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Redesenho do mapa econômico global

Por Marcos Sawaya Jank

No inicio deste mês, o “Financial Times” publicou uma série de artigos mostrando as graves inconsistências da definição de “economias emergentes”, uma panaceia que reúne países com enorme disparidade de tamanho, renda e governança.

A ideia de que os chamados países desenvolvidos estão no “centro” gravitacional do mundo e os emergentes na “periferia” não faz mais sentido.

Primeiro, porque hoje a “periferia” já é maior do que o “centro”, seja em tamanho e crescimento do PIB, volume de exportações, acúmulo de reservas internacionais e até mesmo na venda de carros, no consumo de petróleo e outros indicadores.

Segundo, porque a própria palavra “emergentes” dá uma falsa sensação de que haveria um caminho contínuo e inexorável de melhoria para os países “em desenvolvimento”. Ocorre que no mundo real hoje temos exemplos de “emergentes” que caminham para a frente, para o lado e para trás. Há emergentes que já superaram os desenvolvidos, como os tigres asiáticos e alguns países árabes. Mas há também casos de países emergentes e mesmo de países desenvolvidos, alguns com um fabuloso histórico de dominância global, que hoje estão literalmente “imergindo”, como Portugal, Espanha, Grécia, Rússia, Argentina e Brasil, infelizmente.

O “Financial Times” apresenta nada menos que seis matrizes alternativas para redefinir países emergentes, numa tentativa de redesenhar o mapa do mundo. Os critérios são vários. Um expert propõe medir desenvolvimento por meio dos dados de 440 cidades emergentes, em vez de comparar países. Outro usa o critério do regime de governo. Outros agrupam os países em clusters, usando variáveis como nível de educação e saúde, tamanho da população e clima político. Outros, ainda, usam variáveis econômico-financeiras como competitividade, ratings de crédito, penetração do mercado acionário e valorização da taxa de câmbio.

Algumas sugestões são claramente falaciosas, como a ideia de que a “emergência” estaria ligada à combinação de superavit na conta-corrente com exportação de manufaturados, em vez de commodities. Não consigo ver por que a característica do produto exportado seria um indicador de maior ou menor desenvolvimento. A economia nos ensina que o que interessa não é o que o país exporta, mas sim como ele exporta em relação aos seus maiores concorrentes. Não há nada errado em exportar commodities se somos melhores que o resto do mundo, como ocorre no agronegócio. Commodities estão associadas com volatilidade, e não com nível de desenvolvimento.

Nenhuma definição me convenceu até aqui. Agora, quando olhamos para as características básicas dos emergentes que deram certo, vamos observar que: são países relativamente pequenos, com eleitorados homogêneos, possuem instituições estáveis, respeitam o Estado de Direito, têm boa governança e combatem duramente a corrupção. Alguns são conhecidos pelo investimento em educação, outros por serem economias abertas que estimulam a concorrência, os investimentos e a inovação.

Nos últimos dez anos, os melhores exemplos estão nos emergentes da Ásia, que simplesmente roubaram dez pontos percentuais do mundo desenvolvido no PIB total. O resto do mundo basicamente ficou no mesmo lugar, em termos relativos. Não há segredo. Basta observar e fazer o que deu certo.

Por Marcos S. Jank é especialista em questões globais do agronegócio, para a Folha de São Paulo.

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