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Silagem pré-secada – Parte 1/2

Conforme comentários de artigo anterior (Algumas considerações sobre pré-secados), a silagem e o feno são produtos finais de duas alternativas de métodos de conservação de forragens para o período de inverno bastante conhecidas e utilizadas pelos pecuaristas.

Conceitos Gerais

Conforme comentários de artigo anterior (Algumas considerações sobre pré-secados), a silagem e o feno são produtos finais de duas alternativas de métodos de conservação de forragens para o período de inverno bastante conhecidas e utilizadas pelos pecuaristas. Entre estes dois métodos há uma alternativa intermediária, denominada simplesmente de “pré-secado” ou de “silagem pré-secada”, que vem tendo o seu uso incrementado em nosso meio, principalmente por produtores de leite. Nos EUA esta técnica é conhecida como “haylage” ou, numa tradução literal, “feno-silagem”. Temos acompanhado uma certa confusão com essa terminologia, inclusive com a utilização da expressão “feno pré-secado” para se referir ao que na verdade é uma silagem. Gostaríamos de esclarecer que o produto é uma silagem, portanto, sofreu um processo fermentativo que vai permitir a sua conservação, diferentemente do feno que se conserva apenas pela desidratação. Tentando evitar essa confusão, o professor Dr. Vagner Lavezzo sempre recomendou o uso do termo silagem emurchecida para a silagem produzida a partir de uma forragem que sofreu uma desidratação parcial antes de ser ensilada, seja em silos tipo trincheira ou em fardos envolvidos por filmes plásticos.

Com o recente aumento do interesse na produção de silagens de gramíneas tropicais, muito tem sido discutido sobre técnicas e aditivos indicados para melhoria do processo fermentativo. Entre estas técnicas, uma delas é o uso do emurchecimento da forragem antes da ensilagem para resolver um dos principais problemas das gramíneas tropicais usadas em pastagens, o baixo teor de matéria seca. Tem sido pouco utilizada pela dificuldade de manuseio da forragem no campo e do seu recolhimento para repicagem e colocação em silos ou fardos. A utilização de aditivos, tais como: polpa cítrica, farelo de milho, rolão de milho ou outro produto ou subproduto com teor de matéria seca próximo de 90%, têm sido mais comum.

Portanto, a silagem emurchecida ou pré-secada armazenada em fardos envolvidos com filmes plásticos (Figura 1), principalmente pela facilidade de transporte e comercialização, tem sido muito mais freqüente do que a armazenada em silos trincheira, bags ou salsichas, que não permitem essa flexibilidade, mas apenas uso na própria fazenda. Provavelmente é esse fato, de ser enfardado como um feno, que tem motivado certa confusão sobre a terminologia correta a ser usada.

Conforme já afirmado, para produtores de feno, essa alternativa é bastante interessante do ponto de vista técnico por permitir reduzir os riscos de incidência de chuvas sobre material cortado no campo durante a fase de secagem, pois esse período fica restrito, dependendo das condições climáticas e das características morfológicas da planta forrageira, a uma ou duas horas de duração. Quem produz feno sabe que esse curto período de tempo é uma vantagem prática muito grande. Segundo MONTEIRO (1999), citando outros autores, na região Sudeste da Austrália, em áreas de exploração leiteira, a chuva freqüente durante a primavera resulta em perdas acentuadas no processo de fenação. Uma alternativa estratégica que foi adotada foi o uso da silagem pré-secada. A velocidade de secagem a campo foi considerada um ponto fundamental do sistema. Nas regiões de Castro e Carambeí (PR), uma das pioneiras no sistema, e atualmente a região que mais ensila forragens com pré-secagem, as plantas forrageiras mais utilizadas são azevém, triticale, aveia e alfafa. Do total de matéria seca das silagens fornecidas às vacas leiteiras da região, 65% provém da silagem pré-secada de azevém ou aveia e 35% é proveniente da tradicional silagem de milho (MONTEIRO, 1999). Algumas regiões de Minas Gerais e São Paulo também têm produzido silagem pré-secada, porém de gramíneas do gênero Cynodon, tais como: coast-cross, tifton, estrela etc.

Figura 1 – Abertura de fardo de silagem pré-secada (Fazenda Colorado).

Processo de Produção

Como toda cultura altamente extratora, como ocorre em áreas de produção de feno e silagem, os cuidados com o estande e a reposição de nutrientes através de adubações é fundamental. Algumas propriedades têm utilizado o Tifton 85 (Cynodon dactylon) para produção de feno e do pré-secado, não só pelas características produtivas e qualitativas, mas também por resistir melhor a cortes mais altos, recomendados quando o mesmo se destina à produção da silagem pré-secada, evitando-se assim a mistura de folhas mortas, terra e demais impurezas no material a ser ensilado (Figura 2). Após o corte, o manejo adotado rebaixa a forragem para uma altura rente ao solo, o que permite a incorporação do material morto no solo, reiniciando um novo ciclo. A época de produção da silagem coincide com a época de maior pluviosidade, deixando as épocas de meia estação para produção de feno, já que grande parte das propriedades dispõe de sistemas de irrigação (Figura 2).

Figura 2 – Altura de corte utilizada para silagem pré-secada.
(Fazenda Aterrado)

Comentário do autor: Contrariamente ao que afirmamos em artigo anterior (Produção de Feno – Conceitos Básicos), algumas empresas agrícolas dos Estados de São Paulo e Minas Gerais não produzem feno na época de maior pluviosidade com alta freqüência (em média, de dezembro a março), nem utilizam previsões climáticas regularmente. A estratégia adotada é a de produzir a silagem pré-secada ao invés do feno, produzindo este último em condições muito mais favoráveis no período de baixa incidência de chuvas, de abril a novembro, já que a maioria dispõe de sistemas de irrigação (pivô central) para garantir um bom crescimento das plantas forrageiras durante veranicos e períodos secos, desde que temperatura e luminosidade não sejam fatores de restrição. Esta estratégia tem sido adequada para otimizar equipamentos e áreas disponíveis, tornando a empresa mais viável economicamente, já que é possível cortar, emurchecer, enfardar (ensilar), embalar e armazenar a silagem pré-secada num mesmo dia.

Fontes

MONTEIRO, A. L. G. Silagem Pré-secada. In: Simpósio sobre Nutrição de Bovinos, 7 (1999) Piracicaba). Anais: Alimentação Suplementar / Editado por Aristeu Mendes Peixoto… [et al.] – Piracicaba: FEALQ. 1999.

TOLEDO, P. Feno Água Comprida. Comunicação Pessoal, 2002.

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