Síntese Agropecuária BM&F – 10/07/03
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14 de julho de 2003

Restrição alimentar e ganho compensatório

Por André Alves de Souza1

A produção de gado de corte baseada em pastagens nos trópicos apresenta uma característica marcante na curva de crescimento dos animais, com períodos de ganhos de peso satisfatórios, intercalados por períodos de baixo desempenho ou perda de peso. Esses diferentes períodos de crescimento dos bovinos em pastejo estão intimamente relacionados à estacionalidade e crescimento das plantas forrageiras.

O crescimento contínuo dos bovinos de corte é uma concepção teórica de crescimento irrestrito, susceptível de ser modificado pelas forças do ambiente e nutrição, mediante alterações nas taxas de crescimento. Há condições do meio capazes de restringir, anular ou aumentar o ganho de peso, correspondendo à taxas negativas, nulas ou positivas de crescimento.

Crescimento compensatório é o resultado de taxas mais elevadas do que a do próprio crescimento contínuo, acontecendo após períodos de restrição alimentar. A existência de crescimento compensatório faz parte dos recursos homeostáticos dos bovinos, dando-lhes maiores possibilidades de sobrevivência em ambientes de grande variação na disponibilidade de alimentos.

O crescimento compensatório é claramente utilizado na prática, na compra de animais para terminação em confinamento do mercado americano, onde animais mais magros são mais valorizados, em comparação a animais com maior deposição de gordura.

O estresse nutricional pode ser definido como qualquer limitação, tanto qualitativa como quantitativa, que cause crescimento inferior ao normal. Quanto maior a intensidade desse estresse, maior a redução nas taxas de crescimento que podem ficar até negativas. O crescimento compensatório vai ocorrer em situações em que os animais são expostos a um estresse nutricional com determinada intensidade por algum tempo e, em seguida, lhes é dado acesso a um nível de alimentação superior. A ocorrência desse fenômeno pode ser verificada pelas inclinações das curvas de crescimento no período pós-restrição, comparando-as com inclinações de animais que não passaram por restrição. O ângulo de inclinação das retas de ganho de peso no período de realimentação nos mostra se houve ou não compensação. Se não houver compensação, a reta de ganho de peso dos animais com restrição será paralela a de animais sem restrição (gráfico 1). Havendo compensação, o ângulo dessa reta deverá ser maior para os animais com restrição (Boin & Tedeschi, 1997).

No caso apresentado no gráfico 1, o mesmo peso de abate será atingido pelos animais que sofreram restrição alimentar, porém em idade mais avançada.

Gráfico 1. Desempenho de bovinos Nelore em terminação, com diferentes suplementos alimentares, apresentando ângulos semelhantes nos animais do grupo controle (“restrição”) em relação aos suplementados (“sem restrição”).

Fonte: adaptado de SOUZA, A.A. (2002)

Nos casos de ocorrência de ganho compensatório, essa compensação pode ser dividida em:

1 – Compensação completa: taxa de ganho superior do crescimento consegue compensar plenamente o menor desempenho do período de restrição.
2 – Compensação parcial: taxas mais elevadas de ganho da compensação não são suficientes para recuperar tudo que deixou de ser ganho no período de restrição.

Fonte: adaptado de Ryan (1990)

Quando houver compensação completa, o peso de abate a mesma idade para animais com restrição ou não, será o mesmo após a compensação, enquanto nos casos de compensação parcial, o peso de abate a mesma idade, será menor para os animais que sofreram restrição. Os casos de compensação parcial são os mais frequentes nos sistemas de produção baseados em pastagens, pelo fato das restricões severas poderem causar problemas de saúde dos animais.

Vários fatores afetam o crescimento compensatório, podendo ter diferentes características em relação à duração, intensidade ou ambas. Os principais fatores influenciando a intensidade do crescimento compensatório são:

– Idade de ocorrência da restrição
– Severidade da restrição
– Duração do período de restrição
– Grupo genético
– Maturidade fisiológica
– Tipo de restrição

Referências bibliográficas

BOIN, C.; TEDESCHI, L.O. Sistemas intensivos de produção de carne bovina: II. Crescimento e acabamento. In: Simpósio sobre pecuária de corte, 4. Piracicaba. Anais. FEALQ., p. 205-228, 1997.

LANNA, D.P.D. Nutrição de bovinos de corte em ganho compensatório. In: III Seminário Internacional Nutron Sobre Nutrição de Bovinos. Campinas, 2001.

RYAN, W.J. Compensatory growth in cattle and sheep. Nutrition Abstracts and reviews. v. 60, p. 653-664, 1990.

SOUZA, A.A. Uso de subprodutos agroindustriais para suplementação de novilhos em terminação durante o período de secas. Dissertação Mestrado, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, 2002.
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1Médico veterinário, Doutorando em Nutrição Animal da Unesp-Botucatu

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