Projeto Raças é uma série de artigos do BeefPoint, cada um dedicado a uma raça, que visa reunir opiniões e conhecimento de profissionais que trabalham diretamente com cada uma dessas raças. Elaboramos uma série de entrevistas com esses especialistas. O resultado dessas entrevistas para a raça Santa Gertrudis está compilado aqui, com a opinião desses especialistas sobre a raça.
Essa série de artigos não representa um endosso especial do BeefPoint em nenhuma das raças que vamos apresentar nesse projeto, mas a opinião e comentários de quem trabalha com cada uma dessas raças. Estamos em contato com as principais raças de corte do Brasil e iremos publicar aqui uma por uma, nas próximas semanas.
Conheça mais a raça Santa Gertrudis
Histórico da raça
A raça Santa Gertrudis surgiu a partir de um desafio: produzir um gado de corte rústico, perfeitamente adaptado às duras condições climáticas do sul dos Estados Unidos. Assim, os proprietários das Fazendas King Ranch iniciaram, em 1910, os primeiros cruzamentos entre seus melhores rebanhos de origem zebuína e europeia.
Somente dez anos mais tarde este trabalho culminaria no seu mais significativo resultado: o Monkey, o primeiro gigante vermelho, 3/8 Brahman e 5/8 Shorthorn, às margens do rio Santa Gertrudis, no Texas.
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Oficialmente reconhecida em 1940 como a primeira raça sintética formada no Hemisfério Ocidental, manteve-se em franca expansão, marcando presença atualmente em 53 países.
No Brasil desde 1953, foi introduzida pelo mesmo King Ranch, com 34 machos e 225 fêmeas. Hoje a raça Santa Gertrudis soma uma extensa quantidade de exemplares.
Associação Brasileira de Santa Gertrudis – ABSG
Fundada em 1961, com sede em São Paulo (SP), a entidade empenha-se em promover a raça no Brasil, orientar seus criadores e, acima de tudo, propiciar o mais perfeito controle dos rebanhos, a partir de critérios e técnicas adotados internacionalmente. No ano de 2013 a ABSG retomou o desenvolvimento do Programa de Melhoramento Genético em parceria com a Embrapa.
“Nos últimos anos nós (técnicos), a diretoria da ABSG e um grupo de criadores tivemos uma dedicação especial na inovação do Santa Gertrudis atendendo os padrões de precocidade e rusticidade que o rebanho brasileiro necessita, nos últimos anos importamos sêmen dos Estados Unidos, Austrália e embriões da África do Sul, estamos em contato constante com nossos vizinhos Argentinos e Paraguaios com encontros periódicos discutindo melhorias para a raça. Vale lembrar que dentro da formação do Santa Gertrudis 3/8 Brahman e 5/8 de Shorthorn a melhoria acontece dentro da própria raça e com genética importada, não é possível cruzar o Brahman com Shorthorn e fazer um Santa Gertrudis, apenas com cruzamento absorvente, com isso ganhamos muito na padronização dos animais, claro que temos um cuidado especial com a consanguinidade” – salieta Anderson Fernandes, superintendente técnico adjunto da ABSG.
A ABSG dispõe de um Serviço de Registro Geneaológico (SRG), com todos os dados dos animais regularizados desde o seu nascimento.
A partir dos 18 meses de idade, os animais são submetidos à inspeção dos técnicos da ABSG. Conforme o grau de sangue apresentado, os animais são marcados com fogo, recebendo a marca do lado esquerdo da paleta, de puros e mestiços.
Entre as inúmeras atividades da ABSG, destacam-se:
Hoje o principal desafio da associação é aumentar a oferta de touros comerciais, visto que há grande procura, para um maior desenvolvimento do cruzamento industrial.
Os principais planos para 2013-2014 são:
Anderson Fernandes reforça: “Precisamos melhorar o nosso markenting da raça, pois temos uma excelente raça, porém não conseguimos atingir uma visibilidade grande. Isto não acontece por ineficiência da associação, mas sim por falta de recursos. Participamos em diversas exposições, publicamos em diversos meios de comunicação, mas ainda é pouco, com isso nossos criadores fazem um belo trabalho cada um em sua região disseminando e difundindo a raça que já está no país há cerca de 60 anos, sem modismo e com muito pé no chão.”
E para o produtor, quais são as vantagens em se associar a ABSG?
Dentre as inúmeras atividades supracitadas, a ABSG julga estas, como os benefícios que o produtor tem ao se associar, visto que todo o trabalho de divulgação, orientação e intercâmbio entre produtores, genética e outros é feito com base nesta ponte que a ABSG realiza.
Estágio atual da raça
Número total do rebanho puro
Número de animais registrados em 2012
Número de animais registrados em 2013 até o momento
Número de criadores associados
Características zootécnicas da raça
Segundo o superintendente técnico da associação, Dr. José Arnaldo Amstalden, sua pelagem é vermelha e os pêlos são curtos e lisos. Os chifres são de tamanho médio, havendo a variedade mocho natural. O temperamento é dócil mesmo nos touros. Graças à prática de cruzamentos absorventes utilizando touros puros e devidamente registrados, é possível aos criadores formarem rebanhos Santa Gertrudis .
Sem maiores problemas, pode um pecuarista proceder à substituição de uma vacada comercial de baixa produtividade, por animais mestiços ou cruzados, onde se melhora o rebanho de geração em geração até alcançar o puro por cruza. Como toda raça bovina, o Santa Gertrudis dispõe de um padrão estabelecido pela ABSG e oficializado pelo MAPA.
Performance
O Santa Gertrudis é extremamente fértil. Novilhas bem criadas podem ser cobertas ou inseminadas dos 14 aos 18 meses de idade, dando sua primeira cria até mesmo antes de completar dois anos de vida. Com manejo adequado dos rebanhos, há plantéis puros em que o índice de parições se mantém próximo aos 90%.
As fêmeas parem com facilidade e protegem suas crias zelosamente. Destacam-se por sua longa vida produtiva, chegando a produzir mais de dez crias durante a sua vida útil. Os bezerros Santa Gerturdis nascem com um peso médio de 37 kg e são desmamados aos sete meses, com 240 kg, o que comprova a excelente capacidade leiteira da raça.
Precoces e com ganho de peso médio acima de 1 kg por dia, demonstram capacidade de engorda e conversão alimentar, tornando-se prontos para o abate por volta dos dois anos de idade, com cerca de 16 arrobas, em regime de pasto. Quando confinados, atingem 480 kg aos 18 meses de vida.
Adaptação
Por ser uma raça sintética, os Santa Gertrudis são rústicos e versáteis. Os bezerros são fortes, ativos e rapidamente já estão mamando. São animais mais resistentes ao ataque de insetos e parasitas e apresentam perfeita adaptação a qualquer clima, em especial às condições brasileiras. Assim, suporta muito bem o frio e as geadas do Sul, o calor e a seca do Nordeste e a umidade do Brasil Central.
Qualidade e lucro nas carcaças do Santa Gertrudis
O Santa Gertrudis é um animal de tamanho mediano e a redução no tamanho dos animais já é um reflexo da percepção dos criadores nacionais quanto à precocidade.
Touros que cobrem a campo
Outra qualidade apresentada pela raça, diz respeito ao ótimo desempenho dos touros no trabalho à campo. Os touros acompanham bem as vacas, caminham por longas distâncias mesmo em climas onde há temperatura elevada. Os reprodutores têm uma vida reprodutiva longa. Chegando aos 12 anos de idade apresentando uma ótima libido. Quanto submetidos ao exame andrológico, apresentam excelente qualidade do sêmen por permanecerem com a bolsa escrotal bem posicionada. Comumente são colocadas 40 vacas por touro em estação de monta a partir dos 20 meses de idade.
Quais os principais cruzamentos que podem ser realizados com base nesta raça?
Segundo José Arnaldo Amstalden, o Santa Gertrudis em cruzamento industrial sobre matrizes zebuínas apresenta inúmeras vantagens com os produtos 1/2 sangue: machos pesados na desmama e fêmeas de excelente habilidade materna, podendo ser utilizadas como receptoras de transferência de embrião. Outra opção é utilizar touros Santa Gertrudis sobre fêmeas cruzadas de qualquer origem, pois o que servia apenas para o abate, agora pode ser utilizado como matriz, desmamando bezerros próximos a nove arrobas e peso superior a 17 arrobas aos dois anos de idade em regime extensivo de pasto.
O cruzamento absorvente com o Santa Gertrudis é possível, pois é uma raça sintética, que fixa suas características, chegando ao 7/8 ou 15/16 na fazenda com o rebanho super adaptado, o que não é possível no gado europeu devido a sua pouca adaptação ao clima tropical.
Outra vantagem do Santa Gertrudis é uma das heranças do Shorthorn, que apresenta ótima cobertura de gordura, ao passo que as raças continentais e as zebuínas são mais tardias. Estas características são muito exigidas pelas redes de supermercados e casas de carnes nobres.
Assim sendo, o cruzamento pode ser desenvolvido com a utilização de touros à campo e inseminação artificial.
Outro ponto forte na utilização de touros está no tricross, fazendas que tem F1 Zebu x Europeu, com a utilização do Santa Gertrudis sobre estas fêmeas consegue um alto índice de heterose na segunda geração, produzindo animais com excelentes características produtivas.
Índice Asbia 2012 – Evolução raça Santa Gertrudis – 3 anos
Fonte: Asbia.
Veja abaixo os recados dos profissionais entrevistados
ABSG: “Aos criadores que querem começar a criação recomendamos que nos procurem para indicarmos criatórios para visitação, assim é possível ver os excelentes resultados obtidos com a raça e a satisfação dos mesmos. Oferecemos total orientação técnica para o melhor desenvolvimento possível das propriedades criadoras”.
José Arnaldo Amstalden: “A raça Santa Gertrudis é uma raça cosmopolita, tem excelente qualidade de carcaça, ótimo ganho de peso, terminação rápida, ótima eficiência dos touros à campo”.
Anderson Fernandes: “Animais apresentam produção de carne de alta qualidade, precoces, rústicos, adaptados ao Brasil , além de que os touros apresentam ótimo desempenho de cobertura a campo, são bastante funcionais e já estão aptos a reprodução em torno dos 20 meses de idade, além de desempenhar ótimo trabalho em cruzamento com outras raças”.
Veja abaixo algumas fotos de animais da raça Santa Gertrudis
Agradecimentos
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Artigo elaborado por Gustavo Freitas, membro da Equipe Conteúdo BeefPoint, com base nas entrevistas feitas com os profissionais acima listados, que trabalham com a raça Santa Gertrudis. Essa série de artigos não representa um endosso especial do BeefPoint em nenhuma das raças que vamos apresentar nesse projeto, mas a opinião e comentários de quem trabalha com cada uma dessas raças.