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Rodrigo Paniago: afirmar que a pecuária é a grande responsável pelo desmatamento é olhar de forma simplista para o problema

Ao nos depararmos com um estudo recentemente publicado no Environmental Science & Technology, que avaliou que a produção de carne bovina do Brasil produz mais emissões de carbono do que se pensava, perguntamos a Rodrigo Paniago, presidente a Associação dos Profissionais da Pecuária Sustentável (APPS) sua opinião sobre o assunto. Veja abaixo seus comentários sobre o tema. "Afirmar que a pecuária é a grande responsável pelo desmatamento é olhar de forma simplista para o problema, pois a interação entre as atividades que se utilizam da terra é muito mais complexa do que isto, ultrapassando inclusive as fronteiras regionais de nosso país".

Ao nos depararmos com um estudo recentemente publicado no Environmental Science & Technology, que avaliou que a produção de carne bovina do Brasil produz mais emissões de carbono do que se pensava, perguntamos a Rodrigo Paniago, engenheiro agrônomo e presidente a Associação dos Profissionais da Pecuária Sustentável (APPS) sua opinião sobre o assunto. Veja abaixo seus comentários sobre o tema:

“Afirmar que a pecuária é a grande responsável pelo desmatamento é olhar de forma simplista para o problema, pois a interação entre as atividades que se utilizam da terra é muito mais complexa do que isto, ultrapassando inclusive as fronteiras regionais de nosso país.

Muitas vezes a pecuária é a pioneira, porém a atividade que assume área é a agricultura. Assim como, em muitos casos é o arroz a primeira atividade para depois o estabelecimento da pecuária. Portanto, fazer uma leitura pontual da questão é um equívoco grosseiro.

Como apenas 6% da carne bovina brasileira vêm de desmatamento? Não há área de terra produtora de alimentos em todo o mundo onde não ocorreu a conversão por desmatamento. Mais uma vez o autor do artigo avalia toda a questão de forma muito restrita. Portanto, ao incluir o desmatamento na comparação da pegada de carbono de nossa carne, também é preciso verificar se eles incluíram na pegada dos demais países o próprio desmatamento.

Imaginem os ingleses, autores do artigo, terem que incluir na pegada de carbono da carne deles a emissão de praticamente 100% de desmatamento da área de produção, ao contrário do Brasil que para cada hectare de produção temos que ter por lei 4, 1, 0,5 ou até 0,25 hectares de preservação através de reseva legal, variando de bioma para bioma e legislação da época do desmatamento, isto sem contar as áreas de preservação permanente.

Os pesquisadores europeus que desenvolvem estudos sobre a nossa pecuária estão mais para sofistas do que cientistas, pois em sua esmagadora maioria se utilizam de dados de emissão total para seus cálculos e não a emissão líquida, ou seja, não incluem na conta o total de sequestro de carbono pelas plantas envolvidas na alimentação dos bovinos. Este erro foi o mesmo cometido pela FAO ao lançar o famigerado “Livestock Long Shadow”, relatório que foi utilizado de forma dissimulada por ambientalistas e vegetarianos, e que na verdade utilizou dois pesos e duas medidas ao comparar as emissões da pecuária com o transporte no mundo, tanto que a própria FAO se comprometeu em rever os dados publicados.

Em relação ao cálculo da emissão líquida, esta deve ser outra conta difícil para os nossos colegas europeus, que baseiam sua produção de forrageiras em plantas de ciclo C3, muito mais ineficientes do que as plantas de ciclo C4, como as nossas gramíneas tropicais, sem contar que uma parcela realmente significativa dos alimentos fornecidos aos animais são oriundos de grãos, o que aumenta a área de terra necessária para se alimentar um mesmo animal, quando comparado ao sistema brasileiro, que possui uma lotação de pastagens muito superior à dos europeus.

Contudo, independente do tamanho da pegada dos europeus ou brasileiros na produção de carne, melhor fonte de proteína para nutrição humana, devemos novamente avaliar a questão de forma holística, pois na balança desta avaliação também se deve incluir o custo de produção dos alimentos. Onde é mais barato produzir uma fonte de proteína rica em aminoácidos, na zona de clima temperado ou na tropical? Ou ainda, quem é mais competitivo na hora de produzir carne vermelha? Cada vez que surge um artigo com visão tão limitada, como o apresentado, fica mais evidente que os cientistas dos países ricos estão mais preocupados em manter o seu statu quo do que gerar conhecimento que venha agregar qualidade de vida para todos nós”.

Leia também:

Marcelo Pimenta: precisamos de estudos claros sobre os impactos da pecuária brasileira para combater informações tendenciosas

Equipe BeefPoint

4 Comments

  1. MARCOS SERGIO DE SOUZA disse:

    Boa noite ,amigos como diria meu avo e melhor ouvir certas besteiras do que ser surdo,fazer um calculo de emissao de carbono baseado que so a pecuaria que causou o impacto ambiental alem de tendencioso e nao ter noçao da realidade{ essas senhoras graduadas devem conhecer o brasil pelo google earth e boi no prato em forma de bife } ainda devem pensar que somos idiotas tupiniquins.
    nossa carne e a mais saudavel do planeta e imbativel economicamente qual pais do mundo nao modificou seus recursos naturais para a produçao de alimentos ,eu nem vou citar alguns exemplos para nao ficarem achando que quero empurrar a responsabilidades para outros.
    quem realmente conhece a amazonia sabe do que estou falando,da luta dos que tombaram para colonizar essa regiao{sim esse e o termo correto e nao destruir } e dos que aqui continuam a lutar para sustentar suas familias produzindo proteina barata que alimenta a fome do brasil e do mundo e agora fazendo esforço em certas horas ate sem condiçoes financeiras pra corrigir os erros do passado,sim pq as leis do brasil infelizmente mudam ao sabor dos interesses ocultos das ongs ,ora vamos deixar a hipocresia de lado e puro protencionismo.
    mas digo uma coisa a voces produtores de artigos mal intencionados
    isso ja nao convence mais ninguem ,somos pecuaristas vamos continuar criando,recriando,engordando e nao desitiremos nunca e daqui a algum tempo teremos o reconhecimento pelo nosso trabalho.

  2. Rodrigo Paniago disse:

    Caro Marcos Sérgio de Souza,

    infelizmente, o nível de conhecimento dos pesquisadores estrangeiros sobre o nosso setor agropecuário e sobre os nossos sistemas de produção não é de “ouvir dizer”. Cada vez mais o Brasil é mote em congressos e simpósios internacionais que tratam da produção de alimentos e as apresentações são feitas sim por pesquisadores que conhecem pessoalmente o Brasil. Exemplo disso foi um seminário que ocorreu durante o congresso internacional de forragicultura na Alemanha no ano passado, onde 4 pesquisadores alemães fizeram apresentações sobre o Cerrado brasileiro, apresentando fotografias e levantamento de dados próprios.

    Por outro lado, o que ocorre é que tais pesquisadores projetam as informações levantadas de acordo com a sua própria visão, deixando de lado a imparcialidade. Por isso mesmo que os chamei de sofistas, ou seja, apresentam a versão deles sobre os fatos e peneirando somente as informações que lhes interessam.

    E ao contrário do que eu e você gostaríamos, este tipo de ação convence sim o europeu e até os urbanos brasileiros, pois ambos são leigos e se vêem muito distantes da nossa realidade. O posicionamento deles é evidentemente egoísta, é muito fácil enxergar que o problema é dos outros, deixando de assumir a sua própria responsabilidade. O que eles querem é mesa farta e preço barato, mas não tem a menor noção de quanto custa isso para quem está no campo, garantindo a qualidade de vida do urbano, seja europeu ou brasileiro.

    Nós temos a ciência ao nosso lado, mas precisamos fazer a informação imparcial e verdadeira chegar aos ouvidos daqueles que consomem os nossos produtos.

    Saudações,

  3. Rodrigo Paniago disse:

    Caro Cesar Guimarães Galli,

    obrigado pelas palavras.

    Você tocou no ponto chave, sim trata-se de interesse econômico, cedo ou tarde venceremos, mas não podemos deixar que o resultado se defina tardiamente aos 45 minutos do segundo tempo, pois até lá muitos de nós teremos prejuízos enormes. A hora é agora!

    É importante que todos entrem nesta defesa da produção agropecuária, mas para isso precisamos de mais produção científica ligada ao tema, para que possamos embasar de maneira contundente os nossos argumentos.

    Saudações,

  4. Rodrigo Paniago disse:

    Olá Alexandre Lemos Debs,

    você levantou um ponto muito interessante que é a definição de normas por quem não entende do assunto. A todo momento organizações não governamentais (ONG) e outras entidades que representam outros setores da cadeia procuram definir normas de produção para certificação de produtos, uns por que querem faturar em cima do produtor através de auditorias e emissão de certificados, verdadeiros despachantes de boi, e outras por que querem passar a responsabilidade e o ônus da segurança alimentar ou adequação da produção segundo conceitos sustentáveis para o produtor.

    Algumas buscam o diálogo com o setor produtivo, mas através de audiências públicas próprias. Independente do resultado final, ou seja, de tais entidades “ouvirem” ou não o setor, os produtores e demais atores não podem se abster de participar desses processos, pois em cada um deles é mais uma oportunidade de se fazer pressão diretamente sobre tais entidades.

    No entanto, mais importante do que participar de tais ações é fundamental que seja o setor produtivo quem lidere este tipo de atividade, para que o espaço não seja ocupado por quem não está nenhum pouco interessado em quanto isto vai custar aos bolsos do pecuarista.

    Abraço,

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