).

Dando continuidade ao estudo, os autores forneceram às vacas em lactação as silagens armazenadas nos três diferentes silos e, encontraram que houve diferença entre os tratamentos somente no segundo ano de estudo, quando os animais que foram alimentados com silagem proveniente do silo torre se tornaram mais produtivos (Tabela 2).

Tabela 2. Ingestão e produção de leite de vacas alimentadas com silagem de alfafa estocada em silo torre, bag ou trincheira (modificado de Broderick et al., 2009).

Baseado nos estudos que temos até o momento em outros países e na recente experiência com este tipo de silo no Brasil é possível concluir que:

-Os pecuaristas, as indústrias produtoras de equipamentos e de plásticos e a comunidade científica necessitam de mais estudos com silo bag para podermos consolidar definitivamente o seu uso no nosso país;
-Os silos horizontais (trincheira e superfície), apesar de apresentarem grandes riscos de perdas pela exposição da massa ao ar, são os principais métodos para estocar silagem em propriedades com grandes rebanhos devido a necessidade de rapidez na alimentação dos animais.
-O silo bag é bastante atrativo para pequenos volumes de silagem, principalmente quando esta é direcionada aos animais de alta exigência nutricional, sendo a silagem de grãos úmidos de cereais uma interessante estratégia para ser estocada nesse tipo de silo. Como a aquisição da embutidora se torna um problema inicial, a terceirização dos serviços e o aluguel do equipamento pode ser uma saída para os produtores que não desejam realizar a compra da máquina.

Literatura consultada:

Muck, R. E., Broderick, G. A., Brink, G. E. Effects of silo type on silage quality and losses. In: INTERNATIONAL SILAGE CONFERENCE, 15, 2009, Madison. Proceedings. Madison: U.S. Dairy Forage Research Center, 2009, p.275-276.

Broderick, G. A., Muck, R. E., Krizsan, S. J. Effect of silo type on utilization of alfalfa silage by lactating dairy cows. In: INTERNATIONAL SILAGE CONFERENCE, 15, 2009, Madison. Proceedings. Madison: U.S. Dairy Forage Research Center, 2009, p.361-362.

5 Comments

  1. Adalton Ribeiro Lopes disse:

    gostaria de como funciona e onde podemos ver um silo e fornecedor.

  2. Carlos Marcio Guapo disse:

    Colegas

    Gostaria de saber mais sobre o silo Bag, vou fazer silagem de milheto e tenho um amigo que poderia me alugar a maquina de ensilar.
    Me indiquem a empresa, trabalhos, etc

  3. VITOR MATTAR FRANÇA disse:

    Como e onde encontrar o Silo Bag???Precisa de Maquina Especial para fazer a Silagem??? Normalmente faço Silo Trincheira, mas realmente perde-se muito em qualidade.
    Estou no Paraná – Piraquara.Aguardo e Obrigado

  4. wilson tarciso giembinsky disse:

    Thiago e Rafael…

    Em 1995 estivemos (eu e um amigo, criador caprichoso de vacas de leite, holandezas, 3 ordenhas, etc…), com mais umas 30 pessoas, visistando algumas exposições, diversas fazendas de leite e alguns confinamentos na região de Indiana, Illinois e Wisconsin, nos EEUU.

    Além dos silos verticais, bolsa, envelopados, trincheira etc… vimos dois silos (tenho fotos) em fazendas diferentes, totalmente a céu aberto, sem nenhuma cobertura!

    E nos silos cobertos eles simplesmente colocam uma lona plástica, alguns pneus velhos só para segurar a lona, na borda uma fileira de pneus, não se preocupam muito com entrada de ar…

    Estivemos lá no final de outubro e começo de novembro, os silos estavam em uso, o tempo estava como o nosso aqui da região sudeste, ora fresco, ora calor, ora chuva, ora sol…
    Tinham terminado a colheita da soja, alguns ainda estavam colhendo milho e já plantando trigo…

    Uma das fotos mostra inclusive poças dágua da chuva no local onde o silo estva sendo manejado! Este era um silo grande para nossos padrões mas pequeno para eles.

    O outro silo era imenso, quase um hectare de silo, feito em uma ravina protegida de enxurradas, com aproximadamente 10 metros de altura no local onde estavam retirando a silagem. Estava chuviscando neste dia!

    Estávamos sobre o silo (umas 5 pessoas) verificando a camada estragada, não passava de um palmo (22cm), misturavam tudo e colocavam no chão do Free Stall para as vacas leiteiras, holandezas preto e branco, totalmente estabuladas.

    Não vi sobras, pergutei aos tratadores e disseram que as vacas comem tudo, é só o que comem a vida toda, não têm problemas gerais nem de alimentação nem de leite, apenas alguns problemas específicos!

    Outro detalhe, em todos os free stall que visitamos, o alimento é colocado no chão, em um corredor central com livre movimentação de máquinas para o manejo, não existe cocho.

  5. Antonio Rafael Camargo Rodrigues disse:

    Caros, Thiago e Rafael

    Sou orientado do Dr. Gustavo R. Siqueira em Colina/SP.

    Bem, depois ter lido este artigo escrito por vocês, perguntas e respostas, percebi que este tipo de silo não funcina muito bem para volumosos com menos de 30% de MS, por causa dos efluentes, certo! Seria viável para ensilagem da cana-de-açúcar? Há algum trabalho relativo a isto? E para o caso de volumosos com MS menor que 30%, poderia ser acrescentado materiais secos, como a polpa citrica por exemplo, para aumentar a MS?

    Obrigado!!

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