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Saiba as opiniões de Fernando Lopa (ABHB) sobre frigoríficos, mercado potencial de carne de qualidade e no que o governo deveria investir para melhorar mesmo a pecuária do Sul do Brasil

No dia 5 de abril, será realizado o Beef Summit Sul, em Porto Alegre – RS. O evento será organizado pelo BeefPoint, em parceria com a Associação Brasileira de Hereford e Braford (ABHB). O Beef Summit Sul vai reunir nomes de sucesso do agronegócio para discutir e debater os rumos da pecuária de corte no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. A expectativa é de um público de 400 pessoas, entre produtores e investidores, tornando o Beef Summit uma excelente oportunidade de gerar novos negócios.

No dia do evento, o BeefPoint irá homenagear as pessoas que fazem a diferença na pecuária de corte no Sul do Brasil através de um prêmio. Há vários finalistas, em 19 categorias diferentes.

Os nomes foram indicados pelo público; em uma primeira etapa, através de um formulário divulgado pelo BeefPoint. Na segunda etapa, o público irá escolher através de votação, o vencedor de cada categoria. Para conhecer melhor os indicados, o BeefPoint preparou uma entrevista com cada um deles.

Confira abaixo, a entrevista com Fernando Lopa, finalista na categoria Liderança pecuária.

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Fernando Lopa, nascido no Rio de Janeiro em 1966, mora em Alegrete – RS. É Capitão Reformado da Marinha, especializado em Sistemas de Armas Navais. Foi Comandante de Navio da Marinha em 1996. Graduado em Análises de Sistemas pela PUC – RJ em 1992, tem MBA em Agronegócios pela UFJF em 2005. Atua no Agronegócio desde 1999, através da parceria Agropecuária São Pedro em Alegrete – RS. Foi sócio – fundador, em 2000, da Web Rural Consultoria Agropecuária; desde 2005, é diretor da Associação de Arrozeiros de Alegrete. É membro do Conselho de Assessoramento Externo do Centro Embrapa Pecuária Sul. Aos 39 anos, assumiu a Presidência da Associação Brasileira de Hereford e Braford (ABHB).

BeefPoint: Qual o maior desafio da pecuária de corte do sul do Brasil hoje?

São inúmeros: gestão, modernização, aparecimento de novas lideranças, especialização da mão de obra, mecanismos de comercialização, direcionamento da produção, desenvolvimento da pesquisa, infraestrutura… mas a curto prazo, precisamos mesmo é intensificar a produção de carne a pasto. Temos que produzir mais a pasto em áreas cada vez menores. E isso não é tarefa fácil, pois temos um sistema de produção predominantemente extensivo, onde ainda, temos agricultores que tratam pecuária como colchão financeiro (estoque de animais) e pecuaristas que acham que perder animais por fome é natural, ou seja, praticam a pecuária extrativista, sem nenhum compromisso com a qualidade e/ou repudiam a inovação. Produzir mais carne a pasto exige genética, gestão, irrigação, políticas públicas, pesquisa e inovação. Produzir mais carne a pasto por hectare no sul do país é realmente um grande desafio, não só na área técnica, mas na área cultural.

BeefPoint: Qual o exemplo de pecuária do futuro no sul do Brasil hoje? Quem você admira por fazer um excelente trabalho?

Há muitos exemplos de sucesso, porém as escalas ainda são pequenas. Não posso citar as empresas que utilizam grãos ou seus subprodutos como empresas de sucesso no Sul, entendo que esse modelo está esgotado para a região. Para não me entenderem mal, estas empresas já foram exemplos ou ainda parecem ser exemplos hoje, mas deverão ter que se ajustar no futuro, pois os grãos e/ou seus subprodutos, a cada dia, serão mais utilizados para alimentação humana, de aves e suínos, ou para geração de agroenergia e tornarão seu uso para produzir carne com preço elevado. Considero que, empresas de sucesso na pecuária aqui no Sul, são aquelas que estão conseguindo viabilizar a disponibilidade de alimento no verão através do pivô ou do manejo rotacionado do campo nativo e pastagens, sempre com disponibilidade de alimentos para mantença através da fenação, colhendo pasto para uso futuro (pois aqui, ao contrário dos que muitos pensam sobre o inverno, nesta época a região é capaz de produzir pastagens que garantem ganhos bem superiores aos dos confinamentos de grãos do Brasil central, o inverno é cruel para gerência, não para engorda, assim como os verões secos). As empresas que estão se especializando em engordar animais a pasto, buscam um menor tempo para essa engorda e com isso um menor custo, então, precisam de animais mais preparados para engorda e isso só se consegue com um bom cuidado dos animais no pasto. Me sinto muito feliz por estar a frente de uma associação onde muitos dos seus associados são apontados, aqui no Sul, como exemplo de produção a pasto. Aqui no RS, na maioria dos casos que se apontam empresários rurais ou empresas como exemplo, são de sócios da ABHB ou são criadores comerciais de Hereford e/ou Braford.

BeefPoint: Como podemos vender a carne do sul do Brasil de forma diferente e especial, em outras regiões do Brasil e no exterior?

Vender diferente no Brasil, acho até engraçado essa pergunta. Hoje o Brasil é um farto mercado para carne de raças britânicas produzidas a pasto aqui no Sul, o problema é esta espécie de misticismo com que é tratado o assunto na região. O Sul parece não conhecer esse novo Brasil, um mercado com potencial de consumir nos próximos 12 meses o triplo de carne de qualidade das raças britânicas que consome atualmente. Onde achar essa carne nos supermercados de Salvador, Rio de Janeiro, Fortaleza, por exemplo? A maioria dos produtores estão preocupados em produzir essa carne de qualidade até a porteira, deixando para o frigorífico a responsabilidade por esse mercado. Os frigoríficos daqui operam com excelência internacional até o empacotamento da carne, depois o pessoal da comercialização se mostra incapaz de vender a carne de qualidade como ela deve ser vendida – no “corpo a corpo” com varejo e não através de grandes contratos de fornecimento, e para completar, as autoridades governamentais ou, não dão bola, ou parecem que estão preocupadas em reinventar a roda e insistem em não escutar o que o setor já está fazendo. Como exemplo, aqui no RS, o governo está dispendendo tempo, intelectos e dinheiro com a identificação de bovinos, ao invés de investir em projetos de pesquisa, postos de fiscalização sanitária e marketing para essa carne especial. Falo isso com total tranquilidade, são inúmeros os casos de sucesso de frigoríficos de pequeno e médio porte que descobriram como vender essa carne, mas quando se vai para a escala “a coisa pega”. Por isso que apoiamos desde o inicio o Beef Summit, temos que buscar mostrar como vender nossa carne especial, aprender com quem está fazendo e não discursando.

Com relação ao exterior o problema é muito mais complicado. Essa carne de raças britânicas é “um estilo de vida”, um “mercado gourmet” lá no exterior. Um mercado muito, muito menor do que o do Brasil atual. Competimos com grandes produtores subsidiados do distante hemisfério norte (e queremos vender para lá), sem marketing, sem estrutura representativa no exterior e sem foco de mercado, e o pior, a preços menos competitivos que os praticados no mercado internacional. Hoje qualquer venda desta carne para o mercado internacional serve, muito mais como marketing de venda de outras carnes ou de abertura de novos mercados, do que como sinônimo de lucratividade nesse mercado. Para frigoríficos brasileiros, atuar no mercado de qualidade no exterior serve como portfólio de qualidade para habilitá-lo para vender mais carne “commodity”, acontecendo o mesmo para as associações que certificam essa carne no Brasil, mas, nesse caso, o efeito é de ampliação de mercados no Brasil. Bom, sempre tem um para dizer: “Mas o Uruguai exporta!”, como resposta só posso recomendar fazer um curso de relações internacionais ou comércio exterior e estudar melhor o assunto!

BeefPoint: Qual inovação / novidade na pecuária de corte você mais gostou dos últimos anos? O que estamos precisando em inovação?

Essa pergunta é muito difícil e abrangente, mas a evolução tecnológica do sal proteinado e a massificação da IATF, eu acredito, que possibilitaram ganhos maiores em todos os sistemas de produção da pecuária de corte nos últimos anos.

Hoje o que atrapalha a inovação no setor é a falta da pesquisa isenta e a vontade de se ganhar dinheiro rápido. Há treze anos vejo verdadeiros milagres, sumirem de mercado. Por exemplo, a onda agora é a biotecnologia, empresas grandes se lançaram no mercado e agora estão percebendo que foram otimistas demais, mas nesse bojo, levaram muitos produtores e técnicos a investir tempo e dinheiro em tecnologias e vão agora ter que esperar muito tempo para terem resultados concretos e isso acaba deixando o criador mais arredio a investir em inovação. Nossa associação, nessa área, buscou elucidar o criador para que ele tomasse a decisão mais acertada sobre o assunto, trazendo pesquisadores de todas as correntes de pensamento para exporem suas ideias e com certeza evitamos ou diminuímos muitos prejuízos de nossos associados. E como diz o professor Julio Barcellos, “pior que não aplicar uma tecnologia, é aplica-la de forma errada!”

É bom deixar claro que sou fã da inovação, mas a aplicação da inovação no setor pecuário de corte não pode seguir a receita da indústria ou do setor leiteiro. A inovação é muito mais simples nesse setor, no sul do país, tão desigual em resultados e sistemas de produção, e deve ser construída no dia-a-dia. Inovação não é necessariamente estar a frente de todos, aplicando todas as tecnologias de ponta lançadas. O produtor que não controla nada e passa a controlar no caderninho as pesagens do seu gado é também inovador, o que passa a controlar seus custos e a fazer fluxo de caixa, também. O importante é que cada um busque constantemente a inovação na forma como conduzem suas atividades, que não fiquem na zona de conforto, e quem sabe, um dia, todos estarão na atividade, no topo da inovação. Produtores pequenos, médios e grandes sempre buscando a inovação da forma que eu mencionei, é o que precisamos aqui no Sul e o que buscamos na ABHB, estimulá-los a fazê-lo.

BeefPoint: O que o setor poderia / deveria fazer para aumentar sua competitividade no sul do Brasil?

Duas coisas. A primeira, de curto prazo, um maior investimento em genética. Para muitos produtores, na região Sul, ainda impera algumas atitudes que dificultam a melhoria da competitividade da região, muito disso alavancado pelas condições ambientais favorecedoras da pecuária, que estimulam a pecuária extrativa, baseada em pastagens nativas. Volta e meia ouço coisas como: “o melhor touro é o mais barato” ou “IATF!?!? … eu mesmo faço” ou ainda “genética entra pela boca”. Não estou aqui para ensinar nada, mas é a pesquisa que está contradizendo esse pensamento. Os produtores de genética Hereford e Braford estão fazendo a sua parte, a ABHB buscando e conseguindo formas de remunerar melhor os produtos oriundos dessa genética. Falta, como já disse, a vontade de muitos criadores em inovar.

A médio prazo, precisamos investir em pesquisa na pecuária de corte, mas pesquisas voltadas para as necessidades dos produtores e não nas necessidades dos pesquisadores ou dos governantes. Aqui no RS tivemos um exemplo de sucesso no Instituto Riograndense do Arroz, que entre 2000 e 2010, resolveu investir em pesquisas ouvindo o produtor de arroz.  Conseguiram elevar a produtividade média por hectare no estado em 2.000 quilos, quase 50% a mais, com alguns produtores aumentando em 150% sua produtividade no período. Temos que nos movimentar e criar uma entidade privada, voltada à pesquisa, que busque a solução para os nossos problemas. Temos tudo para fazer isso, mas é necessário que o criador esteja disposto a pagar por isso, e não é caro.

Enquanto essa entidade não é criada, a ABHB tenta direcionar um pouco das pesquisas das instituições públicas sobre forma de parcerias. Temos apoiado pesquisas em diversos temas de interesse para a pecuária de corte e para o incremento da produtividade das raças HB com a Embrapa Pecuária Sul e Gado de Corte, UFSM, UFRGS, Unipampa, pesquisas desde a avaliação de emissão de gases efeito estufa ao mapeamento da estrutura de gestão dos criadores. Agora, confesso que não é tarefa fácil, o resultado é lento, mas dá resultado, está ai o Braford brasileiro com 18 anos de avaliação de desempenho a campo e tem se mostrado imbatível em produtividade no pasto, no cocho e no gancho!

BeefPoint: O que você implementou de diferente na sua atividade em 2012?

Como dirigente, trabalhei muito na abertura do mercado internacional e brasileiro para a genética, não para a carne,  para as raças Hereford e Braford, buscando capacitar as empresas produtoras dessa genética a também fazê-lo. Alguns podem ponderar, que já exportamos genética! Concordo, mas não fazemos isso de forma sistemática com estratégia e metas. As exportações de taurinos do Brasil sempre foram realizadas em negócios esporádicos por amizade com um produtor estrangeiro ou vontade deste em fazer “algo diferente” no seu país. Estamos trabalhando, com o apoio da Apex-Brasil, para que o Brasil se torne um player mundial no mercado de genética bovina de corte e estamos, junto com o projeto da ABCZ (Brazilian Cattle, para zebuínos, também apoiado pela Apex-Brasil), conseguindo e, em 2012, estas exportações aumentaram em 200 mil dólares, um salto de 50%. Para se ter uma ideia, embriões Braford corresponderam a 44% das exportações, ainda pequenas, de embriões do Brasil.

Entendo que o Sul deva ser o celeiro dessa genética para produção de carne de qualidade e deve suprir com essa genética outras regiões ou países que querem produzir carne de qualidade ou aumentar a produção de carne nos diferentes sistemas produtivos, pois hoje esses criadores tem buscado em outros países essa genética e nem sempre com resultados satisfatórios. Não queremos vender touros para essas regiões, e sim, ser a 1ª opção dos que querem adquirir genética melhoradora para produzir touros ou novilhos para abate!

BeefPoint: O que você fez em 2012 que te trouxe mais resultados?

Fizemos muitas ações, mas o lançamento da marca de carne Seara Hereford trouxe muitos resultados positivos para nossas raças. Um passo conquistado, previsto no nosso planejamento estratégico realizado em 2009, que nos deu muita visibilidade no mercado, foi colocar as raças Hereford e Braford no mesmo status qualitativo de outros programas de carne de qualidade que estão no mercado, e diga-se de passagem, foi muito justo, pois somos detentores do programa mais antigo de produção de carne de qualidade diretamente na indústria.

BeefPoint: O que você pretende fazer de diferente em 2013? E porque?

São muitos os desafios, muita coisa boa vem aí para os utilizadores da genética Hereford e Braford (comercial ou produtores de genética), mas, de imediato, minha meta é ajudar a realizar com sucesso o Beef Summit Sul, pois o evento está buscando discutir o setor de uma forma diferente, inteligente, e isto muito contribuirá para a pecuária de corte no sul do país.

BeefPoint: Qual sua mensagem para os pecuaristas?

Criem ou cruzem com animais das raças Hereford e/ou Braford, pois vocês verão os resultados no bolso! Procurem a nossa associação para obter informações de como utilizar estrategicamente as raças para o aumento da produtividade do seu rebanho em qualquer lugar do Brasil.

BeefPoint: Qual sua mensagem para a industria frigorífica e varejo?

A ABHB é parceira de todas as iniciativas que produzam ganhos reais ao produtor, permitindo-o se manter e reinvestir na sua atividade. Há muito espaço ainda para a carne de qualidade no Brasil e a ABHB pode ser o atalho para alavancar as suas vendas! Nos procurem, trabalhamos com visão de cadeia agropecuária, sabemos que todos devem ter lucro, só o que não queremos é deixar a maior parte da conta para o produtor!

Clique aqui para se inscrever no Beef Summit Sul.

2 Comments

  1. Wanderley Moreira disse:

    Parabéns pela reportagem e pelo conteúdo.Estimula o produtor ler um texto assim.

  2. Nadir Lopa disse:

    Parabéns pela reportagem com excelente conteúdo e esperando que governo e produtores se voltem para o progresso com lucratividade e sem alto custo de produção.

    Nadir Lopa, aposentada mas interessada na evolução alimentar do País, sendo na parte agrícola e pecuária.

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