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Saída do Reino Unido da UE impactará setor agrícola e de carnes; veja as principais previsões do setor

Diferentemente das recentes crises nos mercados globais, o Brasil deve sofrer um impacto mais limitado decorrente da vitória dos votos pela saída do Reino Unido da União Europeia no referendo da semana passada – evento conhecido como “Brexit”.

A avaliação de analistas é que o país está hoje menos vulnerável a choques externos quando comparado com os pares emergentes. Nesse cenário, analistas de mercados emergentes veem o real no meio do caminho entre as divisas mais vulneráveis ao “Brexit”.

A reação dos mercados locais na sexta, após o referendo no Reino Unido, refletiu essa perspectiva. O contrato DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2021 subiu de 12,41% para 12,44% na BM&F. Já o dólar subiu 1,04%, para R$ 3,3782. Mas a queda do real foi bem menor que a de outros emergentes na sexta, como o peso mexicano (-3,47%) e o rand sul-africano (-5,05%).

No caso do real, alta taxa de juros no Brasil pode limitar o impacto para a moeda, especialmente diante da expectativa de que bancos centrais globais podem voltar a afrouxar suas políticas monetárias para fazer frente à desaceleração da atividade econômica.

O referendo no Reino Unido pode levar o banco central americano a postergar a alta de juros nos EUA, o que poderia ser positivo para emergentes como o Brasil. Mas isso vai depender do crescimento da economia global e também da redução das incertezas no mercado local, como a conclusão do impeachment de Dilma Rousseff, esperado para agosto.

Setor agrícola 

Com relação ao setor agrícola, os britânicos deverão perder subsídios agrícolas oferecidos pela Política Agrícola Comum (PAC), enquanto a compensação do governo britânico aos produtores locais deverá ser menor.

Um estudo realizado pela União Nacional dos Fazendeiros do Reino Unido, em parceria com a Universidade Wageningen, indica que o Reino Unido contribuiu com 4,1 bilhões de euros ao PAC em 2015. O Reino Unido também contribuiu com reformas para redução de subsídios que provocavam excesso de produção. Uma eventual retomada de políticas protecionistas poderia causar um excesso de oferta, pesando sobre as cotações e reduzindo a renda dos produtores.

Já a consultoria BMI Research aponta que a saída britânica do bloco deverá ter um impacto “substancial” nas exportações agrícolas do Reino Unido. “Em relação ao comércio bilateral, a União Europeia é a principal parceira do setor agrícola britânico, e o Reino Unido deverá perder o livre acesso ao mercado único quando a saída for consumada oficialmente”. As importações também deverão subir, provocando um maior pressão inflacionária.

A BMI ainda afirma que os preços de terras agrícolas deverão ter impacto negativo pela decisão de saída, com queda nos investimentos. O custo de contratação de trabalhadores rurais, a maioria do leste europeu, também deverá subir com novas políticas migratórias, indica a BMI.

O Euromonitor International afirma que o resultado do referendo da UE levará ao enfraquecimento da moeda, à perda potencial de acesso ao mercado comum e comércio livre de tarifas, que, por sua vez, levará ao aumento nos preços dos alimentos.

As refeições prontas – das quais, 79,2% são à base de carnes no Reino Unido, de acordo com o Kantar – estão entre o grupo de alimentos processados que poderão ser afetados. Analistas esperam que a carne processada e os frutos do mar apresentem mais crescimento do que os itens cozidos, sorvetes, refeições prontas e itens de confeitaria.

O diretor de exportações da Comissão de Desenvolvimento Agrícola (AHDB) do Reino Unido, Peter Hardwick, concordou e disse que as exportações de carne em curto prazo deverão ser mais competitivas, graças à desvalorização da libra. Há um pouco de boas notícias para a indústria de carnes do Reino Unido – a moeda fraca poderia levar a um boom nas exportações, similar ao crescimento visto no Brasil após a desvalorização do Real.

Uma das questões que podem causar preocupação à indústria de carnes é o que acontecerá com o livre comércio agora. Atualmente, a carne e os animais podem ser comercializados livremente dentro da UE, sem tarifas de importação. Porém, com a saída do bloco, se não se chegar a um acordo, ou a uma extensão das negociações, o Reino Unido se reverterá às regras da Organização Mundial de Comércio, significando que serão colocadas tarifas para todas as exportações à UE.

A associação inglesa de comércio internacional de carnes (IMTA, na sigla em inglês) emitiu um comunicado nesta sexta-feira, 24, dizendo que o governo do Reino Unido precisa manter as transações de exportação e importação de carnes para assegurar a cadeia local.

Ainda segundo a associação, no Reino Unido, cerca de 45% das carnes consumidas são importadas”. A IMTA acrescenta que isso é crucial, para fim de manter a nação alimentada, garantir o acesso contínuo ao fornecimento para o varejo, os serviços de alimentação, a fabricação e os setores do atacado.

Pela ponta vendedora, a instituição afirma que cerca de 24% da carne britânica é exportada para mercados na UE e globalmente. “O acesso permanente a esses mercados é fundamental para garantir suporte completo ao agricultor britânico e ao setor de carnes como um todo.”

O IMTA diz ainda que é essencial que a indústria seja consultada previamente antes de quaisquer mudanças futuras que o governo britânico possa fazer em regulamentos comerciais ou decisões que tenham implicações para o setor.

Já os grupos irlandeses que tentam proteger o mercado local contra a entrada da carne brasileira podem se fortalecer com a saída do Reino Unido da União Europeia, na opinião do diretor técnico da Informa Economics FNP, José Vicente Ferraz. Ele pondera, no entanto, que é preciso esperar os próximos passos para análises mais concretas a respeito de eventual impacto para o Brasil.

Historicamente, grupos irlandeses como a Associação de Produtores Rurais da Irlanda (Irish Farmers Association – IFA) tentam impor barreiras à importação do produto brasileiro alegando questões como falta de cuidados com o bem-estar animal. Contudo, o elevado custo da mão-de-obra rural da União Europeia, inflacionado em parte pelos subsídios pagos pelo bloco ao setor, além do alto valor das terras, tornou a proteína brasileira mais competitiva e frustrou as tentativas ao longo dos anos.

Livre das regras da UE, há a possibilidade do Reino Unido assumir uma postura mais liberal, reduzindo estes subsídios, o que pode levar a um ganho de competitividade do produto local e reforçar o protecionismo dos grupos irlandeses, disse Ferraz.

A região deverá ter, a partir de agora, suas próprias regras para exportação e importação, que ele acredita não deverão se diferenciar muito das praticadas pela UE. Ferraz ressalta que a produção agropecuária do Reino Unido não é muito significativa e que os principais produtos importados pela região são frutas e carnes em geral.

JBS

A JBS Foods afirmou na sexta-feira, 24, que a decisão sobre a saída do Reino Unido da União Europeia ainda é recente e vai aguardar para avaliar seus efeitos. Na Europa, a JBS tem como subsidiárias a Moy Park, empresa líder no processamento de aves e produtos preparados no Reino Unido, e a Rigamonti. No total, são 14 unidades produtivas, localizadas no Reino Unido, França, Holanda, Irlanda e Itália totalizando mais de 12 mil colaboradores.

Mais cedo, o superintendente executivo de Agronegócios do banco Santander, Carlos Aguiar, afirmou que o impacto imediato do Brexit deve ser sentido por grandes empresas brasileiras do setor de carnes com plantas de processamento no Reino Unido, como JBS, que fornecem produtos para outros países da Europa.

“No médio prazo, essas empresas vão perder valor. A lógica, e é por isso que as bolsas estão caindo, é que todos os investimentos feitos no Reino Unido sofram desvalorização por não mais integrar o bloco”.

Fontes: Valor Econômico, Estadão e GlobalMeatNews.com, traduzida, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.

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