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Rodrigo Paniago e Andrea Brasil falam sobre o uso intensivo das pastagens

Rodrigo Paniago e Andrea Brasil, são Engenheiros Agrônomos formado pela ESALQ/USP e sócios da Boviplan Consultoria Agropecuária, nesta entrevista destacam os principais pontos sobre a intensificação do uso da pastagens.

Rodrigo Paniago e Andrea Brasil, são Engenheiros Agrônomos formado pela ESALQ/USP e sócios da Boviplan Consultoria Agropecuária, empresa que há 27 anos atua no ramo de consultoria em produção agropecuária. A Boviplan é conhecida pelo desenvolvimento de tecnologias ligadas à produção intensiva em pastagens e confinamento de bovinos, tendo realizado mais 1.000 atendimentos à produtores rurais nas mais diversas regiões do Brasil e também no exterior, em países como Bolívia, Panamá, Paraguai, Venezuela, México, Estado Unidos da América, Irã, Angola e Moçambique.

Os dois são instrutores de Cursos Online da AgriPoint e nesta entrevista destacam os principais pontos sobre a intensificação do uso da pastagens.

BeefPoint: O que a gente pode entender como intensificação do uso das pastagens?

Andrea Brasil: A intensificação é a busca de alternativas tecnológicas e administrativas para melhorar o empreendimento, tornando-o mais rentável. Como fazer isso?

Planejando, aumentando a eficiência produtiva, melhorando a utilizando da pastagem que nós temos na propriedade, diminuindo os custos e melhorando a comercialização desse produto.

Rodrigo Paniago: Na prática, isso resulta no aumento da lotação das pastagens. Então com uma quantidade maior de animais por área você acaba diluindo o seu custo fixo – custo com mão de obra, instalações, entre outros. Quanto mais animais você conseguir produzir com o mesmo recurso, maior será o seu lucro.

BeefPoint: Hoje a pecuária tem sofrido uma pressão muito forte em relação à questão ambiental e a busca por sistemas mais sustentáveis. Como a intensificação da pastagem pode ajudar nessa questão?

Rodrigo Paniago: A pecuária como é feita hoje no Brasil, é considerada uma pecuária extensiva, ou seja, exatamente o contrário do que a Andrea falou. Temos um uso ineficiente do recurso. Esse uso ineficiente, de maneira geral, faz com que o pessoal não invista na manutenção dos recursos, que é o solo e a pastagem.

Uma pastagem de baixa produção, que é o comum no manejo extensivo, propicia uma emissão de gases de efeito estufa muito alta, comparada aquilo que ela pode sequestrar. A partir do momento em que você intensifica a produção, você consegue ter uma pastagem muito mais produtiva e que sequestra muito mais carbono. Com isso é possível melhorar esse balanço.

Mas o grande enfoque não é nem o balanço de carbono daquela pastagem em si. Na verdade, nós sabemos que se pudermos intensificar o uso da pastagem, eu consigo manter o mesmo rebanho que tenho hoje em uma área muito menor. Ou seja, eu vou abrir mão de um potencial da minha propriedade, que vai depender da eficiência de cada um, para realizar uma outra atividade. Como por exemplo ceder essas áreas para a produção de alimentos, como grãos. Isso, de maneira indireta, ajuda a diminuir a pressão sobre o desmatamento, ou seja, ao desenvolver uma pecuária intensiva o Brasil vai liberar áreas já desmatadas para a produção de alimentos, garantindo o crescimneto da produção sem precisar abrir novas áreas.

Esse é o grande negócio ou a grande influência que a pecuária pode ter sobre o desenvolvimento sustentável do nosso país.

BeefPoint: Andrea você falou sobre planejamento e adoção de estratégias para melhorar a eficiência dos sistemas. Quais são os pontos principais que devem ser levados em conta para intensificar o uso das pastagens?

Andrea Brasil: Na verdade o produtor deve buscar uma melhor qualidade nutricional para os animais, se possíveis aliar também o melhoramento genético, procurar as espécies mais indicadas e adequadas para a sua condição e aumentar a produtividade e o uso das forrageiras que vão ser utilizadas para a alimentação dos animais. Agregando esses valores ele vai conseguir planejar melhor e poder utilizar melhor os recursos.

Rodrigo Paniago: Para conseguir isso que a Andrea mencionou é importante avaliar o que falta para você chegar lá. Especificamente no caso da pastagem é preciso começar pela análise de solo.

Se eu quero aumentar a minha produção, eu tenho que saber até onde eu posso aumentar a produção, ou seja, que nível de fertilidade do solo eu tenho para atingir para conseguir essa produção desejada. Por outro lado, não adianta nada investir em fertilidade do solo se eu não souber manejar bem o meu pasto.

Do ponto de vista do planejamento, o produtor precisa se instruir para saber como ele tem que fazer para ter um manejo intensivo, pois ele irá mudar de patamar tecnológico. Ele está agregando tecnologia para o negócio dele, então ele não vai mais poder fazer o que ele sempre fez. Ele tem que mudar a forma de encarar o manejo e esse curso é uma oportunidade dele se instruir para ele mesmo montar esse planejamento.

BeefPoint: Rodrigo, você falou dessa mudança de um sistema extensivo para um mais intensivo e a gente vê em grande parte do país pastagens com algum nível de degradação. Esse quadro pode ser revertido? Quais são as ações que devem ser implantadas para fazer essa mudança de uma pastagem degradada para uma onde seja possível ter uma lotação maior e um aproveitamento melhor dos recursos?

Rodrigo Paniago: Existem vários pontos que precisam ser atacados. Mas na minha opinião, o mais barato é o manejo. Você começar a manejar mais racionalmente seu recurso, melhorando a eficiência do processo. Mas chega um momento em que mesmo você manejando de forma racional a pastagem chega num limite de produção, ai eu passo a ter a necessidade de investir em fertilidade do solo para conseguir um pouco mais. Então tanto o manejo quanto o investimento na fertilidade vão propiciar que o produtor consiga atingir esse sistema mais eficiente.

O nosso país precisa fazer isso. Não é a toa que o Governo Federal laçou um novo programa de financiamento, chamado programa ABC, que vai facilitar o investimento na manutenção e recuperação de pastagens.

BeefPoint: Quando falamos em fertilidade do solo, muita gente fica com o pé atrás, pois acredita que a adubação tem um custo muito alto que pode até acabar inviabilizando a produção. Qual seria a realidade disso hoje? Qual é a importância da correção de solo, adubação, manutenção? Isso encaixa dentro do sistema?

Rodrigo Paniago: A idéia de que adubar pastagem é um negócio do outro mundo, é do passado há muito tempo. Há muito tempo nós já trabalhamos com adubação de pastagem, quando falo nós, estou me referindo ao Brasil, que está se tecnificando e passando de um modelo amador de produção para um profissional.

É evidente, que como qualquer negócio, tudo tem custo benefício. Não significa que jogar um mundo de adubo no pasto vai te dar um retorno econômico. Ai vem a questão que a Andrea falou no começo, que é a gestão. Um dos pontos mais difíceis para a profissionalização e tecnificação do setor é ter essa noção de gestão. É avaliar o custo-benefício. Se eu aplicar isso, quanto que vai e retornar em produtividade e consequentemente em lucro? Nem sempre a máxima produtividade é o máximo lucro, existe um ponto ótimo, que vai variar de propriedade para propriedade e de região para região.

BeefPoint: Em relação o manejo, quais seriam os principais cuidados que o produtor tem que tomar para conseguir colher o resultado dessa intensificação da pastagem?

Andrea Brasil: É preciso aliar um pouco todas essas ações, ele tem que manejar adequadamente o local que ele tem, fazendo toda a análise e correção da quela área que ele vai utilizar e adequar a carga animal para o espaço que ele tem.

Rodrigo Paniago: Não existe uma ferramenta úncia para determinar como deve ser realizado esse manejo. Existem ferramentas em que você mede a produção do pasto e esse deve ser o ponto de partida, saber quanto o pasto está produzindo. Só que precisamos lembrar que essa produção é momentânea, é preciso alinhar a nutrição com a produção de forragem.

No manejo racional da pastagem, o modelo que tem maior sucesso no nosso país é o manejo rotacionado, onde é levado em conta um período de descanso e um período de pastejo. Existe um degrau a mais de tecnologia que é você levar o gado para a área no momento ideal para entrar no pasto, mas por consequência disso é preciso trabalhar com um sistema de carga variável.

No manejo rotacionado tradicional, você mantém o número de cabeças no lote e roda respeitando o período de pastejo e período de descanso fixos. Já num manejo de carga variável você otimiza, é o máximo da utilização daquela produção, só que o lote que está rodando nesse sistema varia de tamanho. Essas tecnologias que nós estamos citando, serão tratadas de forma mais abrangente e direcionada durante o curso e através do material que será disponibilizado.

BeefPoint: Para o uso intensivo da pastagem é necessário algum tipo de instalação especial?

Rodrigo Paniago: Na verdade o principal seriam as cercas. Cerca elétrica é um modelo que vem sendo muito bem empregado nesses sistemas.

Nós também temos trabalhado com um modelo que chamamos de rotacionado de baixo custo. Nesse sistema eu não construo mais cercas para manejar o gado, mas ai é preciso trabalhar com lotes grandes e não pode ser aplicado em qualquer propriedade.

Novamente ressalto que o produtor precisa se instruir para planejar. Ele tem que conhecer as tecnologias para saber qual é a tecnologia que ele pode aplicar na sua propriedade. Por exemplo nesse sistema de rotacionado de baixo custo ele precisa trabalhar com lotes grandes, se ele tem um curral pequeno, tem problema de corredores, porteiras estreitas, vai dificultar muito o manejo.

Normalmente, para melhorar o manejo racional da pastagem é preciso fazer divisões de pasto, mas ai é importante fazer um bom planejamento e analisar onde vale a pena construir 1 km a mais de cerca ou não.

Muitas pessoas tem alguma restrição quanto à cerca elétrica, mas normalmente isto está ligado a uma experiência ruim no passado. Eu costumo dizer que não tem teoria que não funcione na prática. Ou você não entendeu a teoria, aplicou mesmo assim e ela não funcionou. Ou você escolheu a teoria errada para o seu negócio. Então temos que saber qual tecnologia aplicar.

No material que a gente preparou, inclusive nessa parte de instalações e cerca elétrica a Andrea caprichou, vamos explicar quais são os detalhes que são importantes para ter sucesso com o manejo utilizando a cerca elétrica.

BeefPoint: Qual é o ponto principal que os alunos vão aprender no curso Online Intensificando o uso das pastagens: da formação ao manejo?

Rodrigo Paniago: O curso é bastante amplo e vai tratar de assuntos da formação até o manejo, mas como ponto principal o aluno vai conseguir ter uma visão maior do sistema como um todo. Apesar de tratar só de pastagem, tudo aquilo que nós estamos recomendando no curso tem o foco de sistema, encarar a propriedade com um todo, para saber se vale a pena aplicar a tecnologia, qual tecnologia implantar e como aplicá-la. O aluno vai entender que não dá para fazer milagre. Se você quer alta produção, você vai ter que corrigir a fertilidade do solo.

Como corrigir? A tradição, o histórico, o passado da pecuária era tirar o máximo colocando o mínimo. Hoje a gente quer tirar o máximo sem perder, ou seja, ter sustentabilidade na produção. Não existe refeição de graça, para você comer, você tem que pagar. As vezes pagando barato, basta saber escolher a tecnologia correta.

No dia 18 de agosto começa o Curso Online Intensificando o uso das pastagens: da formação ao manejo. Neste curso, os alunos receberão uma série de dicas práticas sobre instalações, cerca elétrica, bebedouros, tamanho de cochos e irrigação; aprenderão a identificar a viabilidade da integração lavoura-pecuária para formação de pastagens; aprenderão os níveis de correção e adubação em manejo intensivo; receberão sugestões de número de piquetes e dias de pastejo-descanso; e aprenderão a quantificar os danos causados pelas pragas e plantas invasoras.

Clique aqui para ver a programação completa e faça sua inscrição!

0 Comments

  1. Mauricio Omizzolo disse:

    Olá Rodrigo e Andrea, estou em dúvida sobre fazer o curso pois normalmente, o enfoque da pecuária é para a regiões centro oeste e sudeste, e como moro na região sul, raramente podemos usar das mesmas informações. Nosso clima é diferente, temos inverno mais rigoroso, e assim utilizamos pastagens que são específicas aqui no sul. Nossa topografia é irregular e nossos terrenos não são muito grandes, desta forma, gostaria de saber se o curso traria informações pertinentes também para a pecuária de Santa Catarina. Sei perfeitamente que a base é a mesma, mas como já mensionei anteriormente temos uma condição especial. Abraço e desde já obrigado. Mauricio

  2. Ricardo Ferreira da Silva disse:

    Tenho curiosidade no tema. Gostaria de saber se o curso inclui sistema de controle de lotacao e de suporte. Gostaria de saber tambem como isso pode ser conduzido com o apoio do gerente?

  3. Rodrigo Paniago disse:

    Olá Maurício Omizzolo,

    quanto ao tamanho da propriedade e relevo, não há problemas, pois tal situação é comum nas outras regiões do país também, a grande diferença mesmo está na questão climática, o que exige sim recomendações diferenciadas.

    Os conceitos de intensificação de pastagens são os mesmos para todas as regiões do país, mas as tecnologias que podem gerar a intensificação do uso das pastagens, seja na formação ou manejo, não são de uso generalizado.

    Contudo, nossa equipe têm vivência em todas as regiões do país, inclusive Rio Grande do Sul e Santa Catarina, onde já assessoramos produtores de carne e leite. Também tivemos a oportunidade de nos deparar com demandas diferenciadas aqui mesmo no curso, pois nas últimas três edições houve uma participação bem maior de produtores ou técnicos da região sul do país.

    Não se preocupe, pois durante o curso teremos a oportunidade de discutir as mais variadas tecnologias e desafios, mesmo por que a grande sacada deste tipo de curso (online) é a oportunidade dos participantes de interagir através do fórum e conferências.

    Grande abraço,

    Rodrigo Paniago

  4. Rodrigo Paniago disse:

    Olá Ricardo Ferreria da Silva,

    o curso levará aos participantes conhecimentos necessários para que o controle de lotação de pastagens seja administrado pela equipe da fazenda.

    Não há formação de pastagens ou manejo das mesmas de forma efetiva que não tenha como premissa uma mão de obra bem treinada.

    Grande abraço,

    Rodrigo Paniago

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