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Roberto Sainz: devemos unir forças para que as autoridades implementem um sistema único de tipificação de carcaças

A ABCZ – em parceria com o BeefPoint e a Scot Consultoria – promoverá, no dia 8 de maio, a 2ª edição do Fórum Zebu de Ponta a Ponta, com o objetivo de apresentar a importância do zebu na cadeia produtiva da carne e do leite.

Para conhecer melhor os palestrantes do evento, o BeefPoint preparou uma entrevista com cada um deles. Confira abaixo a entrevista com Roberto Sainz.

RDS+mule

Roberto é pesquisador da Embrapa Cerrados e professor na Universidade da Califórnia, em Davis. Suas àreas de atuação estão focadas principalmente na eficiência alimentar e na qualidade de carcaça, ambos em bovinos de corte. Participou do desenvolvimento do programa de avaliação de carcaça para as raças zebuínas e através da Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP) e seu Programa Nelore Brasil, publicaram as primeiras DEPs para qualidade de carcaça em 2003. Mais recentemente, ajudaram a ABCZ a estabelecer um programa de credenciamento de técnicos e laboratórios de ultrassonografia de carcaça, para democratizar a tecnologia, com garantia de qualidade, para todos os criadores que pretendem incluir esse critério de seleção nos seus rebanhos.

BeefPoint: Quais são os 3 pontos principais da sua palestra nesse evento?

Roberto Sainz: Os mercados de carne, nacional e internacional, são segmentados por qualidade. Os compradores, sejam eles varejistas, importadores ou outros, exigem certos padrões de qualidade, de acordo com seus mercados finais. Dessa maneira, os padrões de qualidade fazem parte de uma linguagem comum, uma forma de comunicação ligando o comprador ao vendedor. Os frigoríficos que atendem esses mercados são obrigados a fornecer carne com esses padrões, pois são sinais de mercado que se transmitem pela cadeia, em fluxo inverso ao produto.

No entanto, esses sinais não são transmitidos para todos os elos da cadeia, pois param no frigorífico. Assim, o pecuarista não tem acesso às exigências do mercado, o que limita a sua habilidade de ajustar as suas práticas para melhor atender o que o consumidor deseja. Isso prejudica tanto o produtor quanto o consumidor final. O frigorífico não pode ser responsabilizado pela criação e a execução de um sistema de tipificação, pois para servir a sua função de linguagem de comunicação o sistema tem de ser único e uniforme, igual para todos.

Evidentemente, essa função tem de caber ao poder público. No entanto, há muita resistência ao longo da cadeia. O pecuarista teme ser penalizado se entregar animais com carcaças que não atendem às exigências do mercado. O frigorífico sabe que terá de premiar as carcaças superiores e penalizar as inferiores, e quer evitar essa briga com o pecuarista.

Há desconfiança por todos os lados. Parece ser um jogo de soma zero, onde para cada ganhador tem de haver um perdedor. No entanto, a longo prazo, a eficiência da cadeia da carne será maior se tivermos maior transparência, e sendo assim, todos sairão ganhando, incluindo o produtor, a indústria e o consumidor.

BeefPoint: O que você considera de mais importante para levar adiante esse conceito “Zebu de Ponta a Ponta”, onde a ABCZ trabalha para mostrar as vantagens e diferenciais do zebu como produtor de carne bovina?

Roberto Sainz: As raças zebuínas possuem vantagens importantes em relação às raças taurinas, especialmente considerando-se as condições climáticas que predominam no território brasileiro. No que diz respeito à qualidade da carcaça e da carne, ainda temos muito trabalho a fazer.

Devemos ter um diálogo aberto sobre quais são as vantagens e desvantagens do nosso produto em relação às demandas do mercado, para poder definir quais serão as melhores estratégias para atender essas demandas. Por exemplo, se o mercado quer uma carcaça com mais acabamento e com carne mais macia, temos que desenvolver estratégias de produção para agregar essas características ao nosso gado.

BeefPoint: Qual sugestão você daria para a ABCZ tornar esse trabalho ainda mais relevante e impactante?

Roberto Sainz: A ABCZ deve continuar seus esforços para introduzir o que há de melhor na ciência, na genética, na nutrição, e outras ferramentas para melhorar a qualidade do nosso produto. Deve fazer isso sem restrições imediatistas.

Por exemplo, a superioridade da vaca zebuína como mãe, nas condições tropicais do Brasil central e norte, é indiscutível. No entanto, uma ferramenta que ganha espaço a cada dia é o cruzamento industrial, o que proporciona aumentos no desempenho e na qualidade. A ABCZ tem de reconhecer essa realidade científica, técnica e comercial, e ajudar os criadores a se posicionar nesse cenário.

BeefPoint: Qual seu recado para produtores de gado de corte que usam genética zebuína?

Roberto Sainz: Dizem que estamos agora na economia do conhecimento. O meu recado tem de ser: vamos investir nisso, investir nos avanços científicos e tecnológicos, e lançar mão do conhecimento para profissionalizar a nossa produção. Ao mesmo tempo, temos de cobrar das autoridades a criação e a manutenção de um ambiente de mercado que nos permita recuperar esses investimentos.

BeefPoint: Qual seu recado para frigoríficos em relação ao uso de zebu como produtor de carne bovina?

Roberto Sainz: Vamos continuar a estreitar a relação com os produtores com uma base de confiança e respeito mútuo. Essa relação, por vezes conflitante, é fundamental para uma cadeia da carne pujante e saudável.

Devemos unir forças, por exemplo, para que as autoridades implementem um sistema único, uniforme e transparente, para tipificar as carcaças, permitindo finalmente uma comunicação mais aberta e com transmissão dos sinais de mercado para toda a cadeia.

Clique aqui para mais informações sobre o evento.

2 Comments

  1. Pedro Eduardo de Felício disse:

    Ótima entrevista do Dr. Roberto Sainz sobre a palestra que fará na ABCZ. Concordo com cada uma das ideias que ele soube expor com muita clareza e objetividade. A questão é quem vai colocar a guizeira no gato? Nos Estados Unidos, década de 20 do século 20, o governo tomou a iniciativa e, depois de muita pressão de pecuaristas que sabiam que produziam uma carne diferenciada de Angus tratado com milho e Hereford de pasto, a Swift decidiu usar a oferta de colocar carimbos oficiais de garantia de qualidade nas carcaças e foi seguida pelas demais empresas. Nossa Swift aqui é o JBS, mas como demonstrar diferenciais tão grandes de qualidade no Brasil sem falar em genética, castração e alimentação? Eu gostaria de ter as respostas, mas chego a pensar que quase um século depois do início da tipificação americana talvez seja o caso de enfatizar marcas de carne e estabelecer protocolos “feitos sob medida” para produção contratada para mercados definidos, coisa que os grandes frigoríficos já estão experimentando.

  2. Roberto Sainz disse:

    Só posso agradecer ao meu mestre e guru pelas suas gentis palavras.

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