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Reflexões sobre a rastreabilidade bovina e certificação de propriedades rurais no Brasil

Diante de mais uma revisão geral em curso no programa brasileiro de rastreabilidade bovina e certificação de propriedades rurais - SISBOV - proponho uma reflexão sobre alguns pontos.

Diante de mais uma revisão geral em curso no programa brasileiro de rastreabilidade bovina e certificação de propriedades rurais – SISBOV – proponho uma reflexão sobre alguns pontos:

1- É importante separar melhor os papeis do órgão normatizador, do órgão acreditador, do órgão certificador, de consultor independente, de eventuais operadores sub-rogados pelo produtor, dos fornecedores de hardware e software e do próprio produtor no processo.

2- O orgão normatizador deve sempre fazer ampla consulta a cadeia produtiva para redigir uma norma que seja possível de ser cumprida e ao mesmo tempo atenda as razões de sua criação. Apesar das discussões no Comitê Técnico Consultivo do SISBOV, na Câmara Setorial da Carne, na Comissão de Agricultura da Câmara Federal e em outros fóruns a participação dos produtores ainda é baixa.

3- Para exemplificar, no Brasil, o principal órgão normatizador é a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e o principal órgão acreditador é o Inmetro. Certificadoras há diversas, nacionais e internacionais. Para cada escopo, ou seja, protocolo de certificação, há um processo de acreditação das empresas certificadoras.

4- No caso do SISBOV, o MAPA desempenhou até agora os papeis de normatização e acreditação e isto de fato causa confusão. Não é bom que quem “fiscalize” as certificadoras seja a mesma pessoa que redigiu as normas. Na prática agrava o problema de interpretação da norma ao invés de atenuar. Em qual papel o MAPA se enquadra melhor? Quem poderia desempenhar o outro papel?

5- Um protocolo de certificação deve definir claramente os itens a serem controlados e como auferir se os controles estão adequados. A atual norma (IN 17) avançou muito neste sentido em relação as normas anteriores. Talvez devamos enxugar o excesso.

6- Qualquer processo de gestão/gerenciamento está sujeito a erro e portanto o protocolo deve também definir a tolerância a erros, podendo para isto separar os itens de controle em maior ou menor importância e definir um nível máximo de não conformidades que permita ao estabelecimento obter/manter a certificação. No SISBOV só passa de ano aluno com nota dez em todas matérias e sem falta.

7- Uma não-conformidade deve sempre ser corrigida, mesmo que o nível de erros do estabelecimento esteja dentro do tolerável. Mas para isto é preciso definir claramente quais são as ações corretivas necessárias para sanar as principais não-conformidades do processo e nos casos que os erros detectados não ocasionaram a perda da certificação, deve ser definido também um prazo para implantação de cada ação corretiva.

8- Deve-se definir quais ações corretivas de não-conformidades deverão ser conferidas antes do novo processo de certificação e quais a conferência poderá aguardar o novo processo de certificação. E deve-se definir também um critério técnico de amostragem para o órgão acreditador conferir a qualidade do trabalho das certificadoras por ele credenciadas. Estes procedimentos racionalizariam os custos do programa sem detrimento de sua segurança.

9- Apesar de não ser obrigatório quase sempre os estabelecimento recorrem a consultorias para implantar um novo protocolo em suas operações. Normalmente é mais eficiente do que o produtor ter que se especializar na norma e desenvolver métodos próprios para se enquadrar. Aqui novamente é importante separar quem ajuda o produtor a implantar um protocolo de quem certifica. E no SISBOV as certificadoras desempenham ambos os papeis.

10- Rastreabilidade é um item que pode (ou não) ser parte de um protocolo de certificação. Mas é independente. Só o produtor pode rastrear sua produção (na “mão” ou com auxílio de softwares). Nem a certificadora nem um eventual consultor podem estar presentes nos estabelecimentos a cada entrada ou saída de animais. O consultor pode auxiliar o produtor com procedimentos e treinamentos, mas não pode assumir a operação por razões óbvias. Fornecedores podem oferecer ferramentas (software e harware) para facilitar o trabalho. E a certificadora só deveria se ater no processo de certificação, caso a rastreabilidade seja um dos itens a serem auditados, a conferir se os procedimentos de rastreabilidade adotados pelo produtor estão corretos. Isto pode ser feito no próprio estabelecimento do produtor. Não faz qualquer sentido o produtor enviar a documentação do processo de rastreabilidade para a certificadora efetuar os lançamentos na BND.

Mas se o que desejamos é atender a demanda dos compradores não adianta imaginar que um processo de rastreabilidade sem acreditação possa emplacar. Faltariam as garantias para a credibilidade necessária. Por isto quanto mais clara for a norma e mais claros ficarem os papéis de cada um mais fácil será a implantação dos ajustes no processo.

0 Comments

  1. Ananias Duarte disse:

    Impressionante como a ausência da visão empresarial, de negócio mesmo, do pecuarista brasileiro demanda uma séria de mal-entendidos, bate-bocas e resistências.
    Se o pecuarista tivesse o cuidado de anotar, de registrar – na munheca mesmo – as ocorrências diárias em seu criatório, a rastreabilidade estaria, automaticamente, montada e não seria preciso “enfiar guela abaixo” do pecuarista obrigação de fazer algo que ela não sabe, ainda.
    Mas tudo que é novo, que trás mudança encontra resistência. Todos querem continuar na sua “área de conforto”, não querem arriscar e, pior, se tiver que gastar dos poucos que tem aí “é que o bicho pega”.
    Entre tantos exemplos de mudanças e resistência, temos a FAIXA DE PEDESTRE que até hoje existem aqueles que não há respeitam (ou a entendem) e, também, aqueles que abusam delas.

  2. José Ricardo Skowronek Rezende disse:

    Prezado Ananias Duarte,

    Entendo que a resistencia a mudanças é natural do homem.

    Mas constantemente somos obrigados a mudar para sobreviver e evoluir.

    E os pecuaristas. como fornecedores da cadeia da carne, devem estar atendos as novas exigências do mercado.

    É importante esclarecer o produtor com dificuldades sobre a disponibilidade de consultores ou mesmo operadores, bem como de ferramentas de software e hardware, que podem auxiliar muito no cumprimento das novas exigências.

    Mas ainda que contrate um contador para elaborar sua declaração do imposto de renda, por exemplo, o contribuinte é sempre o responsável pela veracidade dos dados enviados a Receita. Da mesma forma o produtor é, em última instância, o responsável pela rastreabilidade do seu processo produtivo.

    Att,

  3. Otavio Cesar Bucci disse:

    Concordo inteiramente com você caro Jose Ricardo, acho que na esteira da reforma no SISBOV, o MAPA deveria colocar em discussão também o papel das certificadoras, que, diga-se de passagem, hoje não certificam nada, e como você afirma não sabem se são certificadoras ou consultoras dos pecuaristas, e muitas vezes acabam exercendo mais o papel de consultoras que propriamente de certificadoras, ate por uma questão de sobrevivência econômica, daí muitas terem desistido e ate mesmo serem descredenciadas pelo próprio MAPA. A situação das certificadoras do SISBOV hoje é no mínimo conflitante, pois não certificam nada como já disse, apenas fazem uma pré-auditoria para o MAPA, que por sinal também não acredita neste trabalho e vem mesmo que demore, conferir o trabalho que na maioria das vezes devido à rigidez na interpretação das normas quase sempre são reprovadas, ai fica o mico na mão da “certificadora” perante o produtor. Acredito que se definisse melhor o papel de cada um a coisa talvez fluísse melhor, as certificadoras iriam a meu ver realmente certificar que a propriedade esta conforme para exportar independente de auditoria para certificar a certificação, e que se puna realmente aqueles que não cumprirem seu papel, já o MAPA, faria auditorias aleatórias em propriedades e certificadoras para validar ou não processos de certificação e idoneidade das mesmas, como era no inicio do SISBOV, porém como esta hoje não tem condições instalou-se uma disputa predatória no setor, onde o processo de certificação é o menos lembrado, e o pecuarista percebendo estabelece o leilão, mas devemos continuar o debate para se chegar ao sistema ideal de certificação com baixo custo e efetividade na aplicação, ainda mais agora com a lei 12092 que já começa a valer em2010, a discussão promete.

  4. José Ricardo Skowronek Rezende disse:

    Prezado Otavio Cesar Bucci,

    Bom ouvir notícias suas.

    De fato desde o início do SISBOV há um conflito de interreses no papel da certificadora, que continua sem solução.

    A mesma empresa não só é a consultora que orienta o produtor no atendimento da norma como é a operadora responsável pelo lançamento dos dados da rasteabilidade do rebanho e a certificadora que atesta o cumprimento da norma.

    Convenhamos que é dificil que quem orientou o produtor na implantação do processo e ainda por cima lançou os dados do rebanho dele na BND esteja isento para certificar a propriedade.

    Por isto precisamos aproveitar a revisão para acabar com esta confusão e definir melhor os papeis de cada agente.

    A certificadora deve apenas certificar e o orgão acreditador (MAPA) deve fiscalizar as certificadoras por amostragem. O MAPA ter que auditar cada uma das propriedades é improdutivo e só faz sentido temporariamente em uma situação crítica. Foi importante para o resgate da credibilidade no inicio de 2008, mas já deveria ter sido revisto.

    E acredito que a certificadora dará conta do racado se estiver livre dos conflitos de interesse mencionados.

    Acredito em consultores independentes, ajudando o produtor a ajustar seus procedimentos as exigencias da norma. Não faz sentido cada produtor virar um especialista no norma e a certificadora não deve desempenhar este papel para evitar conflitos.

    Acredito que a rastreabilidade do rebanho seja sempre responsabilidade do produtor. Em nome dele os dados devem ser inseridos na BND (login e senha para cada produtor acessar diretamente a BND) e basta um ajuste simples na atual BND para isto ser possível.

    Se o produtor vai assumir ou delegar a tarefa de rastrear seu rebanho para um operador sub-rogado depende de cada caso. Algumas empresas, por exemplo, contabilizam sua operação, outras tercerizam.

    Mas para evitar conflitos a certificadora não deve lançar os dados que auditará.

    Acredito no uso de softwares privados homologados pelo MAPA para comunicação com a BND. As melhores soluções serão reconhecidas pelo mercado, como ocorre em outros setores. E cada empresa de software deve ser responsável pelo treinamento e suporte aos seus usuários. Isto não é papel do MAPA.

    E só acredito na leitura visual de códigos de identificação de 15 dígitos para pequenos rebanhos. Para rebanhos maiores é vital o uso de coletores de dados (software + hardware) confiávies. Qual a melhor tecnologia? Depende de cada caso.

    Se o produtor vai adquirir e operar estas ferramentas ou delegar / sub-rogar a tarefa de coleta de dados também vai depender de cada caso (tamanho do rebanho, mão-de-obra disponível, localização, etc). Temos casos de equipes volantes de coleta de dados no Uruguai operando com sucesso.

    Por último é vital melhorar muito a qualidade dos brincos, quye deveriam durar dez anos.

    Em suma acredito numa rastreabilidade alicerciada numa BND publica e confiável, com cada agente desempenhando um papel claro.

  5. José Manuel de Mesquita disse:

    Prezado Sr.

    Após ler vosso artigo, e inúmeros outros, sobre o tema “SISBOV”, chego a conclusão que o problema está fora de foco. Não vejo motivos para que “o ente público Estado” interfira em como cada produtor deva conduzir seu negócio.

    O mercado automobilístico Montadoras, e seus Fornecedores de Conjuntos, Sub-Conjuntos e Peças, possuem há muito tempo um relacionamento baseado em normas, que harmoniza a relação entre todos os participantes da cadeia.
    Funciona muito bem, e nunca tive notícias de que o “ente público Estado” se envolveu em assuntos que pudesse interferir nessa relação. Os fabricantes de insumos para o setor automobilístico, que não queiram se ajustar as regras e especificações das montadoras, não são “proibidos” ou ameaçados de “sair” do mercado por esse motivo; podem produzir seus produtos e vende-los no mercado de reposição, disputam o consumidor com todos os outros fornecedores em idêntica situação, e em uma ferrenha competição, mas não tem seus produtos adquiridos pelas montadoras.

    Na pecuária atual, o problema está na ausência dos Abatedouros Municipais, e dos pequenos Frigoríficos, que desapareceram por motivos ditos “sanitários” ou pelo poder “econômico e político” dos Grandes. Criou-se dessa forma uma concentração do poder de compra muito grande para os mesmos. Ao contrário do mercado automobilístico, os pecuaristas não tem o tal “mercado de reposição” pois o “poder público” teria que investir em infra-estrutura sanitária para acompanhar os abates nos pequenos frigoríficos e abatedouros municipais. No nosso Brasil, historicamente as “oportunidades republicanas” não são para todos, tais oportunidades estão reservadas aos grandes grupos, pois estes respondem generosamente sempre que solicitados e em geral a cada 4 anos.

    Dessa forma, e para benefício dos mesmos (grandes grupos) instituiu-se o tal SISBOV, assim seria lei, e todos os produtores teriam que produzir dentro da mesma norma, teoricamente padronizando os controles sanitários, alimentando uma industria de insumos de identificação, empresas de consultoria/assessoria, e entregando um produto padrão para os Grandes Frigoríficos, que não teriam que pagar mais por “produtos superiores”, afinal após a colocação do Brinco/Botton consumaria-se a mágica de transformar todos animais produzidos no país num mesmo produto, pagando-se o mesmo valor por todos, e da massa fornecida, retirar-se-ia os bons produtos para exportação e fim… dinheiro fácil para os mesmos… que desandaram a comprar plantas no exterior, com o que nos tiraram ao longo de tempo, e com recursos do BNDES (não nos esqueçamos que parte de nossos impostos também é canalizado par lá).

    O problema, é que os de sempre, não contavam com a resistência do produtor europeu que, se sentindo invadido e sem condições de competir com o oligopólio formado pelos Frigoríficos brasileiros chiou… Afinal nossos produtos possuem qualidade e preços baixos em comparação aos produtos produzidos na Europa; não temos o tal inverno que cobre tudo de neve, não temos a tal da vaca-louca, terras baratas, mão de obra idem… A arma que lhes sobrou foi nos cobrar seriedade no tal “SISBOV”, que foi definido por alguém que de alguma forma não acreditava que teria que ser realmente implantado;
    e desde sua criação e alterações, não conseguiu ter uma única aprovação entre todas as realizadas por eles (europeus). Em épocas que antecedem a visita de alguma missão europeia para auditar o “tal sistema”, repete-se a rotina de notícias ufanistas sobre a quantidade de propriedades aprovadas, sobre a grande evolução das propriedades e seus controles no SISBOV… para em seguida vir as más notícias, sempre seguidas de exaltadas declarações dos órgãos responsáveis pelo “tal sistema” acusando os auditores europeus de protecionistas, e muito exigentes… os responsáveis nos chamam para aumentar o furor nos protestos, nos insuflam o patriotismo… e seguimos adiante nos achando muito espertos, e continuamos a caminhar para frente sem sair do lugar. É triste mas se não mudarmos o conceito, continuaremos personagens de um romance mal escrito, que infelizmente já conhecemos seu final.

    Passado tanto tempo, continuo a ver tentativas desesperadas de, se distrair a plateia com discussões sobre o papel específico de cada personagem em um romance ruim, ao invés de reescreve-lo ou simplesmente substituí-lo por um melhor.

    Nos últimos tempos, temos tido sucessivos exemplos, de como o “ente público Estado” é um péssimo escritor, mas continua bajulado pelos predadores sedentos do pouco que nos sobra.

  6. José Ricardo Skowronek Rezende disse:

    Prezado José Manoel de Mesquita,

    De fato setores como o automobilisto, que cita, possuem sistemas próprios de rastreabilidade envolvendo seus fornecedores e clientes, sem qualquer ingerência governamental. Mas lembre-se que existem poquissimas montadoras no mundo e mesmo a menor delas é uma empresa de tamanho considerável e com condições econômicas de implantar um programa próprio de rastreabilidade.

    Este setor específico implantou um sistema de rastreabilidade que permite saber exatamente quais lotes de veiculos utilizaram quais lotes de peças em sua fabricação e sempre que detectados posteriormente problemas em alguma etapa do processo produtivo as empresas podem chamar seus clientes para que sejam reparados os problemas dos veiculos fabricados. Mas não fez isto apenas para manutenção de sua imagem. Uma motivação igualmente importante foi reduzir os riscos de indenizações milionárias.

    A industria farmaceutica, até por razões mais obvias, também foi uma das primeiras a se preocupar com o desenvolvimento da rastreabilidade do processo produtivo. E muitas outros setores seguiram igual caminho.

    Mas na cadeia da carne temos duas situações específicas: a) a necessidade do sistema de rastreabilidade cobrir um produto, o boi, que muitas vezes é produzido em mais de uma propriedade e por mais de um produtor (cria/recira/engorda) e b) que ao invés de algumas montadoras estamos falando em centenas de milhares ou milhões de produtores, cada qual sem condições economicas de implantar um sistema própria e audiável de rastreabilidade.

    Ao meu ver o governo assumiu esta tarefa de implantar um program nacional de rastreabilidade para ajudar o setor, muito pulverizado, a atender uma exigência, sanitária ou política – não faz diferença na prática, de importanbtes importadores. E o interesse na manutenção das exportações era de toda cadeia: produtores, frigoríficos e governo.

    Aproveito ainda para lembrar que o atual SISBOV é de adesão voluntária e que o relatório da última missão da UE ao Brasil para auditar o sistema, ao contrário de outras vezes, foi extremamente positivo.

    Na verdade clientes exigentes é que nos fazem avançar. Em parte por conta das exigencias da UE estruturamos uma industria frigorífica brasileira moderna e competitiva.

    Att,

  7. José Manuel de Mesquita disse:

    Prezado José Ricardo,

    Sempre existem argumentos para um ou outro lado. Dependendo de que lado se está, o tal sistema é bom e propicia vantagens; tais vantagens sempre passaram ao largo do produtor (cria ou recria ou engorda), em compensação parte de nossos recursos foi canalizado para outras atividades que orbitam nosso negócio, sem contudo adicionar nada a ele, a não ser burocracia e custos, que nunca nos foram compensados.

    Você fala de que o sistema agora é voluntário, mas por quanto tempo ele não o foi? quantos brincos tivemos que comprar, preencher listas, e no final não serviram para nada; a não ser o tal brinco que dava a sensação de que os animais eram rastreados e assim os frigoríficos e as tais certificadoras ganharam seu quinhão sem nos deixar nada, a não ser a revolta e o sentimento de perda.

    Discordo de vossa posição de que o estado tem competência para projetar, planejar e gerir o tal sistema. Se o “ente Estado” tivesse esse tipo de competência, há muito tempo já teríamos erradicado doenças como a Aftosa e a Brucelose.

    No próprio BeefPoint, nas cartas enviadas, e suas respostas, você poderá encontrar queixas e lamentações de funcionários do “ente Estado” sobre a falta de estrutura e condições mínimas de trabalho a que estão sendo submetidos, e isso na fase em que o tal sistema ainda não está implantado e operante.

    Por outro lado, não há a necessidade de que cada frigorífico controle todo o rebanho brasileiro. Ele teria sim que ser responsável, e auditar cada propriedade onde se abastece, especificando que tipos de controles seriam exigidos para que a propriedade possa ser fornecedora de animais para abate.

    Os níveis de exigência dos diversos mercados também propiciam diferentes exigências sobre o produto a ser fornecido a cada um deles, dessa forma, existiriam propriedades que poderiam fornecer para um ou outro “mercado” dependendo do nível tecnológico de manejo, gestão e padrão de sanidade que possam possuir.

    Os frigoríficos, mais do que qualquer outra entidade, tem condições de saber se as propriedades onde se abastecem tem condições de atender suas exigências, afinal ele (frigorífico) vai a cada uma delas todas as vezes em que vai retirar os animais para abate. Bastaria que em alguma dessas oportunidades, enviasse junto um auditor para verificar as condições que a propriedade possui, e se estaria em condições ser certificada para fornecimento. Somente após isso, o proprietário de cada uma delas poderia decidir se deseja ou não ajustar seu negócio para atender a mercados diferenciados atendidos pelos frigoríficos, isso seria adesão voluntária, e é bem diferente do que está sendo proposto neste e nos sistemas anteriores.

    A exigência de um nº de Manejo com 6 algarismos é uma estupidez, vindo da cabeça de quem nunca participou da rotina de manejo de uma propriedade pecuária. Você tem idéia da quantidade de erros de leitura e transcrição de um brinco com 6 algarismos? que deverá ser lido pelo menos umas 5 vezes a cada ano? Acredito que não, mas nossa experiência mostrou que um brinco com apenas 4 algarismos produz de 3 % a 4% de erros para cada pessoa envolvida no processo, ou seja: quem lê erra, quem ouve e transcreve também erra, metade dos erros são os mesmos, mas a outra metade não… se apenas 2 pessoas estiverem envolvidas no processo, significa um erro de pelo menos 2% (com 4 algarismos) com 6 algarismos, o erro deverá no mínimo dobrar. Portanto teríamos em erro de pelo menos 4%, é muito para um sistema que deva ter um mínimo de segurança e credibilidade. Como tal número será lido no curral, ou nos manejos de campo se o mesmo estiver gravado na parte baixa da Perna do animal, contido no tronco ou ao lado dos outros… gostaria de saber de que forma seriam lidos, gostaria ainda, que os sábios do “ente Estado” e que seus admiradores, passassem parte de seu tempo coletando números nestas condições.

    Mas, a festa está reservada para os fabricantes de “Brincos” ou de “Chips” ou para a industria de identificação em geral. Afinal marcar a “ferro” na parte baixa da perna não será tarefa fácil para quem realmente necessitar ler os tais números, então, nada mais restará a não ser a “obrigatoriedade voluntária” de adquirir os tais brincos e eventualmente os tais Chips, com os tais leitores (desnecessariamente caros).

    A festa seguinte estará reservada para as “certificadoras”… aos atores que representarão este papel (certificadoras) no romance “sisbov” não resta outra alternativa a não ser defende-lo, como os tem defendido ao longo do tempo, e em todas as suas versões.

    Como o “ente Estado” não pensa em incrementar os serviços de inspeção sanitária, para que os abatedouros municipais possam ser reativados, ou mesmo incentivar a volta de pequenos frigoríficos, continuaremos nas mãos dos “Grandes Nacionais” agora “Multinacionais”, que continuarão forçando o “ente Estado” a assumir a responsabilidade que é deles, garantindo assim matéria prima barata por mais um período de no mínimo 4 anos… Como não temos o mercado interno (abatedouros municipais e pequenos frigoríficos), a saída é exportar animais em pé… Mas, eles sempre estarão atentos, pois pelas notícias que circulam, eles já estão se movimentando para bloquear essa possibilidade.

    Não é justo passarmos pelo que passamos, pagarmos por serviços de certificadoras, recebermos os tais brincos pelo “Sedex”, e continuarmos a ouvir que dessa vez será diferente.

    Nunca será diferente: O autor, os atores, a direção de arte são os mesmos, como acreditar que o espetáculo será diferente? Continuaremos a ver o mesmo tipo de espetáculo, sendo bancado por nosso trabalho.

    Se fosse uma comédia, ainda poderíamos rir; infelizmente o choro nos espera…seremos obrigados a assistir e pagar por mais uma tragédia.

    Nada pessoal…

  8. José Ricardo Skowronek Rezende disse:

    Prezado Sr José Manoel de Mesquita,

    Realmente sempre podemos argumentar a favor ou contra quase tudo. Mas antes da implantação do SISBOV o Sr recebeu um diferencial de preços pela arroba do seu boi por causa dos ganhos que a exportação da carne do mesmo agregava para o frigorífico? Sou produtor a mais de 25 anos e nunca havia recebido nada antes.

    Esclareço ainda que a obrigatoriedade de rastrear nunca vigorou no SISBOV, tanto que a imensa maioria dos produtores não o fez até agora e nunca foi impedido de comercializar seus animais. Com a nova lei aprovada isto deve mudar, pois uma lei obriga a todos.

    Realmente o Estado tem suas limitações, mas ainda assim desempenha um papel vital para o setor. E se souber delegar com inteligencia parte das funções, como quis sugerir, acho que podemos implantar um programa racional. Ainda assim um melhor aparelhamento do Estado é desejável e necessário.

    O que menciona sobre diferentes graus de exigência dos diferentes mercados não só é verdade como já é adequadamente tratado pelo governo. A UE exige uma coisa e a Russia outra. O SISBOV é para atender os mercados mais exigentes.

    Já repassar para os frigorificos a tarefa de rastrear seus fornecedores esbarra em dificuldades operacionais ainda maiores. A primeira é de credibilidade: uma certificação de primeira parte neste mercado não é aceita pelos compradores. A segunda é de complexidade: cada fornecedor do frigorifico é também muitas vezes comprador de animais de outras propriedades o que faz com que os elos se multipliquem imensamente.

    A exigencia de um numero de manejo de 6 dígitos (na verdade o código SISBOV de verdade é de fato de 15 dígitos) é uma consequencia do tamanho do nosso renaho e da necessidade de garantia de unicidade nacional do código de identificação utilizado. Para o animal ser único na BND seu código deve ser único. E não se esqueça que os animais muitas vezes passam por varias fazendas antes de morrer.

    Mas eu sei sim o que é a leitura visual de um código deste tamanho, afinal sou pecuarista: uma comédia de erros. Seu retrato das dificuldades é a mais pura verdade. Na minha opinião a operação é completamente inviável em rebanhos com mais de 500 cabeças. Por isto falei em ferramentas para auxiliar o produtor na tarefa. Há leitores de códigos de barra, leitores de radio frequencia e softwares que podem eliminar completamente o erro.

    Mas também faltou esforço privado de treinamento / capacitação da mão-de-obra, elaboração de material de difusão das regras de maneira simples, definição de procedimentos e manuais operacionais, em suma, faltou também fazermos nossa parte.

    E acredito sim que com todos, governo, frigrorificos, fabricantes de brincos, outros fornecedores de hardware e software, certificadoras, consultores e produtores podemos por o programa de pé. Não estamos condenados a repetir sempre a mesma cena.

    E por último acredito sim no debate e respeito seus comentários.

    Att,

  9. José Ricardo Skowronek Rezende disse:

    Prezado Sr Roberto Trigo Pires de Mesquita,

    Obrigado pela participação na discussão.

    A analogia com sistemas de rastreabilidade de outros setores, como o automobilistico, é boa e ajuda a entender melhor os objetivos do programa: garantir a inocuidade da carne oferecida, tranquilizando o consumidor; permitir um recall nos casos de identificação de problemas na produção e maior agilidade a defesa sanitária para “cercar” um eventual foco de doença contagiosa (quais animais entraram em contato com quais).

    Um sistema de rastreabilidade não deve pretender garantir, por exemplo, a textura ou sabor da carne. Deve se preocupar em manter registros do processo produtivo para aumentar a segurança final do produto oferecido, como no caso da industria automobilistica.

    Uma certificação de carne Angus pode ter este outro objetivo de atestar a “qualidade”, assim como pode existir demanda para a certificação socio-ambiental da produção. São nichos que podem ou não ser explorados. E estes protocolos de certificação específicas podem precisar da rastreabilidade para “amarrar” o processo produtivo desejado com animais específicos.

    O SISBOV é, de certa forma, parecido operacionalmente com um sistema de rastreabilidade da industria automobilistica. E o código RENAVAN que sugere é o código SISBOV atribuido a cada animal (ao qual corresponde o código de barras impresso no brinco identificador que é lido na hora do abate).

    A maior diferença ao meu ver é que a industria frigorífica, ao contrário das montadoras, é uma industria de desmanche: um mesmo animal dá origem a diversos cortes de carne.

    Algumas plantas já estão em condições de “amarrar” o código do animal abatido aos diferentes cortes de carne, outras ainda não. Este controle exige muitas vezes ajustes nas plantas industriais. Por isto esta amarração ainda é feita em cada planta frigorífica por lote de animais abatidos no dia.

    Mas o ideal é realmente que o código do animal esteja associado as bandejas com os cortes derivados vendidas pelos varejistas, de preferencia com livre acesso do consumidor para consulta ao banco de dados. Na UE isto já é uma realidade que pode ser conferida nas gondolas dos supermercados.

    A outra grande diferença é que como há muitas vezes mais de um produtor envolvido na “produção” de uma mesmo boi (cria/recria/engorda) todos precisam utilizar um sistema de rastreabilidade interligado. Não podmeos tratar o produtor como um fornecedor de auto-peças, porque ele pode não respodner sozinho pelo seu produto final, o boi.

    Além disto o porte economico da grande maioria das propriedadse não pode ser comparado ao de uma fabrica de autopeças e acho socialmente justo que o governo absorva parte do custo do sistema para o produtor (BND, fiscais, etc).

    Mas estas são apenas opiniões pessoais e não verdades. Por isto tenho batido sempre que a cadeia produtiva precisa discutir mais o que realmente deseja / consegue fazer para atender as demandas dos consumidores.

    Att,

  10. José Manuel de Mesquita disse:

    Prezado Roberto Trigo Pires de Mesquita,

    Acredito realmente que a responsabilidade sobre o que estará sendo vendido/fornecido ao mercado consumidor no caso de produtos alimentícios é de quem põe sua marca, melhor dizendo, quem agrega sua marca ao produto, mesmo que não o tenha produzido.

    Ademais montar uma base de dados a nível Nacional, é uma tarefa que exige trabalho descomunal e custos idem, tudo isso não agrega valor, e sim aumenta as despesas de uma forma que ainda não sabemos, e eles nos dirão pouco a pouco e na medida em que o sistema for sendo implantado… e não mais houver volta.

    Não é razoável alegar a necessidade deste sistema para controlar sanidade do rebanho, afinal não há garantias de que comeremos carne sem substancias ativas contidas nos produtos veterinários eventualmente aplicados a cada animal abatido. Não é um problema de “sistema”, é um problema “cultural” e “moral”… se o preço da @ está bom, envia-se o produto (animal) ao frigorífico, ou não se vacina (aftosa) pois daqui a 30 dias o animal vai para abate e movimenta-lo agora geraria perda de peso e desempenho… nenhum sistema resolve problemas “culturais e morais”.

    Se o princípio for verdadeiro é razoável supor que tudo que comemos deveria ser registrado e mantido em uma base Nacional de Dados, afinal comemos arroz, feijão, açucar, leite e seus derivados, verduras, legumes, doces, salgados etc…

    Onde este arroz ou feijão foi produzido, que tipo de insumos (herbicidas, fertilizantes) foram usados? sementes transgenicas ou não… Veja onde isso pode parar…

    A responsabilidade final deverá sempre ser de quem fixa sua marca e vende… afinal o lucro é imenso, e desde que põe sua marca, é sim responsável pelo que está fornecendo, é isso que os Frigoríficos não desejam… jogam a responsabilidade para o “ente estado”, os custos para os pecuaristas, e ficma com todo o lucro… se der merda (se o presidente pode eu também posso), passa a ser um problema do estado, e não do frigorífico que comercializou a carne adquirida em uma determinada propriedade, que ele (frigorífico) sabe que não possui a mínima condição de produzir animais para exportação, ou mesmo para ser consumida no mercado interno.

    Desde que a responsabilidade possa ser determinada (quem põe sua marca e vende), duvido que algum frigorífico compre animais sem ter origem e manejo minimamente seguro. Passarão a ter responsabilidade conjunta com quem produziu, saberão exatamente de quem compraram, e poderão determinar o tipo de manejo sanitário, o tipo de animal, e se a relação produtor/mão de obra é justa e minimamente digna. Cada frigorífico definirá os tipos de controle que deseja ser aplicado aos animais, para cada mercado a ser atendido… e logicamente, deverá arcar com os respectivos custos. Controles e responsabilidades partilhadas e de armazenamento locais.

    Veja matéria sobre Sisbov em meu blog no BeefPoint… e veja o que acontece em outro grande país, em tema similar…

  11. José Manuel de Mesquita disse:

    Prezado José Ricardo,

    Vou aproveitar para também comentar suas observações ao Sr. Roberto Trigo Pires de Mesquita, lhe prometendo ainda, não mais voltar ao tema “sisbov” tendo você como interlocutor. Me repetindo, nada pessoal, mas após esse texto, o assunto se exauriu…

    Minha insistência, e o apego a minhas posições sobre o tema, são fruto de quem acompanhou o tal sistema desde o início, realizou um trabalho de “real rastreabilidade” com uma base de dados local; nada disso fez diferencial para frigorífico algum, a não ser o “Pedágio” cobrado pela sala de “maquiagem” em todas as oportunidades que não presenciei os respectivos abates.

    Dificilmente quando se tem cada um dos pés em canoas diferentes, acontece de haver um justo equilíbrio entre eles. Acredito que apesar de Pecuarista, um de seus pés anda mais apoiado na canoa do tal “Sistema”…

    Devo mencionar que o sr. Roberto Trigo (que nos acompanha nesta troca de opiniões) captou exatamente o espírito da coisa… mas tal espírito não interessa aos grandes frigoríficos, nem aos que “orbitam” nosso negócio, pois divide proporcionalmente a responsabilidade por toda a cadeia, e não lhes interessa parte alguma desta responsabilidade, pois desejam somente o bonus, nos transferindo o ônus respectivo.

    Ainda assim só a implantação do que seria o “RENABOV” é trabalho monstruoso, com custo também monstruoso. Se considerarmos o rebanho brasileiro em torno dos 195.000.000 de cabeças, espalhados por uma região de dimensões continentais, com uma renovação anual em torno de 20% (ou próximo a isso), significa que o tal “Sistema” deverá ter sua base dobrada a cada 5 anos. Que tipos de eventos serão armazenados ? E por quanto tempo após o abate, seriam baixados os registros equivalentes aos animais abatidos?
    Multiplique isso pelas movimentações de manejo sanitário/alimentar anual (vacinas, antiparasitários, partos, tipos de minerais consumidos, alimentação) etc… a que números chegaremos? Qual o tamanho dessa base de dados? Os equipamentos necessários para mante-la em funcionamento, o investimento em pessoal e tecnologia para que isso possa ser acessado e utilizado com alguma confiança… Não temos isso funcionando em escala nacional nem para a saúde e controle de moléstias c(ontagiosas ou não), aplicados aos cidadãos deste país… Nem receita federal, nem INSS, nem nada…

    É desperdício de tempo e R$… sem a mínima aplicação prática, a não ser alimentar os predadores que insistem em “orbitar “nosso negócio.

    Ao contrário do que pensa (José Ricardo), não existe diferença conceitual e prática entre uma Montadora e os frigoríficos, pois também na industria de auto-peças, um determinado produto é composto de vários sub-produtos, de vários fornecedores distintos.

    Quanto ao frigorífico ser uma industria de desmanche, nada o impede nem o desobriga de realizar o controle do desmembramento, afinal ele vai vender com sua marca, e a rastreabilidade deste produto depois de desmembrado é dele (frigorífico que o desmembrou), afinal o animal lhe foi entregue com uma identificação (oficial ou não – brinco/bottom/chip/marca), sua origem é conhecida, a partir daí a responsabilidade e o controle é dele (frigorífico) e de mais ninguém… Não importa por quantos Recriadores/ Criadores passou, o último é o responsável a quem o frigorífico vai exigir explicações em caso de problemas, e este ultimo deverá saber onde buscou o determinado “animal problema”, e assim sucessivamente… afinal o se o frigorífico exigir de seus fornecedores um mínimo controle, eles terão condições de descer na cadeia de compras até o criador de onde se originou o animal… tudo isso em escala local, onde cada criador/recriador/terminador deverá ter localmente as informações da origem e manejo de cada animal passado adiante.

    O controle sobre o desmembramento de cada animal abatido em qualquer frigorífico é de longe o mais fácil de ser realizado, pois está situado em um ambiente controlado, de pequenas dimensões (se comparado as dimensões necessárias a produção de cada animal).

    Me impressiona a quantidade de vozes (vindas do segmento ligado a consultorias e certificações) que de alguma forma defendem menor rigor quando se trata das responsabilidades dos frigoríficos na questão rastreabilidade.

    Não é socialmente justo o “ente Estado” interferir nas relações entre produtores e frigoríficos, principalmente quando as “Demandas Sociais” estão completamente desassistidas.

    Socialmente justo seria: NUNCA desviar recursos da união (retirados de todos) em benefício de um segmento que pretende obter matéria prima barata a custa dos produtores e contribuintes.

    Como o “ente Estado” não pretende nem tem capacidade técnica para completar o serviço, ele “ente Estado”, transferirá a iniciativa privada (previamente escolhida), o trabalho de implantação e manutenção da tal Base de Dados, jogando sobre nós o respectivo custo (através de aumento de impostos, ou através de cobrança por serviços prestados das terceirizadas contra os produtores). Se mesmo assim a coisa não funcionar ou ficar extremamente cara, não teremos a quem recorrer, os “responsáveis” envolvidos, darão qualquer desculpa, não nos devolverão os recursos tomados, e se ainda assim, formos teimosos o suficiente para tentar acioná-los judicialmente… o tempo nos vencerá!

    Relembrando ” o Governo não absorve parte de custo algum, nós habitantes deste país, é que os absorvemos, pois os recursos usados saem de nosso trabalho, através de todos estes impostos que não temos alternativas a não ser paga-los…

    É desanimador, mas autoridades públicas e privadas, se unem para dar aos Bovinos (contrariando a maioria dos produtores), um controle que não é dado a seus próprios cidadãos, nem a órgãos públicos ligados a setores de Educação, Saúde, Justiça, Tributação ou Previdência…

    Raciocinem comigo: Em todos os setores mencionados acima, que representam a essência da “Cidadania” seus administradores não conseguiram até hoje uma “Base de Dados” suficientemente unificada, e funcional, que possibilitasse um controle racional e seguro a prova de fraudes (noticiadas diariamente)… Por que razão deveremos acreditar que isso iria funcionar se aplicado a “BOVINOS” , são em maior quantidade, maior crescimento, e maior variedade ????

    Por favor, leiam em meu blog no BeefPoint o depoimento de um criador americano sobre o NAIS (Sisbov deles), é esclarecedor…

    Refletir… pensar e agir… talvez ainda haja tempo…

  12. José Ricardo Skowronek Rezende disse:

    Prezados Sr José Manuel de Mesquita e Sr Roberto Trigo Pires de Mesquita,

    Tomo a liberdade de responder a ambos simultaneamente, pois muitas de suas considerações se entrelaçam. Entretanto peço desculpas antecipadamente por algumas de minhas respostas não se aplicarem a ambos.

    Antes de tudo gostaria de esclarecer alguns mal entendidos:

    1) sou pecuarista antes de mais nada, mas também sou responsável pelo desenvolvimento de softwares voltados para o setor pecuário, atividades que exerço com igual empenho e dedicação e das quais me orgulho (vejam como me identifiquei no artigo);

    2) acredito que ter mais de um ponto de vista de um mesmo cenário ajuda e não atrapalha;

    3) admiro muito o trabalho da BeefPoint e a oportunidade que este espaço de debate das questões pecuárias propicia, especialmente a secção “espaço aberto”, e continuarei a me manifestar enquanto for possível;

    4) respeito os argumentos contrários aos meus, jamais desqualificando alguém para sustentar minhas opiniões;

    5) concordo plenamente com vocês que a industria frigorifica seja responsável pela rastreabilidade de seus produtos, não há como ser diferente. Cada elo de uma cadeia produtiva deve ser responsável por saber explicar um passo a trás e um passo a frente de sua operação e a cadeia da carne não é diferente. Quando mencionei a especificidade dos frigoríficos serem uma indústria de desmanche, não disse absolutamente que ela não deveria rastrear sua operação;

    6) porém afirmo novamente que a industria frigrorífica já possui um sistema de rastreamento que permite saber de onde provem cada peça de corte comercializada, amarrando isto com os lotes de animais abatidos num determinado dia e planta industrial;

    7) mas se verificarem em minha resposta anterior defendo que a industria implante um sistema de rastreamento mais sofisticado, que permita que esta amarração seja por animal;

    8) já quando diz que “Não é razoável alegar a necessidade deste sistema para controlar sanidade do rebanho, afinal não há garantias de que comeremos carne sem substancias ativas contidas nos produtos veterinários eventualmente aplicados a cada animal abatido” vejo que ainda não consegui explicar a contento a real função de um sistema de rastreabilidade. Ele não pretende eliminar completamente os erros, mas poder rastrea-los para minimizar seus efeitos. Em outras palavras ele não garante a qualidade. Um modelo de carro com problema no freio pode matar algumas pessoas antes que o problema seja diagnosticado. Mas uma vez diagnosticado a indústria pode agir, fazer um recall e substituir as peças dos veículos que possuem componentes defeituosos. Não é mágica, mas tem sim bastante serventia. Imagine isto na industria farmacêutica.

    9) e a afirmação que não existem outros sistemas de rastreamento e certificação na industria alimentícia não é verdadeira. Existem sim e cada vez em maior numero. Cada qual com suas características. Vejam o caso da soja transgênica.

    10) quanto a não termos bases nacionais de dados funcionando sob gerencia do governo respeito a opinião, mas não a partilho absolutamente. A Receita Federal é um ótimo exemplo de base de dados central que vem evoluindo muito para desconforto dos sonegadores; e

    11) também não partilho a visão que o Estado só esteja “atrapalhando” o setor e “desperdicando” recursos públicos. Obviamente todo recurso do governo é oriundo do setor privado. Mas o governo não aloca os recursos exatamente onde os arrecadou e sempre que puder defenderei que aloque mais em nossa atividade. Acho que legitimamente merecemos de volta parte das contribuições que fazemos. E sem a participação do governo nunca teríamos ampliado as exportações da maneira que fizemos na última década. Lógico que os frigoríficos ganharam com isto, mas seus fornecedores também. Basta ver os efeitos que o fechamento da UE e a recente valorização cambial, ao diminuírem as exportações de carne, fizeram sobre os preços internos da arroba.

    Feitos estes esclarecimentos quero deixar claro que os frigoríficos, apesar de possuírem sistemas de rastreamento próprios anteriores ao SISBOV, ainda precisam avançar muito nesta área.

    Mas o avanço que eles devem empreender é justamente na amarração de um animal específico com seus cortes. Eles devem prestar contas melhor a seus clientes. Mas não há como os frigoríficos rastrearem seus fornecedores como sugerem. Os frigoríficos não estão dentro das fazendas e não serão os motoristas que buscam os animais para abate que farão a rastreabilidade. Como isto seria possível?

    O que a indústria automobilística fez, por exemplo, foi obrigar seus fornecedores, fabricante de autopeças, a construírem sistemas de rastreamento próprios. Esta é a lógica que vigora na maioria dos setores.

    O que quis dizer foi que, dado ao porte econômico do produtor médio, a tarefa para cada pecuarista construir seu próprio sistema de rastreamento é muito mais dispendiosa que o modelo atual. O governo pode e deve ajudar nesta tarefa, padronizando os registros e procedimentos. E dando credibilidade a operação. E onde tiver limitações sempre pode delegar.

    Mas como disse antes estas são opiniões pessoais e não verdades.

    Att,

  13. José Ricardo Skowronek Rezende disse:

    Prezado Roberto Trigo Pires de Mesquita,

    Estamos de acordo tanto nos out-puts como nos in-puts. Também defendo uma BND com dados mínimos que permitam rastrear os animais. Estes dados são sua identificação, posse (dono do animal) e localização; movimentações e baixa.

    Mas sinceramente não vejo como rastrear por lotes na bovinocultura por causa das especificidades do processo produtivo que já tratei. Isto é possível na avicultura e suinocultura. Mas na bovinocultura se uma propriedade recebe animais de diferentes origens e não identifica individualmente os mesmos no ingresso não poderá faze-lo posteriormente mantendo a informação básica da origem dos mesmos.

    Queria ainda deixar claro que não disse em momento algum que a rastreabilidade nos frigoríficos seja mais complexa que em outros setores , apenas que é diferente. Concordo integralmente que é possível e necessário que o sistema avance para co-relacionar cortes a animal específico. E os frigoríficos vem sendo cada vez mais pressionados para mudar seus procedimentos.

    E concordo que existam muitos outros benefícios indiretos em um bom sistema de rastreabilidade: melhor gestão da atividade, contratação de seguros, garantia documental dos negócios na Bolsa de Futuros, etc. Por estas razões rastreio até meu rebanho de cria.

    Att,

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