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Seleção funcional

Por Nelson Pineda1

Este adjetivo da seleção tem sido utilizado com muita ênfase em pista de julgamento e mal utilizado como recurso de venda em leilões, em animais que seguramente não tem esta característica pelo sistema de produção e manejo ao que foram submetidos.

Entender o sentido desta característica implica diferenciar de forma clara o objetivo e a função de um indivíduo melhorador. O objetivo de um indivíduo geneticamente superior é promover o melhoramento genético dentro do rebanho e sua função é maximizar a difusão destes genes economicamente interessantes através da otimização da reprodução. Se a função não é alcançada o objetivo da seleção nunca poderá ser atingido.

A eficiência do sistema produtivo de exploração de gado no Brasil é grandemente influenciada pela variação da fertilidade dos rebanhos. O termo eficiência reprodutiva tem um significado muito amplo, envolvendo nas fêmeas o evento da parição e outros a ela estreitamente relacionados como a puberdade, a regularidade de cios, a ovulação a gestação e a facilidade do parto em ambientes sem artificialismo, mas com condições de nutrição e manejo mínimos para manifestar seu potencial.

Nos machos a capacidade de produção de espermatozóides viáveis na idade mais precoce e a habilidade de exercer a monta com eficiência. Está também intimamente ligada ao conceito percentual de uma cria por ano, quando se fala de indivíduos ou % de prenhez do rebanho, nascimentos efetivos ou a quantidade de bezerros desmamados a cada cem vacas dentro de um rebanho.

A eficiência reprodutiva pode ser identificada ou expressa através de vários índices, que estão altamente correlacionados entre si. A identificação da fêmea com estas características e seu acasalamento com reprodutores com os mesmos critérios de seleção é o fundamento da seleção funcional.

Fatores que influenciam a eficiência reprodutiva da fêmea

a) Meio ambiente – condições nutricionais

A performance reprodutiva é altamente influenciada pelos fatores ambientais e a nutrição é um fator limitante. Um sistema nutricional com previsões para o ano todo é fator essencial na eficiência da seleção funcional.

b) Mão-de-obra – Sistema de manejo – condições sanitárias

O controle sanitário rígido e constante, aliado a um manejo intenso também é fator determinante da eficiência funcional, e finalmente pessoal de campo bem treinado e o uso de rufiões com boçais marcadores são indispensáveis para o sucesso da estação de monta.

c) Fatores genéticos

– Puberdade

A idade da puberdade em fêmeas é avaliada pelo primeiro cio fértil, determinando a longevidade reprodutiva da fêmea e o número potencial de crias a serem produzidas durante a vida útil da vaca. A seleção por peso quando bem conduzida de ponto de vista de manejo funcional, concentra no rebanho genes capazes de acelerar o início da fase reprodutiva.

A velocidade de ganho de peso tem acelerar concomitantemente o processo da puberdade, que aliado a um bom manejo leva a fêmeas mais produtivas.

– Idade do primeiro parto

A consequência óbvia da puberdade é a idade do primeiro parto. O aspecto nutricional é determinante: as novilhas que recebem níveis nutricionais adequados e entre aquelas com o maior potencial genético de ganho de peso pós-desmama, deveremos identificar aquelas fêmeas de maior precocidade sexual e que em conseqüência terão uma idade mais baixa do primeiro parto.

A idade do primeiro parto é a característica reprodutiva mensurável de maior herdabilidade e assim aquela que mais responderá à seleção genética. Porém a liberação da novilha para cobertura é função do nível nutricional da propriedade.

Em condições precárias de alimentação não é possível uma pressão de seleção sobre este parâmetro, nem sobre a condição corporal da vaca de primeira cria para a segunda estação de monta, mas igualmente os exageros na nutrição ocasiona sérios prejuízos na manifestações do potencial reprodutivo dos animais.

Fatores que influenciam a eficiência reprodutiva do macho

– Puberdade e comportamento sexual de machos

A seleção funcional do macho também é a resultante dos mesmos fatores: nutrição, manejo adequado e seleção para ganho de peso, pensando sobre tudo na variável tempo de engorda e antecipação do também do processo reprodutivo, que implica a antecipação da puberdade e sua habilidade de mostrá-la.

Esta procura pela puberdade mais precoce em machos e as provas que avaliam o desempenho sexual têm sido ignoradas de uma maneira geral pelos criadores. Possivelmente isso se deve à dificuldade de avaliar corretamente o momento da ocorrência da puberdade e implantar de forma sistemática o exame andrológico seguido de provas de libido.

Resultados recentes demonstram que os touros de maior precocidade e de maior libido apresentam melhores taxas de prenhez quando utilizados com alto número de vacas em estação de monta curta.

– Libido

A libido pode ser definida como a espontaneidade e avidez para montar e sua habilidade de completar o serviço numa fêmea. Avalia-se a libido através da pré-disposição do indivíduo para o ato sexual em uma escala de 0 a 10. A libido está influenciada pela herança e responde a seleção.

– Circunferência escrotal dos machos

Possivelmente seja esta a característica mais importante na seleção de touros por fertilidade, precocidade e ganho de peso em virtude da facilidade de avaliação. A circunferência escrotal está associada positivamente às características ponderais, puberdade e recentemente foi reportada uma correlação genética positiva com a libido.

Foi também relacionado em gado nelore a correlação genética positiva desta característica com a idade do primeiro parto das filhas. Existe suporte na literatura para afirmar que ao maior desenvolvimento testicular inicial, corresponde um maior desenvolvimento ovariano inicial das irmãs e que a seleção por puberdade mais precoce em machos, através do aumento de circunferência testicular, deve conduzir a uma redução na idade da puberdade das fêmeas.

Utilizar parâmetros de desempenho reprodutivo nos programas de melhoramento tem como conseqüência à seleção de indivíduos superiores com a capacidade de deixar o maior número possível de filhos.

A seleção funcional tem como principio básico otimizar a função reprodutiva dentro do rebanho, variável esta de maior impacto econômico dentro da propriedade.

Desta forma podemos afirmar, que o principal objetivo de um touro melhorador é promover o progresso genético do rebanho e sua principal função é identificar o maior número de matrizes geneticamente superiores e receptivas sexualmente, servindo-as com eficiência.

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1 Nelson Pineda, diretor técnico cientifico da ABCZ

0 Comments

  1. Humberto de Freitas Tavares disse:

    Por uma questão de nomenclatura, penso que o termo seleção funcional e o correlato “descartes por inadequação funcional” devam ser aplicados para características ligadas à capacidade do animal alimentar-se adequadamente, manter-se em bom estado corporal, locomover-se, realizar a contento e tempestivamente a cópula, parir.

    No macho, tais características incluiriam tamanho e forma dos testículos, aprumos, andamento, dorso-lombo, bainha/prepúcio, direcionamento da verga, cascos, boca, temperamento, libido, vida útil.

    Na fêmea, aprumos, andamento, dorso-lombo, cascos, boca, temperamento, angulação de garupa, vida útil, área pélvica.

    Creio que itens como puberdade, idade ao primeiro parto, intervalo entre partos, habilidade maternal, tamanho ao nascer, stayability e probabilidade de prenhez a uma certa idade ficariam melhor enquadrados numa rubrica “seleção para eficiência reprodutiva”.

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