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Revolução alimentar pode criar mercado de US$ 700 bi

Alimentar-se está entre as necessidades mais básicas dos seres humanos, e qualquer mudança na concepção de como isso pode ser feito é lenta e gradual. Agora, porém, chegou a vez da agricultura e do nosso modo de comer ser transformado. Um estudo do banco suíço UBS, intitulado de “The food revolution”, indica que esse é o último segmento da economia a passar por uma revolução tecnológica digital e que as mutações que virão ao longo da próxima década criarão um mercado de US$ 700 bilhões em 2030.

O estudo aponta que a penetração digital no campo foi de apenas 0,3% em 2018, comparada com 2,5% nas finanças e perto de 12% no varejo. A tecnologia relacionada à agricultura movimentou US$ 16,9 bilhões no ano passado. Apesar de ser ainda um valor baixo, é 43% superior ao movimentado em 2017, avaliou o UBS, com base em dados da AgFunder, uma gestora de fundos de venture capital especializada em startups na área de alimentos.

“Dado o vasto mercado inexplorado e o rápido surgimento de poderosas tecnologias digitais para as lavouras, o UBS espera que o mercado de inovação alimentar movimente cinco vezes mais que hoje em 2030”, apontou o banco.

No relatório, o UBS indica que cinco tendências vão moldar essa indústria na década: escassez econômica em várias partes do mundo, novos hábitos dos consumidores, preocupações com saúde e bem-estar, crescimento da era digital e sustentabilidade.

Para os investidores, o banco ressalta que essas mudanças criarão oportunidade em diversos segmentos. Um deles é o de proteínas vegetais, que deve ter um crescimento de 28% ao ano, e passar de US$ 4,6 bilhões em 2018 para US$ 85 bilhões em 2030.

“Essas estimativas podem até ser conservadoras se houver aumento na conscientização dos consumidores”, avaliou o banco, no relatório. O negócio de proteínas vegetais tem experimentado um boom neste ano. Nos EUA, a Beyond Meat é um sucesso na bolsa desde que abriu o capital. No Brasil, a Fazenda Futuro, que produz um hambúrguer à base de ervilha com o sabor e a textura parecidas as da carne, foi avaliada recentemente US$ 100 milhões.

A agricultura 4.0 também é promissora. O UBS espera que as tecnologias em campo criem um mercado de US$ 90 bilhões em 2030, com taxa de crescimento de 16% ao ano sobre os US$ 15 bilhões movimentados em 2018.

Outro segmento que deve crescer na próxima década é a busca on-line e entrega de comidas por delivery. Pelas projeções do UBS, o tamanho desse mercado deve passar US$ 60 bilhões no ano passado, para US$ 365 bilhões até 2030. Segundo o banco, a geração de ‘millenials’, nascidos entre o fim de 1980 e os anos 2000, é adepta de meios digitais, o que estimula as compras de alimentos na internet.

Além de pedir comida online, essa geração quer “comer consciente” – isto é, escolher marcas e alimentos oriundos de fontes sustentáveis e produzidos por indústrias engajadas. Cultivar alimentos saudáveis de maneira sustentável para um número tão grande de pessoas exige repensar toda a cadeia de abastecimento. Para avançar, precisamos acabar com o mito de que a tecnologia é inimiga do natural”, diz Wayne Gordon, um dos autores do relatório do banco suíço.

Dentro do campo, a revolução será na agricultura orientada por dados. Em 2008, os investimentos em startups de tecnologia agrícolas (as chamadas Agtechs) totalizaram US$ 100 milhões, mas esse número saltou para US$ 4,2 bilhões no ano passado, segundo a consultoria KPMG, mostrando que a presença de robôs na agricultura é algo que veio para ficar. “Como a urbanização reduz a força de trabalho rural, as tecnologias serão vitais para aliviar a carga de trabalho dos agricultores restantes”.

Mas o relatório também indica desafios para a agricultura. “A indústria de alimentos precisará lidar com as implicações práticas da mudança climática, restrições de recursos naturais, crescentes preocupações com a saúde e últimas tendências de moda e estilo de vida. O que e como comemos agora difere do que e como comemos apenas uma geração atrás e diferirá do que e como comeremos no decorrer de uma década”.

Nesse sentido, o UBS também destaca o uso de organismos geneticamente modificados e edição de genomas de sementes por meio da tecnologia (Crispr). “A ciência será convocada para ajudar. Cultivos de engenharia Crispr terão resistência embutida à seca, pragas e doenças, o que significa menos intervenção química, levando a melhores resultados ambientais. Além disso, é possível projetar benefícios funcionais aos alimentos, como um conteúdo vitamínico e mineral mais elevado”.

Pelas projeções do UBS, o tratamento de sementes deve representar um mercado de US$ 25 bilhões em 2030, com uma taxa de crescimento anual de 13%. O uso de ciências em geral para os alimentos pode movimentar US$ 135 bilhões, ante os US$ 60 bilhões de 2018.

O banco suíço também cita como revoluções que vão surgir ao longo dos próximos dez anos a produção de alimentos por meio de impressoras 3D, o uso de aparelhos robóticos nas cozinhas e a criação de novos ingredientes.

As informações são do Valor Econômico.

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