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Seleção de vacas e novilhas para sincronização de estro

Introdução

Algumas variáveis afetam a eficiência da sincronização de estro pela indução artificial da luteólise. Relacionadas ao manejo da propriedade são citadas variações em decorrência do aspecto nutricional, fatores climáticos e principalmente eficiência do método de observação de estro. Com relação à fisiologia reprodutiva da fêmea bovina, além da necessidade do animal estar apresentando atividade ovariana luteal cíclica (AOLC), o período do ciclo estral no qual o mesmo se encontra no momento da aplicação é de grande importância.

Os luteolíticos são substâncias que promovem uma luteólise prematura, ou seja, uma regressão artificial e precoce do corpo lúteo. Sua eficiência depende da presença e estádio de desenvolvimento do corpo lúteo. O período do ciclo estral no qual o animal se encontra no momento da aplicação do luteolítico pode afetar a eficiência do tratamento. O número de receptores para prostaglandina presentes nos ovários das fêmeas bovinas pode variar de acordo com o dia do ciclo estral, sendo pequeno entre os dias 0 e 5 do ciclo, quando a resposta aos luteolíticos é nula, e aumentando progressivamente entre os dias 6 e 10, com um aumento paralelo nos resultados de sincronização. Do 12o dia do ciclo até o período da luteólise fisiológica, que ocorre entre o 16o e o 18o dias, a resposta aos análogos sintéticos da prostaglandina é máxima, em conseqüência do maior número de receptores para PGF2alpha no corpo lúteo.

Os produtos luteolíticos provocam a regressão morfológica e funcional do corpo lúteo, com conseqüente redução da concentração plasmática de progesterona, o que remove o feed-back negativo que este esteróide exerce sobre a liberação de GnRH e gonadotrofinas pelo hipotálamo e hipófise, respectivamente, possibilitando que ocorram as etapas finais do crescimento e maturação folicular, estro e ovulação. Entretanto, o tempo decorrido até esta nova ovulação dependerá do estágio do desenvolvimento do folículo dominante funcional, que varia ao longo do ciclo.

Os objetivos deste trabalho foram comparar, quanto à eficiência, dois métodos de seleção de animais para sincronização de estro pela aplicação de luteolíticos, além de mensurar outras variáveis relacionadas a este processo de sincronização de estro.

O experimento foi conduzido nas dependências da Agropecuária Santana da Bela Vista, na Fazenda Santa Rosa, localizada no município de Elói Mendes, Sul do Estado de Minas Gerais, no período de novembro de 1999 a março de 2000. Foram feitas 250 aplicações via intramuscular de 150g de D-Cloprostenol sódico (Preloban-Intervet), visando a sincronização de estro em novilhas mestiças Holandês X Zebu, utilizadas como receptoras num programa de transferência de embriões.

Somente foram selecionados animais que apresentavam escore de condição corporal (ECC) igual ou superior a 3 (numa escala de 1 a 5). Estes animais foram manejados a pasto, com fornecimento de mistura mineral “ad libitum“, sem suplementação volumosa ou concentrada.

Os animais foram selecionados para a sincronização de duas formas.

No grupo 1, (n = 232) os animais foram observados previamente em estro e se encontravam no momento da aplicação entre os dias 7 e 16 do ciclo estral. No grupo 2 (n =218) não se considerou o histórico de estros anteriores, e os animais foram avaliados por palpação via retal e selecionados em função da presença de um corpo lúteo morfologicamente característico em um dos ovários. Os animais receberam a mesma dose de luteolítico no dia que foi realizada a seleção via palpação retal.

Após a aplicação do produto os animais foram mantidos em piquetes, na presença de rufiões preparados pela técnica de aderência de pênis. Foram feitas no mínimo três observações visuais diárias de estro, com duração de 30 minutos cada. Considerou-se o reflexo de imobilidade como indicativo do estro. Somente foram considerados os animais que manifestaram estro até 96 horas após a aplicação do luteolítico, para ambos os grupos.

Foram avaliados e comparados a eficiência da sincronização (caracterizada pelo percentual de animais em estro até 96 horas em relação o total de animais tratados) e o tempo decorrido da aplicação ao início dos sinais de estro em cada um dos grupos.

A eficiência média de sincronização, considerando ambos os grupos, pode ser considerada satisfatória. Os valores obtidos estão dentro da faixa de variação descrita por vários autores que utilizaram sistemas de sincronização semelhantes. Os resultados estão na tabela 1.

Tabela 1: Eficiência média de sincronização de estro e tempo médio entre aplicação e início do estro em animais selecionados pelo dia do ciclo estral ou por palpação retal.

Diferenças nos resultados da sincronização de estro podem decorrer de diversas variáveis, como eficiência do método de detecção de estro, fatores ambientais e fisiológicos.

Os resultados expressos na Tabela 1 mostram que a seleção pelo dia do ciclo estral (Grupo 1) foi mais eficiente (P<0,01 - X2) que aquela realizada por palpação retal e identificação de um corpo lúteo (Grupo 2) para o manejo de animais em sincronização de estro. Este resultado corrobora os achados anteriores que citam que os animais no período do ciclo estral correspondente ao do Grupo 1 exibem maior sensibilidade aos análogos sintéticos da prostaglandina. No Grupo 2 provavelmente existiam animais que embora com corpo lúteo presente, este se encontrava numa fase pouco sensível, ou mesmo sem nenhuma sensibilidade ao agente luteolítico.

A triagem dos animais pela palpação via retal pode não ser eficiente para estimar a fase do ciclo estral e portanto a sensibilidade do corpo lúteo à PGF2alpha. Trabalhos feitos em outros países mostram que existe uma considerável margem de erro na avaliação do “status” luteal pela técnica de palpação retal. Embora a detecção da presença do corpo lúteo seja relativamente eficiente, a correlação é pequena entre os achados da palpação retal e a concentração plasmática de progesterona, melhor indicativo da atividade luteal. Num trabalho realizado no Brasil, comparando a eficiência das técnicas de avaliação ultra-sonográfica e palpação retal para avaliação de ovários em receptoras de embrião, demonstrou-se que em alguns casos a palpação retal falha em detectar a presença do corpo lúteo e principalmente apresenta erros na classificação desta estrutura.

O tempo decorrido da aplicação do produto luteolítico ao início do estro depende além da redução dos níveis plasmáticos de progesterona, da dinâmica folicular no momento da luteólise. Existe uma considerável variação do intervalo do tratamento ao estro e ovulação, o que é atribuído ao estádio de desenvolvimento da onda folicular e principalmente do folículo dominante no momento do tratamento. Como em ambos os grupos havia animais em diferentes períodos do ciclo estral, não foram observadas diferenças no intervalo médio da indução da luteólise até a manifestação de estro, embora dentro de cada grupo esta variável apresentasse considerável variação.

Conclusões

A seleção de receptoras de embrião pelo dia do ciclo estral é mais eficiente que pela palpação retal e detecção do corpo lúteo. Neste caso, a observação prévia do estro dos animais pode ser economicamente viável, num programa de sincronização.

A técnica de palpação via retal pode ser eficiente em detectar a presença de um corpo lúteo, mas não consegue indicar o período do ciclo estral no qual o animal se encontra.

O método de seleção não afeta o intervalo decorrido da aplicação do produto ao início das manifestações de estro.

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