BeefSummit Brasil: mais de mil pecuaristas fecham 2013 com muita informação e interatividade
8 de abril de 2014
A união é a maior arma. Vamos botar o mate em baixo do braço e vamos lá apoiar o setor e debater juntos! – Thais Lopa [Prêmio BeefPoint Sul]
8 de abril de 2014

Sempre proferi muitas palestras para produtores e técnicos, mas estas são mais motivadoras que formadoras e o que necessitamos é mais formação – Carlos Nabinger [Prêmio BeefPoint Sul]

No dia 4 de abril, foi realizado o BeefSummit Sul, em Porto Alegre/RS. Evento organizado pelo BeefPoint, em parceria com a Associação Brasileira de Hereford e Braford (ABHB).

No dia do evento, o BeefPoint homenageou as pessoas que fazem a diferença e têm paixão pela pecuária de corte no Sul do Brasil com o Prêmio BeefPoint Edição Sul.

O público escolheu através de votação, o vencedor de cada categoria. Para conhecer melhor os indicados, o BeefPoint preparou uma entrevista com cada um deles.

Conheça Carlos Nabinger, finalista e vencedor na categoria Professor/Pesquisador.

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Carlos Nabinger tem 64 anos, é técnico agrícola e engenheiro agrônomo. Nascido em Cachoeira do Sul, durante a infância residiu em São Gabriel e atualmente reside em Porto Alegre.

BeefPoint: Com base nas suas pesquisas, o que você implementou de diferente na pecuária do Sul do Brasil que levou você a ser um dos finalistas do Prêmio BeefPoint Edição Sul 2014?

Carlos Nabinger: Nada de muito inovador além de ajudar a colocar números nas coisas relacionadas à pecuária, sobretudo aquela com base em pastagens naturais, ou seja, quantificar o potencial produtivo dos campos nativos em termos de composição florística, produtividade e estacionalidade da produção de forragem, serviços ecossistêmicos por ele prestados, o quanto se está se produzindo e o que se pode produzir com manejo adequado, qual o valor dessa produção e seus custos, e qual a composição da carne produzida em termos nutracêuticos.

Tudo isso com a finalidade de oferecer uma gama de informações que permitam ao produtor tomar decisões melhores e embasadas sobre o seu sistema de produção.

Também procuramos conhecer melhor a realidade da pecuária de corte do Rio Grande do Sul – através da coordenação do Diagnóstico da Pecuária de Corte do estado -, trabalho que culminou no lançamento do programa Redes de Referência em Pecuária de Corte no Rio Grande do Sul. Ambos os programas como demanda do Programa Juntos para Competir – uma iniciativa Sebrae, Senar e Farsul.

Dessa forma foi possível, após o diagnóstico que apontou e descreveu quem era o produtor, quais os seus perfis, dificuldades, anseios e necessidades, intervir junto a ele no programa Redes, de acordo com suas reais necessidades e possibilidades. Ou seja, o diagnóstico nos permitiu conhecer melhor o produtor e entender melhor o seu processo individual de tomada de decisão e, a partir dessa premissa, considerar que toda e qualquer alteração no seu sistema de produção só pode ocorrer se este produtor estiver plenamente consciente da necessidade de realizar essa alteração.

Enfim, nenhum programa de incremento ou melhoria dos sistemas produtivos ocorrerá de forma definitiva se o produtor não apropriar ele mesmo, por seu interesse, qualquer inovação tecnológica. Outro resultado importante do diagnóstico foi trazer para as instituições de pesquisa, quais eram as reais necessidades de investigação de modo hierarquizado e, portanto, permitindo estabelecer as reais prioridades de pesquisa. Também deveria ter sido utilizado para balizar políticas para o setor, o que, infelizmente não aconteceu até hoje.

Creio que talvez o mérito esteja no conjunto dos trabalhos tanto de pesquisa como de extensão, mas é absolutamente necessário lembrar que nada disso foi feito a sós. Sempre contei com mestres magníficos, desde o curso de Técnico Agrícola, passando pela Agronomia e pela pós-graduação. Mas, as realizações posteriores só foram possíveis com a colaboração de colegas do Departamento de Plantas Forrageiras e Agrometeorologia, onde trabalho, mas também de muitos outros departamentos da UFRGS, assim como alunos e ex-alunos e, principalmente os produtores, com quem muito aprendi e continuo a aprender.

BeefPoint: A pesquisa está cada vez mais distante da prática vivenciada no campo, em sua opinião o que pode ser feito para diminuir esse problema em nosso país?

Carlos Nabinger: Inverter a tradicional lógica “da pesquisa para a extensão para o produtor”. É do produtor que deve vir a demanda e não a pesquisa e/ou a extensão quem determina o que ele precisa. Mas, o produtor também precisa aprender ou ser estimulado a formular suas demandas. E, para isso também necessita ter informação sobre o que existe de conhecimento aplicável ao seu negócio, mas de uma forma simples e direta.

BeefPoint: Qual a missão, visão e valores que você considera ético e promissor no desenvolvimento de novas pesquisas?

Carlos Nabinger: No caso da pesquisa para o setor primário, novamente volto a insistir que embora o que se convencionou chamar de pesquisa básica (que eu chamaria de fazer ciência) deva continuar de forma relativamente independente dos anseios do produtor e, inclusive avançando suas necessidades, a ética manda que o desenvolvimento de novas tecnologias seja com base naquela ciência básica, em consonância com as reais necessidades do homem (e não apenas o do campo, mas da cidade também), econômicas e ambientais.

E é no ambiental que reside minha maior preocupação no momento, pois vejo pouco comprometimento ético e moral com as questões ambientais, sufocadas que são pela questão econômica apenas.

BeefPoint: O que você fez para difundir suas pesquisas frente aos pecuaristas? O que ainda pode ser feito?

Carlos Nabinger: Enquanto professor considero que o que faço como formador de técnicos para atuar no setor (agrônomos, veterinários e zootecnistas) é uma forma fundamental para difundir nossas pesquisas. Mas creio que mais deva ser feito, por exemplo, no sentido de oferecer aos egressos formados ou não por nós, atualização constante através da oferta de cursos no interior do estado.

Acho que ainda necessitamos praticar mais essa forma de inserção na comunidade, pois nos permite também uma melhor percepção da(s) realidade(s) para a(s) qual(is) nossos trabalhos de pesquisa devem ser direcionados. Sempre proferi muitas palestras para produtores e técnicos, mas estas são mais motivadoras que formadoras e o que necessitamos é mais formação.

BeefPoint: O que vem te trazendo mais resultados? 

Carlos Nabinger: É muito difícil alinhar qual ou quais pesquisas trazem mais resultados. O que o grupo de pesquisa em que trabalho mais tem demonstrado resultados é o que chamamos de utilização de tecnologias de processos (e não somente de insumos), representados pelos extraordinários ganhos de eficiência quando se controla adequadamente a carga animal, quando se usa o diferimento de pastos, quando se usa corretamente a estação de monta, quando se destina melhores ofertas de pasto de qualidade às categorias animais realmente mais exigentes e apenas em certas épocas, etc.

Ou seja, antes de utilizar tecnologias de insumos (adubos, irrigação, suplementação alimentar, etc) primeiro temos que dominar o controle da carga animal ou seja a oferta de forragem. Aí sim podemos realmente avaliar o resultado da aplicação de tecnologias de insumos.

BeefPoint: Todos sabem que temos que aprender mais com nossos erros. O que fez que deu errado? Você poderia nos contar?

Carlos Nabinger: Descobrir tardiamente o quanto temos a aprender com o produtor rural.

BeefPoint: O que você considera mais importante na pecuária?

Carlos Nabinger: Nos dias de hoje é a possibilidade de que quando bem praticada seja uma atividade mitigadora dos impactos ambientais que outras atividades agrícolas (ex. extensas áreas de monocultivo).

Além do mais, em nosso caso – Sul do Brasil-, é uma atividade determinante de nossa cultura e de nossa paisagem. Mas isso não deve significar atraso econômico como muitos insistem em atribuir à atividade.

BeefPoint: Qual o maior desafio da pecuária do Sul do Brasil hoje?

Carlos Nabinger: O maior desafio atual é manter essa atividade economicamente atrativa. E isso passa não apenas pelo mercado formal dos produtos da pecuária (carne, leite, lã), mas pelo reconhecimento por parte da sociedade em geral (principalmente a urbana) do valor dos serviços ambientais que a pecuária bem conduzida pode prestar. E esse serviço também deveria ser de alguma forma remunerado.

BeefPoint: Qual a inovação / novidade na pecuária de corte você mais gostou dos últimos anos? O que precisamos inovar?

Carlos Nabinger:  Não precisamos de inovação tanto quanto necessitamos de consolidação daquelas práticas já disponíveis há muito tempo e que continuam sem ser implantadas. Continuamos pedindo novidades quando nem sabemos usar o que temos em casa.

BeefPoint: O que você pretende fazer de diferente em 2014 e por quê?

Carlos Nabinger: Não pretendo fazer nada de diferente neste ano em particular.

BeefPoint: Qual exemplo de professor / pesquisador no Sul do Brasil hoje? Quem você admira por fazer um excelente trabalho?

Carlos Nabinger: São muitos e acho que citar apenas um seria um demérito aos demais.

BeefPoint: Em sua opinião, o que deve ser feito para aumentar o envolvimento dos jovens na agropecuária?

Carlos Nabinger: Mais divulgação do que é o mundo rural. Mais participação das escolas fundamentais no rural. Melhor formação pelas escolas nas áreas de biologia e ambiente.

BeefPoint: Qual o seu recado para os pecuaristas?

Carlos Nabinger: Você que produz a pasto, é importante para o planeta não apenas porque produz carne, leite, couro ou lã, oferecendo segurança alimentar, mas porque você pode ser um prestador de serviços ambientais extremamente importantes como o sequestro de carbono atmosférico, a manutenção da qualidade das águas, a manutenção da biodiversidade, da paisagem e da cultura. Mas para isso é preciso que a parte de manejar bem os pastos e o seu rebanho, esteja preparado para “cobrar” de seus representantes políticos a defesa dos valores que acabamos de enumerar.

1 Comment

  1. Sérgio Murillo Freire Barbieri disse:

    Grande Mestre, é um dos maiores especialistas do nosso campo nativo, aqui do sul, e com certeza já formou produtores, técnicos e muitos alunos, como ele mesmo fala, não precisamos muita inovação, apenas fazer aquelas que já estão disponiveis, uma delas, diferimento do campo nativo, grande abraço!!

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