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Retorno Maternal: Em busca de touros “Femeiros” – II

No artigo de novembro de 2006 do radar técnico de Melhoramento Genético do BeefPoint, RML: em busca de touros "femeiros", foi apresentado um índice bio-econômico objetivando o aumento da eficiência produtiva de vacas Nelore, denominado RML (Retorno Mensal Líquido). Os componentes contemplados no cálculo do RML são: precocidade sexual, permanência produtiva e custo estimado de mantença da vaca, e desempenho de seus bezerros.

Por Fernanda Varnieri Brito, Vânia Cardoso, Roberto Carvalheiro, Luiz Alberto Fries, Carlos Dario Ortiz Peña, Mario Luiz Piccoli, Vanerlei Mozaquatro Roso, Flávio Schramm Schenkel e Jorge Luiz Paiva Severo1

No artigo de novembro de 2006 do radar técnico de Melhoramento Genético do BeefPoint, RML: em busca de touros “femeiros”, foi apresentado um índice bio-econômico objetivando o aumento da eficiência produtiva de vacas Nelore, denominado RML (Retorno Mensal Líquido). Os componentes contemplados no cálculo do RML são: precocidade sexual, permanência produtiva e custo estimado de mantença da vaca, e desempenho de seus bezerros. Vacas com maior RML são aquelas com menor idade ao 1º parto, maior permanência produtiva no rebanho, menor custo estimado de mantença e que produzem bezerros com maior ganho de peso e melhor composição da carcaça em termos de conformação, precocidade e musculatura.

Um índice com a mesma finalidade e contemplando os mesmos componentes do RML foi desenvolvido para vacas Braford e Hereford, e será apresentado nesta edição do radar técnico. Atendendo sugestões de selecionadores, o índice passará a ser denominado por Retorno Maternal (RMat) e será expresso numa base anual. Alguns detalhes sobre as características que compoem o índice são reapresentados a seguir.

1) Permanência produtiva: embora características associadas a longevidade produtiva sejam possivelmente mais relevantes para taurinos do que para zebuínos, optou-se por manter como permanência produtiva no RMat o número de partos até os 4 anos de idade, para que os touros Braford e Hereford pudessem ser avaliados (de forma acurada – conforme o RMat de suas filhas) em idade mais jovem, em comparação com outras características que consideram um maior período de tempo para permanência produtiva (ex.: “stayability” aos 6 anos).

2) Precocidade sexual: ao considerar toda a variabilidade genética existente por incluir na avaliação todas as fêmeas nascidas no rebanho, resultados de pesquisas (ex.: Atencio, 2000 e Eler et al., 2002) evidenciam que características associadas a precocidade sexual apresentam herdabilidade expressiva e, conseqüentemente, responderiam bem a seleção. No presente índice, um ponderador econômico calculado como uma função da idade da vaca ao parto foi utilizado como característica associada a precocidade sexual. Um ganho de 1% ao mês foi atribuído aos produtos de fêmeas precoces em relação a fêmeas “padrão” (vacas com o primeiro parto aos 36 meses e o segundo aos 48 meses).

3) Produtividade: considerada no índice como o desempenho predito da progênie calculado como uma função dos DEPh® para Ganho de Peso, Conformação, Precocidade e Musculatura. Os DEPh® das vacas foram utilizados ao invés do próprio desempenho dos bezerros para que o mesmo fosse corrigido para efeitos ambientais, e não dependesse do mérito do touro com que a vaca foi acasalada. Objetivou-se com a inclusão desse item identificar vacas que produzem progênie mais uniforme (em consequência do uso do DEPh®), com maior ganho de peso e melhor composição da carcaça.

4) Custo estimado de mantença: o custo de mantença das vacas, responsável por grande parte dos custos totais envolvidos no sistema de cria, é considerado no índice como uma função do peso adulto e do consumo estimado de matéria seca. A inclusão deste componente justifica-se pela busca de aumento da produtividade sem o aumento de custos e sem uma possível resposta correlacionada negativa na fertilidade das vacas em decorrência de um peso adulto elevado – em desequilíbrio com o sistema de produção.

A expressão do RMat é uma estimativa do retorno por vaca em kg de peso vivo produzido ao ano, descontado o custo estimado de mantença. O retorno estimado é avaliado não apenas quanto ao peso, mas também quanto à composição deste peso, uma vez que os DEPh® das características conformação, precocidade e musculatura são contemplados no cálculo do índice.

Retorno Maternal de fêmeas Braford e Hereford

Dados de aproximadamente 73.000 fêmeas Braford e Hereford, de fazendas participantes do programa de melhoramento da Conexão Delta G, foram utilizados para calcular seus respectivos RMat, e contrastá-las quanto às características de interesse contempladas no índice (Tabela 1).

Tabela 1. Valores médios de Retorno Maternal (RMat) para fêmeas Braford e Hereford de diferentes classes, conforme o número de partos até os 4 anos de idade, a idade ao primeiro parto e o desempenho da progênie.


*Foi considerada como precoce a fêmea com idade ao primeiro parto menor que 30 meses.

**Para as fêmeas nascidas no programa que não se tornaram vacas (nº de partos=0),
a classificação como inferior ou superior é referente ao seu próprio desempenho predito.

Contrastando as classes, é possível observar que fêmeas com maior número de partos apresentaram maiores médias de RMat, sendo o mesmo resultado observado para as fêmeas com parição precoce e com bezerros com maior desempenho predito.

O retorno anual estimado médio de vacas da classe “2n+”, por exemplo, foi de 102,7 kg (±R$ 205,00/ano), após descontado o custo estimado de mantença.

Apesar de não proferir a oportunidade de continuidade do sistema de cria e de prejudicar a pressão de seleção a ser exercida, as fêmeas que não geraram produtos tiveram RMat médio positivo (em torno de 43,4 kg/ano), decorrente de seus próprios ganhos de peso e descarte/abate. Se demais custos do sistema de produção, além daquele associado à mantença, fossem considerados no cálculo do índice, as fêmeas falhadas possivelmente apresentariam RMat médio negativo – o que ocorreu para algumas fêmeas mesmo sem a consideração de custos adicionais.

O resultado do contraste entre as classes “1p+” e “2n+” indica que não basta a fêmea ser precoce se ela não apresentar permanência produtiva. Comparando as médias de RMat entre as classes “1n+” e “1p-“, e “2n+” e “2p-“, é possível observar que vacas precoces com progênie de mérito inferior apresentaram retorno um pouco maior do que o de vacas não precoces com progênie de mérito superior. O RMat das fêmeas que produziram 3 produtos até os 4 anos de idade aponta vantagem considerável de aumentar um ciclo de produção reduzindo a idade ao primeiro parto para em torno de 2 anos. Cabe salientar que, no conjunto de dados analisado, as fêmeas que se enquadraram nessa classe não foram suplementadas ou receberam tratamento preferencial. No caso de custos adicionais para o desafio das fêmeas em idade jovem, o RMat deveria ser recalculado e o contraste entre o ótimo biológico e o ótimo econômico deveria ser apropriadamente avaliado.

Avaliação Genética de touros Braford e Hereford (DEP Rmat)

Com relação à avaliação genética dos touros, ao contrastar os touros deca 1 (10% superiores) com os touros deca 10 (10% inferiores) para a DEP RMat, observou-se que:

1) touros deca 1 apresentaram filhas com maior permanência produtiva do que os touros deca 10. As proporções de filhas com 0, 1, 2 e 3 partos (até os 4 anos de idade) foram, respectivamente, iguais a 36,7, 23,1, 25,0 e 15,2% para os touros deca 1, e iguais a 97,7, 1,8, 0,4 e 0,1% para os touros deca 10;

2) touros deca 1 apresentaram maior proporção de filhas sexualmente precoces (40,8% das filhas com idade ao primeiro parto menor que 30 meses) em comparação com os touros deca 10 (0,9%);

3) as filhas dos touros deca 1 apresentaram performance predita da progênie 3,5% superior e custo estimado de mantença 1% inferior, em contraste com as filhas dos touros deca 10.

Em decorrência dos resultados anteriores, os touros deca 1 apresentaram filhas com retorno maternal (85,1 kg/ano) 94% superior em relação ao retorno estimado das filhas dos touros deca 10 (43,8 kg/ano), com diferença esperada nas futuras filhas igual a 21,9 kg/ano. Considerando @=R$60,00, essa diferença esperada seria de aproximadamente R$44,00/filha/ano. Mais resultados referentes à DEP RMat para touros Braford e Hereford, poderão ser obtidos no Sumário de Touros Conexão Delta G 2007.

Aplicação da DEP Rmat

Na prática, o grande fator responsável pelo descarte de fêmeas são as falhas reprodutivas (e este também é o maior componente do RMat). A DEP para RMat não teria, portanto, como principal finalidade a seleção de fêmeas. Seu uso é recomendado para: selecionar/identificar touros que deixam uma contribuição genética expressiva para o rebanho (grande proporção das filhas nascidas permanecem produzindo -e bem- por vários anos), como informação auxiliar no direcionamento de acasalamentos, na identificação de vacas para fazer parte de programas MOET, e para selecionadores que adotam de forma combinada as práticas de acasalamento dirigido e uso de sêmen sexado.

Touros com maiores valores de DEP RMat são desejáveis pois tendem a produzir filhas com menor idade ao 1º parto, maior permanência produtiva no rebanho, menor custo de mantença, e que produzem progênie mais uniforme, com maior ganho de peso e melhor composição da carcaça em termos de conformação, precocidade e musculatura. São os chamados touros “Femeiros”, que constroem o “casco” dos rebanhos.

Referências citadas:

Atencio, A. M. Predicción genética de la fertilidad en la hembra cebu. In: Congreso Internacional CEA, 20., 2000, Asunción, Anales… Asunción: 2000, p.29-42.

Eler, J.P., Silva, J.A., Ferraz, J.B., Dias, F., Oliveira, H.N., Evans, J.L., Golden, B.L. Genetic evaluation of the probability of pregnancy at 14 months for Nellore heifers. Journal of Animal Science. 80: 951-954. 2002.

1 Equipe GenSys

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