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Série analistas de mercado: uma análise bem embasada, justamente pela dificuldade de ser produzida, traz retorno! [Fabiano Tito]

O tema mercado do boi gordo é um dos mais relevantes relacionado a rentabilidade do setor pecuário. Por isso é o assunto mais procurado, conversado e discutido. Entender as tendências de mercado dos mais diversos fatores que influenciam o mercado do boi é fundamental para se planejar e aproveitar as oportunidades. Confira a entrevista com Fabiano Ribeiro Tito Rosa!

O tema mercado do boi gordo é um dos mais relevantes relacionado a rentabilidade do setor pecuário. Por isso é o assunto mais procurado, conversado e discutido. Entender as tendências de mercado dos mais diversos fatores que influenciam o mercado do boi é fundamental para se planejar e aproveitar as oportunidades.

Com o objetivo de conhecer os principais profissionais que trabalham direta e indiretamente com análise de mercado pecuário, o BeefPoint preparou uma série de entrevistas para compartilhar o trabalho destes profissionais, buscamos reunir informações consistentes sobre o tema.

Queremos conhecer mais como essas pessoas pensam, o que prestam atenção, o que consideram mais importante e o que sentem falta ao fazer seu trabalho de análise de mercado.

Para conhecer melhor quem tem se destacado no mercado pecuário no Brasil, acompanhe nossa série de entrevistas.

Confira a entrevista com Fabiano Ribeiro Tito Rosa, zootecnista, gerente executivo de Business Intelligence da Minerva Foods.

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Saiba mais sobre Fabiano Tito Rosa

Fabiano Tito: Trabalho na indústria de alimentos. A Minerva Foods é o terceiro maior grupo frigorífico do Brasil, o segundo em exportação de carne bovina e o maior exportador de gado vivo do país. Possui unidades também no Paraguai e Uruguai, além de sete escritórios internacionais. A Minerva trabalha também com proteínas processadas (Minerva Fine Foods), couro, biodiesel e envoltórios naturais para a indústria de embutidos. Na Minerva, coordeno a área de business intelligence, que envolve a pesquisa de mercado (suporte à gestão de risco), pricing (na compra e na venda, ou seja, no boi e na carne) e relacionamento com fornecedores, orientação, compartilhamento de informações, por meio de relatórios, treinamentos, eventos e fomento de produtos/serviços).

BeefPoint: Quais as principais ferramentas para conseguir analisar o mercado de forma ampla?

Fabiano Tito: Boas fontes, bom filtro (para eliminar o que é ruído, torcida e excesso de viés) e disciplina para revisar todos os pontos, periodicamente, lembrando que as variações de preço são o resultado de desequilíbrios na relação oferta x demanda, portanto, é preciso analisar as duas pontas, nunca uma só. O objetivo é chegar a um “modelo” de S&D (supply and demand).

BeefPoint: Quais são os gráficos que você acompanha diariamente para fazer uma boa análise?

Fabiano Tito: O básico no que diz respeito à oferta são os gráficos de preço (acompanhados de análises técnicas), de escalas (posições atuais e evolução), diferenciais de base e relações de troca entre boi gordo e reposição. Do lado da demanda, os spreads entre carne e boi (indicativo de margem da indústria), spreads entre carnes, vendas e estoques.

BeefPoint: Quais são os principais indicadores para analisar o mercado do boi, na sua opinião?

Fabiano Tito: Além dos citados anteriormente, é preciso olhar também os indicadores de médio e longo prazo, como clima, informações de campo (nossa equipe de campo nos municia com essas informações) e ciclo pecuário, por exemplo.

BeefPoint: O que você lê de notícias, análises e relatórios de mercado? Quais são as leituras indispensáveis?

Fabiano Tito: Acompanho as principais notícias do setor, nos mercados interno e externo, via sites especializados e também uso muito o twitter. Gosto muito do World Beef Report, da newsletter do MLA e da Carta Pecuária, para destacar alguns.

Nossos relatórios internos (performance de vendas e compras, resultados, simulações, etc.), por sua vez, são indispensáveis. É preciso também acompanhar o noticiário econômico, ter um olho no macro. Mas tão importante quanto as leituras, é a troca de idéias, as discussões, com o nosso time e a turma do mercado.

BeefPoint: Quais os principais fatores devemos olhar pelo lado da oferta e do consumo para uma análise de curto e médio prazo?

Fabiano Tito: Além do que foi citado anteriormente, na questão 2, é preciso acompanhar abates/produção, comportamento da renda, peso da carne bovina no custo da cesta básica, exportações, projeções de disponibilidade interna de carne bovina, etc. No caso do mercado externo, nossos escritórios internacionais são fontes importantes de informação, reportando qualquer acontecimento de ordem comercial, econômica ou política que possam afetar os embarques.

BeefPoint: Você poderia nos contar uma história ou um acontecimento, em que conseguiu entender as relações do mercado, fazer uma análise correta da situação, e acertar a tendência de preços? Quais as lições você tirou desse episódio?

Fabiano Tito: Um exemplo recente. Agora, na virada de setembro para outubro, conseguimos antecipar e nos posicionar bem para a queda da carne e do boi, trabalhando short na BM&F e nas compras de boi no físico. Na outra ponta, acelerando as vendas de carne, sobretudo de dianteiro.

Na nossa avaliação, o mercado já vinha muito esticado, as pesquisas de campo/confinamento apontavam uma boa saída de animais, que podia ser acelerada pelas chuvas, o varejo não vinha mais conseguindo repassar as altas do atacado para o consumidor final (mark up, principalmente no dianteiro, no patamar mais baixo dos últimos anos, com o sazonal contra), as restrições russas e a queda do dólar poderiam afetar as margens dos exportadores… Enfim, haviam vários sinais de esgotamento do movimento de alta, que foram bem identificados.

Esse episódio reforça algumas lições que aprendemos em outros momentos, como a de que todo movimento de preço tem um limite (nem que for para o mercado “respirar” para depois retomá-lo) e a de analisar todos os pontos à exaustão.

BeefPoint: Você poderia nos contar uma história ou um acontecimento, em que aconteceu o contrário, onde não conseguiu entender as relações do mercado, fazer uma análise correta da situação, e errou a tendência de preços? Quais as lições você tirou desse episódio?

Fabiano Tito: Em 14 anos de mercado, já errei várias vezes. Ninguém acerta sempre, o importante, obviamente, é acertar mais do que errar. Nós tomamos risco todo dia, e como a chance de erro existe, esse risco tem que ser calculado. Importante também é não tentar bater de frente com o mercado, insistir num view errado e aumentar o estrago. “O mercado é soberano”, já dizia o Scot. Quanto antes assumir o erro, mudar de posição e correr atrás para arrumar, melhor.

BeefPoint: Em sua opinião, quais são os principais dados em falta na pecuária brasileira para que se possa fazer uma análise consistente do mercado? O que poderia ser feito para reduzir esse problema? Qual órgão poderia contribuir de forma mais efetiva?

Fabiano Tito: Nossa pecuária é muito grande, dispersa, heterogênea, ainda com um elevado grau de informalidade, em todas as pontas. Nesse contexto, a dificuldade de geração de dados é grande. Os números oficiais, com exceção dos dados de exportação (área de pastagem, rebanho, abate, etc.), chegam com atraso e, muitas vezes, são questionáveis. E as estimativas privadas, para alguns quesitos, divergem significativamente entre si.

Os leitores do BeefPoint podem fazer uma experiência: busquem em diversas fontes a estimativa do rebanho bovino brasileiro e verão que a diferença entre a maior e a menor, em número de cabeças, é superior ao rebanho da Austrália, que é o segundo maior exportador de carne bovina do mundo. O lado positivo, pra quem vive de analisar esse mercado, é que é nesse ambiente que uma boa estrutura de pesquisa de mercado tem valor. Que uma boa análise, bem embasada, justamente pela dificuldade de ser produzida, traz retorno.

BeefPoint: Qual o maior desafio do analista do mercado da pecuária?

Fabiano Tito: Justamente o de lidar com a falta de dados, com a dificuldade de acesso a boas informações.

BeefPoint: Qual profissional da área é sua referência?

Fabiano Tito: Minha escola foi a Scot Consultoria. Minhas referências, portanto, são o Scot (Alcides Torres) e o Maurício Palma Nogueira, não só pelo o conhecimento de mercado que me transmitiram, mas pelo exemplo de postura ética e profissional. Da Scot Consultoria vim para a Minerva Foods, trabalhar com profissionais de ponta, hoje também minhas referências, que me proporcionaram o privilégio de coordenar uma equipe 100%, cresci muito, profissionalmente, com essa oportunidade.

Fora o nosso time, há no mercado muita gente boa, cujas opiniões respeito muito, com quem vale mesmo a pena trocar uma idéia, como o Alexandre Mendonça de Barros (MB Agro).

BeefPoint: Qual conselho você daria para quem quer começar a trabalhar na área?

Fabiano Tito: O fundamental é escolher bem onde começar, buscando suporte, coaching, liberdade e oportunidade de crescimento. Durante a carreira, o que vale é trabalhar duro, estudar muito, conhecimento nunca é demais. Exercitar a disciplina e construir uma boa rede de relacionamento profissional (networking), pois quando a gente não sabe alguma coisa, é bom ao menos saber pra quem perguntar.

Seguem os contatos do Fabiano Ribeiro Tito Rosa: twitter:@fabianortr / www.minervafoods.com / @MinervaResearch

Comentário BeefPoint: Muito obrigado Fabiano Tito, por  participar de nossa série de entrevistas sobre análise do mercado. Obrigado por compartilhar conosco suas experiências, conhecimentos e principalmente seus conselhos para quem quer iniciar nesta atividade. Obrigado por contribuir para o aprendizado daqueles que querem e precisam entender o que é, e o que influencia o mercado.

Acompanhe nossa série de entrevistas de mercado:

O mercado te amassa quando você acha que sabe tudo sobre ele [Rodrigo Albuquerque]

Aprenda o operacional e evite surpresas desagradáveis no seu negócio! [Flavio Abdo Saraiva Santos]

1 Comment

  1. Fernando Furtado Velloso disse:

    Fabiano, parabéns pela sua entrevista e trabalho realizado na SCOT e no MINERVA. Tive a oportunidade de trabalhar um pequeno período com o amigo no Minerva.
    As informações de mercado recebida sempre foram muito válidas. Trabalho feito com profissionalismo e muito método.
    Parabéns por ser um dos analistas mais importantes de nossa pecuária!
    Grande abraço, Fernando Velloso

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