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Sadia: negociação com novos sócios caminha lentamente

Embora afirme que o controle acionário da Sadia, nas mãos da família Fontana, não esteja à venda, o presidente do Conselho de Administração da empresa, Luiz Fernando Furlan, admite que, se essa for a melhor opção para a empresa, não há na família nenhuma "restrição cultural". Mas os herdeiros do fundador Atílio Fontana - entre eles o próprio Furlan - não gostaram das ofertas de capitalização recebidas nas últimas semanas, seja pelo preço, considerado baixo, seja pelas condições impostas pelos eventuais novos sócios.

Embora afirme que o controle acionário da Sadia, nas mãos da família Fontana, não esteja à venda, o presidente do Conselho de Administração da empresa, Luiz Fernando Furlan, admite que, se essa for a melhor opção para a empresa, não há na família nenhuma “restrição cultural”. “A Sadia abriu o capital há 40 anos e as pessoas da família foram educadas para serem acionistas, e não mais proprietários ou donos.”

Mas os herdeiros do fundador Atílio Fontana – entre eles o próprio Furlan – não gostaram das ofertas de capitalização recebidas nas últimas semanas, seja pelo preço, considerado baixo, seja pelas condições impostas pelos eventuais novos sócios. Por isso, resolveram suspender as negociações que vinham mantendo com fundos de private equity e também com o BNDES.

“A Sadia precisa de uma injeção de capital sim. Principalmente se quiser continuar a se expandir. Mas trabalho com um horizonte de oito a nove meses para buscar alternativas, que não precisam ser de uma única origem”, comenta Furlan.

A Sadia chegou a analisar cerca de 20 propostas “de fundos, bancos e empresas”. A empresa estaria buscando algo como R$ 1 bilhão a R$ 2 bilhões, número que Furlan prefere não precisar. “Não posso ficar especulando. Dependendo de como correr o primeiro e segundo trimestres, minha necessidade será ajustada.”

Furlan espera voltar à mesa de negociações depois que os resultados do quarto trimestre se tornarem públicos, o que deve acontecer até o início de março. Ele acredita que a nova regra da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que obriga as empresas a reconhecerem no balanço todos os compromissos negativos futuros, dará mais transparência aos números da Sadia, permitindo uma avaliação mais fiel da atual situação da empresa.

Um dos rumores recentes envolvendo a Sadia são de que a rival Perdigão, alvo de uma oferta de compra da própria Sadia há dois anos e meio, teria tentado dar o troco agora, fazendo a proposta inversa. Furlan nega. “A Perdigão não fez oferta pela Sadia.” Ele faz questão de afirmar que esse não seria um negócio fácil de sair.

Enquanto as conversas com potenciais investidores ficam em compasso de espera, Furlan volta suas atenções à venda de ativos não operacionais. Dentre eles está o terreno de 100 mil m² no bairro Vila Anastácio, em São Paulo, onde está a sede da empresa, que pode entrar em um fundo imobiliário.

Outro ativo valioso é o braço financeiro do grupo, o Banco Concórdia, hoje motivo de discórdia na família. Projeto antigo dos Fontana, a criação do banco deriva da experiência bem sucedida da corretora Concórdia, criada nos anos 60. A ideia era aproveitar o fundo de comércio envolvendo funcionários, clientes, fornecedores e prestadores de serviço da empresa – um universo de cerca de 300 mil pessoas.

Mas justamente quando o banco se preparava para decolar, veio a crise dos derivativos. Acusada de especular com câmbio quando deveria se dedicar à produção de frangos, a empresa pisou no freio em relação ao banco.

Hoje, a família se divide entre aqueles que querem tocar o projeto do banco adiante e aqueles que acham que sua venda é fundamental para mudar essa imagem de empresa “especuladora”. Furlan não revela sua própria opinião na disputa. “Não estou aqui para ter opinião própria, mas para achar a melhor solução.” Por ora, a melhor solução está no meio termo: encontrar um sócio para o banco. Alguns potenciais parceiros já foram identificados, todos bancos de varejo.

Mas a missão de recuperar a imagem da Sadia ainda está longe de ser atingida. Para o analista da Link Corretora, Rafael Cintra, a companhia deu alguns passos positivos no sentido de melhorar a governança – como a escolha do novo diretor financeiro, José Luís Magalhães Salazar, executivo com larga experiência em negociações com instituições financeiras, e sua subordinação ao presidente executivo. Antes da crise dos derivativos, o diretor financeiro respondia diretamente ao Conselho de Administração.

Entretanto, na avaliação dele, ainda vai levar tempo para que a confiança seja inteiramente restaurada. Para o analista, a confiança poderia ser restabelecida mais rapidamente se uma eventual capitalização viesse do BNDES, por exemplo. “O BNDES tem o histórico de exigir a melhora de governança.”

A matéria é de Mariana Barbosa, publicada no jornal O Estado de S.Paulo, resumida e adaptada pela Equipe AgriPoint.

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