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Roberto Barcellos: não acredito em marcas que se iniciam no curral do frigorífico (Beef&Veal)

A busca por uma maior agregação de valor aos produtos de origem animal e carne de alta qualidade estão cada dia mais presentes, embora ainda seja um caminho difícil, mas perfeitamente possível. O tema do próximo Workshop BeefPoint será Marcas de Carne e acontecerá nos dias 20 e 21 de novembro, em São Paulo.

Da mesma forma, o Workshop BeefPoint Marcas de Carne, será um evento no qual iremos reunir quem há anos trabalha com esse nicho de mercado. Vamos conhecer os inovadores em nosso setor que têm trabalhado para produzir um produto com valor agregado e que seja bem aceito pela maioria dos consumidores. Serão apresentados estudos de caso, troca de experiências e conhecimento, em um ambiente de conversa e debate. Será um encontro de discussões em alto nível, para conhecer quem tem feito um excelente trabalho no Brasil.

Para conhecer melhor os palestrantes do Workshop BeefPoint Marcas de Carne, preparamos uma série de entrevistas com cada um deles. Além dos palestrantes, vamos conhecer também o trabalho de profissionais que trabalham com carnes de marca, donos de casa de carnes e restaurantes que trabalham com carne de qualidade e que são referência no país.

Confira a entrevista com Roberto Barcellos, engenheiro agrônomo e responsável pela marca Beef&Veal.

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Roberto Barcellos é engenheiro agrônomo, garimpeiro de carne de qualidade no universo do commodity e atua nos diversos segmentos da cadeia produtiva (produção animal, indústria frigorífica e varejo). Atualmente, é responsável por 10 marcas de carne.

Trabalha há mais de 15 anos com pecuária de corte, sempre buscando agregar valor à carne, através da qualidade.

BeefPoint: Atualmente, quais os maiores desafios para consolidar uma marca de carne?

Roberto Barcellos: O maior desafio é ter padronização do produto final. Trabalhamos com biologia, e a única forma de obtermos sucesso e através da padronização do sistema de produção (raça, grau de sangue, idade, grau de acabamento, alimentação).

Além disso o projeto tem que estar estabelecido para abater nas 52 semanas por ano. Regularidade é tão importante quanto a padronização.

Não acredito em marcas que se iniciam no curral do frigorífico.

BeefPoint: O que precisa evoluir no setor para que aumente a produção de carne com qualidade?

Roberto Barcellos: A demanda existe e é crescente. O que falta, são iniciativas equilibradas, isto é, programas de premiação coerentes com o aumento do custo de produção.

Por sua vez, o produtor precisa entender os seus custos de produção e projetar o seu negócio de acordo com as exigências do mercado. Se o produtor ganhar, a indústria ganhar, o varejista ganhar, o principal ganhador será o consumidor.

Este é o equilíbrio no qual eu me refiro, através dele teremos consistência e os projetos tenderão a permanecer, pois todos ganharão.

BeefPoint: Quais as ações você tem feito para educar e fidelizar o cliente que está buscando carne bovina com marca?

Roberto Barcellos: Tenho tentado materializar todo o meu discurso e a filosofia de produção em produtos de alta qualidade e totalmente padronizados. Fazer que o produto fale por si mesmo.

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BeefPoint: O que deveria ser feito para melhorar o marketing da carne no Brasil?

Roberto Barcellos: Deveríamos investir na catequização do nosso consumidor de carne bovina. Item de alta preferência e fidelização.

Mostrar as diferenças entre raças, cortes, produtos, marcas, ensinar o consumidor a consumir. Nos últimos 10 anos, temos exemplos clássicos de trabalhos muito bem feitos em vários produtos como café, vinho, cerveja, etc.

Devemos investir em informação dentro da cadeia direcionada aos consumidores. Se soubéssemos a importância que o consumidor dá para a rastreabilidade, por exemplo, nós produtores, encararíamos este tema de outra maneira.

BeefPoint: Em sua opinião qual o país é referência na produção de carne com qualidade? O que ele tem feito de diferente?

Roberto Barcellos: O país que tenho como referência é os Estados Unidos. Eles têm uma facilidade muito grande em relação ao Brasil, pois possuem uma padronização do seu rebanho (80-90% é  composto por raças britânicas). E isso traz naturalmente uma facilidade na padronização,

No Brasil, nós temos uma heterogeneidade muito grande, o que dificulta a padronização e o desenvolvimento de marcas de carne.

Mas independente disso, os americanos possuem ações de marketing, através do desenvolvimento de produtos e embalagens, aliadas a informações da cadeia direcionadas ao consumidor. Isso leva a um incentivo ao consumo.

Nos EUA, toda a cadeia produtiva desde o produtor, a indústria frigorífica e os varejistas, trabalham a favor do aumento do consumo.

Outra diferença importante é que as marcas de carne de maior sucesso nos EUA são controladas por produtores, controlando 100% da matéria prima, e no Brasil, a grande maioria são controladas pelas indústrias frigoríficas, que não tem o controle da matéria prima.

BeefPoint: Quais são as marcas de carne no Brasil hoje que você considera referência?

Roberto Barcellos: Todas as marcas que controlam todas as etapas de produção, desde a genética do animal, alimentação, sistema de produção, sanidade e processamento são na minha opinião, marcas com consistência.

Existem várias iniciativas com essa filosofia. As marcas de referência que considero no Brasil, cada uma com sua particularidade são Bonsmara Beef e Carne Taeq.

BeefPoint: Em sua opinião, qual setor serve de referência para a pecuária no que diz respeito a marketing e por quê?

Roberto Barcellos: Diversos segmentos podem ser usados como referência para os programas de carne de qualidade. Temos excelentes exemplos no café, com filosofia do grão a xícara e no vinho, onde segundo a palestra de um especialista que assisti no BeefSummit Sul, mais de 80% do valor do vinho está fora da garrafa.

BeefPoint: Qual o exemplo de profissional dessa área você mais admira?

Roberto Barcellos: Admiro muito o trabalho do Marcelo Shimbo, Eduardo Pedroso e Renato Galindo.

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BeefPoint: O que você fez em 2013 que te trouxe mais resultados?

Roberto Barcellos: Em 2013 consegui dar escala ao projeto. Ano após ano, graças a consolidação dos projetos e das parcerias, a tendência é só aumentar a oferta com consistência.

BeefPoint: O que você pretende fazer em 2014? Quais são seus planos?

Roberto Barcellos: Continuar com o trabalho junto as lojas parceiras, que acreditaram e confiaram no programa Beef&Veal.

BeefPoint: Que mensagem você deixaria para aqueles que desejam criar e consolidar uma marca de carne em nosso país?

Roberto Barcellos: O mercado é carente de novos produtos. Existe espaço para novas marcas, mas de marcas que atuem próximos da produção.

Outro ponto importante é trabalhar de acordo a demanda, nunca acelere o projeto maior que a capacidade, dê sempre um foco artesanal ao projeto, que é o diferencial.

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4 Comments

  1. Nagato Nakashima disse:

    Sou Médico Veterinário, CRMV-RO Nº 0001, fui pecuarista, com experiência de 40 anos como profissional. Parabenizo pela excelente entrevista com o Eng. Agro. Roberto Barcellos; não é só a produção pecuário que tem que ser melhorado e sim de toda a política pública com o agronegócio que tem que ser re-escrita para prevenir a segurança alimentar do futuro da humanidade e isto deve se pensar economicamente, ambientalmente e socialmente em toda a cadeia produtiva de alimento com a garantia de inocuidade dos alimentos alimentos produzidos.

  2. Fernando Furtado Velloso disse:

    Amigo Roberto, bem colocadas as suas observações.
    Concordo que marcas que iniciam no curral iniciam fragilizadas…
    Em relação ao tema “bonificações” sou um pouco cético. Também não acredito em bonificações desvinculadas de acordos de fornecimento de gado e desconectadas da demanda de carne. Não vejo como funcionar um bônus de 10% para uma quantidade de gado desconhecida e em um período desconhecido…
    Grande abraço e que venha 2014! FFVelloso

  3. Hernan Palau disse:

    perdon por responder en español. Creo que hay un problema muy grande en el caso de la Argentina. Hubo muchos productores e industriales que quisieron desarrollar carne con marca desde mi país, pero el ambiente institucional (reglas de juego) fue muy malo, lo que llevó a que hayan altos costos. Esto imposibilita cualquier agregado de valor, dada la gran incertidumbre. Además, también complica el abastecimiento de materia prima y sobre todo de exportaciones en tiempo y forma. Seguramente esta no será una realidad para países como Brasil, EEUU o Uruguay; pero les aseguro que es un elemento para tener en cuenta.

  4. Roberto Mesquita disse:

    A marca de sucesso começa sempre no mercado, sempre amplificada por no mínimo “3P” produto – propaganda – preço, por eficazes ações de marketing implementadas pelo detentor da marca, que a bem da verdade, nem sempre (ou quase nunca) é o gestor de todos os elos da cadeia produtiva. Assim, falando de carne, a meu ver, a qualidade da carne é assegurada pela boa gestão do sistema de produção, o produto é gerado na sala de corte do frigorífico e a marca é difundida no varejo. Resumindo, como ainda estamos engatinhando no marketing da transformação da comoditie em produto (good), acredito firmemente que marca própria das grandes redes de varejo são a grande porta para promoção do beef com marca junto ao consumidor final.

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