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Regulação do intervalo pós-parto em vacas

Ed Hoffmann Madureira

A eficiência reprodutiva é um dos fatores que determinam a produtividade do rebanho. Para se manter um intervalo entre partos de 365 dias, as vacas devem estar prenhes até 85 dias após o parto. Uma das maiores causas de baixa eficiência reprodutiva, particularmente em vacas amamentando, é o longo período entre o parto e a primeira cobertura.

Eventos endócrinos que precedem a primeira ovulação pós-parto

No final da gestação, a alta produção de estrógenos pela placenta inibe a síntese de gonadotrofinas da hipófise. Este feedback negativo cessa logo após o parto, permitindo a síntese e a secreção de gonadotrofinas e a retomada do ciclo estral. Esta retomada do ciclo estral ocorre em duas fases. A primeira fase ocorre de 2 a 5 semanas pós-parto, e envolve o aumento da síntese de LH, sugerindo ser relativamente independente da amamentação, de fatores genéticos ou ambientais. A segunda fase envolve o aumento da liberação pulsátil de LH que estimula o crescimento folicular, o aumento da produção de estradiol pelo folículo e a ovulação. A segunda fase provavelmente determina o intervalo do anestro pós-parto. O crescimento folicular inicia-se aproximadamente 12 dias pós-parto, tanto em vacas leiteiras quanto de corte, e mesmo em vacas em anestro pós-parto prolongado (maior do que 100 dias). Entretanto, em vacas leiteiras, o primeiro folículo dominante ovula na maioria das vacas (aproximadamente 74%), enquanto em vacas de corte, a ovulação do primeiro folículo dominante varia de 0 a 11%. Desta forma, o período de anestro pós-parto prolongado em vacas de corte é devido a uma falha na ovulação e não a um atraso do desenvolvimento folicular. Esta falha na ovulação do primeiro folículo dominante é atribuída a uma inadequada freqüência dos pulsos de LH, que resulta em baixa produção de andrógenos pelo folículo, levando a concentração insuficiente de estradiol para induzir o pico pré-ovulatório de LH e a ovulação.

Cios silenciosos

Geralmente, a primeira ovulação pós-parto não é acompanhada de sinais do cio. Alguns dados indicam que a primeira ovulação pós-parto precedida por sinais clínicos de cio, em vacas de corte, são inferiores a 5%. O priming de progesterona antes da primeira ovulação pós-parto é um pré-requisito para que ocorra os sinais clínicos de cio seguido pela primeira ovulação pós-parto.

Ciclos curtos

Os ciclos curtos ocorrem quando o intervalo entre uma ovulação e outra é menor do que 18 a 24 dias, que é a faixa de variação do intervalo inter-estral em fêmeas ciclando normalmente. A incidência de ciclos curtos em vacas de corte é de aproximadamente 75 a 85%, maior do que o de 28% descrito em vacas de leite. A razão para a ocorrência dos ciclos curtos não é bem conhecida, entretanto, sugere-se que seja necessário o primin de progesterona para induzir o folículo a tornar-se um corpo lúteo funcional ou para regular a liberação de prostaglandina F2( pelo útero.

Cisto folicular

O desenvolvimento do cisto folicular ocorre devido a uma falha na ovulação do folículo dominante ou na atresia. O folículo dominante continua seu crescimento até aproximadamente 45 mm e suprime o crescimento de outros folículos devido, principalmente à produção de estradiol. A causa da formação do cisto não está bem estabelecida, mas sugere-se que seja devido ao aumento na freqüência de LH, insuficiente para causar a ovulação mas suficiente para manter seu crescimento e a produção de estradiol. O cisto torna-se estrógeno inativo em período de tempo variável, permitindo assim, a emergência de uma nova onda folicular. Em vacas de corte, a incidência de cisto folicular, formado do primeiro folículo dominante pós-parto, não é maior do que 2 a 3%.

Fatores que afetam a duração do intervalo pós-parto

Nutrição – O estado nutricional pré-parto é mais importante na determinação do intervalo pós-parto em relação ao estado nutricional pós-parto. Este fato nos leva a propor que uma adequada condição corporal antes do parto poderia assegurar uma melhor performance reprodutiva pós-parto. Um aumento no escore de condição corporal entre 1,5 e 2,75 (escala de 0 a 5) reduziu o intervalo em 43 dias. Os efeitos do nível nutricional pós-parto são mais pronunciados em vacas magras, que apresentam intervalo pós-parto mais longos.

Amamentação – Muitos estudos sugerem que a amamentação é o maior determinante do intervalo pós-parto. Vacas que amamentaram durante 30 minutos diários e que não mantinham nenhum contato com seus bezerros, apresentaram redução de 28 dias no período pós-parto, enquanto vacas que foram submetidas somente à restrição da amamentação mas mantiveram contato visual e auditivo com seus bezerros apresentaram uma redução de 17 dias, ambas em relação às vacas que permaneceram constantemente com seus bezerros. Sugere-se que não só o estímulo táctil, mas também o auditivo, visual e olfatório são capazes de prolongar o período de serviço pós-parto. O mecanismo preciso pelo qual o estímulo da amamentação atrasa o retorno à ciclicidade não está bem estabelecido, entretanto, ocorre a inibição da liberação dos pulsos de LH através da liberação de opióides endógenos.

Número de parições – Vacas de primeira cria apresentam intervalo pós-parto aproximadamennte 15 dias maior em relação às multíparas. Isto tem sido atribuído ao fato de que as primíparas não alcançaram o peso corporal de adultas no momento do primeiro parto e consequentemente apresentam maior demanda nutricional para suportar a sua manutenção, a lactação e o seu crescimento. Para minimizar o impacto da primeira parição, recomenda-se que as novilhas estejam com 65% e 90% do peso corporal de adultas, respectivamente, na cobrição e na parição.

Distocia – A distocia aumenta o período pós-parto. Os fatores que influenciam a ocorrência de distocia são: idade da fêmea, sexo do bezerro, peso do bezerro, comprimento da gestação e raça. Fêmeas primíparas apresentam maior tendência à distocia em relação às multíparas.

Fonte: DISKIN, M.G. Regulation of post-partum interval in cattle. Irish Veterinary Journal, v.50, n.4, p.238-7, 1997.

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