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Reino Unido já costura pacote de tarifas e cotas para proteger seus produtores

O Reino Unido vai impor tarifas e cotas agrícolas para proteger os produtores rurais se o Brexit sair sem nenhum acordo em 29 de março, e poderá fornecer “um apoio direto em dinheiro” para aqueles cujos negócios forem mais duramente atingidos. Foi o que disse Michael Gove, secretário do Meio Ambiente do Reino Unido, na conferência anual do Sindicato Nacional dos Produtores Rurais (NFU), em Birmingham.

Ele sugeriu que o arcabouço de proteção poderá ser aplicado a bens como carnes de carneiro e bovina e produtos lácteos. “Não posso antecipar os anúncios que serão feitos, mas não será o caso de termos tarifa zero para os produtos alimentícios”, afirmou à plateia formada por produtores rurais. “Haverá proteções para setores sensíveis da agricultura e da produção de alimentos”.

O governo do Reino Unido também poderá tentar socorrer os produtores de outras formas, disse Gove. “É claro que também temos o poder de interferir para fornecer um apoio direto em dinheiro para os setores mais vulneráveis. Não hesitarei em fornecer o apoio necessário”.

O estabelecimento de tarifas na eventualidade de não haver um acordo no Brexit vem se mostrando uma das questões mais sensíveis do processo discutidas nos últimos dias no Parlamento Britânico. Um membro do governo afirmou que as decisões finais poderão ser deixadas para a primeira-ministra Theresa May.

Se o Reino Unido deixar a UE sem um acordo, será obrigado, como membro da Organização Mundial do Comércio (OMC), a impor as mesmas tarifas do bloco e de outros países do mundo. Assim, os produtos da UE perderiam o acesso preferencial de que gozam no momento.

No caso dos produtos agrícolas, isso significa que o Reino Unido teria que cobrar o mesmo imposto da carne de carneiro da França e de fornecedores altamente competitivos, como Austrália e a Nova Zelândia.

Os produtores britânicos há muito dizem que abrir mercado para as potências agrícolas poderá devastá-los, o que é um dos principais argumentos para a imposição de taxas no caso de um Brexit sem acordo.

Gove destacou que poderão ser protegidos os segmentos de “carne ovina, bovina, aves, laticínios, leite e queijo, e carne suína”, mas nada disse sobre itens como grãos, frutas, vegetais e flores. Defensor da saída do Reino Unido da UE no plebiscito de 2016, ele disse acreditar que o Parlamento, em algum momento, vai ratificar o acordo de saída de Theresa May porque a alternativa, que é deixar a UE sem um acordo, é sombria.

“Eu posso – e vou – enfrentar energicamente e com determinação as consequências da não existência de um acordo, mas que ninguém tenha dúvida de que isso será muito difícil e prejudicial”, afirmou.

Se acabar o atual comércio livre de tarifas entre o Reino Unido e a UE, que não exige inspeções alfandegárias, os consumidores poderão pagar mais caro pelos alimentos, especialmente os produtos frescos.

Se o Brexit sair sem acordo, sob as regras da OMC a UE também poderia impor tarifas de 40% sobre exportações britânicas como de carnes ovina e bovina. E poderá haver falta de trabalhadores migrantes do bloco dispostos a trabalhar na colheita de frutas e vegetais.

Os britânicos dependem das importações para se alimentar. Especialmente durante os meses de “hungry gap” (entressafra), no começo da primavera [segundo trimestre], quando a safra do ano anterior de vegetais cultivados localmente – como cenoura e repolho – chega ao fim e a nova ainda não entrou no mercado, o que acontece por volta da metade de maio.

O país é autossuficiente em cerca de 60% de suas necessidades de alimentos, segundo números recentes do Departamento do Meio Ambiente, Alimentos e Assuntos Rurais. Mas o percentual alcançava cerca de 80% na metade da década de 1980.

Fonte: Valor Econômico.

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