Holy Burger: marca que começou em eventos itinerantes virou hamburgueria em São Paulo, SP
17 de março de 2015
Kátia Abreu defende fortalecimento de parcerias entre os BRICS
17 de março de 2015

Radicais prejudicam setor de carne na Índia

Com a intensificação de uma disputa de séculos pela carne bovina na Índia, o transportador de gado Shafiullah Mohammad Sharif Shah um dia se viu no meio do conflito. Em dezembro, justiceiros hindus incendiaram um de seus caminhões quando ele transportava seis búfalos asiáticos para um matadouro do governo perto de Mumbai. Os justiceiros espancaram Shah e liberaram os animais.

Como esses ataques estão se tornando comuns, os negócios desaceleraram tanto que Shah teme perder seus cinco caminhões se não conseguir pagar a prestação mensal de 150 mil rúpias (US$ 2.390).

A Índia é dominada por 1 bilhão de hindus, que veneram as vacas leiteiras, as consideram sagradas e encaram o vegetarianismo como um ideal. Mas alguns Estados ainda permitem seu abate para a produção de carne, e essa produção cresceu muito com búfalos de pouca relevância religiosa.

Nos últimos 12 meses, grupos da linha dura hindu redobraram esforços para coibir o abate de fêmeas e combater uma rede de pequenos frigoríficos ilegais que produzem carne bovina para consumo no mercado doméstico.

Os justiceiros não distinguem os búfalos das vacas leiteiras e atacam os transportadores de ambos. Os caminhões que carregam gado são bloqueados com frequência pelos ativistas, que pegam os telefones dos motoristas, os espancam e levam o gado para centros de cuidado de animais, de acordo com a Associação de Mercadores de Gado de Maharashtra (AMCMA).

Os ataques aumentaram desde maio, com a eleição do primeiro-ministro Narendra Modi, cujo partido, Bharatiya Janata, apoiado pelos hindus, é favorável ao endurecimento das restrições sobre o abate de vacas, legal em cinco dos 29 Estados indianos.

Os simpatizantes de Modi, entre eles os grupos hindus de direita Bajrang Dal e Rashtriya Swayamsevak Sangh, pediram a proibição da carne bovina no país, e ativistas atacaram empresas estabelecidas legalmente para interromper a produção. Ainda que as organizações não queiram proibir o abate dos búfalos asiáticos, elas estão promovendo o vegetarianismo e o fim das exportações de carne de búfalo, argumentando que o segmento utiliza água e terras valiosas.

Nos últimos dez meses, foram registrados cerca de 600 incidentes de assédio em Maharashtra, o terceiro maior produtor de carne de búfalo asiático do país, ante entre 200 e 300 casos anuais nos cinco anos anteriores, informou Khaliq Qureshi, presidente da AMCMA em Mumbai, em entrevista em 27 de fevereiro. As cifras quase certamente são maiores, porque com frequência comerciantes e transportadores não informam os ataques à associação.

A carne bovina se transformou em um grande negócio para a Índia. As exportações chegaram a US$ 4,4 bilhões no ano-fiscal 2013-2014, comparado com os US$ 395 milhões de uma década atrás, segundo a Autoridade de Desenvolvimento da Exportação de Produtos Agrícolas e de Comida Processada.

“Está se propagandeando que é pecado não ser vegetariano neste país”, disse Mohammad Ali Qureshi, presidente da Associação de Comerciantes Suburbanos de Carne Bovina de Mumbai e membro da terceira geração de uma família que conta com um matadouro na cidade. “As vacas são consideradas madrinhas na Índia. Quando é que o búfalo virou o padrinho? Não existe nenhuma conexão religiosa. Os grupos querem esmagar de forma mental e financeira o segmento de carne bovina”.

Fonte: Bloomberg, publicado no Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.

Os comentários estão encerrados.

plugins premium WordPress